- Você tá estranha. – Andrew disse depois de um tempo que ficamos em silencio. Estávamos na casa dele fazendo o relatório de hoje. Lá no orfanato foi incrível! As histórias que a maioria das crianças tinham ali eram incríveis. São tão pequenas e já passaram por tanta coisa...

- To estranha como?

- Desde de quando o garoto perguntou se a gente tava junto. – Ele disse rindo fraco e eu corei de leve.

- Eu namoro, Andrew.

- Eu sei. Não precisa falar isso todo dia pra mim. Não tenho amnesia que eu saiba. E sobre o que eu falei... Eu tava brincando. – Ele largou o lápis e virou a cadeira pra mim. – Vai ficar estranha por uma brincadeira?

- Não foi só uma brincadeira e nós dois sabemos disso.

- Foi o que então? – Mordi a parte de dentro da bochecha. Ele nunca falou realmente se gosta de mim ou não. Apesar que tá bem na cara.

- Foi... - Ele me interrompeu.

- Olha, eu sei que você pelo menos imagina que eu gosto de você. – Ele riu fraco. – Você não sabe esconder as coisas, Lily. Sim, eu realmente gosto de você. – Engoli em seco. – Mas não vou ser um otário e tentar acabar com o seu namoro. Nunca faria isso. Eu sei que ele não gosta de mim e se eu tivesse no lugar dele, provavelmente também não gostaria de mim. Só... Esquece esse assunto.

- Ficou louco? Esquecer como?

- Você não sente nada por mim, ué! Só esqueceu que eu gosto de você. Vamos ser amigos normais como os outros. – Dei de ombros. – Da onde a mulher lá disse que a maioria das crianças eram? – Ele me perguntou mudando de assunto.

(...)

- Assim não dá! Você é muito chato! – Berrei quando o Andrew ganhou de mim, de novo, no vídeo game.

- Você não sabe nem se é o de cima ou o de baixo. – Dei o dedo pra ele, que riu mais ainda de mim.

- Para de rir. Não tem graça. – Disse cruzando os braços.

- Para de bico. Vem escolher um que você consegue ganhar.

- Vá a merda, Andrew! – Berrei de novo e ele gargalhou.

(...)

- Fala de novo. Você passou a tarde com quem? – Megan perguntou. Estávamos conversando eu, ela e a Katy pelo Skype. Elas querem me matar!

- Com o Andrew. Não foi porque eu quis.

- Por que não só fez o trabalho e veio embora? – Katy perguntou.

- Porque ele é meu amigo.

- Isso ainda vai dar merda, Lily.

- Eu sei o que to fazendo, Megan. E o Derek confia em mim. Nunca aconteceria algo entre eu e o Andrew.

- Já aconteceu! – Katy berrou e eu bufei.

- Há quase um ano! – Meu celular apitou.

“Só vou jantar e já entro no Skype. Beijos, te amo. E já to com saudades.

Derek.”

- Galera, pergunta rápida. Conto ou não pro Derek que fui fazer o trabalho com o Andrew?

- Mentir nunca é uma boa opção. Experiência própria. – Megan disse e a Katy concordou.

- Acho que a gente vai discutir de novo...

- Mesmo assim, é melhor ser sincera.

- É... Vou falar com ele, ok?

- Ele quem? – Katy perguntou.

- DEREK! – Eu e a Megan berramos sem paciência e ela resmungou algo.

- Até amanhã, meninas.

- Até.

(...)

- Fez o que hoje? – Derek me perguntou.

- Fiz trabalho. Tive que ir num orfanato e depois fiz o relatório.

- Sério? E como foi lá? Chorou?

- HAHA bobão. Não chorei. E eles são uns amores! Quero adotar um. – Disse fazendo bico e ele sorriu.

- Quando a gente se casar, quem sabe...

- Vamos casar um dia?

- Pretendo. E você? – Sorri.

- Eu também.

- Era em grupo?

- O que?

- O trabalho.

- Era em dupla.

- Foi tu e quem?

- Antes de tudo, a culpa não foi minha, ok! Eu faltei na sexta e a professora me colocou com a dupla. Eu não tive escolha.

- Andrew de novo. – Ele disse visivelmente irritado.

- Não aconteceu nada de mais.

- E era pra ter acontecido? – Suspirei.

- Não começa, Derek. – Ele deu de ombros.

- Alguém já te convidou pro baile?

- Não. Nem quero ir. E você?

- É meu ultimo ano. Eu quero ir. Mas queria que fosse com você. – Sorri de canto.

- Convida alguém ué. Nem que seja a tia da cantina. – Ele riu.

- Sabe a Ruth?

- Que Ruth?

- Ela é de umas aulas minhas. Ela é legal.

- Ela é bonita?

- Não tanto quanto você.

- Claro, meu bem. Ninguém chega aos meus pés. – Disse jogando os cabelos pro lado e ele riu fraco.

- Ok, rainha do Nilo, vou chamar ela então.

- Me manda a foto primeiro! Quero ver a guria. Só vai chamar se eu aprovar.

- Te mandei o link. – Ele falou um pouco depois. Abri a foto. Hm. Ela era morena de cabelos pretos também. Bonita. E parecia ser simpática.

- Ela é confiável? – Ele riu fraco.

- Não chamaria se não fosse.

- Ela já deu em cima de você?

- Lógico que não.

- Ela é mais alta que eu?

- Que tipo de pergunta é essa? – Ele me perguntou com a sobrancelha arqueada. Dei de ombros. – Um pouco só.

- Hm. Pode chamar.

- Mesmo ou falou na ironia?

- É pra chamar. – Ele assentiu.

- Falo com ela amanhã.

- E deixa bem claro que você tem dona! – Ele riu.

- Ok!

(...)

- Lily? Você tá bem? – Marcus perguntou entrando na cozinha. Tava todo mundo jantando na sala de jantar, mas não queria olhar pra cara da minha mãe. É, briguei com ela de novo. Ela quer que eu namore o Andrew de qualquer jeito!

- Sabe por que ela me odeia? – Ele fez que não com a cabeça. – Mesmo? Por favor, não mente pra mim. – Ele suspirou e se sentou do meu lado.

- Eu ouvi ela falando com uma amiga algo sobre “quero ver quando ela descobrir que o pai dela não é tão santo”. – Ele disse e deu de ombros.

- Tem ideia do que ele fez?

- Não. Ela falou algo sobre a mãe do Ryan, mas não escutei o que era.

- Mas o que minha mãe iria querer com a mãe do Ryan? Ela morreu já. – Ele deu de ombros de novo.

- Qualquer coisa te falo. – Assenti e ele saiu da cozinha.

- Margo? – Ela me olhou. – O que eu tenho a ver com a mãe do Ryan e da rixa do meu pai com a minha mãe?

- Não faço ideia, querida. – Comi pensativa. Alias, fui dormir pensativa também. Eu só quero saber o que tá acontecendo.