[M.U.]

Mesmo depois de pegar a sua tão sonhada bandana, Minato Uzumaki ainda se sentia péssimo com tudo. Seu rosto denunciava a sua tristeza, e ele mal conseguia olhar nos olhos do pai. 

"Vai fazer essa cara o dia inteiro?" Naruto quis saber, questionando-o sobre suas atitudes. Hinata estava em silêncio absoluto, e, pelo visto, pelo mesmo motivo que Minato. "Vão me ignorar até quando?"

A família estava sentada à sala de estar. Kushina estava em seu quarto, e eles podiam ouvi-la cantando, mas esse era o único som na casa Uzumaki. Minato encarava a bandana recém-ganha em mãos como se pudesse jogá-la fora a qualquer momento. 

"Até você perceber o erro que cometeu." Minato o respondeu finalmente. 

"Eu não cometi erro algum!" Naruto perdeu a paciência "Estou farto desse drama por uma garota. Existem várias outras, e ela é só mais uma, uma que deve ser ignorada."

"É você quem decide isso?" 

O tom de Minato já beirava o desrespeito. Naruto estava quase explodindo com o filho. Nunca antes havia sido tratado dessa forma. 

"Quer que eu te dê a primeira surra agora, com essa idade? Porque está me desafiando de tal forma que estou ficando sem opções."

"Naruto, nem pense nisso. Ele não pode ficar chateado?" Hinata se pronunciou pela primeira vez em dois dias. Estava tratando o marido à base do silêncio, apenas concordando com a cabeça toda vez que ele lhe dirigia a palavra. 

"Pode, mas ele está enganado. Está cego de amor adolescente e não percebe o que está bem diante dos olhos dele!"

"Já chega disso, pai. Você conheceu Sasuke Uchiha, eu sei disso. E ele te decepcionou. Mas é de Mikoto que estou falando, e dela você não sabe nada. Aliás, ela também é filha da Sakura, pai. Sabe disso. Ela pode parecer mais com o Sasuke do que com ela, mas ainda assim tem coisas da mãe dela. E você já foi apaixonado pela mãe dela, já foi o melhor amigo dela, já foi a droga do companheiro de equipe dela!

A discussão teria continuado se não fosse pelas batidas à porta. Essas eram leves, e Naruto foi atendê-la de imediato. Foi a segunda vez que se surpreendeu com a visita. 

Sasuke Uchiha estava, outra vez, ali. 

"Hinata e Minato, saiam da sala. Podem entrar."

"Não." Sasuke o interrompeu, recebendo um olhar de repreensão do Hokage. "É com o seu filho que preciso falar."

"Não acho que esteja no direito de falar com qualquer um dessa casa, mas principalmente não com Minato."

Suas palavras se perderam ao vento quando Minato se pronunciou, passando por cima da autoridade do pai. "O que foi?"

"Mikoto, eu não sei onde está." Sasuke respondeu. Seu tom não revelava emoção alguma mas, considerando que engolira o orgulho para vir até a casa dos Uzumaki outra vez, Minato imaginou que estivesse preocupado de verdade. 

"Perdeu a sua filha e quer procurá-la na minha casa? Não pode ser só irresponsável como também inconsequente? Ela não é bem-vinda aqui."

Sasuke olhou para Naruto com superioridade, dirigindo a palavra diretamente ao filho deste. "Você a viu hoje?"

"Não, não a encontrei na graduação. Você também não foi, não é?"

"Imaginei que Sakura iria, não quis atrapalhá-las... achei que se ficasse longe de casa elas teriam tempo de conversar, Sakura tomaria coragem de aparecer."

"Eu também não a vi lá. É possível que ela tenha voltado sozinha, então? Talvez Akira Inuzuka saiba mais do que eu. Com certeza estiveram juntos hoje. Eu posso te levar até a casa dele."

"Então vamos." Sasuke confirmou, ignorando a expressão de protesto estampada no rosto de Naruto. Minato passou por debaixo do braço do pai, e teria continuado a andar normalmente se Naruto não tivesse gritado com ele. 

"Se ousar sair desse prédio, vai sofrer as consequências."

"Vá logo com eles, Naruto." Hinata ditou, encostada na parede do corredor. "Ele é seu filho, não vai desistir. É mais fácil fugir pela janela. Melhor ir junto logo, já que está tão preocupado."

Naruto rolou os olhos, mas seguiu os dois mesmo assim. Chegaram até a casa de Akira rapidamente, e Minato saiu entrando apressado. Os que estavam na sala, Kiba, Akira e Hanabi, acharam que estavam tendo uma visão. Sasuke Uchiha e Naruto Uzumaki, juntos no mesmo cômodo. 

"Eu estou morto?" Kiba perguntou, gargalhando em seguida. "Voltaram ao time 7?!"

"Cale a boca, Kiba." Disseram ao mesmo tempo. 

"Akira!" Minato estabeleceu as prioridades, tomando a dianteira da situação. "Onde está Mikoto?! Você a viu hoje na graduação?"

Akira tremeu diante do olhar de Sasuke, mas se aproximou mesmo assim para contar o que sabia. 

"Vi. Ela estava procurando a mãe dela, mas a Sakura não apareceu. O que houve?"

"Ela sumiu." Sasuke falou no lugar de Minato. "A procurei em todos os lugares, e simplesmente não a encontro. Por acaso ela te disse para onde iria? Te disse qualquer coisa?"

Akira pensou um pouco, relembrando a conversa que os dois tiveram mais cedo. Não havia nada de extraordinário exceto...

"Merda, ela foi embora!"

"Como assim?" Sasuke, pela primeira vez, deixou as emoções fluírem. Seu rosto parecia transtornado, e Minato e Naruto trocaram um olhar preocupado. Pelo visto, a situação estava se tornando bem mais grave do que parecia inicialmente. 

"Ela me disse que não podia mais "ficar aqui"" Akira explicou, gesticulando bastante. "Achei que estivesse falando da Academia, mas acho que ela estava falando de outra coisa. Estava falando de Konoha."

"Alguém tem que avisar a Sakura." Kiba comentou, se metendo na conversa. "Ela está na casa da Ino."

"Sasuke fará isso." Naruto concordou. "Ao que parece, vamos precisar de uma equipe de busca. E bem rápido."

Sasuke não agradeceu, mas o olhar que dirigiu ao Hokage deixou claro que estava grato pela iniciativa. Mikoto era tudo o que ele tinha. 

[M.H.]

"Eu não posso perguntar nada?"

"Acabou de perguntar."

Mikoto abriu e fechou a boca, desconcertada. Ele tinha um ponto. Ela tentou andar ao lado dele, mas o homem era rápido, e obviamente não queria ficar muito próximo. As árvores passavam por eles como vultos, e ela não mais sabia para onde estavam indo. 

A curiosidade estava lhe corroendo. Se ele tinha o mesmo sobrenome que ela, então talvez fossem parentes distantes? Talvez ele fosse parente de Madara ou Obito, esses ela conhecia. Seu pai havia falado vagamente sobre ambos. Ela queria saber, para ter noção de onde estava se metendo, mas seria difícil arrancar alguma informação daquele homem. O mais estranho era a sensação de segurança que tinha ao lado dele, como se soubesse que ele não seria capaz de feri-la. 

"O seu nome é mesmo Itachi?" Ela tentou outra vez. 

"Já passamos dessa fase." Ele disse de forma fria, embora ela pudesse notar um resquício de ironia no tom. 

"Queria ter certeza. Somos do mesmo clã também, pelo que entendi."

Ele não respondeu, e Mikoto interpretou isso como um sim. Itachi parecia distraído, olhando ao redor o tempo todo. Estariam sendo seguidos? Ela não conseguia imaginar por quem. Certamente ninguém estava atrás dela. 

"E nós somos parentes?"

"Quem eu sou dentro do clã, e o nosso grau de parentesco, são coisas que não vou dizer ainda. Está claro?"

Mikoto sacudiu a cabeça em afirmativa. "Como a água."

Os dois avançam um pouco mais, até que chegam até uma espécie de caverna. Está mais para uma fenda na montanha, e é pequena e estreita. Itachi não caberia ali dentro, mas ela sim. "Aqui é onde você vai ficar escondida hoje. Amanhã de manhã continuaremos a andar. Aproveite esse tempo para decidir se é isso o que quer mesmo. É possível que seu pai venha te procurar, até mesmo a sua mãe. Não se esqueça de que talvez eles virem às costas para você outra vez."

"Você não vai fazer isso? Pode me prometer que não?"

"Eu não estou adotando você, Mikoto. Não te ofereci o amor que você não recebeu. Mas vou cuidar de você, sim, e ensiná-la tudo o que sei. Se estiver disposta a aprender, e acho que está, só será vantajoso ficar ao meu lado. É isso o que posso prometer."

Ela estava em dúvida agora, e, talvez sentindo isso, 

"Se estiver aqui pela manhã, então Mikoto Haruno estará morta. Mikoto Uchiha será o seu nome. Tudo o que tinha e tudo o que era antes desse dia já não terá mais importância alguma."

Itachi se foi, deixando-a sozinha naquela floresta. Mas Mikoto não hesitou ao passar pela fenda, indo tão fundo quanto podia para que não a rastreassem até ali. Tivera medo de muitas coisas nos últimos tempos: medo de seu pai, daquele lugar, da rejeição. Ela pensou que ser temida seria menos doloroso do que isso, no final.