Certo, foi um choque para Brasil encontrar Argentina em sua sala de estar. Porém o choque foi maior quando ele seu deu conta do que tinha acontecido. Seis de seus filhos tinham aparecido e falado com Argentina, quando a existência deles deveria ser um segredo. Só uma nação sabia que os Estados brasileiros tinham representações humanas também, e o brasileiro não estava muito ansioso em espalhar isto por aí depois do choque que Alfred (EUA) tinha dado aos outros países ao revelar seus Estados. Brasil ainda estava crescendo, e não podia se dar o luxo de fazer parte de um outro desses escândalos, senão seus parceiros do BRICS (principalmente Rússia) iriam matá-lo de uma forma bem dolorosa. Ele engoliu em seco, e desviou seu olhar do seu vizinho loiro para alguns de seus filhos mais "importantes". Rio de Janeiro. São Paulo. Espírito Santo. Minas Gerais. Rio Grande do Sul. Bahia. Todos eles evitavam seu olhar, tirando Rio de Janeiro e São Paulo, ou simplesmente Rio e Sampa, que estavam ocupados demais gemendo de dor no carpete.

– Então?

O resto dos Estados presentes relutantemente encarou os olhos do Pai, ou pelo menos tentou.

–...

–...

–...

–...

– Então?- Brasil perguntou novamente, com impaciência. Eles não eram mais crianças, puxa!

– Ahn...

– Uai...

– Ai, minha Iemanjá...

Quando Brasil ia partir para uma atitude mais agressiva (que envolvia começar a gritar que eles se comportassem mais maduramente e sacudi-los pelos ombros), alguém resolveu se pronunciar.

– Eu e Bahia não temos nada a ver com isso!

Os olhares se viraram para RS, ligeiramente vermelha de indignação.

– Quando nós chegamos, eles quatro já tinham nocauteado o maldito argentino!

– Aí, maior dedo-duro RS!

– Como se adiantasse reclamar. Todo mundo sabe que depois da Revolução, RS sempre quer cair nas graças do Pai!

– Não ouse falar da Revolução, maldito paulista mau-perdedor!

– Mau- perdedor? Mau-perdedor? Desde quando, gaúcha insignificante?!

– Mas bah! Tipicamente paulista ficar insultando o vencedor! Se esqueceu que o meu time de futebol venceu o seu de lavada no último jogo?

– Ah, mas é claro que futebol e a Revolução Não-sei-de-quê tem muita coisa em comum!

– É Revolução Farroupilha, seu animal!

– JÁ CHEGA!

Os dois Estados olharam para Brasil, vermelho de raiva.

– Isso não são horas, nem lugar, para começar a discutir! Eu quero saber de quem foi a idéia de nocautear o segundo maior país da América Do Sul!

“Por todos os deuses, eles não podem parar de brigar nem um instante?”, às vezes Brasil pensava que seria bom que se seus filhos não fossem tão competitivos. A nação os encarou do melhor jeito ex-Império que ela tinha. Foi recompensado com o sumiço do ódio dos olhos de Sampa e de RS, junto com um seco e arrependido “Desculpe”.

– Muito bem. Agora eu quero saber quem veio com a idéia de apagar o Argentina. - Brasil apontou para o país desmaiado no sofá atrás dele, que agora murmurava algo parecido com “alfajores”.

– Bem... De fato foi idéia do Rio, do Sampa, do Minas e minha, e RS e Bahia só apareceram por acaso. Por acaso... O que vocês estavam fazendo quando passaram por aqui?- Perguntou um Espírito Santo às jovens.

– Ai, Santo, você não sabe o que aconteceu! Acabou a minha água-de-coco, então eu saí da sala onde eu tava com todo mundo do Nordeste pra buscá mais, só que eu achei a RS, essa beleza aí, no corredor e nós começamos a bater um papo, e aí...

–Certo, certo, eu entendi- Interrompeu a nação brasileira, para o alívio dos Estados, menos Bahia, é claro. - Ou seja, vocês nocautearam nosso vizinho, ele desmaiou como agora, vocês aproveitaram que suas irmãs estavam de passagem, e elas ajudaram vocês a levar ele até o sofá. OK. Eu entendo até aí. Mas por que vocês queriam falar com o Argentina?

Um silêncio constrangido seguiu-se a essas palavras.

– Aí, Pai- Começou Rio- Isso é meio injusto. Não falo nada sem a presença do meu advogado.

Todos os olhares se fixaram no rosto do carioca.

– Sei que não tem nada a ver, mas, mermão, eu sempre quis falar isso. - Facepalm geral- Aí, gente, não destruam os sonhos de uma pessoa!

As reclamações de Rio foram ignoradas. São Paulo afrouxou a gravata.

– Meu, como posso me fazer entender?- Ele parecia envergonhado- É meio difícil de explicar.

– Tente.

– Rio Grande do Sul ficou sabendo pelo namorado dela que tinha algo suspeito entre vocês. Nós só queríamos verificar.

Brasil ficou de um vermelho tão intenso que competiria com os tomates de Espanha. Ele se virou para RS, que estava igualmente vermelha por ser metida, novamente, na confusão.

– Por que você e Uruguai falam de mim?

Não era nenhum segredo que Uruguai era o namorado de RS, mas esta ficou ainda mais vermelha com a pergunta e começou a enroscar uma mecha do cabelo castanho-dourado com o dedo.

– E... eu não sei, tchê! Falta do que fazer?

– Eu poderia dizer um monte de coisas que vocês dois poderiam fazer, como... HUNF!

Espírito Santo tapou a boca de Rio de Janeiro antes que ele falasse mais besteira e colocasse todos eles numa fria. Uma coisa que RS não gostava era que dessem palpites em sua vida pessoal. Com isso, ela só lançou um olhar invernal na direção de Rio, antes de virar-se novamente para o Pai.

– Seba não tem nada a ver com isso, ele só coment...

– Você e meu hermano são namorados?

Eles se viraram para o argentino, agora desperto, que mirava RS atônito e com os olhos arregalados.

– Argentina!- Falou Brasil, alegre como sempre- Você acordou! Agora o que voc...

– Desde quando?- interrompeu o loiro, aturdido, ainda com os olhos na gaúcha.

– Bah... eu...nós...algum tempo?- Ela começou indecisa, recuando um pouco por causa do olhar intenso do argentino, e completou- Bem, nós moramos mais ou menos juntos por um tempo, tu sabe, não é?

Os olhos de Argentina arregalaram-se, formaram lágrimas, e ele se dirigiu para um canto escuro da sala, choramingando que até mesmo seu irmão não lhe contava nada. RS sentiu-se arrependida.

– Falei algo que não devia?

– Bom... - Começou Sampa.

– Uai! Eu poderia citar uma lista, sô!- Terminou Minas.

– Mas,- ela falou, sentindo-se mal ao olhar o loiro no canto da sala, onde Brasil e Bahia, com alguns outros Estados nordestinos que tinham aparecido no meio da confusão, tentavam animá-lo – todos sabem que Uruguai fez parte do sul do Brasil, não?

– Acho melhor- comentou Espírito Santo, enquanto olhava as tentativas de alegrar Argentina- você ligar para o Sebastian. Esses irmãos têm algumas coisas para acertar um com o outro.

O resto dos Estados concordou com a cabeça.