Capitulo 4: Os primos da noiva.

Ouço ao longe, sons que irritantemente tentam me tirar do sono, além disso, uma luz incomoda esta batendo em meu rosto, rolo na cama tateando até encontrar o travesseiro, coloco-o sobre a cabeça tentando abafar o som e bloquear luz. Eu ainda preciso de, no mínimo, mais cinco minutos de descanso.

Ao poucos os sons vão cessando, aquela sensação de torpor vai me tomando, acho que não existe coisa melhor. Então um barulho estrondoso enche o apartamento, eu me sento bruscamente olhando assustada para a porta por alguns segundos, depois me levanto e saio correndo do quarto em direção à cozinha.

- Merda! – Escuto assim que chego ao ambiente, mas não vejo ninguém.

Quando reparo melhor no lugar não consigo evitar arregalar os olhos em espanto. Apesar de a cozinha estar um tanto bagunçada, o que chama minha atenção é a mesa posta para o café da manhã, não há muita variedade de coisas, apenas o básico, mas fica claro que aquilo havia sido feito com esmero. Tinha até uma rosa colocada no centro da mesa.

- Eu te acordei? – Encaro Itachi, que segura uma chaleira e uma leiteira, provavelmente elas tinham feito todo aquele barulho.

- Pois é... – Murmuro abobada. – Foi você que fez isso?

- Sim. – Deu um pequeno sorriso. – Mais um dos meus dotes! – Passou as mãos no cabelo tentando fazer uma pose arrogante.

Giro os olhos e me viro para sair da cozinha...

- Não vai tomar café? – Disse um tanto surpreendido.

- Vou, mas antes tenho que ao menos escovar os dentes. – O encarei por cima do ombro. – Já volto.

Volto para o quarto, pego o que irei utilizar e depois sigo para o banheiro, precisava fazer minha higiene matinal e pentear os cabelos, saí tão apressada do quarto que esqueci que deveria estar parecendo uma bruxa.

Em poucos minutos retorno para a cozinha, já devidamente ajeitada e encontro Itachi sentado à mesa lendo o jornal do dia, seus cabelos estavam soltos e a camisa aberta.  Sinto-me estranhamente confortável com a situação, o cheiro do café, a mesa posta e o homem de postura relaxada lendo, parece tão normal... Falta apenas eu cumprimentá-lo com um carinhoso beijo.

O que eu estou pensando?!

Sacudo a cabeça tentando afastar aqueles pensamentos loucos e me acomodo, chamando a atenção de Itachi.

- Bom dia, Sakura. – Ele me dedica um calmo sorriso.

Meu coração acelerou... Merda!

- Bom dia. – Começo a me servir e evito encará-lo.

Estou envergonhada por causa do que fiz ontem e dos pensamentos de hoje. Pouco antes de dormir eu estava tão decidida a me afastar dele, mas agora tudo caiu por terra.

- Sakura sobre ontem...

A campainha soou e eu rapidamente me levanto, aliviada pela interrupção. Sinceramente ainda não estou preparada para conversar sobre aquela estúpida ação impulsiva.

- Bom dia, magrela. - Kurama sorri de lado assim que eu abro a porta.

- Bom dia. O que você está fazendo aqui? - Kurama nunca me visita, acho que a última vez foi quando me mudei e ele veio ajudar. Faz uns dois anos.

- Não vai me convidar para entrar? - Arqueou uma sobrancelha.

- Desculpe... - Dou espaço e ele entra como se fosse dono do lugar. - O que você veio fazer aqui?

- Minha mãe disse para eu vir te buscar, ela quer te ajudar na escolha do vestido de madrinha.

- Sério? Mas por quê? - Não acho que seja obrigação dela me ajudar, talvez eu a atrapalhe. Kushina-san é realmente uma mulher muito gentil.

- Eu contei pra ela seu fracasso na hora de escolher o terno do Sasuke e ela resolveu te ajudar. - Abriu um sorriso cínico. Como eu odeio esse cara às vezes.

- Aquilo foi...

- Sakura quem é? - Itachi apareceu na sala, agora eu vi que ele está descalço. Ele realmente parece se sentir a vontade em minha casa.

Kurama o fita dos pés a cabeça, com o cenho franzido, mas segundos depois abre um sorriso malicioso e me encara.

- Opa... Acho que interrompi alguma coisa.

- Nã...

- Sim Kurama, você interrompeu. - Arregalo os olhos.

- Ora, ora Uchiha maior. – Cruza os braços e se empertiga. – Você realmente não perde tempo.

A expressão dele me faz pensar sobre suas origens, Kurama é ruivo como Kushina-san, tem os olhos azuis como os do Minato-san e muito mais características que remetem a seus pais. No entanto ele é astuto, cínico e tem o humor deturpado na maioria do tempo. Ao contrário dos membros de sua família, que parecem estar sempre dispostos a sorrir amigavelmente a todos.

Eu tinha medo dele quando era pré-adolescente, quando o mais velho dos irmãos Uzumaki me fitava sentia um arrepio de terror me tomar, parecia que a qualquer momento ele iria me engolir.

Naquela época Kurama andava todo de preto, seu cabelo era longo e repicado, usava brincos, piercing e todos os adornos característicos de um punk, além de ter uma enorme tatuagem de uma bela e assustadora raposa de nove caudas nas costas. Para alguém como eu, criada em um ambiente cheio de “fru-frus”, isso era realmente assustador.  

Com o tempo eu me acostumei a sua presença, na verdade o fato da fase punk ter passado também ajudou bastante, atualmente ele se veste de forma bem comum, as únicas coisas que ele ainda mantém são os pequenos brincos de argola, além do cabelo longo e, é claro, a tatuagem.  

Também acabei percebendo que, apesar da aparência opressiva, ele respeita e ama muito sua família. Até acho que ele tem apreço pelos amigos do Naruto.

Mas o apreço que ele sente pelas pessoas não o impede de destilar seu veneno... Kurama pode ser muito legal, mas também pode ser a pior das pessoas.  E o olhar repleto de maldade que ele esta lançando sobre mim e Itachi, me faz voltar a sentir aquele arrepio...

- E você, ruiva? O que está fazendo aqui? – O moreno se aproxima de mim, ficando frente a frente com o Uzumaki.

- Não precisa ter ciúme, Itachi-chan. – Sorriu mordaz. – Mas não acha que é cedo demais pra dormir na casa dela? O que será que os dois pirralhos vão achar disso?

 Essa conversa está ficando cada vez mais estranha... Eu sei que eles conviviam muito quando crianças e parte de sua adolescência, afinal Kurama é apenas um ano mais velho que Itachi. Mas nunca os imaginei se alfinetando.

É realmente algo bizarro...

- Não os trate como se ainda fossem crianças...

- É verdade... – O sorriso maldoso aumentou. Ele ainda me dá medo. – Se eu fizer isso, vão acabar te acusando de pedofilia, afinal a magrela também é uma pirralha.

- Kurama! – Altero a voz, chamando a atenção de ambos. – Primeiro: você não nos atrapalhou, estávamos apenas tomando café. Segundo: eu tenho vinte e oito anos, posso decidir quem pode e quem não pode dormir na minha casa. Terceiro: avise à Kushina-san que Itachi irá me ajudar a escolher o vestido.

- Oh... – Ficou sério e pareceu me analisar criticamente, depois sorriu de lado, um sorriso natural sem traços de deboche ou malícia. – Acho que minha mãe se preocupou a toa...

Kushina-san preocupada? Com o que? O ruivo pareceu compreender minha dúvida.

- O vestido foi uma desculpa. A velha te considera muito e sabe da sua paixonite pelo Uchiha menor, então ela queria conversar com você e ter certeza de que você está bem.

Eu sou péssima mesmo em guardar segredos. Naruto, Itachi, Kurama e até a Kushina sabem da minha paixonite. Como aquele idiota não percebeu?

- Agradeça a senhora Kushina, Kurama. – Dou um sorriso, estou realmente feliz pela consideração. – E diga que estou bem, amanhã passarei lá para nós conversarmos melhor.

- Pelo visto está bem mesmo. Acho que você fez tudo direito, Itachi-chan, estou impressionado. – O ruivo bateu algumas vezes na cabeça do Uchiha e este estreitou os olhos.

Eu apenas fiquei observando a interação deles, morrendo de vergonha pela insinuação do mais velho. Não pela insinuação em si, mas por me lembrar do que tinha feito na noite anterior.

- Você é um idiota. – Itachi murmurou.

- E você também é... Por isso nos suportamos. – Vira-se para mim. – Até mais, magrela e não se esqueça de usar proteção. – Sorriu abertamente e fez sinal de positivo com o polegar.

Ele pode ser diferente na maior parte do tempo, mas ainda é um irritante e impulsivo Uzumaki. Sempre pronto para constranger qualquer um com seu jeito natural e inconveniente de agir.

- Não esqueceremos! – Itachi me abraçou e apoiou o queixo no topo da minha cabeça, eu me senti muito pequena.

Kurama parecia a ponto de gargalhar, no mínimo ao ver minha cara de profundo desespero e vergonha. Mas apenas virou-se e saiu do apartamento, sem dizer mais nada.

- Me solta... – Murmurei secamente.

Que mania idiota de ficar muito perto! Assim fica muito complicado tentar seguir com o plano que formulei ontem: afastar-me e seguir por este processo sozinha.

- Nem pensar... Você já enrolou muito. – Me segura pela cintura e me arrasta até a cozinha.

Realmente devo ser muito magrela, Itachi não fica cansado de me arrastar pra lá e pra cá.

- Você tem que comer logo e se arrumar, temos que passar na casa do Naruto pra conversar com ele sobre a ideia que tivemos.

- Tudo bem, líder sombrio do mal. – Resmungo de forma debochada e ele apenas gira os olhos.

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Umas duas horas depois da inesperada visita de Kurama estaciono o carro em frente à residência de meu amigo. É uma casa laranja que tem um singelo jardim, isso pode soar estranho, mas quem cuida do jardim é o Naruto e não a Hinata. Sim ele gosta de flores e, além disso, Hinata gosta de fazer quadros com flores prensadas.

- Eu nunca os visitei. – Os olhos negros de Itachi correm o ambiente. Apesar da expressão neutra, sua voz soou diferente, com uma nota de chateação. – Vi Naruto crescer e nem vim conhecer sua nova casa.

- Pode ter certeza, esses dois não se importam e vão ficar felizes por você ter vindo hoje. – Caminho em direção à porta.

- Eu sei, mas é estranho eu ter demorado tanto tempo.

- Eles só estão casados há um ano, não é tanto tempo assim.

 Toco a campainha e segundos depois ouço passos apressados, em seguida a porta é aberta por um Naruto vestido desleixadamente e usando um avental com desenhos de filhotes raposa. Não entendo essa obsessão que os irmãos Uzumaki têm por raposas!

- Sakura, Itachi! – Ele sorri largamente. – Entrem... – Dá espaço para passarmos.

- Bom dia Naruto... – Dou um beijo em sua bochecha e entro sem cerimônia.

- Bom dia. – Ouço a voz serena de Itachi, logo atrás de mim.

- Finalmente você veio conhecer minha casa, dattebyo! E logo hoje que eu fiquei responsável pelo almoço... Se eu soubesse... – Meu amigo louro tomou a dianteira e se encaminhou para a cozinha, nem conferindo se o estávamos seguindo ou não.

  Durante o curto percurso fico atenta às ações de Itachi, o moreno analisa criticamente todo o ambiente e da um pequeno sorriso ao reparar nos retratos que enfeitam as paredes do hall e da sala, há imagens das famílias do casal, dos amigos e dos dois. Fotos antigas e fotos atuais, eu acho que em breve não haverá mais espaço para as elas.

- É uma casa bem simples ao estilo Hinata, mas ao mesmo tempo exagerada ao estilo Naruto.  – Comenta baixinho e eu passo a analisar a decoração da sala.

Nela há um sofá em L, branco, com várias almofadas coloridas em cima, uma mesa de centro da mesma cor que o sofá, um tapete branco e uma estante também branca onde fica a TV LCD de 32 polegadas, além de alguns bibelôs coloridos e alguns porta-retratos.  No geral a sala é completamente branca e serena, mas tem vários objetos que a deixam colorida e vibrante.

Encaro Itachi admirada por sua conclusão. Como alguém pode ser assim?

- Deve ser realmente incrível estar tão conectado a alguém, ao ponto do ambiente tornar-se uma mistura perfeita dos dois. Desde o aroma até a decoração. – Enquanto fala, Itachi se vira em minha direção. Os olhos negros se fixam nos meus, de uma forma tão intensa que sinto meu rosto esquentar. – Espero um dia conquistar esse privilégio também. – Um sorriso calmo surge em seus lábios.

- Vocês vão ficar aí na sala até quando? – A voz de Naruto me desperta e em passo acelerado vou em direção à cozinha.

O que foi que acabou de acontecer?

Quando chego ao ambiente, vejo o loiro em uma batalha feroz contra as panelas. Ele encara concentrado, os utensílios sobre o fogão, como se a qualquer momento um alienígena fosse saltar dali. Apesar da postura dele, o aroma está muito gostoso. E eu confio nos ensinamentos culinários da Hinata, afinal ela me ensinou a preparar várias coisas.

Itachi e eu nos acomodamos a mesa, em frente ao fogão, e o Uzumaki, sem nos encarar, indaga sobre o motivo de nossa visita.

- Nós decidimos qual vai ser a despedida de solteiro do Sasuke. – Falo empolgada.

- E o que vai ser?

- Paintball! – Itachi e eu falamos juntos.

- Paintball?! – Naruto nos olha surpreso.

- Vai ser divertido e diferente, sei que todos vão gostar! – O Uchiha usa um tom que não da brecha para uma possível objeção.

- Vai ser apenas para os homens ou vai ser misto? – Meu amigo me encara com uma sobrancelha arqueada.

- Misto. – Respondo sorrindo. – Não acho que a Karin vai ter algo contra, além disso, estamos pensando em fazer uma festa depois. O que você acha?

- Acho genial! – O loiro abre um enorme sorriso. – A Hinata estava preocupada com o chá de panela.

- Por quê?

- A minha mãe e a Mikoto-san fizeram questão de montar todo o enxoval deles, isso acabou com a graça do chá de panela. – Itachi e eu rimos diante da careta que o loiro fez. – Vocês riem? A Hinata estava responsável por essa parte, ela quase chorou!

- Ainda tem tempo de montar um chá de lingerie! – Arqueio uma sobrancelha e me viro para Itachi, este apenas sorria de lado, como sempre.  – O que foi? É só uma ideia!

- Elas já fizeram esse enxoval também! – Naruto resmungou, já de costa mexendo o conteúdo de uma das panelas. – Até parece que você não conhece minha mãe, Itachi. Ela está sempre disposta a fazer tudo do próprio jeito e que se exploda a etiqueta!

Não aguentei e acabei soltando uma gargalhada. Kushina-san era realmente uma mulher incrível e muito moderna. Lembro-me que ela tentou fazer a mesma coisa no casamento de Naruto, mas a mãe de Hinata não permitiu. A noiva ficou sob a responsabilidade da própria mãe e da irmã.

- Então não conte nada para elas sobre a festa, falaremos apenas do Paintball. - O Uchiha diz seriamente. – Você e Hinata ficarão responsáveis por organizar a festa, Sakura e eu iremos ficar responsáveis pelo Paintball e juntos nós iremos montar a lista de convidados.

E novamente ele estava decidindo tudo por si mesmo, sem nem ao menos perguntar se eu estava de acordo. Será que ele não pensou que seria mais fácil Hinata e eu organizarmos a festa? Será que ele realmente se importa com isso?

- Não acho que vocês terão tanto trabalho assim. O que tem de complicado em comprar um pacote para o jogo? – Tenho que concordar com o Naruto.

- Eu quero montar um tema especial para o jogo e isso vai levar certo tempo, não tenho como saber se a empresa organizadora pode aceitar minha sugestão. – A expressão de Itachi está realmente me assustando. Será que ele vai trocar as bolinhas de tinta por dardos envenenados?

- E o que vai ter de tão especial? – Pela expressão receosa de Naruto, presumo que ele compartilha da minha opinião.

- Você vai saber no dia! – O moreno falou como se estivesse tratando de uma criança bisbilhoteira. – Será uma surpresa para os noivos e convidados, mas eu preciso saber o mais cedo possível quantas pessoas vão.

- Sakura? – Os olhos azuis de Naruto brilharam esperançosos em minha direção.

- Estou tão curiosa quanto você. – Coloco as mãos em torno da minha boca, formando uma concha e finjo um tom sussurrado. – Corremos o risco de morrer?

- Espero que não. – Me imita, usando o mesmo tom divertido.

- Eu ainda estou aqui e posso ouvi-los perfeitamente! – O moreno disse sombrio.

- Podemos montar a lista de convidados hoje mesmo, só precisamos esperar a Hinata voltar.

- Onde ela foi?

- Karin foi fazer a penúltima prova do vestido de noiva e Hinata foi acompanhá-la.

Sinto minha garganta ficar obstruída, meus olhos ardem e tenho uma leve náusea. O clímax está cada vez mais próximo...

Porque eu não segui o conselho de Naruto e Itachi? Porque eu simplesmente não neguei o pedido de Sasuke? Droga!

- Sakura? – Meu amigo me encara muito preocupado. – Não chore! – O loiro vem em minha direção e me puxa para um abraço protetor, como se fosse um irmão.

Nem percebi que estava chorando, encosto a testa em seu peitoral e tento me acalmar. Se eu me descontrolar, vai ser ainda pior. O empurro delicadamente e tento sorrir.

- Acho que às vezes fica impossível controlar. – Evito encarar os dois homens.

- Você sabe nossa opinião sobre isso... – A voz grave de Itachi chega aos meus ouvidos e eu o encaro. – Apenas desista. Não vamos te condenar por isso. – Ele está extremamente sério, parece até com raiva.

- Eu preciso encarar isso logo! Não vou desistir.

Os dois homens suspiram e se entreolham. Eles até parecem estar diante de uma criança birrenta. E eu não nego que minha postura atual é exatamente essa.

- Faça o que achar melhor... – Naruto balança os ombros com descaso.

Ouço o barulho da porta, em seguida Hinata aparece e sorri gentilmente para nós. A partir de sua chegada o foco foi a lista de convidados e a festa.

Almoçamos com o casal Uzumaki, como sempre foi divertido passar um tempo com eles, ver de perto o quanto aqueles dois se completavam, por serem opostos. Durante toda a tarde Hinata não tocou no assunto do vestido de noiva... Provavelmente até ela sabe sobre mim...