Ismira escrita por Giu Sniper


Capítulo 8
Capítulo 7


Notas iniciais do capítulo

Demorou mas está aí. Ficou grande.
Capítulo em POV Hodric.



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— Você a deixou ir embora, nem ao menos se mexeu. — estava escuro dentro da floresta. A estranha voz áspera ecoava em seus ouvidos. Hodric podia sentir o chão úmido colado no seu rosto e o gosto de sangue na boca. Não importava o que lhe acontecesse, não podia deixar que Ele o controlasse. — E você sabia! — sentiu seu corpo sendo puxado para cima, o hálito quente d’Ele em seu ouvido, a voz, cheia de ira, sussurrou-lhe, parando por um tempo no fim de cada frase — Achava que podia me esconder isso, Hodric? Não pode me esconder nada. Não consegue. Eu disse pra se livrar do ovo, mas você me ignorou. Continue tentando enganar-me e verá. É mais difícil matar um dragão do que livrar-se de um ovo, Hodric. Você vai descobrir isso. —e riu — Sim, descobrirá.

— Não! — as palavras saíam com dificuldade, manchadas de sangue — Não... vou... fazer... o... que... você... manda! — uma risada encheu o ambiente, fria e torturante.

— Toma-me por o que, Hodric? — sentiu seu corpo ser jogado ao chão. Todo o seu peso sendo jogado sobre o seu braço esquerdo e então uma enorme sensação de dor. Uma interjeição escapou-lhe os lábios — Você é apenas um idiota imprestável, igualzinho ao seu pai.

— Meu pai não é um imprestável!

— CALE-SE! Antes de defender seu pai deveria procurar saber quem ele é.

— Eu s... — não pode terminar de falar, Ele interrompeu-o novamente.

— JÁ DISSE PRA SE CALAR! Não, Hodric, você não sabe. Deveria perguntar pra sua mãe e pro seu suposto pai quem você é. Deveria parar de se contentar em ser apenas o filho do açougueiro e sem empenhar em ser o filho do seu pai. Deveria...

— Chega! Você é louco? — o que Ele estava dizendo?

— Hodric, vamos ser sinceros um com o outro, está bem? — disse após uma breve risada — Estou com tanta raiva de você que poderia mata-lo, e só não o faço agora mesmo por que preciso de você. E você, sendo o filho do seu pai, vai me obedecer. Mas, antes, procure saber quem ele realmente é. Você não é filho do açougueiro.


Quando Hodric percebeu estava deitado ao lado de draumr kópa, por um momento pensou que tudo fora um sonho, isso até tentar se levantar e sentir uma tremenda dor no pulso esquerdo. Não fazia ideia de como viera parar ali, a ultima coisa que se lembrava era da voz d’Ele, dizia que não era filho do seu pai, isto é, do açougueiro. Como poderia? Ao menos conseguira atrasar à Ele a informação de que Ismira havia partido, sabia que não conseguiria esconder aquilo para sempre, mas apenas isso já havia dado a Ismira tempo para que estivesse bem longe dali.

Hodric a havia visto partir, viu-a dando um último abraço em seus pais e depois partindo com o elfo. Havia pensado em ir até ela e dar-lhe adeus, mas depois daquela besteira que fizera... A melhor opção fora deixa-la partir. E agora estava ali, sem nenhum propósito para a vida. Decidiu seguir o caminho de casa.


Hodric morava nos fundos do açougue. Seu pai estava atendendo um cliente quando avistou-o, ficou com o olhar fixo nele por poucos segundos e voltou sua atenção novamente ao pedido do cliente. Hodric entrou pela porta do balcão, percebeu que o cliente de seu pai também o olhou por um tempo.

— Hodric, não entre agora. — seu pai lhe direcionou a palavra. Fez uma pausa e disse: — Me espere, está bem? — ele concordou, mesmo sem entender nada. Seu pai virou-se e terminou de atender ao cliente. Depois de terminado o trabalho, o açougueiro tirou o avental que usava e pendurou-o em um prego às suas costas, então levou-o pelo braço através da porta de entrada da casa, a qual dava em um pequeno corredor. Hodric olhou seu pai nos olhos, um par de olhos cinzentos moldurados por olheiras marcadas. — Onde você esteve?

— Onde eu estive?

— Sim, exatamente isso que você ouviu. Você some do nada, passa a noite fora de casa e chega assim, como se nada houvesse acontecido...

— Passar a noite... — Hodric fez uma pausa. Como assim? — Eu não passei a noite fora de casa.

— Claro que passou, Hodric, eu sinceramente pensei que talvez você tivesse inventado uma desculpa melhor.

— Mas eu não estou inventando desculpa nenhuma! Eu...

— Hodric? — sua mãe interrompeu-o, ela tinha os olhos vermelhos e sua voz remetia preocupação. — Filho, o que aconteceu com o seu rosto? E seu pulso... está tão inchado! Onde você passou a noite? O que aconteceu? — Ela o bombardeava com perguntas. Não tinha como dizer-lhe o que havia acontecido, assim como também não o pôde com Ismira. Diante da sua falta de palavras a mãe declarou: — Está bem, pode me responder depois, me deixa cuidar de você, meu filho.


Deitado no chão de seu quarto, Hodric pensava, não sabia por que, mas era o lugar em melhor pensava. Tinha o pulso esquerdo torcido e vários cortes no rosto, e pelo visto havia passado a noite na floresta da Espinha na companhia d’Ele. Não tinha a mínima noção de como fora parar lá, e o mais estranho era não ter percebido esse tempo todo se passar. Agora tinha nova preocupação, a de arrumar alguma desculpa para dar a sua mãe, não queria mentir, mas simplesmente não podia falar sobre Ele, o que pensariam dele? O tomariam por um louco? Não... Estava decidido, não podia entrar naquele assunto. Mas como fugir dele? Teria de dar um jeito.

Além de tudo, uma coisa não saía da sua cabeça, Ele havia dito que seu pai não era seu pai. As palavras ainda ecoavam em sua cabeça, repetindo-se com a mesma voz rouca e obscura. “Você não é filho do açougueiro” Ele havia dito, mas podia dar importância às palavras d’Ele? E, se não fosse filho do seu pai, de quem então? Precisava passar aquilo à limpo, mas como? As perguntas eram o que mais lhe dava raiva. Por quês, por quês, por quês, mas nunca um porquê...

Hodric se encontrava tão absorto em seus pensamentos que quase não ouviu quando bateram à porta. Levantou-se de um salto e disse que entrasse. A porta abriu-se revelando seu pai, tinha algum sentimento no rosto, mas Hodric não soube identificar qual. Ele entrou, silencioso, e sentou-se em uma cadeira que havia em um canto do quarto.

— Sente-se aí. — ele disse apontando para a cama. Hodric obedeceu. — Já está pronto para dizer o que aconteceu?

— M-mas... Eu não sei... — era uma meia mentira, não podia ser tão grave quanto uma mentira completa, podia?

— Não sabe? Haveria você batido também com a cabeça?

— Não é isso, é que... Bem, eu não sabia que havia se passado todo esse tempo e... Não sei ao certo como dizer isso...

— Não sabe. Você não sabe.

— Por que repete o que eu digo?

— Por que você não conta a verdade?

— Eu estou dizendo! Eu não vi todo esse tempo passar.

— Como não, Hodric? Não sentiu frio nem fome? Não viu o céu escurecer? — Hodric não respondeu àquilo, não se lembrava de ter sentido fome e nem mesmo frio, e dentro da Espinha por vezes era difícil diferenciar o dia da noite — Não vai me responder?

— Não, eu... Eu não posso!

— Não pode? Como não? — ele fez uma pausa para respirar — Por que você tem andado tão estranho, Hodric?

— Sim, por que? — exaltou-se, já não conseguia mais permanecer sentado — Por que será que o Hodric anda tão estranho? Por que? Por que o Hodric só tem feito besteira? — encostou a testa em uma das paredes, tinha vontade de jogar tudo para o alto. — Por que? — dessa vez disse bem baixo, havia se sentado no chão, não sabia como. — Por que não consegui dizer a verdade para a Ismira? — uma lágrima amarga escorreu do seu olho — Por que ele...? — parou assim que percebeu o que estava prestes a dizer, não podia falar sobre aquilo.

— O que você está falando, Hodric?

— Eu... eu não sei! — disse, afobado. Sua fala seguiu-se por um longo silêncio.

— Está bem, Hodric, depois nós conversamos. — e virou-se para ir embora. Ele já estava quase na porta quando Hodric o chamou:

— Espere! — o açougueiro encarou-o com aquele par de olhos cinzentos. Ficaram um longo tempo em silêncio, um encarando os olhos do outro. — Você é meu pai? — Hodric não quisera fazer aquela pergunta. Não naquele momento e daquela forma, mas as palavras simplesmente jorraram da sua boca. Seu pai ficou parado, encarando-o. Hodric podia ver em seus olhos que não tinha palavras para lhe responder.

— Não! — quem disse foi a sua mãe. Ela tinha acabado de entrar no quarto. Tinha os olhos vermelhos e molhados de lágrimas — Não, Hodric, ele não é o seu pai — Não, não e não! Ele não podia estar certo, Ele não! Ele estivera apenas tentando perturbá-lo, não podia estar certo. Mas estava.

— E por que vocês nunca me disseram isso? — disse após longa pausa — Por que me esconderam isso por todos esses anos? E se não é ele o meu pai, então quem é?

— Acalme-se, filho, sente. Eu vou te contar que aconteceu. — ela tinha voz bem calma, tão calma que tirou Hodric do sério.

— Não! Não vou me sentar. E também não quero ouvir, se vocês mentiram para mim durante todo esse tempo quem garante que irão dizer-me a verdade agora? — seu tom de voz era alto, estava quase gritando.

— Veja bem como fala com a sua mãe! — o açougueiro falou pela primeira vez desde que Hodric o questionara.

— Sim, ao menos continuo tendo a mesma mãe. Desculpem-me, mas preciso de um tempo para pensar. — ao dizer isso virou as costas e partiu. Precisava falar com Ele. Apesar de tudo, Ele nunca havia lhe contado uma mentira.


Na Espinha estava escuro como sempre, só que dessa vez chovia. Hodric estava sentado em um toco onde outrora houvera uma árvore, tinha as roupas molhadas e seu pulso doía como nunca.

— Então resolveu ouvir-me ao menos essa vez? Eu lhe disse, mas você só me ouviu agora. Você mesmo adiou o seu conhecimento da verdade. Mas, agora, creio que deve ter algumas perguntas para me fazer. — Hodric foi pego de surpresa, nunca imaginara Ele oferecendo-o respostas.

— Você... você sabe quem é o meu pai?

— Seu pai? Ora, e sua mãe não lhe contou?

— Não, quer dizer, ela ia me dizer mas eu fui embora. Quem conta uma mentira durante dezesseis anos facilmente conta outra.

— Desconfiança. Ótimo, Hodric, não se pode confiar em tudo o que vão lhe dizer, embora eu ache que isso não se aplique à sua mãe. Quanto ao seu pai, sim, eu sei quem ele é. — Ele parou por um momento — Imagino que você saiba que foi concebido e nascido durante a guerra; nesse tempo seus pais ainda não tinham se juntado aos Varden, mas eram, ainda assim contra o império. Não sei se você sabe, mas, durante a guerra, o rei tinha outro cavaleiro ao lado dele, um cavaleiro de um dragão rubro como sangue. Esse cavaleiro certa vez, por algum motivo que eu desconheço, esteve em um vilarejo, e lá ele se envolveu com uma moça, uma moça de belos olhos azuis. Na manhã seguinte essa moça descobriu a verdadeira identidade do cavaleiro, mas aí já era tarde demais, estava grávida.

— E o meu pai, isto é, o açougueiro. Onde ele entra nessa história?

— Ele se apaixonou pela sua mãe, simplesmente aceitou que ela já tivesse um filho.

— E quando a esse cavaleiro?

— Quem, Murtagh? Não foi encontrado após a guerra. Nem vivo, nem morto.

— E...

— Chega de perguntas, Hodric. Entende o que eu disse? Seu pai serviu, foi obediente ao rei. Agora é a sua vez, Hodric. Eu lhe dei a verdade, ela é cruel, bem sei, mas é a verdade. Vai me apoiar?

— Mas...

— Matar um dragão é tarefa difícil, eu sei, mas você pode conseguir. Vai me apoiar?

— Contra Ismira?

— Não é contra a Ismira, mas aquele dragão, ele pode ser perigoso até mesmo para ela.

— Mesmo depois da aliança de mente e alma que há entre eles? Isso... Isso não faz sentido! Não posso...

— Hodric, eu lhe disse a verdade uma vez. Por que estaria mentindo agora? Você é como seu pai, foi feito para servir. Não pode negar sua natureza. Irá apoiar-me? — Hodric hesitou por um momento, poderia confiar n’Ele agora?

— I-irei.

— Boa escolha, Hodric. Há um ovo de dragão rodando a Alagaësia, ele está destinado a você. Iremos atrás dele, quanto antes você o tiver nas mãos melhor, mais rápido poderemos livrar Ismira do perigo que corre. — Ambos ficaram em silêncio por um instante. Havia parado de chover. — Despeça-se do que conhece, Hodric, há um outro mundo para você conhecer.


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Notas finais do capítulo

Antes que vocês me perguntem: não, eu não penso sobre Murtagh assim como pensa Ele, ok?
Bom, espero que gostem. Vocês são do time dos que amam ou dos que odeiam o Hodric? Respondam-me nos reviews.



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