- Eu já disse umas mil vezes que não queria vir – bufei – Não gosto de comprar roupas, Jane.

- Por favor, Nessie. É por Alec. – seus olhos vermelhos, agora cobertos por lentes castanhas, brilharam, e continuei andando. Ah se não fosse por Alec.

Obviamente não havia um shopping em Volterra, assim como não havia em Forks. Resultado: viajamos por pouco mais de uma hora até Florença. Jane adorava Florença. E era um dia nublado. Combinação perfeita. Entramos na vigésima ou trigésima loja desde a nossa chegada, e aquilo já estava me deixando de saco cheio. Eu nunca fora uma adolescente normal – mesmo sem ressaltar o fato da genética – e fazer compras estava na lista de coisas que eu mais odiava fazer. Talvez fosse devido ao fato de, a cada quinze dias, ser submetida a essa tortura.

Alec teria que dividir seu tempo entre mim e Céline, e isso me irritava mais do que realmente era necessário. Agora, enquanto ele estava possivelmente sozinho com aquela ruiva sem alma que por sinal é a ex-namorada dele, eu tinha que ficar com a irmã dele, uma compradora compulsiva, que só conseguia me fazer andar quando me lembrava do pedido do moreno: “Compre algo lindo. Aliás, muitas roupas lindas. Quero ver você maravilhosa pra mim.”. Quando tentei argumentar se minhas roupas não estavam boas o suficiente, ele riu e me beijou. Maldito fosse.

- Você precisa desse! – a loira exclamou, parada em frente a uma vitrine. Vestidos.

- Jane! – revirei os olhos – Já compramos metade do shopping! Não vou levar mais um. Aqui já tem uns seis ou sete. – apontei para as sacolas que eu carregava. Ainda que fossem muitas, a vampira carregava quase o dobro.

- Você vai experimentar – seus olhos me fuzilaram e por um momento eu achei que logo cairia de dor, contorcendo-me ali mesmo. – Isso é uma ordem.

- Você me assusta – comecei a rir. Fazer compras com Jane ela muito mais medonho que entediante, sem dúvida. – E não vou experimentar. Deve custar os olhos da cara – arqueei a sobrancelha, observando os preços da vitrine. Obviamente que o vestido não possuía etiqueta à mostra, mas um cinto no manequim ao lado custava oitenta euros.

- É Alec quem está pagando, Renesmee! – seus lábios se arreganharam em um sorriso maldoso – Venha logo! – e assim, puxou-me para dentro.

Não é que o vestido fosse feio, não. Era maravilhoso. Realmente maravilhoso. Também não era vulgar, ou sequer curto. Era perfeito. Perfeito demais. Algo ali estava errado. É como se fosse bonito demais pra poder ser de verdade. Qual era o problema? A cor combinava perfeitamente com o tom de minha pele, o caimento era ótimo, parecia até mesmo feito sob medida. O tecido macio quase não atritava com a minha pele e eu parecia até mesmo uma... Princesa? Saí do provador. Jane me olhava com aprovação.

- E então? – perguntei, perante a seu silêncio.

- Ficou perfeito! Muito melhor do que eu imaginava, se quer saber! – Ela levantou-se, andando ao meu redor e observando-me com olhos críticos. – Vamos levar. Vá se trocar.

- Não sei se quero leva-lo – disse, entrando novamente no provador e voltando a vestir meu jeans e camisete. – Tenho uma má impressão sobre isso.

- Como é essa má impressão? – ela disse, pegando o vestido por cima da porta.

- Não sei – calcei as sapatilhas – É como se eu já o tivesse visto antes.

Uma risada fraca ecoou do outro lado e fiquei sem entender. Saí de lá, varada de fome. Como se lesse meus pensamentos – ou, mais provavelmente ouvisse os ruídos de meu estômago vazio – a loira encaminhou-se até a praça de alimentação, não muitos metros de distância dali. Sentamo-nos em uma mesa, deixando as sacolas na cadeira ao lado. Algo ainda me incomodava. E ela parecia incomodada também.

- Vou levar essa parte da compra para o carro – Jane disse, analisando a pilha de sacolas – Vão estranhar se ficarmos carregando o dobro do nosso peso por aí. É difícil até pra uma compradora compulsiva.

- Eu vou comer alguma coisa enquanto isso. Depois podemos ir pra casa. – levantei-me, e novamente ela riu.

- Não estamos nem na metade, Nessie. Nem na metade. – dito isso, saiu.

∞

A segunda parte das compras foi mais tranquila. Acho que é por eu ter estado de barriga cheia. Focamos mais em sapatos, joias e até mesmo maquiagens. Basicamente, Jane me usava como manequim, já que eu estava tão avoada, pensando no vestido de mais cedo, que não me importei em escolher nada demais. Ela escolhia. Ao que me parecia, a vampira não saía muito para fazer compras, já que a cada loja saía com itens o suficiente pra montar visuais diferentes por um ano. Ela se permitiu quebrar o silêncio.

- Sabe, é estranho te ver como cunhada. – Jane riu, olhando-se no espelho ao experimentar alguns colares – Quero dizer, Alec ficou um longo tempo sozinho desde Céline... E mesmo com ela... Bem, ele não ficou muito tempo com ela, de qualquer modo.

- Como assim? – saí de meu transe e subitamente fiquei interessada na conversa.

- Eles ficaram juntos por, não sei, uns 20 anos? Talvez nem isso. Pouco mais do que quinze. – deu de ombros.

- Eu estou com ele a menos de quinze dias, Jane. – soltei o ar em uma singela risada – Dois dias, oficialmente.

- Eu sei, mas... Não, não sei... É complicado falar – passou no caixa mais uma vez, e logo saímos pelos corredores – Não vou vir com aqueles papos clichês de “o jeito que ele te olha” ou algo assim porque já deu pra ver que eu sou muito ruim com isso... Mas tem algo diferente dessa vez.

- Ele passou mesmo mais de quinze anos com ela? Eu não vivi nem metade disso até agora. – a ideia me assustou a princípio. Quem era eu? O que eu conhecia do mundo?

- Sim, ele passou. Mas não é como você imagina. – ela riu, parando em frente a uma loja de calçados e admirando algumas ankle-boots – Por mais que tenha sido arranjado, ele gostava dela, e ela gostava dele. Ela fazia bem pra ele. Até ir embora.

- Ela o magoou? – um nó se formou em minha garganta. Meu namorado estava nesse exato momento com uma vampira poderosa que havia partido o coração dele. Por que tinha que ser assim?

- Não exatamente... Deixe-me ver – Jane se virou para mim – Se tudo desse errado, isto é, se sua família não aceitasse, ou ainda se a guarda não aceitasse, e vocês tivessem de se separar. Como se sentiria?

- Destruída. – não precisei pensar antes de responder.

- E se ele voltasse?

Nesse momento, fiquei novamente em silêncio. Caminhamos de volta para o carro e sentei-me no banco do passageiro. O sol se punha, anunciando o fim de outro dia. O Crepúsculo era a hora mais triste, meu pai havia me falado. E eu parecia entender. É o fim chegando. E nós nunca estamos preparados para um fim, estamos?

Se alguém faz tão bem pra você - a ponto de amá-lo - e ele se vai, você continua o amando quando ele volta?