Ismira escrita por Giu Sniper


Capítulo 4
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Capítulo em POV Ismira.
Ficou grande, espero que gostem!



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Embora cansada Ismira não conseguiu dormir direito aquela noite. Estava cansada por conta da festa, mas a todo momento uma coisa vinha perturbar-lhe os pensamentos. Ora o beijo de Hodric, ora as perguntas não respondidas e por fim, o ovo de dragão; a princípio aquela notícia não lhe era de tanta importância, mas depois que ela havia mudado o agir de Hodric de um momento para o outro...

Mas em algum momento da noite seu corpo não aguentou o cansaço, e então Ismira dormiu.

Mesmo com toda a agitação da noite anterior Ismira acordou relativamente cedo. Eram nove da manhã e sua cabeça pesava pela noite mal dormida. Levantou-se o mais rápido possível, vestiu um vestido qualquer e um par de botas antigas, brancas e de solado preto. Pela primeira vez pôs o anel que sua mãe havia lhe dado de aniversário no dedo, nada aconteceu, a pedra de ônix continuou como antes.

No andar de baixo seus pais estavam no momento do desjejum. Sobre a mesa uma tigela de lichias bem maduras.

— Bom dia! — exclamou em tom ainda sonolento

— Bom dia! — desejou-lhe seu pai — Como foi a noite? Dormiu bem?

— Na verdade não. Não consegui dormir direito. — respondeu enquanto retirava a casca áspera de uma das lichias da tigela. — Mas tudo se cura com lichias. — brincou abocanhando a fruta que estava na sua mão. — Quem é o embaixador que veio trazer os ovo dessa vez? Quando ele chegou?

— Você não o conhece, — dessa vez era sua mãe quem lhe respondia a pergunta— nem mesmo eu. O nome dele é Tauron, chegou ao início da alvorada; demos à ele o quarto de cima, talvez ele desça para tomar café conosco.

Mal sua mãe havia terminado de falar e Tauron já adentrava a porta do cômodo, com o máximo de educação pediu licença e sentou-se à mesa. Ismira lhe ofereceu as lichias levantando um pouco a tigela na direção em que ele estava, mas este recusou com um gesto da cabeça e um sorriso. Tauron era alto, mesmo para as proporções élficas, os cabelos loiro-prateados escorriam por suas costas até a metade, e os olhos eram de um verde-esmeralda intenso. O elfo passava manteiga em uma torrada quando Roran puxou assunto:

— Então, Tauron, como foi a viagem?

—Eu diria que conturbada, e longa. — a voz o elfo era calma e macia — Parece que este dragão não encontra cavaleiro em lugar algum. Creio que dessa vez todos os jovens serão obrigados a tocar o ovo, ele já está passeando pela Alagaësia há muito tempo; inclusive, um dos fiéis a Galbatorix já tentou roubar-nos esse ovo. Acho que será melhor que façamos a seleção logo após o café, é necessário que esse dragão encontre logo um cavaleiro.

—Sorte. A você e a esse dragão. — desejou o seu pai, o elfo agradeceu com uma mesura e a conversa extinguiu-se.

Momentos se passaram até Ismira decidir, por fim, levantar-se.

— Onde a senhorita vai? — repreendeu-a a mãe

— Ora, vou encontrar Hodric. — Ismira tinha algumas lichias nas mãos — Vou levar-lhe lichias. — justificou mostrando as frutas.

— Só levar-lhe lichias? — agora era seu pai que lhe dirigia à palavra.

— E o que mais poderia ser?

— Hum... ok. — ele autorizou-a. Ismira pediu licença e andou o mais rápido possível em direção à porta, e só quando já estava no corredor ouviu-o gritar-lhe — Juízo!

Hodric estava no mesmo lugar de sempre, a pequena cabana que haviam construído próximo à floresta da espinha. Ismira encontrou-o sentado ao lado da janela, estudando o céu. Distraído. A garota então esgueirou-se silenciosamente pelo interior da cabana, chegando por trás de Hodric e lhe tampando os olhos com as suas mãos.

— Adivinhe quem sou.

— Não tenho certeza! Talvez seja uma menina cujo o beijo tem sabor de lichia.

— Meu beijo tem sabor de lichia? — ela destampou-lhe os olhos

— Isso não devia surpreende-la, depois de todos esses anos comendo lichias! — ele brincou, dando um sorriso.

Hodric levantou-se e olhou em seus olhos, estava prestes a dar-lhe outro beijo quando ela se esquivou.

— O que foi? — perguntou com desentendimento na voz — Algo errado?

— Não, é que... Bem, Hodric, o que está acontecendo entre nós agora? Nós éramos, somos, éramos, amigos. E agora oque somos um do outro? Amigos não se beijam. Não assim!

— Ismira, eu, ontem à noite, não consegui te explicar direito o que eu queria. É que é meio... difícil, você resumir em palavr... —Mas Ismira não o deixou terminar.

— Hodric, sem rodeios. Eu fiz uma pergunta. E quero uma resposta, não um poema. Seja direto: a gente tá namorando ou não?

— Como?

— Hodric, você me ouviu! A gente está junto ou não?

— Eu... Creio que sim. — o garoto respondeu, um pouco nervoso.

— Eu... Ah Hodric, desculpe! Eu sei que eu fui insensível, mas isso já estava me definhando e... — Hodric calou-a pondo os seus dedos em frente aos seus lábios, como quem diz silêncio.

— Você não foi insensível, você foi Ismira, e é isso que eu gosto em você. — e a beijou, nesse momento Ismira sentiu uma energia emanando do anel e subindo pelo seu braço, e quando olhou a pedra pôde ver um pequeno brilho sobre sua superfície, mas não havia sido um brilho como o da primeira vez em que o colocara, era um brilho diferente, pouco depois o anel deu uma leve e rápida vibrada, como se quisesse alertá-la, e então o brilho se extinguiu.

Ismira juntou-se a Hodric do lado de fora da cabana, estavam deitados na grama observando as formas das nuvens como sempre faziam. Ismira lembrou-se então das lichias que havia trazido para dividir com Hodric, ofereceu-lhe uma, ele aceitou e sentaram-se para comer.

— Estas lichias estão ótimas! — Ismira nunca parava de elogiá-las, todos os anos as lichias eram ótimas. — Tauron trouxe-as hoje de manhã, chegou com a alvorada minha mãe disse. Ele trouxe o ovo de dragão. — a garota viu o semblante de Hodric enevoar-se — Eu ainda não o vi, mas ouvi tio Eragon dizer ao meu pai que era um ovo negro e solitário. — e então o rosto de Hodric mostrou mais uma pitada daquilo — Deve ser um dragão realmente majestoso! E você quer ser cavaleiro!

— NÃO! — o garoto explodiu de repente — Eu... não... quero... mais.

— O que? Hodric, eu não estou acreditando nos meus ouvidos. Você disse...

— Sim, eu disse. Eu não quero mais... ser cavaleiro. Eu... eu não posso. Entende? Eu gosto de você, Ismira, de verdade, e eu não vou poder te deixar aqui e simplesmente ir para fora da Alagaësia. Não posso! Eu não vou participar da seleção!

— Mas você TEM! —aquilo que estava ouvindo a tinha enraivecido; como assim ele não queria ser mais cavaleiro? E para ficar com ela ali? Não estava entendendo Hodric, aquilo nunca havia sido problema antes. — Tauron disse que dessa vez todos vão ser obrigados a participar da seleção! O ovo está a demasiado tempo andando pela Alagaësia e precisa logo de um cavaleiro! E eu não quero que ninguém deixe um sonho para trás por minha causa. — disse a última parte em tom de ordem.

— Mas não é por sua causa! É... É por que eu quero!

— Não, Hodric, não! Fale-me a verdade! Você não precisa esconder nada de mim, você sabe disso! Ou se esqueceu? Vou ser direta. Por que você se incomoda tanto quando eu falo desse ovo de dragão? Por favor, diga-me a verdade.

— Não, Ismira, eu... Eu não po... Eu não quero mais ser cavaleiro de dragão, não vou suportar ser imortal enquanto você não é.

— Mas isso nunca te incomodou antes! Hodric, por favor, não era isso que você ia dizer. Eu disse a verdade.

— Verdades, verdades, VERDADES! — gritou — DE QUE NOS SERVEM AS VERDADES? Há algo no mundo mais mentiroso do que uma verdade? — ele começou a andar para um lado e para o outro feito um louco.

— Hodric. Hodric. HODRIC! — apenas da última vez em que ela lhe chamou foi que ele percebeu — O que está acontecendo Hodric? Esse, esse não é você! Onde está o Hodric? O Hodric meu amigo. — ela enfatizou esta última palavra, doesse o que doesse. O choro fechava-a a garganta, mas ela o mantinha lá, engolindo-o sempre que chegava perto demais. —É a última vez que lhe pergunto: O que há nesse ovo de dragão que o preocupa tanto? — Hodric abriu a boca como se fosse falar algo, mas se realmente o ia desistiu fuzilou-a com os olhos, virou as costas e partiu floresta adentro. Não era o lugar para onde normalmente iria, e lá podia ser perigoso, Ismira precipitou-se em segui-lo, mas desistiu, não iria jogar-se assim atrás dele. Mas, e se algo lhe acontecesse de mal? Nunca iria perdoar-se.

Ismira caiu de joelhos na grama, o anel em seu dedo começou a vibrar, e aquilo de alguma forma a reconfortava. Sentia que nada de mal aconteceria a Hodric, mas mesmo assim aninhou-se em suas saias e chorou.

Depois de toda a confusão com Hodric na cabana aquela manhã, Ismira voltava para casa, os olhos vermelhos e o rosto manchado de lágrimas. Na sua mão ainda estavam duas lichias, mas estranhamente não tinha estômago para comê-las. Antes de chegar à sua casa, decidiu olhar o mural de avisos do vilarejo, talvez lá já estivesse aquele que tratava da seleção, e estava. No mural um papel de tamanho médio e com letras de grafia cheia apresentava: ”Seleção de cavaleiros de dragão, hoje. TODOS os jovens devem comparecer, sem exceção ou restrições de raça ou gênero, na praça central de Carvahall logo após ao almoço.” Então eles haviam mudado o horário! Mas por que? Não haveria de ser nada de mais! Deu meia volta e seguiu para sua casa, já era quase hora do almoço e sua mãe devia a estar esperando.

Chegando em casa parou em frente a porta, respirou fundo antes de entrar.

O cheiro do almoço sendo preparado circulava deliciosamente pela casa quando Ismira entrou, pela sua experiência hoje não haveria carne no cardápio, seus pais sempre respeitaram o fato de os elfos serem vegetarianos, e por isso nunca a serviam quando hospedavam algum em casa. Ismira olhou suas saias, estavam sujas de lama, talvez fosse melhor tomar um banho antes de almoçar, e então subiu as escadas para o seu quarto.

Logo após o almoço Ismira subiu as escadas para o seu quarto levando consigo uma tigela de lichias. Deitou-se em sua cama para pensar um pouco enquanto se deliciava com as frutas. Logo seria a hora da seleção. Não conseguia parar de pensar em Hodric e na reação dele sempre que ela mencionava o ovo de dragão, esperava que ele fosse na seleção. Ele não fugiria, fugiria? Só pra não ter que entrar na fila de seleção? Aquele era o maior sonho dele, não pode ter mudado de opinião assim... E por que ele havia fugido logo para a floresta da espinha? Lá podia ser perigoso! Mas algo lhe dizia que estava tudo bem, e esse “algo” era o anel, por mais estranho que parecesse. Haveria aquele anel tido aquela mesma reação com sua mãe e as outras pessoas que o usaram? Achava que não, caso contrário estava certa de que ela lhe teria contado. Ismira fitou a pedra de ônix por um tempo, parecia-lhe uma pedra como qualquer outra.

O momento da seleção finalmente chegara, Ismira estava sentada sobre uma pedra alta que se encontrava próximo à entrada da praça. Usando a mão como uma viseira para tampar os raios do Sol Ismira procurava Hodric em meio a multidão, não o encontrava.

O número de pessoas na praça circular era realmente grande, normalmente não o seria, mas dessa vez todos haviam sido intimados a comparecer. A fila já começava a se formar, porém Ismira nem ao menos havia se mexido para pôr-se nela .

— Ismira — a garota ouviu alguém chama-la às suas costas, era Hodric —, me... me desculpe. Eu sou um idiota! Eu devia ter falado com você desde o começo, mas eu não consegui, me desculpe!

— Hodric, eu... — disse a garota levantando-se — Eu também não fui a melhor amiga que...

— Não! — ele interrompeu-a — Você sempre foi verdadeira comigo, se você não tivesse me aberto os olhos... O que eu faria sem você? — ele tinha uma expressão arrependida e enquanto falava os seus olhos encontravam o chão.

— Hodric — Ismira segurou o rosto do garoto com as suas próprias mãos, fazendo-o olhar em seus olhos —, o que está acontecendo com você? — e ela o beijou. Não sabia o por quê, mas o fez. — Acho melhor esperarmos da seleção antes de qualquer coisa.

— Precisamos mesmo?

— O que?

— Participar!

— Sim, precisamos. — respondeu em um tom de voz duro; aquilo novamente?

A fila era grande, e mesmo demorando-se ela e Hodric não eram um dos últimos, seriam chamados dentro de algumas horas. Quando a fila já se encontrava totalmente formada foi que Tauron chegou trazendo o ovo de dragão, a formal negra e oval deveria ter por volta de vinte e cinco centímetros de altura e estava acomodada sobre uma pequena almofada abaçanada. O elfo pôs a almofada com o ovo sobre uma mesa no centro da praça, montada especialmente para esse fim, foi então que a fila começou a andar. Cada uma das pessoas chegava até o ovo e o tocava com ambas as mãos por aproximadamente dez segundos para depois serem dispensados sem nenhuma alteração do programa ou de suas vidas. A fila andava vagarosamente e Ismira não saberia dizer quanto tempo haveria se passado desde que nela entrara, uma hora ou duas, talvez. Só depois do que pareceu ser muito tempo Ismira chegava próxima ao ovo, mas ainda haviam dez à sua frente.

— Tem certeza que precisamos mesmo ficar nessa fila?

— Claro que sim, Hodric! Já lhe disse isso.

— Ainda há tempo para sairmos.

— Não, Hodric, não há. Pare com isso! Esse é o seu sonho! O que aconteceu com você?

— Eu já lhe expliquei que...

— Mas eu não acredito! — interrompeu-o. Os olhos dele arregalaram-se, como se não acreditasse no que tinha acabado de ouvir.

Nesse momento Tauron chamou-a, era a sua vez de encostar no ovo, Hodric  o seguinte. Ismira aproximou-se da forma negra, estendendo as mãos para tocá-la, o anel de ônix começou a vibrar, e quando tocou o ovo a pedra se acendeu. Então, de repente, o ovo exalou um calor diferente, como o do fogo, queimando-lhe as mãos e fazendo com que as afastasse logo. Pôde ver nos olhos do elfo que ele estranhou a sua reação, então tocou o ovo, mas nada sentiu. O elfo sorriu-lhe.

— Parabéns, cavaleira de dragão.

Se dar conta daquilo chocou-a; olhou em direção à Hodric, mas ele já não estava lá, conseguiu vê-lo de costas, já longe, fugindo.


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Notas finais do capítulo

Bom gente, eu sei que demorei um pouco para postar mas está aí. Espero que gostem.
Estou muito feliz com os reviews que estou recebendo, agradeço à todos.



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