Once Upon a Time escrita por Susan Salvatore


Capítulo 4
O menino... mau?




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/321546/chapter/4

As coisas com Elena... realmente estavam ficando interessantes. Ela sabia jogar, não era só aquela menina dócil que aparenta. Havia muito mais nela. Uma personalidade fascinante e um caráter imaculado. E, durante alguns dias, eu pude esquecer que ela era, acima de tudo, uma doppelganger.

Hoje ela teria uma festa. Uma das primeiras dela na faculdade. Eu não iria, queria deixá-la sozinha um pouco. Mas não significa que não irei ficar por perto. Descobri que essa menina tem uma tendência anormal a se machucar, então cuidade nunca é pouco. Ok, eu também tenho uma tendência anormal a querer cuidar dela.

Sabe, até hoje Elena não me convidara para seu dormitório. Isto sim poderia ser um problema. Eu morria de vontade de vê-la dormindo. Devia ser tão frágil... Bem, queria conhecer o quarto dela por outras razões também.

Não importa. Antes de sua festa, nós iríamos sair. Um café. Como da primeira vez. Romântico incurável, eu sei. Liguei para ela.

- Amor, estou esperando.

- Só um minuto, já vou descer - disse, e desligou. Na minha cara. Abusada adorável.

Então, ela desceu, louvável e linda como sempre. Cada dia com ela fazia o próximo mais especial. Sempre mais encantadora. Como é possível?

- Mikaelson - cumpimentou-me ela.

- Gilbert - respondi, estendendo a mão. Quando ela a apertou, eu a puxei para um beijo - Está mais linda do que de costume, amor.

- É para você - sussurrou ela, envergonhada.

Beijei sua testa e entramos no carro.

- Onde vamos?

- Ora, achei que gostasse das minhas surpresas - respondi, fingindo estar ofendido.

- E gosto - disse, rindo -  Só não sei o que esperar de você.

- Não saber às vezes é bom - falei, encerrando o assunto, mais sério que o habitual. E é claro que ela percebeu. Se ao menos soubesse o duplo sentido que havia ali.

Ficamos em silêncio durante alguns minutos.

- Você está bem? - perguntou ela.

Arqueei uma das sobrancelhas, indagador.

- É que... Eu nunca pergunto se você está bem, como foi seu dias, essas coisas...  Às vezes, parece que eu não me importo, mas eu me importo sim! Muito até... - falou, muito desconcertada. Sorri e afaguei sua mão.

- Estou muito bem, amor.

Ela pareceu mais calma.

- Tenho uma coisa para você. Outro dia, perguntou sobre meus gostos musicais. Resolvi mostrá-los. Aqui - disse, me entregando um pen drive - As melhores estão aí.

- Me sinto lisonjeado, Elena. Obrigado. Pois bem, coloque-o no player.

Elena o fez e uma melodia agradável encheu o carro.

"This one's for the faithless, the ones that are surprised. They are only where they are now. Regardless of their figh."

- Hm, Greg Laswell? - perguntei, reconhecendo a música de algum lugar.

- É mesmo impossível te surpreender - suspirou.

- Está errada - falei, olhando-a intensamente. Seu coração fraquejou - Você me surpreende todos os dias.

E era a mais pura verdade. Estar com ela era tão incrível, me completava de tal forma, que palavras são pouco para descrever. Era cálido e queimava agradavelmente. Como ser abraçado durante todo o tempo. Me fazia feliz, e isto sim é uma coisa nova. Só restava-me pedir para que com ela fosse o mesmo.

- Eu gosto de você, Kol. Sabe, aquele tipo de gostar.

Queimou mais intensamente agora. Ela me deixou sem palavras! Como colocar para fora aquelas coisas que talvez ela não fosse entender? E antes que eu pensasse em algo, chegamos. Abri a porta de seu carro e ela desceu calada.

Escolhi um lugar reservado para nós. Um disco de vinil soava no canto da sala. Estendi minha mão.

- Daria-me a honra? - disse e ela a pegou. Começamos a dançar lentamente e eu apertei o abraço - Elena...

- Sim?

- Eu quero ter um relacionamento sério com você.

- Kol... - disse ela, de olhos arregalados.

- Porque eu estou começando a me apaixonar por você.

O disco deu meia volta antes que seu coração se acalmasse o suficiente para que ela conseguisse responder.

- Eu também. Para as duas frases.

Beijei-a suavemente, sentindo-a cada vez mais minha.

Ficamos lá durante algumas horas, mas Elena tinha um compromisso. Deixei-a em casa às seis.

- Te vejo amanhã, amor.

Ela ficou na ponta dos pés para me beijar.

- Te vejo amanhã, amor - repetiu.

.  .  .  

- Kol... Vá... Você precisa ir - dizia a voz de Tatia na minha cabeça.

Acordei com um sobressalto. Fora diferente! O sonho mudara... Mas não me lembro de Tatia ter dito isso para mim, nunca. E eu me lembraria de cada palavra dela. Arrepiei-me com isso.

Havia algo muito errado.

Passei a mão pelos cabelos de olhei para o relógio. Eram 00:45. Duvidando de que fosse conseguir dormir de novo, tomei um banho e vesti roupas esportivas. Iria correr. Para quê um vampiro precisa correr? Ora, tem diferença entre correr como um humano e correr como um vampiro, para nós. A corrida humana cansa como deve.

Desci dos dormitórios e peguei meu celular e fones de ouvido. Ironicamente, era Hero que tocava.

Depois de correr algumas dezenas de quilômetros foi que percebi que estava perto da festa de Elena. Não iria entrar, claro, só checar as coisas. Não seria uma boa ideia encontrá-la quando estava tão descontrolado. Perigoso, até.

Andei pelos arredores do local e senti o cheiro dela. Parecia tudo bem, mas eu não ia baixar a guarda. Continuaria correndo ao redor do lago, perto o suficiente para perceber se alguma coisa acontecesse.

"Just a step from the edge. Just another day in the world we live", soava Skillet no volume máximo em meus ouvidos. "I need a hero to save me now. I need a hero (save me now). I need a hero to save my life. A hero'll save me (just in time). I've gotta fight today. To live another day."

Se a música não estivesse tão alta e eu tão concentrado em sua letra, talvez tivesse percebido antes.

Porque Elena gritava ali perto.

Como um humano, o desespero ferveu em meu sangue.

Correndo com um imortal, cheguei lá em três segundos e não pude acreditar no que olhava.

Damon e Stefan atacavam-na. Estavam bêbados. Mordiam-na em vários lugares enquanto a chamavam de Katherine. Sua roupa estava rasgada.

Rosnando e expondo meus caninos sobrenaturais, eu os empurrei, um para cada lado.

- Que merda pensam que estão fazendo? - berrei

- Não, Kol. Katherine é nossa - rosnou Damon. Peguei ele pelo pescoço e bati sua cabeça no chão. Stefan me atacou pela costas, lento demais. Virando-me, cravei minhas unhas ao redor de seu coração.

- Seus estúpidos! Como ela pode ser Katherine se o sangue dela é humano? 

- Nós sabemos que ela é humana! - gritou Stefan, gemendo de dor - É um presente, está bem? Ganhamos uma Katherine humana!

Paralisei. Eles estavam delirando. A força do amor... não, da obsessão daqueles dois era muito grande para que percebessem a verdade a sua frente. E isso prejudicava Elena. Se fosse necessário, eu os mataria. Não tinha sentimento por eles. Por ninguém, até pouco tempo.

Então olhei para Elena. Estava aterrorizada. E não era só por causa deles, era por minha causa também. Estava com medo do que eu era capaz de fazer. Olhei para mim mesmo. Com uma mão no coração e a outra no pescoço, eu devia parecer um psicopata. 

E não o era?

Respirei fundo e joguei esse pensamento fora. Não era a hora de trazer isto à tona. Aproximei os dois irmãos de mim e ativei minha compulsão.

- Vocês esquecerão qualquer semelhança entre Katherine e essa garota. A evitarão. Cada vez que a virem, vão sair de seu caminho. Jamais vão tocá-la novamente. Agora vão.

Estávamos sozinhos então. E aí eu olhei realmente para ela. Ah, havia sangue seu por toda parte. E cheirava tão bem!

- Kol... - ela gemeu, se encolhendo. Será que já havia percebido o que eu era? E ainda assim clamava por mim!

- Amor - respondi, ajoelhando-me a seu lado.

- O que é isso? - perguntou chorando.

- Sou eu, amor.

Uma de suas lágrimas caiu em seu pescoço, atraindo minha atenção para lá. O cheiro, Deus, era insuportável. Eu o queria, eu o queria! Mais do que tudo, mais do que Tatia... Ficaria louco se não provasse, se não sugasse tudo. Não! Só um pouquinho, talvez, não faça mal.

Peguei seu pulso e lambi. Ah, ah, ah! Era doce, extremamente doce. E quente. Mas havia mais alguma coisa. Queimava um pouco, como um vinho. E era forte. Sem perceber, mordi seu pescoço. Queria aquilo tudo dentro de mim. Eu era um Original, podia ter tudo o que quisesse. Segurando seus cabelos, a puxei mais para mim, pronto para ter aquele néctar dentro de mim. 

Sentia-me tão completo, tão seguro, tão limpo.

Aí ela disse meu nome. Kol, e ela fez soar quase como uma oração. Um pedido. Ela chamava por seu salvador. Larguei-a, seu sangue escorrendo por meu maxilar, totalmente chocado. O que eu fizera? Ela estava morrendo! Morrendo! Eu quase a matara.

Psicopata, sussurrou minha mente.

- Não! - gritei, pegando-a no colo - Amor, não, não, não. Vou concertar isso, vou sim. Eu juro. Bebê, eu vou salvar você.

- Kol - disse de novo, um sorriso lutando para aparecer.

Fiz o inimaginável. Mordendo meu pulso, levei-o a sua boca. Sim, o tão temido compartilhamento de sangue. Mas era pela minha Elena e por ela valia a pena. Além disso, era minha culpa. Um deslize e ela quase morrera. 

Tomou meu sangue até que todos seus ferimentos estivessem fechados. Me levantei, com ela no colo, e corri, sobrenaturalmente, até seu dormitório. Parei na porta.

- Estou com sono - sussurrou ela

- Eu sei, amor, eu sei. Mas tem uma coisa que você precisa fazer primeiro. Me convida para entrar?

- Gostaria de entrar, Kol?

Não respondi. Abri a porta e levei-a até sua cama, sem reparar no ambiente com o qual eu tanto imaginara. Olhei em seus olhos.

- O que você agora a pouco, esqueça. Isso não existe. Apague de sua mente. Entendido? - ordenei, compelindo-a.

- Claro.

- Agora durma, Elena.

Fechando os olhos, sua respiração se tornou irregular.

Saí dali.

Hoje, eu fizera tudo o que jurara não fazer. Compelira-a. Atacara-a. Tomei seu sangue. O monstro levou a melhor e a vida dela quase foi o preço. Estava estragando tudo de novo. Idiota, idiota. Quem é que luta contra o que se é?

Mas ela me salvou. Quando estava prestes a cair, prestes a fazer aquilo de novo, ela me chamara de volta. E eu que sempre achei que a protegia. Era o contrário. Porém, ela continuava humana. Que força seu poder teria contra à vontade de um Original?

Ignorando meu dormitório, eu saí correndo, sem rumo.

O barulho de seu coração batendo ainda preenchia meus ouvidos.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!