- Vou para a escola. – olhei para Gabriel, que além de parecer preocupado ainda estava se sentindo culpado por não ter me contado nada antes – Você vem? – minha voz não tinha vida.
 Ele me olhou desconfiado, olhou para meus pais, mamãe estava aos prantos de tanto chorar, ele suspirou.
 - Claro. Vamos.
 Peguei minha mochila que estava jogada em cima do sofá e fui em direção a porta. Gabriel estava logo atrás de mim. Entramos em seu carro, ele não disse nada, mas percebi que ele estava tenso.
 No meio do caminho ele suspirou mais uma vez.
 - Alice, me desculpe...
 - Não precisa se desculpar de nada. –Suspirei. -  Acho que entendo porque vocês estavam escondendo isso de mim. Mas agora que eu consegui esconder minhas... As... As asas, quero ir pra escola e ter um dia normal, como de qualquer outro adolescente.
 - Mas eu sinto que te devo uma explicação, mesmo que não queira, nem precisa ouvir, só finja, estou me sentindo muito culpado, eu queria te contar antes, mas quando conheci sua mãe... Ela me fez prometer que não contaria nada até que você descobrisse tudo – Gabriel estava com uma aparência muito abalada, tínhamos parado com o carro no semáforo, dei-lhe um beijo na bochecha que fez com que ele ficasse surpreso.
 - Não precisa me explicar nada por enquanto, eu não quero que explique nada, só quero esquecer esse assunto por um momento está bem? – Senti que naquele momento meus olhos começaram a se encher de lágrimas, respirei fundo.
 - Lembre-se de que nossa primeira aula de todos os dias sempre será sobre isso – alertou-me ele – você tem certeza de que ainda quer ir para a escola?
 Respirei fundo mais uma vez.
 - Tenho – eu tinha que me distrair de alguma forma, e até seria bom esclarecer algumas coisas sobre mim e minha família.
 Assim que chegamos na escola Gabriel estacionou o carro e fomos, de mãos dadas, até o pátio dos alunos do programa de honra. Era um lugar circular, com um caminho de pedra que levava direto a porta do prédio que teríamos nossas aulas, do lado esquerdo havia uma fonte, onde várias pessoas sentavam em volta, uma grama verde cintilava no pátio pela luz do sol, perto das paredes do prédio haviam grandes e verdes arbustos com diferentes tipos de flores, rosas vermelhas, lírios brancos, violetas, tulipas, buttercups, íris e muitas outras. Haviam aproximadamente cinquenta pessoas lá. Enquanto atravessávamos o pátio, senti olhares vindos de todas as direções me fuzilando, como se eu tivesse algo de estranho no rosto.
 - Por que estão todos olhando para nós? – sussurrei para Gabriel constrangida.
 - Não estão olhando para nós, estão olhando para você! Já se esqueceu de que é uma celebridade neste mundo? Não se lembra de quando conheceu Ariane?
 O sinal ainda não havia tocado, então paramos ao lado dos arbustos e fiquei olhando as flores, de cabeça baixa. De repente bem na minha frente, junto com um grupo de rosas bem vermelhas, aparece uma peônia branca.
 - Ah, Gabriel – arranquei a flor do arbusto e fiquei olhando para ela, ainda de cabeça baixa.
 - Não fique assim, por favor, eu sei que é difícil, mas... – ele colocou um dedo sobre meu queixo e fez com que eu levantasse a cabeça. Nossos olhos se encontraram e ele se aproximou para me beijar, seus lábios eram suaves e calmos, como se dissessem que tudo ficaria bem e que eu podia ficar calma. Senti o pátio ficando em silêncio para nos observar, embora estivéssemos em uma parte não muito visível. Assim que nos afastamos o sinal tocou.
 As pessoas estavam meio atordoadas e nos olhavam pelo canto do olho.
 - Vamos – Gabriel disse, beijou minha mão e me guiou pela multidão.
 A sala era grande, como um auditório, com as cadeiras vermelhas na disposição de um cinema, as paredes eram de uma amarelo claro e aconchegante, nas janelas e na porta de uma grande sacada haviam leves cortinas brancas que acolhiam e aconchegavam o sol, espalhando seu calor pela sala toda, uma grande mesa vermelha estava centralizada na frente da sala, não havia nenhum quadro. Os primeiros alunos a chegarem sentaram-se no fundo, todos rapidamente foram se acomodando, Gabriel me levou até o canto esquerdo da sala, perto das janelas, onde batia uma leve e refrescante brisa, ele se sentou na segunda carteira e eu a sua frente.
 Logo Beatrice entrou na sala com um longo vestido verde de frente única que arrastava pelo chão, atrás dela havia um homem alto, com cabelos e olhos castanhos, usava um terno preto.
 - Quem é ele? – perguntei rapidamente a Gabriel.
 - Steven, marido de Beatrice.
 - Ela é casada?!
 - Sim – ele deu uma risadinha ao ver minha cara de surpresa.
 - Bom dia alunos. – O tom de voz de Beatrice era tranquilo, mas dominador, em segundos a sala estava em completo silêncio - Sejam bem vindo a mais um ano no colégio Primer. Eu e Steven desejamos a vocês um próspero ano. Bem, estou vendo alguns novatos aqui, que estão começando este ano. Levantem-se por favor.
 Gabriel me incentivou a levantar, e em seguida mais seis pessoas se levantaram devagar. Beatrice pediu para que nós disséssemos nossos nomes em voz alta. A primeira foi uma menina chamada Melanie, com cabelos castanhos e olhos azuis. O segundo foi um menino dos cabelos e olhos pretos chamado Mathew, havia uma menina chamada Zoey, com os cabelos e olhos castanhos, o outro menino era alto seus cabelos eram pretos e os olhos azuis, Eric. Uma menina loira dos olhos castanhos, Jéssica.
 - Victor Briel – ao ouvir aquele nome e aquela voz meu coração se paralisou. Eu não havia notado que ele estava na sala, mas lá estava ele. Do outro lado da sala me olhando. Calça jeans e uma simples camiseta vermelha. Fiquei parada, encarando-o. Gabriel me cutucou suavemente chamando minha atenção enquanto Beatrice tentava chamar minha atenção pigarreando.
 - A-Alice Price – engoli em seco e me sentei.
 - Srta. Price, posso pedir para que retire os óculos de sol?
 - Hã, claro – retirei hesitante os óculos, meus olhos estavam inchados e ainda vermelhos. Beatrice sorriu e logo compreendeu.
 - Bem, hoje faremos uma pequena iniciação conhecendo nossos colegas de sala novos e velhos. Formem duplas e em uma folha que Steven distribuirá coloquem o nome, idade e se os colegas que vocês conhecerão são nefilins ou anjos.
 Steven passou pela sala distribuindo as folhas enquanto os alunos conversavam com seus pares.
 - Podem começar! – Beatrice anunciou, todos se levantaram e se direcionaram a grande sacada.
 A sacada tinha vista para o mar, um mar de azul cintilante. Eu e Gabriel nos posicionamos na beira da sacada. Comecei a escrever na folha.
 “ Nome: Gabriel Grigori.
  Idade: 17 anos.
  Anjo.”
 Suspirei tristonha com aquela palavra, era claro que ela se atribuía perfeitamente a Gabriel, mas não se encaixava em mim. Ele era perfeito em todos os aspectos e eu? Eu era só uma garota que estava perturbada porque acabara de descobrir que o pai é um anjo, a mãe uma nefilim  e que havia acabado de se transformar em um anjo também.
 Gabriel tirou a folha das minhas mãos e escreveu:
 “ Nome: Alice Price.
   Idade: 17 anos.
   Anjo.”
 - Agora sim, essa palavra faz total sentido pra você – Ele disse como se tivesse lido meus pensamentos. Eu sorri.
 Quando nos viramos para continuar nossa atividade, vários alunos estavam nos olhando, até que uma figura pequena e loira dos olhos azuis pulou a nossa frente.
 - Oi Alice! Tudo bem? E ai? Vocês seguiram meu conselho se oficializar? Vocês ficam tão lindos juntos! Me dá um autógrafo? – Alice. Ela estava radiantemente feliz como sempre, vestindo uma blusa branca de alças, bermuda jeans e All Star.
 - Tudo bem Ariane e você? – Era impossível não se animar perto de Ariane – E sim nós... Oficializamos – olhei para Gabriel que sorriu orgulhoso.
 - Ai que maravilhoso! Enfim, este é Mathew, ele tem 16 anos, e é um nefilim. As minhas informações Gabriel diz pra você, certo? Bem, depois nos vemos – Ariane pegou Mathew pelo braço e o arrastou pela sacada.
 “ Nome: Ariane Alter.
   Idade: 17 anos.
   Anjo.”
 Depois de Ariane e Mathew, vários alunos vieram até nós, um após o outro, dizendo que era um enorme prazer me conhecer e que era uma honra estudar comigo. Bem, pelo que pude perceber, tudo tinha a ver com aquela maldita profecia e meu pai.
 - Então quer dizer que você é a famosa Alice? – Uma menina de cabelos loiros com mechas azuis e olhos da mesma cor me observava com uma careta de nojo. Eu a reconheci da papelaria, fiquei paralisada.
 - Olá Alice, eu sou Bianca Strider, tenho 16 anos sou uma nefilim, – disse uma menina morena e baixinha, de cabelos castanhos compridos e olhos castanhos brilhantes -  perdoe minha parceira, Molly Zane consegue ser bem ignorante quando quer, ela também tem 16, anjo. Bem, vou leva-la para longe de vcê Alice, prazer em conhece-la!
 Virei-me para Gabriel.
 - Nossa, como anda nossa lista?
 - Está ficando grande, já temos uma página e tenho certeza de que ainda faltam alunos.
 Quando nos viramos, dois garotos estavam em nossa frente. Um era negro, usava uma camiseta azul, calças jeans e tênis pretos, cabelos com dreads e olhos negros como breu que logo reconheci.
 - Roland! O que faz aqui?! – me aproximei dele e lhe dei um abraço.
 - Hey, Ali! Vim estudar aqui com vocês. Como vai? – ele me soltou e deu um sorriso, me olhando de corpo inteiro.
 - Estou... Bem – sorri. – Anjo ou nefilim?
 - Anjo – disse ele com indiferença.
 Pelo canto do olho vi Gabriel anotando as informações rapidamente e quando terminou avançou para cumprimentar Roland, que pelo que vi, já se conheciam.
 Fiquei parada a uns três metros de distância do parceiro de Roland. Ele estava de cabeça baixa, e me dava a impressão de que não iria avançar tão cedo. Me aproximei devagar, sem querer assustá-lo. Ele pareceu não ligar quando fiquei em sua frente.
 - E então. Você é um nefilim ou um anjo? – Meu coração estava apertado por falar com ele desse jeito, sem emoção, como se eu não tivesse feito nada.
 - Anjo – ele levantou a cabeça, seus olhos verdes estavam brilhantes, os dentes trincados, o rosto sem expressão. Eu havia me esquecido como ele era tão bonito.
 - Victor...
 - Tenho que ir – ele se afastou rapidamente, indo para o outro lado da sacada.
 Suspirei e logo senti os braços de Gabriel me abraçando pela cintura.
 - Calma, vai ficar tudo bem – sussurrou ele em meu ouvido.
Beatrice anunciou que o tempo para completar a atividade acabara, havíamos conhecido a sala inteira em cinquenta minutos de aula.
 - Na aula de amanhã vamos começar a aprender sobre grandes anjos que estão entre nós. Estão dispensados.
 Assim que Beatrice terminou todos correram para as portas. Ela havia dito grandes anjos. Será que meu pai era um deles? Lembrei-me da profecia. Será que estudaríamos sobre isso? Bem, tirando o começo do meu dia em casa, na escola estava tudo indo bem. Esperava que o restante do meu dia fosse tão bom quanto havia sido esta pequena parte.
 - Vamos, temos que ir para a aula – deixei que Gabriel me arrastasse pelos corredores da Primer enquanto eu estava mergulhada em meus pensamentos.