[M.U.]

Os meses passaram rapidamente na Academia Ninja, e os testes já haviam começado desde o mês anterior. Muitos alunos estavam tendo dificuldades nesses, tirando, é claro, a primeira aluna da classe, Mikoto Haruno. Suas notas em testes físicos e escritos eram as melhores. 

Enquanto isso, Minato Uzumaki estava tendo dificuldades na maior parte das matérias, e sendo ameaçado de reprovar em mais de uma. Ciente de que sua situação era crítica, ele tomou coragem e pediu à Mikoto uma ajuda nos estudos. Ela havia aceitado de bom grado, convidando Akira, que chamou Maiko, que acabou levando Asuma, que no fim puxou Ryuuji e Asami e um garoto chamado Sakumo que ninguém conhecia muito bem, mas já fazia parte do grupinho de Minato. 

"Onde é que o demônio de duas caudas vai dar aula para a gente?" Asuma quis saber. Com demônio de duas caudas, ele se referia à Mikoto, seu desafeto pessoal desde sempre. 

"Na minha casa." Lembrou Minato. Ele já havia transmitido essa informação mais de três vezes, só que o cérebro de Asuma era do tamanho de uma azeitona. 

"O quê?" Asuma riu. "Vai levar a filha do cara que traiu o seu pai para dentro da casa dele? Que ótimo filho."

"Não tenho nada contra." Sakumo comentou. Todos o olharam sem acreditar muito no seu pronunciamento, uma vez que ele não era muito de falar. 

"Será que pode parar com essa chatice?" Ryuuji perguntou. "A gente já sabe que você odeia ela, também tenho minhas dúvidas de quem ela é, mas vamos separar as coisas né. Não estamos em posição de negar ajuda em nada!"

"Exato." Minato se sentiu grato pela intromissão dos amigos. Era exaustivo ter de debater o tópico Mikoto com tamanha frequência no seu grupo. 

O ponto de encontro era, mais uma vez, a porta da Academia, ao término das aulas. Maiko e Asami já estavam lá paradas quando o grupo de Minato chegou. Asuma se colocou ao lado de Asami imediatamente, e a careta que a menina fazia indicava que as chances dele só diminuiriam ao final do dia. 

Mikoto e Akira apareceram logo em seguida. Cumprimentaram todo mundo com acenos, e continuaram na bolha onde viviam, conversando apenas um com o outro conforme seguiam Minato para a casa dele. O Uzumaki sentiu certo ciúmes dos dois, e até pensou em se meter na conversa deles, mas sabia que isso o entregaria para os seus amigos. Agora não era o melhor momento. 

Alguns ninjas de guarda no prédio do Hokage ficaram sem reação diante do grupo de adolescentes. Minato explicou que estavam indo para a sua casa, localizada dentro do prédio, e os homens os deixaram subir livremente. Asuma quase derrubou um vaso de plantas com aparência de caro, e Mikoto teve uma crise de risos por conta disso. 

No apartamento de Minato, o grupo se acomodou no tapete da sala de estar. Sua mãe havia cumprimentado os jovens de longe, meio envergonhada, e se oferecera para servir um lanche horas mais tarde. 

"Quando essa aula vai começar?" Asuma quis saber. "Não tenho o dia todo."

"O que será que você faz, então? Porque estudar com certeza não é." Akira comentou, fazendo Asami rir, o que consequentemente deixou Asuma furioso. 

Mikoto ergueu-se do chão, retirando da sacola de pano seus livros e anotações. Todos se acomodaram melhor, pegando os cadernos e livros, e ela começou a explicar a matéria, avançando lentamente conforme todos entendiam melhor. 

Depois daquele dia, tudo ficou mais fácil. As notas dos alunos melhoraram, e o grupo de estudos só duplicou de tamanho. De repente toda a turma estava se ajudando, e ninguém além de Asuma parecia ter maiores problemas com Mikoto. Ela e Akira continuaram amigos, a relação de ambos cada vez mais sólida. Não foi muito diferente com Minato, embora o laço entre os dois fosse um pouco diferente. Havia algo a menos ali, ou talvez algo a mais, nenhum dos dois sabia explicar bem. 

 E o tempo passou assim, tranquilo, sem maiores acontecimentos. 

...

[M.H.]

O dia da graduação se aproximava cada vez mais, e Mikoto Haruno estava quase explodindo de entusiasmo. Hoje, como em outros dias, ela estava indo para a Academia com Maiko e Asami, que, surpreendentemente, vieram a se tornar grandes amigas suas. 

"Preciso contar um segredo para vocês." Asami disse baixinho, atraindo a atenção das amigas. Maiko logo agarrou o braço dela, incapaz de conter sua curiosidade. 

"Fala logo!" 

Mikoto riu diante da atitude dela, entretanto ela mesma não estava assim tão indiferente. 

"Acho que estou apaixonada." Ela segredou. "Por Minato Hyuuga."

O coração de Mikoto se comprimiu, e ela tentou disfarçar a sua frustração. Por que tinha de ser justamente ele? 

"Achei que você gostasse do Asuma Yamanaka." Mikoto comentou, tentando semear a dúvida na cabeça da amiga. Era jogar sujo, mas ela não se importava. Sabia ser egoísta quando queria.

"Também achava isso." Concordou Maiko, entrando no jogo de Mikoto sem nem ao menos saber disso. "Vocês vivem colados por ai."

"São coisas diferentes. O Asuma vive fazendo o que eu peço, então ele tem utilidade. Mas o Minato é bem mais bonito e fofo, além disso ainda é quase uma celebridade."

Mikoto rolou os olhos, isolando-se sem perceber da conversa animada das amigas. Como toda garota da sua idade, ela gostava de falar de meninos de vez em quando, mas não sempre. Muitos menos agora, quando tinha preocupações bem maiores do que essas. 

Seus sonhos com o homem de manto preto agora haviam se tornado diários. Ele dizia que o dia em que se encontrariam estava chegando, e isso dava calafrios nela. 

Além disso, Sasuke passava cada vez menos tempo em casa, se ocupando com missões que vinham de outras fontes, em lugares distantes dali, longe do conhecimento do Hokage. E ainda tinha a sua mãe, ainda desaparecida. Sem cartas, notícias, ou mesmo uma maldita visita. Mikoto estava começando a odiá-la em vez de sentir falta dela. 

Com o dia da graduação se aproximando, Mikoto temia que esse fosse o escolhido pelo cara sombrio. Ele dizia que ela teria de abrir mão de tudo pelo poder, como se isso pudesse convencê-la, mas ela sabia que não faria isso. Agora tinha tudo o que queria, e isso era o bastante. Tinha amigos, amigos de verdade, que fizeram com que os problemas em casa fossem deixados de lado. 

Ela nem ao menos notou quando Akira se juntou a elas no caminho, mas foi tirada de seus devaneios quando ele a puxou pelo ante braço. "Você está bem?"

Mikoto piscou algumas vezes, se dando conta da presença dele. "Sim, só estou cansada."

"Tenho novidades." Ele avisou, e seu tom revelava que estivera ansioso para contá-las. "É sobre a sua mãe."

Mikoto de repente estava bem mais alerta. "O que tem ela?"

"Ela está na casa do Yamanaka agora. Vai passar dois dias lá, até a cerimônia de graduação. Ouvi ele comentando com Ryuuji. Parece que ela veio te ver."

"Por que ela não entrou em contato? Podia ter mandado algum aviso."

"Ai eu não sei. Pelo menos ela voltou, certo?"

Mikoto não estava tão convencida disso. Ainda assim, agradeceu o amigo com um abraço apertado. 

[M.U.]

Minato chegou em casa exausto. Deitou-se no chão do próprio quarto, sem forças para ir até a cama. Sua irmã abriu a porta na cabeça dele, fazendo-o gemer de dor. 

"Merda, Kushina!"

Ela se aproximou rindo, deitando-se ao lado dele no chão. "Desculpa. O que tá fazendo no tapete?"

Minato não teve tempo de respondê-la. Logo o silêncio da casa foi preenchido pelos gritos vindos do quarto dos pais. Eram gritos de discussão, e Kushina logo tapou os ouvidos, assustada. 

Minato não podia ouvir tudo o que diziam com clareza, e abraçou a própria irmã para protegê-la. O nome de Sakura fora pronunciado algumas vezes, e por isso ele colocou a irmã na própria cama, saindo do quarto em seguida. 

"O que ela está fazendo na casa dos Yamanaka?" 

"Eu não sei. Ao que tudo indica, se separou do Sasuke. Também não poderia me importar menos com isso."

"Quando vai passar por cima dessa mágoa irracional? Sakura deve estar arrasada, Naruto. Você é o melhor amigo dela e..."

"Eu era, era, no passado! Antes de ela largar tudo pelo Sasuke, depois de tudo o que ele fez! Depois de ter tentado nos matar! Ele nunca a amou, sempre teve pena dela, pena e nojo. Aquele casamento é uma farsa. Ela só sustentou a mentira porque queria acreditar nela."

Os dois param ao ouvirem batidas na porta. O coração de Minato acelera, e ele de repente se lembra de que convidou Mikoto para visitá-lo esta tarde. Não tinha momento pior. 

Correu do corredor na direção da sala, tentando chegar à porta antes de Naruto, mas já era tarde. Foi o Hokage quem abriu. 

"Boa noite." Ele a cumprimentou, um sorriso político sorrindo em seus lábios. "Você seria?"

"Mikoto." Ela escondeu o sobrenome de propósito, e Minato se sentiu internamente agradecido por isso. Se perguntou, também, se ela havia escutado a discussão dos pais. Se fosse o caso, ela teria ido embora, não? "Hokage-sama, eu vim por que Minato..."

"Não precisa dessa formalidade." Naruto fez um gesto de descaso com a mão, abrindo passagem para que ela entrasse. "Naruto está de bom tamanho."

Quando passou pela porta, Mikoto o viu no canto da sala, acenando para o Uzumaki mais novo. "Oi."

"Naruto, essa é a professora particular do nosso filho." Hinata comenta, tentando impressionar o marido. "Aliás, ao que parece ela deu um gás em toda a turma. Foi muito generoso da sua parte, querida."

Mikoto corou levemente, envergonhada com o elogio sincero. "Não fiz mais do que deveria. Além disso, ele me pagou com ramén."

Naruto riu. "É uma boa troca."

Minato aproveitou a deixa para se aproximar, puxando a amiga pelo braço. "Estamos indo estudar, tchau pai, tchau mãe."

"Licença, Naruto-san, Hinata-san."

Os dois sorriram para ela, observando os dois se afastarem. Minato a arrastou rapidamente para o seu quarto, esquecendo-se de Kushina. A irmã olhou de um para o outro com curiosidade, e Mikoto até teria cumprimentado-a se a menina não tivesse corrido para fora, fechando a porta atrás de si. 

"Ela é tímida assim mesmo." Minato comentou, se jogando em cima da própria cama. "Você ouviu algo antes de entrar?"

Mikoto franziu as sobrancelhas negras. "Eu deveria ter ouvido?"

"Acho que meu pai sabe onde sua mãe está."

"Na verdade, eu também sei. Akira descobriu que ela vai passar dois dias na casa dos Yamanaka."

Minato ligou os pontos. "Ah! Então ela deve ter vindo para a graduação, certo? Aliás, seu pai sabe disso já?"

"Não imagino como saberia. Não tem contato algum com ninguém. Ele nem mesmo está em Konoha agora. Antes eu me dava ao trabalho de deixar bilhetes dizendo onde estava, hoje não me dei ao trabalho."

"Acha mesmo que isso foi uma boa ideia?" O tom de Minato era cauteloso. "Se ele te pega aqui, pode ser que as coisas saíam do controle."

"Sair do controle?" Ela não entendeu. "O que poderia sair do controle?"

"Nossos pais poderiam brigar outra vez."

"Nada de novo até ai."

"Poderíamos ser impedidos de nos ver." Minato resmungou, essa parte mais baixo e timidamente. Mikoto pisca algumas vezes, surpresa com essa nova atitude dele. Ele tem noção de que poucas vezes faz algum movimento para conquistá-la, mas é algo subentendido entre os dois. 

"Acha que vou ser jogada num calabouço Uchiha milenar?" Ela debochou, fazendo-o rir. 

"Você não sabe ser séria nunca?" Minato bufou. No entanto, o que se seguiu o surpreendeu. Ela sentou-se na beira de sua cama, aproximando o rosto do dele perigosamente. 

Os dois se entreolham por mais alguns segundos, e ela fecha os olhos, corajosamente aproximando os lábios dos dele. Minato se sente inerte como uma rocha, incapaz de se mover conforme ela avança. Na sua cabeça toma uma atitude, a puxa para si, dá o primeiro passo. Mas seu corpo está se recusando a fazer qualquer movimento. 

Sua mão toma um pouco mais de coragem, subindo até bem próximo do rosto dela, e quando está prestes a tocá-la a porta se abre, revelando um Naruto desprevenido. Os dois se afastam um do outro tão rápido que assustam o Hokage, que não contém a risada. 

"Me desculpem, atrapalhei alguma coisa." Ele se dá conta. Pigarreia, tentando manter a compostura. "É que o jantar está pronto, e queria convidar a Mikoto para se juntar a nós."

Minato gaguejou qualquer coisa, quase vomitando de nervosismo, e só relaxou quando o pai saiu de seu campo de visão. Mikoto levantou corada, incapaz de olhar para o Uzumaki, e saiu do quarto primeiro. Ela mesma encontrou a cozinha, e Minato seguiu atrás dela. Os dois ocuparam um lugar à mesa, desconfortáveis, e Naruto os observou em diversão. 

"Onde está Kushina?" Hinata quis saber.

"Ela falou que não vai sair do quarto hoje." Naruto deu de ombros. Assistiu a esposa servir o seu prato, e a agradeceu com um doce beijo na bochecha. "E quanto a você, Mikoto, tem irmãos?"

"Não, senhor. Sou filha única." 

Minato engoliu em seco. Esperava que seu pai não seguisse com o interrogatório, ou a verdade acabaria sendo revelada. 

Mikoto provou a comida da mãe de Minato, fazendo uma cara tão surpresa diante do sabor, que o Hokage teve de questioná-la a respeito. "O que foi, não gostou?"

"É maravilhosa." Ela disse, fazendo Hinata sorrir. "Nunca comi um peixe tão bom na minha vida."

"Seus pais não cozinham?" Naruto quis saber, apenas por curiosidade.

"Na verdade, a comida da minha mãe é uma droga. E não estou certa da capacidade do meu pai de usar um fogão."

Os pais de Minato riem, e ele sente que estão simpatizando com a figura dela. Uma parte do seu peito se aquece, ciente de que aquilo é um bom sinal. Ao terminarem de comer o jantar, pai e filho retiram a mesa, lavando os pratos, ou a maior parte deles. 

Se juntam às mulheres na sala de estar alguns minutos mais tarde, e Naruto está prestes a se sentar ao lado da esposa quando batidas fortes à porta interrompem o Hokage. 

Hinata e ele se entreolham, apreensivos de que seja algum problema na vila, e, quando Naruto abre a porta, ninguém está esperando por quem está do outro lado dela, com uma expressão furiosa. 

"Onde está a minha filha?!" Pergunta Sasuke. Seus olhos negros estão transbordando muitas emoções negativas, e ele agarra Naruto pelo colete quando a raiva já não cabe mais em si. "Me diga, Uzumaki. Onde escondeu a minha filha?!"