Once Upon a Time escrita por Susan Salvatore


Capítulo 14
Minha melhor amiga de quatro anos




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Aquela semana passou voando. Estávamos a caminho de Atlanta, lar temporário de Klaus. Eu levava Elena direto a meu inimigo mais antigo, confiando apenas numa mulher que eu sempre detestara e em meus irmãos, não muito confiáveis. Se tudo isso se revelasse um erro, seria minha culpa, exclusivamente minha. Suspirei. Não havia outra saída.

Chegamos. Era a hora de ser ator. Hora de colocar as preocupações de lado e enganar a pessoa mais difícil de se enganar em todo o mundo. Hora de enfrentar Klaus.

– Não abaixe a guarda. E, se possível, torture-a mentalmente – disse, colocando a mão no ombro de minha irmã, até ela afastar-me com um tapa. Rebekah vigiaria Katherine até que fosse a hora da troca.

Elena segurou minha mão.

– Devo me preparar para ser uma garotinha assustada? – perguntou, sorrindo. Aquele provavelmente seria o nosso último contato carinhoso enquanto tudo isso não acabasse.

– E você consegue? – respondi, sorrindo.

– Vamos logo? – suspirou Elijah.

Pegando Elena bruscamente pelo braço, eu entrei na mansão de Klaus.

Ah, devo admitir, ele sabe viver com estilo. Guardas servindo-o por todo lado, garotas bonitas oferecendo o pescoço de boa vontade a ele... Exibicionista.

– Ora, ora, a que devo a honra, irmãozinhos? – perguntou ele, com aquele sotaque irritante. Jesus, só eu naquela família conseguia falar direito?

– Nós lhe trouxemos um presente – respondeu Elijah – Lhe trouxemos a doppelganger.

– Sentem-se. A casa é de vocês – falou, obviamente interessado.

Eu já podia socá-lo?

– Eu mesmo pretendia pegá-la, embora, admito, fica muito mais fácil assim. Mas, digam-me, o que querem em troca?

– Nós três temos o mesmo objetivo – falei, sorrindo cinicamente – Ninguém quer ser mais perseguido pelo papai. Como nós não conseguiríamos derrotá-lo nem juntos, talvez, se você fizer toda aquela idiotice que tem que fazer, tenhamos uma chance.

– Que boa vontade a sua.

– Não seja idiota. Não faço por você. Faço por mim.

– Vai aceitar ou não, Nik? – perguntou Elijah – Sabe bem que essa é a única chance, para nós três.

– Pois bem. Ajudem-me então. Mas saibam que não vou baixar a guarda. Esse não é exatamente um encontro de família.

– Eu não esperaria de outra maneira – respondi sorrindo – O que fazemos com a garota?

– Não se preocupe com isso. Mas, se quer ser útil, traga-me um vampiro e um lobisomem. Rápido. O ritual é daqui a dois dias.

E que comece a festa.

...

Observei Elena trancada no quarto – se é que aquela cela com grades na porta era um quarto. Como se ela conseguisse transpassar a pesada por de ferro. Revirei os olhos. Não podíamos nos arriscar a conversar, é claro, mas eu morri de vontade de tê-la sussurrando no meu ouvido. São apenas 48 horas, pensei, tentando animar a mim mesmo... Em vão. Tanta coisa podia dar errado, era tão fácil, apenas um deslize e boom! Adeus, Elena.

Acho que a parte mais difícil era ter que confiar em meus irmãos e na vadia. Praticamente as pessoas mais não confiáveis em todo o mundo. É. Essa não seria a última vez que pensaria nisso.

Deus, eu estava me tornando um chato.

Ouvi uma leve batida na porta e um bloco de notas e uma caneta deslizou pelo chão.

“Consigo sentir sua tensão daqui. Relaxe. Vai acabar com rugas”, dizia o papelzinho.

“Falta de sexo”, escrevi de volta.

Ouvi uma risadinha mal abafada.

“Lamento muito, mas acho que seríamos ouvidos”, respondeu.

“Com certeza, você geme muito alto”.

“A culpa é sua”

“Eu sei”, escrevi e desenhei uma carinha piscando.

O quê? Eu ainda posso ser infantil.

“Sinto sua falta”, respondeu ela e eu pude ouvir um suspiro pesaroso do outro lado da porta. Mas antes que eu pudesse responder, escutei alguém se aproximando. Procurei algum lugar para enfiar os papéis... Mas acabei enfiando-os dentro da minha calça. Elena rolou de rir.

– O que faz aqui? – perguntou Klaus, desconfiado.

– Esperando pra ver o primeiro idiota que pergunta.

Ele avançou e agarrou minha camisa.

– Esquece-se que está em minha casa, não é?

– Poderia dizer a mesma coisa lá da rua. E, a não ser que você vá se oferecer pra passar minhas roupas, tire suas patas caninas de mim.

Klaus me olhou odiosamente, mas soltou.

– Eu estou de olho, irmãozinho. Um erro, só um e vai ser o fim do... Seja lá qual motivo que te traz aqui.

– Olhar para seu adorável sorriso. – respondi, tentando desesperadamente não olhar para Elena.

– Um pequeno erro, irmãozinho, um erro... – disse e se retirou.

Elena me olhava meio assustada. Sorri ao perceber que ela temia por mim. Eu amo você, fiz com os lábios para ela e saí atrás do que meu querido irmão havia pedido.

...

Todo mundo parecia disposto a estragar minhas roupas. Capturar um lobisomem era mais problemático do que eu pensei. Caralho, eles precisavam mesmo ficar tentando arranhar minha cara?

Trancando o bichinho na cela mais distante de Elena, eu me preparei para dormir. Então olhei no relógio e descobri que só tinha mais 24 horas para acalmar minha tensão. Era amanhã, finalmente. E eu podia sentir que meu temperamento ia estragar tudo. Tinha que relaxar. Tinha!

Mais uma vez saí da casa. Rezando para que Elena me perdoasse, fui até o bar mais próximo, realizar uma carnificina digna de um vampiro a minha altura. Cerca de vinte e cinco pessoas tentaram fugir desesperadamente. Eu suguei todo o sangue do corpo delas, de cada uma. Foi preciso quebrar algumas pernas e costelas daqueles que se achavam espertos o bastante para fugir.

Ah, o prazer incomparável de beber sangue! Pude sentir a vitalidade me enchendo minhas veias, esquentando meu corpo e fazendo-me querer mais. Vinte e cinco pessoas era mais do que o triplo do que eu sequer precisaria, mas mesmo assim matei todo mundo. Era um sacrifício necessário – mas não vou mentir, era tão bom fazer isso. Gostava de me entregar aos instintos. Eu nunca mais machucaria Elena e nem esperava fazê-la presenciar uma cena dessas, mas esperava sinceramente que ela não alimentasse ilusões de que eu fosse uma pessoa boa.

Preparava-me para queimar o bar e os cadáveres quando ouvi alguém bocejando. Silenciosamente, me esgueirei para um quartinho nos fundos do bar, onde vi uma menina de cerca de quatro ou cinco anos revirando-se na cama. Tinha cabelos lisos e ruivos e seus olhinhos amendoados pareciam quase dourados na meia luz.

– Ah, você é outro amigo da tia Leah? – perguntou ela, esfregando os olhos.

– Uhum – balbuciei.

– Onde ela tá? Tenho fome – reclamou e começou a se levantar.

– Espera aí! – gritei e a menina se retraiu – É... Sua tia me pediu pra cuidar de você hoje.

– Por quê? Ela disse que íamos viajar hoje.

– Sim, mas ela teve que sair com um amigo... – rapidamente vasculhei o quarto com um olhar, e me deparei um caderno escolar, graças a Deus, etiquetado – Vem comigo, Lissa? Tenho um lugar ótimo pra gente comer.

A menina segurou minha mão. Saindo pela porta dos fundos, longe da terrível cena, nós fomos comer um Mc Lanche Feliz.

Não me pergunte por que eu fiz isso. Fiquei paralisado! Não ia matar uma criança tão adorável, nunca na minha vida. Nós conversamos no caminho e descobri que eu tinha matado a única parente da menina. Não sei por que ela confiava em mim, mas algo me dizia que era rotina dela andar com caras desconhecidos. Espero que com não muitos assassinos... Tipo eu.

Beleza. Ia me sentir culpado pro resto da vida.

– Você é um amigo legal – disse ela, de boca cheia. Eu sorri.

– Você também é, pequena – falei e seus olhinhos brilharam.

Não tinha a menor ideia do que ia fazer com aquela garotinha, pra onde levá-la, e coisas assim.

Só sei que aquele pequeno ser humano foi capaz de me fazer rir e relaxar, e era exatamente disso que eu precisava.


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