As Faces da Magia escrita por Raissa Muniz


Capítulo 1
O jantar


Notas iniciais do capítulo

Primeiro capítulo, ainda com a linguagem de dois anos atrás.



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O jantar.

 

O cheiro de peru podia ser sentido em todas as direções do velho casarão branco. Respingos fracos que caíam lá fora anunciavam a chuva que estava por vir, a chuva que deixaria todos abrigados em suas casas.

Coberto de musgo, o telhado do casarão escondia uma pequena torre de tijolos vermelhos, com uma janelinha de vidro que servia de observatório da rua. Alguns barulhos podiam ser ouvidos dentro da casa; ora um vidro espatifado, ora gritos de crianças contentes. Esse era o clima do orfanato central da cidade de Paris, na França. Enquanto a cidade-luz repousava em paz, na fleuma da chuva, crianças sem família corriam nos corredores da velha construção. A casa estava iluminada, as crianças bem-vestidas, tudo armação da prefeitura para a noite de natal. Mas aquela arrumação não era para as crianças; uma assistente social viria naquela noite juntamente com o prefeito e sua equipe, para observar o comportamento das crianças e punir aqueles que as deixaram sem cuidados.

Uma campainha tocou na porta e pode ser ouvida em toda a superfície do orfanato.

Tudo parou.

Tocou mais uma vez, a música insistente alertava os moradores que estava na hora de abrir a porta.

Marie, querida. Abra a porta, boneca. Falou uma voz roufenha, vinda da cozinha.

A voz só podia ser de uma velha, e isso se confirmou quando a mesma colocou a cabeça para fora da porta da cozinha e repetiu:

 – Não ouviu menina surda?

Minutos depois uma pequena garotinha, aparentemente de sete anos, adentrou a grande sala, os cabelos ruivos voando sobre as orelhas e um sorriso estampado em sua boca cor de sangue.

 – Bem vindo, senhor prefeito! – Disse a ruiva Marie, abrindo os braços e se jogando em um abraço apertado com um velho barbudo de expressão angelical e jovial.

 – Ora, ora, ora. Só podia ser a minha Marie. – Ponderou o prefeito. – O que seria do velho Anthony sem a sua Marie? – Ele riu, afastando-se dos braços da pequena e abrindo espaço para equipe que jazia do lado de fora, com olhares curiosos e impacientes, talvez por estarem pegando respingo.

Marie correu de volta para a cozinha, gritando algo como “Ele chegou, ele chegou”. O prefeito olhou assustado, e arregalou os olhos quando uma multidão de crianças de todas as idades entrou em seu campo de visão, todas com um sorriso enorme no rosto, gritando e pulando, todas atrás de Marie.

A mulher que até então estava cozinhando abriu um sorriso imenso e correu em direção ao prefeito, muito mais formal que a pequena Marie, mas ainda sim com um tom de expectativa.

– Fique a vontade, senhor, é uma pena que tenho que dizer que o jantar ainda não está pronto.

A velha corou, mostrando uma dentadura velha e amarela ao abrir um sorriso.

As crianças que estavam atrás dela riram, todas muito alegres para se importarem com a comida.

 – Não é nada, absolutamente nada, senhora McGrifoll, eu entendo, eu entendo. – Falou, abrindo um sorriso encorajador. – Ah! Pode continuar o jantar, se não se importa, enquanto eu brinco com os amigos da minha pequena. – Continuou, fazendo um gesto para a ruiva que estava sentada no sofá, onde poderia ser confundida com a capa vermelha.

A senhora McGrifoll assentiu, voltando para a cozinha, fazendo um corte na multidão de pequenos que começavam a se sentar no tapete negro da casa.

 – Como vão vocês, meus pequenos anjos dourados? – Perguntou o velho, sorrindo jovialmente enquanto as crianças arrumavam o espaço para que todos pudessem se acomodar.

Ainda na porta se pode ouvir um pigarro, da equipe que ainda estava parada como colunas ao lado dos quadros do orfanato.

– Ora, ora, senhor prefeito. Sempre se esquecendo da equipe, não? – Perguntou um homem alto e corpulento que olhava pelo canto do olho para o prefeito. O homem não se deixou abater e sorriu na direção das crianças.

 – Meus queridos, eu trouxe aqui hoje uma carta de um casal que gostaria de adotar um de vocês. Claro... Ele tem algumas exigências. – Indagou, corando cada vez mais ao ver a percepção nos rostos dos garotos. – Tirando essa parte... – Continuou o homem, sorrindo.

“Vou precisar de uma ‘equipe’ de 10 crianças que serão escolhidas por comportamento nesses próximos meses. Os escolhidos ganharão uma viagem para os Estados Unidos, onde viverão por um ano no meu apartamento especial. Claro que eu quero saber quem gostaria de mudar o comportamento para ir nessa viagem. O que acham pequeninos?”

Um coro se formou com a junção de vozes finas das crianças.

“Eu queeeeeeeeeeero”

Os homens ao fundo riram até mesmo os mais sérios, formando uma estrela no olho de cada um.

Mas não foi só a atenção do homem que foi tomada pelo coro de vozes encantadoras.

 – Estão dando trabalho para o prefeito? Que feio! – Bradou a velha McGrifoll da cozinha.

O prefeito deu um sorriso estrondoso e todos os outros riram com ele, formando uma sintonia desafinada.

A velha senhora cozinheira fez um muxoxo fraco da cozinha e a um menino alto de cabelos escuros e pele clara, falou em direção á equipe e ao prefeito.

 – Não se deve irritar a senhora McGrifoll, ou vai acabar sobrando pra nós. – Ele fez uma cara de inocência e apontou para mais três crianças que estavam atrás do sofá, ouvindo, tímidas.

 – Senhor prefeito, eu não acho que esse jantar vai ser dos melhores se o senhor não terminar logo com essa baderna. – Disse um homem baixo, careca e com olhos profundamente claros.

 – Ora, cale-se já, senhor Toupeira! – Gracejou um garotinho ruivo, aparentemente de cinco anos, enquanto todos faziam coro às suas gargalhadas finas.

O careca não gostou na repreensão e por isso abriu a boca para, provavelmente, dizer algo contra o garoto, mas foi interrompido pelo olhar severo do seu superior, o prefeito.

 – Vamos ao que interessa, e cale-se agora, Bleff.

 – Blefe? Isso é nome de gente? – Perguntou um menininho inocentemente para o prefeito, enquanto mais uma vez a sala se enchia dos risos das crianças.

O prefeito, que apesar de estar se divertindo, não estava gostando muito daquele comportamento, refreou os pequenos com a mão estendida, enquanto a senhora McGrifoll entrava com o peru assado, com um cheiro grandioso.

Depois disso ninguém disse mais nada, todos estavam demasiado absortos no delicioso gosto para ligarem para algo. Até que depois de breves 10 minutos, o silêncio entediante foi cortado por um barulho de cadeira sendo arrastada, seguida por um ruído de alguma mola sendo solta e um grito de susto vindo do homem que se chamava Bleff.

As crianças, que pareciam já estar esperando por aquilo riram, e saltitantes correram para o quarto, enquanto a senhora McGrifoll corria ao seu encalço com uma colher de madeira no braço esquerdo, tentando alcançar os pequenos corredores.

 

Não se passaram 5 minutos e a velha já estava de volta à sala de estar com seus pequeninos. O garotinho que tinha dirigido o “insulto” ao homem que seria Bleff vinha na frente, com o rosto tristonho – talvez por ter sido quase esmurrado pela senhora.

— Diga Steven.

— Desculpe-me, senhor Bleff. — Falou, dando ênfase ao nome do homem como se o mesmo fosse um micróbio. Como resultado, Bleff assentiu, sentando ao lado de Anthony – o prefeito – e começando a desfrutar do peru perto do chefe, temendo novas especulações infantis.

— Senhor prefeito, o horário, senhor. – Lembrou uma mulher da equipe, mostrando seu relógio de pulso. Anthony fez uma careta e olhou em volta, se certificando de que todos estivessem lá.

— Onde está Elizabeth? – Perguntou assustado. Elizabeth era uma das mais problemáticas, sempre praticando fugas indevidas e jogando estragos no rosto dos professores. Claro, ele só podia estar pensando que ela tinha fugido dessa vez. A cozinheira o tranqüilizou, colocando logo as mãos na cabeça e dizendo:

— Elizabeth está pagando por seus castigos... Ela tentou adormecer o pequeno Steven hoje, com um sonífero barato. Inteligente e esperto como sempre, Steven a pegou em flagrante e a fez tomar o líquido todo! – Todas as crianças riram. O prefeito ainda estava assustado, queria saber mais. – Não se preocupe, Beth está ótima. Intrometo-me em dizer até mesmo que para derrubar aquela criatura serão necessários cinco leões das montanhas, ó sim!

Anthony riu agora bem menos despreocupado e levantou-se. Era hora de partir.

Toda sua equipe, um por um, espremeu-se pelo pequeno portal de carvalho e saíram calados, ainda na chuva. Um carro esperava todos eles do lado de fora, e o único que permanecia no território do orfanato era o próprio prefeito, dando beijos e abraços nas crianças, enquanto as mesmas choramingavam por presentes. Em intervalos irregulares, McGrifoll corava com os pedidos indiretos das crianças e as desculpas esfarrapadas do prefeito: por mais que ele gostasse de todas elas, o dinheiro destinado à prefeitura não acarretava em agrados extras aos pequenos.

Abrindo um guarda-chuva, Anthony deu um último tchau, entrando no seu carro luxuoso e desaparecendo pela rua mal-iluminada.

 

 

 

•••


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Notas finais do capítulo

Sim, logo no começo nada é estranho ou talvez até mesmo divertido nessa história. Só um jantar, um pouco de gozação por parte de crianças e políticos mentirosos, um estilo bem moderno, rs. Prestem atenção no próximo capítulo, porque Elziabeth é a protagonista e não, a sra. McGrifoll não contou a verdade quando disse que ela estava dormindo. Aconteceu algo mais... Aguardem e obrigada por lerem. *o*'


• Ah, lembrem-se dos Reviews! Nem que seja pra julgar, xingar ou reclamar da história. Todo autor precisa saber o que os leitores estão achando do trabalho, para assim, melhorar ou manter o padrão. Beijos. ;*



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