Acordo com mais uma briga. Outro dia normal na minha casa, nada mudou. Suspiro e olho pro teto na esperança de ter coragem de sair da cama. Escuto alguma coisa espatifar e logo o grito da minha mãe informa aos meus ouvidos que mais um prato se foi.

Suspiro mais uma vez e sento na cama, passo meus olhos por meu quarto e vejo que ele é o único lugar bem cuidado da casa. Mais um grito, mas dessa vez é pra mim. Sem vontade nenhuma me encaminho até a porta e a abro, olho para o corredor e vejo a bagunça de coisas quebradas.

- Já acordei, já acordei. - Informo à minha mãe que está parada no corredor me fuzilando com os olhos. Alguém já disse à ela que ela é minha mãe e não minha, hm, inimiga? 

- E quando você vai tomar vergonha na cara pra vim limpar essas coisas aqui? - Sabe quando nos dizem para nunca nos envolvermos com drogas, bebidas e essas coisas? Pois bem, nunca se envolvam mesmo! Não é legal ter uma mãe viciada em maconha e um pai bêbado. 

- Já vou limpar tudo, só quero trocar de roupa. - Digo e fecho a porta do meu quarto. Fecho meus olhos e sento no chão. - Eles não eram assim, nunca foram esses monstros. - Sussurro para mim e passo a mão na minha testa.

Ótimo Rebeca, se levante agora, vá trocar de roupa e não chore porque você já é bem grandinha pra isso.
Assim que troquei de roupa fui encarar minha realidade. A unica coisa que fiquei feliz em saber quando peguei os utensílios necessários para limpar o corredor, foi que meu pai e minha mãe estavam desmaiados no sofá.

Terminei toda a limpeza em pouco tempo, me obrigando sempre a ter certeza de que tudo estava muito bem limpo e arrumado. Como os dois estavam dormindo, ou melhor, desmaiados, resolvi tomar um banho.

Meu banho não foi agitado, não teve gritos e nem barulho de coisas quebrando. Relaxei e tive um pouco de paz, se isso é possível nessa casa. Ao sair do banho volto ao meu quarto e coloco minha roupa, penteio meus cabelos e guardo alguns livros que estavam para fora da minha estante.

Estava abrindo a porta quando uma forte luz invade meu quarto. Meus olhos são forçados a se fechar por causa da claridade. 
Quando tudo para e a casa volta a ficar na penumbra de novo, abro lentamente meus olhos e me deparo com uma enorme figura em minha frente. Meu queixo caiu e tive que me segurar na maçaneta da porta para não cair.

- Sou Heimdall e venho de Asgard. - Heimdall, ou seja lá que alucinação louca é essa, fechou seu punho e deu uma leve batida no peito se ajoelhando brevemente para mim. 
E neste momento percebi o verdadeiro significa de "o gato comeu sua/minha língua". E a coragem pra falar alguma coisa? Ou melhor, onde foi parar minha coragem pra piscar, respirar ou desgrudar meus olhos de Heimdall?

Tomando fôlego e forçando meu cérebro a me ajudar consigo finalmente falar. - He-heimdall? Uhun, uhun. - E tudo o que eu digo é "uhun, uhun".