Acordei com o toque irritante do meu celular. Não que a musica fosse irritante, de maneira alguma. Mas ouvi-la em uma das poucas noites em que dormi bem no castelo... Ah, isso tira qualquer um do sério. Procurei pelo aparelho, mas não estava próximo a mim. Abri os olhos e o encontrei sobre a mesa de centro. O visor indicava que o número era desconhecido. Atendi.

- Alô? – disse, bocejando e olhando de relance na parede do quarto. Já se passavam das duas horas da tarde. Eu definitivamente havia dormido demais – Quem fala?

Não tive resposta se não uma respiração que se acelerou repentinamente. Contei alguns segundos, antes de dizer as mesmas palavras novamente, mas nada, além do silêncio e de certo desespero do outro lado da linha. Quem seria? Poucos possuíam meu número, e reduzindo a lista para aqueles que costumavam respirar...

- Nessie? – a voz rouca e tão conhecida finalmente se manifestou. Jacob. – Renesmee... Eu... Eu...

E então desligou. Joguei o celular sobre o sofá, ainda tentando raciocinar tudo o que se passava por ali. Um arrepio percorreu minha coluna, como se um vento frio tivesse me atingido em cheio. Virei-me instintivamente, deparando-me com uma figura ruiva sentada sobre o piano de cauda. Congelei. Sua risada ecoou pelo cômodo, enquanto ela se movimentava pelo quarto. Notei algo de felino em seus passos. Não era agilidade, muito menos sua velocidade que a tornavam assim. Algo em seus atos lembrava-me uma pantera, do mesmo modo que tio Emmett lembrava a um urso.

- O que faz aqui, Céline? – bufei, tentando não dar importância ao fato de uma vampira sanguinária impecavelmente perfeita estava fitando-me como um gato observa um rato antes de ataca-lo.

- Eu poderia estar te fazendo a mesma pergunta, Cullen. – ela cuspiu meu sobrenome, e um sorriso se formou no canto de seus lábios.

- Esse é o quarto de Alec.  – respondi, ríspida. – Você não deveria estar aqui.

- Nem você – ela gargalhou, sentando-se em uma das poltronas cor-de-vinho que estavam dispostas ao lado do sofá. – É o quarto de Alec, não o seu.

- Ele é meu namorado.

- E meu ex. Meu amigo. E meu tutor.

- Que seja – revirei os olhos. Impossível discutir com... Pessoas tão ignorantes.

- Seu namorado não é muito melhor do que eu, caso não sabia. – ela suspirou, analisando suas unas impecavelmente coloridas com um esmalte vermelho-sangue. – Consigo ver seu desprezo em seus olhos, híbrida.

- Que bom que consegue. Assim não preciso ficar repetindo o modo como me sinto em sua presença. Se me dá licença – falei, puxando algumas peças do guarda-roupa e entrando no banheiro, fechando-o atrás de mim.

Abri a torneira, deixando com que a banheira se enchesse de água quente e olhei-me no espelho. Meu cabelo estava terrivelmente desgrenhado, e eu ainda usava pijamas. É claro. Eu havia acabado de acordar. Meus olhos estavam vermelhos como nunca antes, e senti a pele arrepiar ao me ver desse modo. Onde estava o castanho-chocolate? Nahuel tinha os olhos como sempre foram. Por que eu tinha que ser diferente?

Fui tirada de meus devaneios quando notei que a banheira estava praticamente cheia. Fechei o registro e entrei, sentindo a água quente em minha pele. Mais quente que o normal. Quente até demais. Mas era assim que eu gostava. Fiquei submersa por vários minutos, notando o quanto meu fôlego estava se aprimorando. O quanto eu estava me aprimorando. Lavei os cabelos escuros, agora tão longos, mas ao mesmo tempo, no mesmo tom acobreado de quando nasci. Um alívio tomou conta de mim quando notei que nem tudo havia mudado.

Deixei a banheira se esvaziar e me sequei. Por mais que eu praticamente não suasse, banhos me revigoravam. Vesti o que tinha pegado, só então notando que havia escolhido um short e um suéter. Noção faltava em mim. Talvez tivesse herdado isso de minha mãe. Vesti a roupa mesmo assim. Azul ficava bem em mim, eu sempre soubera disso. Passei um pente largo em meu cabelo, saindo do banheiro logo depois. Dei um grito quando fui agarrada. Alec jogou-me na cama, puxando meus lábios em um beijo lascivo.

Ele apoiava-se na cama pelos cotovelos, não deixando que o peso de seu corpo caísse sobre o meu. Minhas mãos, antes presas uma à outra em sua nuca, agora percorriam toda a extensão de seus braços, descendo e subindo logo depois por suas costas nuas. Ele estava sem camisa. Senti meus batimentos cardíacos se acelerarem. Juntei o resquício de minhas forças levando-o para trás, de modo a sentar-me em seu colo, agarrando-me a seus cabelos com força, no momento que seus lábios desceram para meu pescoço.

Um gemido baixo escapou de minha boca, e Alec pareceu se divertir com isso. Uma de suas mãos percorria minha coxa, enquanto a outra deslizava lentamente por dentro de minha blusa. Minha respiração se tornou ofegante e eu não conseguia nem ao menos manter meus olhos abertos. No escuro, levei minhas mãos, já trêmulas, ao primeiro botão de meu suéter, abrindo-o com dificuldade. Alec subiu seus lábios até minha orelha direita, mordendo-a e em seguida sussurrando.

- Não. – ele riu, e não entendi o que ele quis dizer. Meus dedos desceram para o segundo botão, mas as mãos do vampiro me pararam antes de conseguir abri-lo – Renesmee, não. – Abri os olhos, incrédula. Como assim, “não”?

- Hãn? O que? Ah... Uh... Você não quer. – senti minha face ruborizar. – Por um momento eu pensei que...

- Pare de ser tola. – ele riu, enchendo-me de selinhos – É claro que eu quero, Nessie. Mas não vou. – seus dedos brincaram com meu cabelo, enquanto eu tentava processar tudo aquilo. Depois de alguns segundos, ele desistiu. – Eu havia dito pra você parar de usar decotes. Vou te torturar toda vez que fizer isso.

- Você quer dizer que me deixou completamente sem fôlego só por que usei um decote? – revirei os olhos – Sinceramente, Alec...

- Não foi único e exclusivamente por isso. – o vampiro puxou-me para ele, olhando em meus olhos. Era desconcertante. – Eu estava com saudade. Não pude passar a noite com você. E nem a tarde anterior. Jane te sequestrou de mim.

- E teria estourado o limite do seu cartão. – bufei – Isto é, se tivesse limite.

- Espero que tenham se divertido. – ele sorriu, com certa malícia por trás dos olhos rubis. O que ele estava planejando?

- Eu deixei me namorado trancado com uma vampira sanguinária, e você ainda espera que eu tenha me divertido? – cruzei os braços, mas logo fui desarmada. Alec beijava meu pescoço, e mais uma vez senti meu corpo ceder.

- Como eu poderia saber? – ele riu, tomando meus lábios novamente naquele ritmo frenético, mas já não era como antes.

- Não. – sussurrei no momento que ele se afastou, confuso. – Alec, não. – sorri maldosamente, sentando-me e recompondo minha postura.

- Isso é injusto. – ele começou a rir.

- Revanche. Você merece. – derrubei-o na cama, deitando abraçada a ele, com a cabeça repousada em seu peito.

- Tudo bem, se você não quer... Não há nada que posso fazer. – um de seus braços envolveu-me, enquanto o outro serviu de apoio para sua cabeça. – Mas o que vamos fazer até a chegada de sua família?

Droga. Eu havia me esquecido disso.

- Você tem noção de como os próximos dias que serão terríveis? – gemi, apertando-o com mais força.

- Eu iria até o inferno por você, Cullen.