Ismira escrita por Giu Sniper


Capítulo 5
Capítulo 4


Notas iniciais do capítulo

Para aqueles que querem saber por que Hodric está tão estranho.
Capítulo em POV Hodric



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O dragão a tinha escolhido, nada podia fazer. Mas não a odiava, pelo contrário. Não tinha raiva dela, mas Ele teria, e não só dela, e então ele sofreria as consequências. Por que Ele o estava fazendo aquilo? Nunca o tinha feito nada de mal. Nem ao menos tinha-o visto antes daquela noite, antes do aniversário de Ismira. E o dragão, nem ao menos havia eclodido ainda. Como poderia ser uma ameaça tão grande para Ele?

O dragão havia acabado de escolhê-la, ali na sua frente. E o que fez? Fugiu. Tinha fugido para ir se encontrar com Ele, não devia ir, deveria ignorá-lo, mas não o fez. Mas se não fosse, Ele saberia, e talvez até fosse atrás de Ismira e de seu dragão, Hodric não podia deixar que aquilo acontecesse, se algo de mal ocorresse a ela... Não gostava nem de pensar! Nem ao menos tivera coragem de contar a Ismira sobre Ele, e quando o quis ela havia achado melhor deixar para depois.

Hodric tinha raiva de si mesmo, era um idiota, um covarde. Ismira não agiria daquela forma em seu lugar, ela sim tinha coragem. Amava-a, seu olhar, sua força, sua determinação, seu beijo... Idiota! Por que fizera aquilo? Não podia se envolver com ela assim agora, não agora. Podia pô-la em perigo! E o dragão, este também estava pondo-a em perigo, só que ele sempre esteve destinado a ela. Hodric tinha vontade de gritar, de socar todas as paredes, tudo para não chorar, não podia ser chorar, não podia demonstrar fraqueza.

Precisava chegar até Ele o mais rápido possível, quanto mais adiasse, mais perto de Ismira Ele estaria, e Hodric não desejava isso em hipótese alguma. Como chegar lá não sabia, nem ao menos sabia onde era. Quando deixara Ismira antes de sua festa de aniversário e partira sem rumo, encontrou-se lá. Quando estava indo para a festa de aniversario de sua amiga, de repente encontrou-se lá, e quando fugiu das perguntas da garota adentrando a floresta da espinha, também se encontrou lá. E agora que o queria, não conseguia achar uma maneira de pôr-se no caminho para aquele lugar. O garoto andava sem rumo pelo vilarejo na esperança de que acabasse achando-se lá, mas parecia que Ele não queria vê-lo.

De repente, sem que percebesse estava ao lado da cabana em que ele e Ismira sempre se encontravam, como havia chegado lá não sabia. Olhou para o céu, já estava escurecendo; havia se passado tanto tempo assim? Precisava encontra-Lo, rápido! Talvez se fosse novamente para a floresta da espinha... Estava ficando escuro, quem saberia o quão perigosa ela podia ser? Mesmo assim decidiu tentar, a segurança de Ismira estava acima da sua, ainda mais agora, que a vida dela eram duas.

Hodric seguiu seu caminho em direção à floresta. Antes de entrar em seu escuro abraço olhou em direção à Draumr Kópa, ainda não passava de um pequeno graveto enfiado na terra, brotando, então prometeu-se que estaria lá para colher as primeiras lichias da Alagaësia junto a Ismira.

Hodric não sabia por onde estava seguindo, não tinha um destino. Tinha as barras das calças sujas de lama e os cotovelos cheios de teias de aranhas, a noite já tinha caído e dentro da floresta estava escuro como um breu, Hodric não saberia dizer que horas eram e nem há quanto tempo estava lá. Preocuparia seus pais e sentia fome, mas não sabia se seria capaz de voltar para casa naquele escuro, e nem ao menos havia feito o que o levara até ali, quiçá não podia ficar ali parado, já conseguia ouvir o uivar de lobos ao longe.

Continuou andando sem rumo por um bom tempo até que Ele o encontrasse, ou que encontrasse Ele, não saberia dizer.

— Ora, ora! — era Ele, uma voz áspera e arrastada, Hodric virou-se instintivamente em direção à voz, às suas costas — Então, Hodric, fez o que eu disse? — a voz havia se deslocado, Hodric virou-se em sua direção — Livrou-se do ovo?

— Não, eu... — eu não vou fazer isso! Pensou em dizer Não posso e não vou. — Eu não podia, havia muita gente! O que eu poderia fazer? — nem mesmo acreditou quando ouviu-se dizendo aquilo.

— Hodric — a voz d’Ele era carregada de impaciência —, é melhor você livrar-se do ovo enquanto ele ainda é ovo! Você pode fazer isso? Não, acho que não! Diga-me alguém foi escolhido? — Hodric ficou mudo, não podia dizer-lhe que sim, mas também não poderia negar-lhe, já o havia tentando uma vez e o resultado não havia sido nada bom. — Não quer dizer? Bom, então suponhamos que sim, quem poderia ser? Você? Não, é claro que não. Mas, quem? — deu uma breve pausa — Ismira, talvez. — e soltou uma risada cavernosa e profunda, que ecoou pela floresta.

— NÃO! Não f... — precipitou-se

— Ah, Hodric — Ele riu —, não tente me enganar, eu sei de tudo. Eu preciso apenas é de alguém para fazer o trabalho sujo. E esse alguém é você.

— M-mas, por que eu? Eu não tenho nada...

— Hodric — Ele o interrompeu —, você é o melhor amigo da Ismira, quem melhor do que você? Terá acesso ao ovo muito mais fácil do que eu. E sim, eu já sabia que seria ela a escolhida. E, Hodric, quem melhor o que você? Veja de quem é filho!  — Como assim? O que ele estava dizendo? Não era filho de ninguém em especial.

— Filho do açougueiro, Dante, o açougueiro.

— Ah, sim! É, realmente, você é filho do açougueiro. — havia algo de diferente na voz d’Ele, como se soubesse de algo que não sabia — Bem, Hodric, apenas lembre-se do que eu disse: livre-se do ovo antes que ele se torne dragão.

Não, não e não! Não faria aquilo de forma alguma, não podia livrar-se do ovo, muito menos do de Ismira. Hodric não conseguia parar de pensar, a cada passo os pensamentos se agitavam como se uma turbina tivesse sido ligada em sua mente. Ele o havia mandado embora ainda naquela noite para casa, como? Hodric não saberia responder, magia talvez. Mesmo assim era tarde e nenhuma desculpa lhe ocorreu, de forma que levou uma tremenda bronca de seus pais. Quanto a Ismira, esta precisava partir logo para a ilha dos cavaleiros, em Carvahall ela podia estar correndo perigo, Hodric sabia que Ele iria atrás dela se não se livrasse do ovo, e não podia livrar-se dele.

Hodric parou em frente à porta da casa de Ismira, só criando coragem para bater. O que diria a ela? A verdade, ou uma mentira qualquer? Não, ela não acreditaria em nenhuma mentira que pudesse contar. Juntou coragem até que enfim bateu na porta, logo ela se abriu.

— Olá, Hodric. — era Katrina, a mãe de Ismira.

— Oi, bom-dia, eu posso falar com a Ismira?

— Ah, sim, é claro, ela está no quarto dela. — ficou calada até se lembrar de que Hodric não saberia o caminho — A segunda porta à esquerda, no andar de cima. — indicou abrindo a passagem para que ele passasse.

— Obrigado, e... Bom dia! — desejou novamente, começando a subir as escadas. Por mais que conhecesse Ismira há muito tempo eles não costumavam ir uma à casa do outro, preferiam ficar em sua cabana próxima à espinha.

Logo estava no segundo andar da casa, e rapidamente localizou a porta indicada pela mãe de Ismira. Bateu.

— Entre! — Hodric identificou a voz de Ismira vindo de dentro do quarto, era uma voz carregada e chorosa.

— O-oi... — disse assim que entrou, fechando logo em seguia a porta às suas costas. Ela tinha os olhos vermelhos, certamente estivera chorando.

— Oi? Ah, Hodric, você nunca sabe o que dizer... — ela deu um leve sorriso enquanto secava algumas lágrimas que ainda permaneciam em seu rosto manchado. — Você veio aqui para fugir das minhas perguntas novamente? — disse após a uma breve pausa

— Ismira, me desculpe, eu... eu não quis sair daquele jeito, eu...

— Não, Hodric, chega disso! — ela interrompeu-o — Não fique inventando histórias para mim, me diga logo a verdade. — cada palavra dela era como uma apunhalada em sua carne, afinal, ela tinha razão — Vamos corrigir o que você acabou de dizer, ok? Sim, Hodric, você quis sair correndo quando ele me escolheu. — apontou para o ovo — Ninguém o obrigou a fugir.

— Ismira, desc...

— Não, Hodric, você está pedindo desculpas demais! Diga-me logo o que está acontecendo!

— Eu tento! Mas eu não consigo. — precisava contar para ela mas as palavras ficavam presas em sua garganta. — Ismira, você... você precisa ir logo, Ele... Eu... Você... O ovo... Dragão... — não conseguia terminar uma única frase.

— Hodric, fique calmo! Você não termina de falar uma única frase!

— EU NÃO CONSIGO FALAR! — gritou — Ismira me escute: você precisa ir logo, você e o dragão! — disse a ela, segurando-a pelos ombros. Tinha a voz afobada e num tom quase gritado.

— Hodric, você está querendo me ver longe? — ela desvencilhou-se.

— NÃO! — socou uma parede próxima

— Você pode pelo menos me explicar o por quê? — ela perguntou após a um longo silêncio, algumas lágrimas voltavam a cair pelos seus olhos.

— Sim... Não! Eu não posso, me desculpe Ismira, mas eu não posso!

— NÃO, HODRIC, VOCÊ NUNCA PODE! — exacerbou-se — E você está pedindo muitas desculpas, Hodric, por que haveria alguém de pedir desculpas se não tivesse culpa?

— MAS EU TENHO CULPA! — sua sentença foi seguida por um longo silêncio.

— Hodric, vai embora! É melhor, vá embora! O que me fez pensar que você seria... — ela não precisou terminar a frase para que Hodric saber oque ela diria. Via as lágrimas torrenciais que agora banhavam seu rosto — Adeus, Hodric. Vá.

Não havia mais nada que pudesse dizer, nunca devia ter ido lá, só o que fizera fora piorar a sua situação para com Ismira. Virou as costas, abriu a porta e se foi. No topo da escada encontrou Roran, Martelo Forte, pai de Ismira, o homem fuzilou-o com os olhos antes de lhe dizer:

— Hodric, vou dar-lhe um conselho: Nunca se esqueça de quem você é. Me parece que você se esqueceu. Pense nisso. — e deixou-o sozinho para ir ter com Ismira.

Hodric estava sentado ao lado de Draumr Kópa logo depois de sair da casa de Ismira, as palavras de Roran ainda martelavam em sua cabeça, tinha se esquecido de quem era, deixara que Ele o controlasse. E quanto a Ismira... duvidava que ela ainda queria algo com ele.

— Idiota, idiota, idiota! — acusava-se batendo a cabeça contra os joelhos — Por que você fez aquilo? Por que se deixou controlar? Você a magoou, não podia ter feito isso, era para protege-la não para... — a imagem de Ismira chorando tomou conta de sua mente — Não para fazê-la chorar. — Ficou ali, a testa apoiada nos joelhos, até não conseguiu mais guardar as lágrimas e as deixou escapar.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado!
Em breve tem mais.



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