Once Upon a Time escrita por Susan Salvatore


Capítulo 11
Irmãozinho




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Durante os, talvez, piores três meses de minha vida, eu tentei ao máximo me distanciar de Elena; e, como manter distância dela é sinônimo de manter minha humanidade longe, eu vivi como um vampiro.

Mulheres, álcool, sangue, noitadas... Ah, aquilo foi muito bom. Eu era como um viciado, só que vivia pra sempre no êxtase sem fim. Mas, como todo viciado, era óbvio que coisas ruins iam sair disso.

Eu comecei a deixar rastros.

Ora, por que me importar com corpos que eu largava em lixeiras e estacionamentos de boates? Todo mundo já espera que de uma festa cheia de bebedeira só saísse o pior mesmo. Mas eu cometi um erro: fazia isso toda noite. Sim, querido público, eu perdi – novamente – a conta de quantos corpos eu enviei ao cemitério (e imaginem quantos estavam em estado crítico demais para serem levados para lá...).

Por volta do segundo mês, eu percebi que estava sendo seguido. Imaginem o quão ultrajante é para um caçador ser caçado? Eu fiquei puto e isso só piorou as coisas. Tentei pegá-lo em inúmeras armadilhas... Que deram errado. Seja quem for que me seguisse era um exímio caçador como eu e me conhecia perfeitamente bem para saber qual seria o próximo passo. Portanto, eu tinha duas alternativas que tinham razões suficientes para anular e considerar, igualmente.

Elena: se ela fosse uma vampira e estivesse atrás de mim, certamente me conhecia bem. Mas eu realmente duvidava de que uma vampira novata fosse uma caçadora assim tão boa. Ela ainda só iria se concentrar em sangue. E também, quem haveria de tê-la transformado? A menos que nas 24 horas depois que eu a deixei, ela tivesse se matado, só havia mais uma alternativa. Eles a haviam encontrado.

Os Originais: sem dúvida, se igualam a mim em força e perícia, mas é fato que não me conheciam nada bem. Para terem me encontrado, seria preciso mais de um ano, e, se eu, tremendamente bêbado, pude perceber que havia alguém me seguindo, certamente antes os teria localizado.

Portanto, a primeira opção era a mais provável. E não preciso sem dizer o quanto eu fiquei preocupado de que estivesse correto. Então, engolindo meu orgulho e o substituindo por meus melhores instintos, entrei no carro e dirigi para a Carolina.

Seja lá quem tiver mexido com Elena, ia pagar.

...

É claro, não era a primeira vez que eu iria até ela. Muitas vezes a visitara, principalmente enquanto dormia. Elena sonhava comigo cada noite de sua vida. Uma vez até chamou por mim e eu precisei de todo o autocontrole do mundo para não ir até lá e abraçá-la.

Agora, só precisei de uma leve desconfiança e pronto! Corria até ela que nem um cachorrinho. Deus!

Parei o carro de frente a casa dela – o que não fora nada difícil de encontrar. Rapidamente, senti um cheiro incomum e o de Elena cada vez mais sutil... Merda.

Sentindo a armadilha abraçar-me como uma velha amiga, eu soube que minhas duas opções estavam corretas. Um dos meus estava com ela. Pegando a Colt carregada com minhas belezinhas, eu adentrei a floresta que cercava o terreno.

Uma hora depois, eu a vi. E tudo de ruim que eu sentia, toda a dor, sumiu instantaneamente com a cálida presença dela. A onde de amor e alívio que eu senti quase me nocauteou.

E, diabos, mesmo naquela situação, fui imediatamente seduzido. Ela estava com os braços estendidos e os pulsos amarrados rudemente com uma corda, pendurada num galho qualquer. Parecia uma posição muito dolorosa, pois seus joelhos mal tocavam o chão. As roupas estavam rasgadas e havia cortes por toda parte. A julgar por seu estado, parecia que fora atacada por um bando de leões furiosos.

Quando ergueu a cabeça, eu estremeci. Seu rosto estava todo manchado de sangue, mas não era sangue dela. Humano, sim, mas não dela. Paralisei com a possibilidade que se esfregava na minha cara.

– Kol? – gemeu ela e eu respirei fundo. Humana! Minha pequena humana gostosa.

– Oi, amor – respondi, correndo para ela.

Assim que a libertei – cuidadosamente – ela caiu em meus braços, mas não derramou uma lágrima. Algo havia mudado. Quando ganhei um sorriso frágil, percebi. Ela havia sido torturada.

– T-temos que ir, Kol. Ele pode voltar – falou, se apoiando em mim.

– Quem?

– Seu irmão – disse, e levantou sua blusa. Primeiramente achei apenas que eram ferimentos horríveis e sangrentos, mas, então, pude perceber o sentido. As palavras “Olá, irmãozinho” foram escritas à faca em sua barriga e, seja lá quem qual deles fizera isso, não tivera nenhum cuidado em deixar apenas ferimentos superficiais.

Peguei-a no colo.

– Elena, eu... Perdoe-me, eu nunc...

– Shh, eu sei. Não é sua culpa. É minha, toda minha.

– O que quer dizer? – perguntei, mas ela desmaiou. Jesus, o que havia acontecido? O que eu imaginara como um encontro meloso estava cada vez mais parecido com um filme de terror.

Andei cuidadosamente com minha pequena em meus braços, atento a qualquer cheiro familiar. Desisti rapidamente. Fazia uns bons séculos que não via nenhum deles e tentar reconhecê-los pelo cheiro era perca de tempo.

Exatamente quando desisti da minha busca, ouvi um farfalhar de folhas atrás de mim. Depositando Elena no chão e sacando minha arma, eu atirei primeiro e perguntei depois.

– Que diabos! – gritou ele

– Elijah? – murmurei, surpreso. Na mesma hora entendi que era ele que estava me seguindo. E que não fora ele que fizera isso com a pobre menina. Elijah podia ser um assassino tão terrível e implacável quanto eu, mas era um cavalheiro. Jamais torturaria uma dama. Bem, pelo menos é o que eu acho.

– O que há nessas balas? – perguntou mais calmo. Seu ombro sangrava horrivelmente.

– Posso atirar em você até que descubra.

– Isso são modos? – falou, e eu atirei no outro ombro – Que inferno, Kol. Pare já com isso!

Elijah mandão.

– O que fez com ela? – perguntei categoricamente.

– A menina?

– Não, a planta. Imbecil – falei, e atirei de novo, só por prazer.

– Eu vou matá-lo.

– Pode tentar.

– O que há com você?

– Perguntei primeiro.

– Eu nem conheço essa garota. Que coisa. Eu estava seguindo você quando te vi entrar nessa floresta, e o resto já sabe. Eu nunca nem senti o cheiro dela.

Pensei se deveria acreditar ou não nele. Elijah nunca fora um mentiroso e orgulhava-se de fazer ameaças que se realizavam. Mas o fator decisivo que me fez acreditar nele foi o fato dele não ter reconhecido Elena. Com certeza entraria em choque ao ver aquele rosto tão familiar.

– Tá – respondi, pegando ela no colo e saindo dali.

– Espera, aonde você vai?

– Pra longe de você.

– E essas balas? Eu preciso de ajuda. E tenho que falar com você.

– Que pena – respondi, levemente interessado.

– Deus, eu não acredito que você ainda é tão criança.

Suspirando, entrei no carro e deixei que ele fizesse o mesmo. Elijah havia me deixado curioso.

– Obriga... – ia dizendo, quando viu o reflexo dela no vidro – Não. Ela... Sua namorada?

– Pois é.

– Eu vim falar justamente dela.

– Você disse que não a conhecia – falei, enquanto acelerava o carro.

– E não a conheço. Mas fui avisado de que outra doppelganger tinha surgido.

– Avisado por quem?

– Bem, Katerina.

– Deixe-me adivinhar. Tatia também apareceu nos seus sonhos? – perguntei, rindo.

– Então não somos os únicos.

Com isso, a conversa encerrou. Não houve nenhum tipo de sentimento ou alegria. Ambos sabíamos que nossa família sempre resultou em problema, além disso, tínhamos muito em que pensar. Era óbvio que havia algum plano ali, alguma coisa ruim. Restava saber de quem fora a ideia.

E, antes disso, eu tinha que curar Elena. Quando parei o carro para fazer isso, Elijah ficou me observando curiosamente.

– Isso é pouco saudável, não acha?

– Cuide de sua vida, irmão.

Então, muito baixinho, quase inaudivelmente, ele sussurrou:

– Você costumava fazer parte dela.

...

Já em meu apartamento, enquanto Elena não acordava, eu cuidei de suas feridas, tomando o cuidado de não tocar diretamente em nenhuma bala.

– De que são feitas? – perguntou, sempre curioso.

– Você não precisa saber.

– Não confia mesmo em mim, não é? Diga-me, quando é que eu te fiz algum mal? Ao contrário, eu sempre te defendi...

– Olha só, você não veio até aqui pra relembrar coisas há muito esquecidas. Vá direto ao assunto – falei, exasperado – Por favor – completei, revirando os olhos para a educação que ele tanto fazia questão.

Olhando para a chuva que corri lá fora, Elijah se preparou para contar.

– Lembra-se de Niklaus. E lembra-se de que ele sempre fora... Deslocado. Bem, não sei o quanto sabe, mas imagino que deva estar a par de que ele possuía outro pai.

– Um pai lobisomem – falei, curioso.

– Exato. Acontece que Niklaus é um híbrido, meio lobo e meio vampiro. Uma criatura extremamente perigosa. E todo esse poder está protegido apenas pela maldição de nossa mãe.

– Aquela bruxa velha – exclamei, juntando as peças – É das doppelganger que ele precisa, não é? Por isso Katerina fugia dele. Diabos, só eu não sabia disso?

– Eu era o único que sabia do segredo dele. Mas, depois de ele ser tão cruel com a moça Petrova, repensei se valia à pena trazer tanto pode a alguém que claramente não saberia usá-lo. Não vale. Precisamos impedi-lo, Kol. Ele não pode despertar aquele poder.

– Por que não procurou outro irmão? – falei.

Eu não queria me envolver naquela bagunça de família. Que Klaus fizesse o que bem entendesse, eu não ia me meter.

– Palpite. E pelo visto estava correto – disse, o “como sempre” bem explícito no final.

– O que te faz pensar que eu vou ajudá-lo? Eu, absolutamente, não me importo com nada disso.

– Você ainda não entendeu a profundidade da situação.

– Tá, tá, eu sei, ele seria impossível de controlar.

– Sim, Kol. Mas para quebrar a maldição, ele não precisa só da menina. Ele precisa da vida dela.

Paralisei.

Eu, que tanto procurara ficar longe deles, acabara de ser empurrado pro meio de toda aquela porcaria de maldição. E não havia saída já que eu nunca venceria Klaus sozinho.

– Bem, já que é assim, vamos atrás dele.

– Correto.

– Pois bem, Elijah. Eu vou ajudá-lo. Mas eu quero uma garantia: você vai se prevenir de que nenhum dos outros vai, e isso inclui você, chegar perto de mim e de Elena novamente. Nós não precisamos nos envolver nisso.

– Como queira – respondeu, parecendo magoado.

Abri o cofre do apartamento e joguei uma Colt gêmea da minha para ele, que me olhou confuso.

– Se vamos fazer isso, que façamos com estilo.

Elijah sorriu e começamos a planejar. A dupla imbatível, como nos velhos tempos. Que coisa mais decadente.

E que vença o melhor caçador.


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