Depois de conversar com todo mundo e de comer uma travessa de batata frita quase sozinha, reparei que meu pai ainda não tinha descido. Subi as escadas quase correndo indo pro quarto dele. Ouvi uma voz e desacelerei meus passos. Cheguei na porta e escutei ele falar o nome da minha mãe. Abri a porta devagar e chamei por ele, que não me escutou.

- E você queria que eu fizesse o que, Barbara? – Ele disse irritado e eu dei um passo pra trás parando entre a porta e o corredor. – Você sabe muito bem que só coloquei seu nome na certidão de nascimento porque ela não parava de te chamar de mãe. – Ele fez uma pausa e eu ainda fiquei lá escutando e vendo ele andando de um lado pro outro. – Cala a boca. Nem mãe da Lily você é. E até hoje não sei o que você fez pra afastar a minha filha de mim. – Ele fez outra pausa e eu encostei no batente da porta. É por isso que ela me odeia, então? – Eu sei que errei. Não sou idiota pra não saber disso, mas você não tem direito sobre a Lily. – Escutei ela berrando algo. – Você só tem porque eu fiz a burrada de colocar teu nome na certidão. E outra, você acha mesmo que ela vai ficar a vida inteiro acreditando que você é a mãe dela e não a Lucy. – Ok. Eu já tinha entendido que ela não era minha mãe, mas Lucy é a mãe do Ryan. E por que caralhos esconderam isso de mim?

- Pai? – Chamei mais alto e ele se virou olhando pra mim.

- Tenho que desligar. – Ele disse e desligou na cara dela. – Oi, filha. – Ele disse me abraçando. Retribui o abraço, mas ainda estava meio “dura”.

- A Lucy é minha mãe? – Perguntei e ele suspirou se sentando na cama.

- É, Lily.

- E por que você nunca me contou?

- Eu não sabia como contar pra você. A Lucy morreu quando você tinha um mês. E o Ryan era pequeno. Ele não lembra de nada. A Barbara era... – Ele pigarrou e não continuou.

- Você tinha um caso com ela? – Perguntei cautelosa.

- Tinha. Quando eu e a Lucy descobrimos o que ela tinha, já era tarde. E foi tudo muito rápido. Não teve problema nenhum na gravidez, então pra nós dois não tinha problema nenhum nem com ela, nem com você. Até que descobrimos. Eu terminei com a Barbara, mas sabe como ela é. Ela não saía do meu pé. E depois que a sua mãe morreu, reatamos.

- E onde entra a mentira nessa história?

- Você se apegou a Barbara. Logo depois que casamos, você começou a falar e só chamava ela de mãe. Mesmo eu corrigindo você. O tempo foi passando e eu cansei de fazer isso.

- Tá, então ela me odeia só porque sou filha da Lucy...

- Ela não odeia você.

- Ah não? – Perguntei rindo irônica. – Sabemos que tudo o que ela faz é demonstração de afeto né. – Disse já explodindo. – Ela algum dia na vida já teve consciência de que sou a menos culpada nessa história toda? Alias, eu não tenho culpa nessa porra toda.

- Lily!

- Que é? – Ele respirou fundo. – Tá, desculpa. - Dessa vez, eu respirei fundo. - Você ia me contar algum dia?

- Queria te contar ainda essa semana. – Não falei nada. Só fui em direção a porta. – Vai descer?

- Daqui a pouco. – Ele disse e eu saí do quarto.

(...)

- Tá pensativa. – Derek disse em cima de mim beijando meu pescoço e em cima dos meus seios enquanto eu olhava pro teto. Já era de madrugada. Já estava todo mundo dormindo em casa, menos a gente. Empurrei ele pra frente de leve e ele me olhou. – Não quer?

- Eu só... to pensando.

- Se quer? – Ri fraco.

- Não. Em outra coisa. – Ele continuou me olhando esperando eu falar o que era. – Descobri uma coisa hoje.

- Sobre quem?

- Sobre mim. Eu não sou filha da minha mãe. – Ele riu.

- Como assim? Isso é confuso.

- Eu sei. Minha mãe e a mãe do Ryan são as mesmas.

- E por que mentiram pra você?

- Meu pai disse que eu acostumei a chamar a Barbara de mãe e blahblah. Frescura.

- Não fica brava com ele.

- Ele mentiu pra mim!

- Eu sei que ele mentiu, mas ele não queria decepcionar você.

- Eu fiquei até feliz por ela não ser minha mãe mesmo. – Rimos fraco.

- Mesmo assim ela cuidou de você né.

- Ela e mais uma lista de empregadas. Enfim, ela não é importante agora.

- Você não tá chateada com isso? – Fiz que não com a cabeça. E não estava mesmo. – Tem certeza?

- Derek, não vai fazer diferença, vai?

- É... Não vai. – Ele me deu um selinho e apoiou a cabeça no meu peito, ainda em cima de mim. Assim, dormimos.

(...)

- Acorda, menina! – Berraram no meu ouvido e eu dei um pulo.

- Quer me matar, garoto? – Derek riu.

- Vou buscar minha mãe e vamos ver o apartamento pra fechar negócio.

- A gente tá indo pra Califórnia?

- Estamos. – Levantei, me arrumei e desci pra tomar café. O Derek estava lá embaixo já.

- Bom dia. – Disse entrando na cozinha e dando um beijo na bochecha de cada um.

- Bom dia. – Eles responderam.

- Vocês vão mesmo pra Califórnia? – Ryan perguntou.

- Vamos. – Disse pegando a jarra com um suco que eu nem sabia qual era.

- Vão voltar quando? – Meu pai perguntou e eu olhei pro Derek.

- Hoje. Só vou pra fechar o contrato do aluguel mesmo. – Meu pai me olhou.

- Tá brava comigo? – Fiz que não com a cabeça mastigando um pedaço de pão. – Tá chateada?

- Não.

- Por que você ficaria chateada? – Ryan perguntou confuso.

- Por nada, Ryan. Que horas vamos sair, Derek?

- Daqui a pouco. – Comemos, me despedi do meu pai e do Ryan e fomos buscar a mãe dele pra ir pra Califórnia.

- Você vai vim quase todo fim de semana me ver? – Perguntei já dentro do carro.

- Vou.

- Promete?

- Prometo se eu tiver dinheiro pra vim. – Rimos fraco.