Once Upon a Time escrita por Susan Salvatore


Capítulo 22
Um amor além da Morte


Notas iniciais do capítulo

Dica: leiam ouvindo Breath Me da Sia.



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Meus olhos estavam secos de estarem arregalados por tanto tempo – essa foi a primeira coisa que percebi. Minha garganta se apertava tanto que era impossível respirar. Olhei para minhas mãos e estas tremiam.

Eu a ouvi morrer. Ouvi quando seu coração parou, quando o sangue fluiu para fora dela, quando sua carne rasgou-se, quando a bala atravessou seu crânio. Ouvi tudo isso. Também vi a mórbida palidez instalar-se nela, vi quando suas veias pararam de pulsar, quando seus olhos ficaram foscos. Cada sentido inumano meu fez-me vivenciar a morte dela. Eu senti dor.

– Kol? – chamou uma voz suave – Não seria melhor... Hm, deixar o corpo dela descansar em paz?

– Ela tem meu sangue em seu sistema – respondi mecanicamente, o que só fez a dor aumentar.

Minha irmã ficou em silêncio. Talvez ali ela fosse a única que entendesse pelo o que eu estava passando; Rebekah já tivera de decidir se seu amado vivia como um monstro ou descansava em paz. Ela fez seu desejo: o deixou morrer.

– Vem – disse ela, por fim – Vamos limpar os ferimentos dela. Não precisa tomar nenhuma decisão agora.

...

Senti o cheiro putrefato começar a se apoderar dela; ainda era algo muito sutil e só levemente incomodo, mas definitivamente, estava lá. Mas isso nem era a pior parte. Eu chorava desesperado e uma dor imbatível me consumia.

“Você falhou... Ela é um cadáver por sua causa”.

A loucura começou a esgueirar minha mente enquanto eu removia as balas de dentro dela; delicadamente eu enfiei meus dedos por sua carne, tentando por tudo não causar mais estrago. Mas foi só quando uma mosca pousou em sua testa é que eu saí do controle. Gritei e me transformei numa besta desesperada. Lambia seus ferimentos como se isso pudesse curá-los; o gosto de seu sangue, uma vez paradisíaco, agora era maculado pela coagulação e por um odiável toque agridoce que me deu repulsa.

Eu havia destruído tudo o que ela era; o sangue e os fiapos de pele em minhas mãos gritavam isso. Como pude? Como pude ter a ilusão de que poderia ter amor para com uma humana? Deus do céu, eu estou morto! Como pude ter a ilusão de que daria uma vida feliz?

E como podia ter a pretensão de roubar também a alma dela? A única coisa que a fazia bondosa como ela amava ser... Não, não importa quão grande seja minha dor não posso tirar dela a única coisa que lhe resta... A única coisa que ainda resta para eu amar.

Distraidamente, eu enfiava algumas farpas de carvalho branco em meus dedos. A dor era engraçada; não conseguia se sobrepor à minha dor anterior. Por mais que tentasse, sempre era diminuta. Testei vários tipos de ferimentos e nenhum deles se igualava ao que eu tinha no meu peito. Apontando uma farpa para meu olho esquerdo, perguntei-me se aquilo iria me deixar cego de verdade.

Uma mão forte impediu-me de continuar.

– O que pensa que está fazendo? – berrou Elijah, dando-me um tapa na cara. Acabei mordendo minha língua e o gosto do meu próprio sangue era curioso.

– Que foi? – resmunguei, com um sorriso torto.

– Kol, ela ainda pode ser salva! Já irá acordar...

– A menos que eu impeça.

– O que? – disse ele, desconcertado – Por quê?

– Não tenho direito de roubar a alma dela! – gritei e comecei a chorar novamente. Elijah me abraçou e me deu conforto por alguns segundo. Mas era por outros braços que eu ansiava.

– Pergunte a ela.

– Como?

– O seu sangue é que está mantendo-a viva, de certo modo. Vocês estão conectados. Acesse a mente dela e pergunte-a.

Isso nunca passou por minha cabeça... Poderia conversar com Elena uma última vez. Pedir perdão e dizer que a amava... Suavemente, deslizei para perto dela, olhando mais uma vez seu rosto angelical. Suspirando, tentei esquecer a dor para poder me concentrar.

...

Nós estávamos no ginásio da faculdade. Uma decoração típica indicava que eu estava nos resquícios do que fora um baile. Estava escuro e eu senti frio. Uma névoa esparsa cobria o chão do local. Com uma súbita onda de calor, senti que ela estava atrás de mim.

– Oi – disse, delicadamente. Parecia mais linda do que nunca... Quase etérea. Quando ela lançou-me um olhar consolador, entendi que Elena sabia que tinha morrido. Ela estava entre a morte e a vida imortal, quase pondo os pés no Outro Lado.

– Por que aqui? – perguntei, acariciando seu rosto. Lágrimas de alegria queimaram meus olhos quando pude sentir sua pele quente de novo.

– Eu sempre quis vir aqui com você... Dançar com meu príncipe encantado.

Encostando minha testa na dela, segurei sua mão e dancei com ela. Criamos nosso pequeno conto de fadas ali e enquanto ela rodopiava e ria, entendi que estava pronto para deixá-la partir.

– Eu sinto muito – falei, enquanto cheirava seus cabelos.

– Pelo quê?

– Por a vida ter sido tão dura com você... A garota mais especial do mundo. Você devia ter tido uma vida perfeita.

– E eu tive – respondeu Elena – O tempo que passamos juntos foi tudo para mim. Você me deu a vida, Kol.

– E eu a tirei.

Ela me beijou. Talvez só porque estivéssemos num estado psico-encantado, mas eu pude sentir o amor dela. Eu o vi. Cada memória nossa banhada por seus sentimentos, vi cada sonho que ela teve comigo. O mundo dela era pura luz.

– Você foi... Feliz – disse encabulado – Mesmo com tudo... Você pôde ser feliz.

– Eu estou feliz. Mas não há muito mais tempo... Eles estão me chamando. Você tem de decidir, querido. A escolha é sua.

– Não! É sua vida, sua escolha.

– Não, Kol. Minha vida inteira foi sobre você. Minha luz. Saiba que não importa o que escolha, eu viverei em você. Se você me quiser ao seu lado, eu ficarei feliz. Mas se não conseguir suportar a ideia de me ver como um vampiro, tudo bem, meu amor. Eu viverei em você. Prometo.

Elena falou com tanta convicção que eu sorri. Nosso amor ultrapassara qualquer barreira agora. Enquanto dançava, perguntei-me se meu coração já estava pronto para se despedir dela... Não, nunca estaria. Ela seria sempre a melhor parte da minha vida, mesmo que morta.

– Eu te amo, pequena Elena – falei dando-lhe um olhar apaixonado. Nosso mundo perfeito começava a desvanecer: meu sangue estava perdendo poder no corpo dela.

– Você escolherá certo... Sobreviva... Viva por mim... Seja feliz e estarei lá... Eu sempre te amarei, Kol... – dizia ela, quanto tudo ficou borrado de vez. Mas o brilho que a lágrima dela produziu era mais forte do que qualquer chama.

...

Quando voltei, descobri que as lágrimas escorriam com mais força do que antes. Uma dor diferente me possuiu agora e, entre soluços, eu pude sorrir. Minha doce e angelical Elena, você sempre terá meu coração.

Com iguais partes de dor e alegria – mas sem culpa – eu tomei minha decisão e sabia que ela ficaria feliz. A morte, afinal, era inevitável...


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Notas finais do capítulo

Olá, leitores! Fiquei bastante emocionada em escrever esse capítulo, espero que vocês também. E... Esse é o penúltimo. Por mais que eu queira prolongar, acho que já chegou num limite. O próximo será o desfecho eterno da história de Elena e Kol.



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