Once Upon a Time escrita por Susan Salvatore


Capítulo 17
Onde vive o mal




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Ativei o modo vampiro psicopata. Estava bem motivado.

– Ora, ora – disse uma voz grossa do outro lado da linha. Pude sentir o sorriso na sua cara.

– Onde ela está, Finn? – perguntei suavemente, sabendo que minha voz soava mais ameaçadora desse jeito. Ele riu despreocupadamente. Sádico.

– Vamos jogar, irmão? Caça ao tesouro? Você sempre perdia, mas... Bem, talvez você se empenhe dessa vez.

– Pare de graça, droga! – gritei, me exasperando. Tchauzinho, autocontrole – Eu vou matá-lo, não duvide disso. Vou arrancar cada tendão do seu corpo, mil vezes. Você sabe que eu posso e que eu faria. Entregue Elena agora ou nem Elijah será capaz de salvá-lo.

Pude sentir a ameaça se instalar nele. Seria o lado covarde maior do que o lado louco? Eu esperava. Sinceramente, cansei de todos mexendo com minha garota. Jesus, ela era só uma humana! Não podia viver o resto de seus dias em paz?

Choque paralisou-me. O medo desceu em ondas por meu corpo, junto com uma dose de desespero.

O resto de seus dias. É claro, como nunca pensara nisso? A ideia sempre esteve lá, no fundo de minha mente, eu é que nunca dei atenção a ela. Elena, dentro de algumas décadas, iria morrer. Eu iria assisti-la adoecer, envelhecer e torna-se mais frágil a cada dia, impotente. Então, quando finalmente ela estivesse tão fraca que não conseguisse abrir os olhos, partiria. E eu ainda estaria aqui, sofrendo por mais uma perda. Insuperável, tive certeza.

Mas ela aceitaria tornar-se como eu? Viveria nas sombras, escondida de todo seu mundo humano? Seria seduzida pela escuridão e crueldade como eu fui? O que fazia dela essencialmente boa era sua alma humana... Sem ela, Elena poderia ser tão monstruosa como qualquer um e isso a destruiria.

Tatia e Finn não eram os únicos inimigos. Morte, iminente, batia à minha porta novamente. Ela não podia levar-me então se divertia levando quem eu amava – aquela que era minha vida, de certa forma. Havia uma escolha: deixá-la levar Elena ou entregar sua alma a ela. Mas essa escolha não cabia a mim.

Finn esperava pacientemente do outro lado da linha, parecendo deliciar-se com meu conflito.

– Está com medo de jogar, Kol? Por quê? É sua única chance de tê-la... Embora não possa prometer que vá conseguir – disse, rindo diabolicamente – Aceite o desafio. Ou ela morrerá antes até do que Tatia planeja.

– Aceito. – respondi automaticamente.

...

Mais tarde, enquanto andava até o local combinado, senti-me quase em torpor. Eu concordara com uma loucura. Se tivesse sido esperto o suficiente podia ter tentado rastrear Finn, mas não. Entreguei-me à minha raiva descontrolada e agi como um garoto adolescente, de novo. Só que dessa vez não era uma briga de bar e sim um jogo pela vida de Elena. Ah, algum dia ela me perdoaria por tudo isso?

Ela te ama, seu grande imbecil. Não teria entrado nessa merda toda se não amasse, disse uma voz interna. Sim, amava, mas até que ponto pode-se exigir da sanidade de alguém? E, se eu pudesse ser sincero comigo mesmo, salvá-la estava se tornando uma coisa exaustiva. Tudo bem que era tudo culpa minha, mas era pecado desejar que ela fosse menos quebrável? Suspirei.

Porém, me orgulhava de uma coisa: dessa vez não fui tão estúpido. Rebekah gritou comigo por colocar Elena como uma presa, Elijah tentou ir junto para me impedir de fazer besteira e Klaus, bem, Klaus queria participar da carnificina. Os convenci. E com um toque de telefone, eles estariam ali.

Respirando fundo, eu entrei na clichê casa velha com jeito de assombrada. Um corredor escuro deu as boas vindas para mim; podia ouvir sussurros na escuridão e, secretamente, perguntei-me se deveria estar assustado. Eu já vi tanta coisa perversa e medo já não me era familiar, mas medo podia ser um instinto de sobrevivência também. Ou podia condenar-me a morte.

Optei por ser brigão, descontrolado e corajoso a minha vida toda. Não era por Finn que isso iria mudar.

Corredores intermináveis parecia ser a única coisa que aquela casa oferecia. Todos eles eram iguais, exceto um que era constituído exclusivamente de espelhos enferrujados; era de longe o mais macabro e, sabendo o quão sádico meu irmão mais velho era, foi esse que eu escolhi.

Assim que entrei, pisei em algo que fez disparar um mecanismo em algum lugar e um corpo preso por uma corda caiu diante de mim. Meu coração quase saiu pra fora. Era uma menina morena e na sua barriga estava escrito “Olá, irmãozinho”, exatamente como acontecera com Elena.

Finn, ah, ele me conhecia. Sabia que isso inflamaria em mim uma raiva demoníaca. Eu dei o meu melhor para me controlar, mas isso parecia impossível quando a cada metro que eu andava um corpo parecido com o de Elena despencava diante de mim. Precisava pensar; o que Finn queria de mim? Ele sem dúvida tentava me cegar pelo medo e raiva, mas tinha que haver algo mais, ele era irritantemente inteligente.

Voltei ao início e conferi cada corpo por que passava – um chute certeiro, onde adivinhei que, para começar, ele me faria ver a morte de Elena mil vezes. Reparei pela primeira vez que os espelhos eram numerados e as indicações de para qual espelho seguir estavam nos corpos de cada vítima. Os espelhos eram portas, descobri. A maioria levava à salas vazias, sempre com uma mensagem no chão informando-me que estava mais uma vez errado. Era tudo tão psicopata.

Pela quinta vez deparei com uma porta vazia e, respirando fundo, tentei não perder a paciência. O que me impedia de quebrar toda aquela casa? Ah, é, o juízo. Maldição. Voltando para a vigésima primeira vítima, achei uma pista nova que realmente levou para algum lugar. Era um corredor ainda mais escuro que o da entrada da casa; descobri que os sussurros viam dali e tentei não pensar sobre isso.

Eu avancei certo de que encontraria finalmente a saída daquele labirinto maldito, mas temeroso de ter esperanças. Os sussurros estavam mais altos e mãos tentavam me agarrar. De repente, uma luz avermelhada se acendeu no meio do teto e vi que estava cercado por vinte garotas morenas e ensaguentadas – detalhe que não passou despercebido à minha garganta seca.

Tentei não matá-las, juro. Mas descompelir alguém é uma coisa complicada e eu não tinha tempo. Tirando-as bruscamente da minha frente eu tentava a todo custo andar, mas elas começaram a me atacar com estacas e armas carregadas de balas de madeira! Ligando o “foda-se”, eu ataquei todas, bebendo até a última gota de sangue de cada uma. Precisava de força e, acima de tudo, precisava saciar o demônio dentro de mim.

Quando acabei, cedo demais para minha satisfação, uma porta se abriu e Finn começou a aplaudir.

– Veja, menina, eu disse a você que ele sucumbiria – falou, e sorriu miseravelmente para Elena, amarrada de qualquer jeito num canto da próxima sala.

– Eu venci, Finn. Cheguei ao final do labirinto, agora me entregue-a – disse, sem me importar com o sangue em meus lábios. Elena não namorava um anjo e ela tinha de aceitar logo isso.

– Ora, e quem disse que o desafio era passar por aquelas vadias cadavéricas? – perguntou, rindo – Aqui está seu verdadeiro desafio. Dou-lhe a chance de transformá-la e livrá-la deste inferno.

– Não! – arfou Elena.

Fiquei ali, olhando o pavor nos olhos da minha menina. Estava tão apavorada... Seria assim tão avessa ao que eu sou? Ainda me via como um monstro? Não, ressoou aquela voz interna. Não era isso, ela só não queria que fosse agora, percebi. Elena já havia se decidido sobre isso, pude ver. Mas era pedir demais que não fosse numa situação apavorante? Já era tanto para ela suportar... Eu fiz uma promessa mental. Iria tirá-la dali como humana.

– Não – falei – Ela permanecerá humana. Entregue-a agora.

– Absolutamente... Não. – respondeu Finn, parecendo se divertir com minha resposta.

Era o que eu precisava. Apertei o botão no meu telefone. Em quinze segundos meus irmãos estariam ali e seria o fim de meu irmão mais velho.

O celular dele ressoou no espaço pequeno.

Finn, seu absoluto idiota! Eu vi o que você fez! Pare com esses jogos estúpidos e me traga ela logo! Não, isso não me agrada. Seus irmãos estão vindo, quer morrer? Tem três segundos para sair daí. E nada de meu amor, para você é senhora.”

Xingando, me arremessei nele, derrubando-o no chão; mas parecia que tinha previsto isso. Em uma fração de segundo, Finn desapareceu com Elena. O gemido de dor dela ficou comigo.

...

– Então tudo isso foi por nada? – perguntou Rebekah, enquanto queimávamos a casa.

– Não exatamente – falei, mostrando a ela o celular de Finn que eu arrancara dele na nossa mini luta. – Podemos achar a localização por aqui.

– Esperto – disse Klaus.

– E há mais. Um pequeno segredinho que podemos usar contra ele. Tatia é sua fraqueza e ela está usando-o. Talvez conseguiremos distraí-lo em algum momento com isso.

– É, talvez. – respondeu ele, sem acreditar muito nisso. Finn era esperto e todos sabíamos disso.

Observamos as chamas consumirem a casa. A promessa que eu fizera ainda estava marcada em mim. Elena sairia humana disso e para isso eu teria de matar meu irmão, sem hesitação. Indaguei a mim mesmo o quanto desse mistério eu ainda iria descobrir antes de chegar a hora.

A hora de matá-la também.


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