Saint Seiya: A Rosa Infernal escrita por Nyahnah


Capítulo 7
O Anjo da Vingança


Notas iniciais do capítulo

Fiz esse desenho especialmente para esse capítulo(omg, eu preciso dormir)
http://bit.ly/YC4tHd
Alecto à esquerda e Tisífone (com sua franja pro lado errado) à direita.
Mais uma vez peço desculpas pela demora e espero que gostem do que está por vir!



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“Rancor. Cobiça. Ciúme. Traição. Estes são apenas uma amostra dos pecados que os humanos cometem. O que fazemos? Julgamos. Punimos. Torturamos. Gritos de dor fazem a alegria de uma erínia.”


— Não falem bobagens irmãs! Nós castigamos apenas humanos! – Anunciou Megaera com um sorriso calmo.

Regulus a olhou de soslaio, seus pulmões pareciam ter se acostumado com a pressão do ar. Como sua amiga podia dizer algo como aquilo com tamanha naturalidade? Se aquela era a verdadeira face de Vienna, ele agora estava confuso quanto aos seus sentimentos. Porém, não era o momento para se questionar. Estava diante de três deuses perigosos e, com certeza, eles procuravam briga.

— Ora, não falamos bobagem! – Disse a imponente Alecto. – O que vejo à minha frente é uma humana frágil e indefesa. – Ironizou.

Thanatos, deleitando-se com o que estava por vir, materializou uma mesa e poltrona. Ele se acomodou e tomou do chá que era servido fantasmagoricamente por um bule de prata.

— Irmã você manchou a nossa honra! – Exclamou Alecto num tom acusador.

— E DESDE QUANDO TEMOS HONRA!? – Megaera berrou e voou para ficar à altura das irmãs.

As erínias se calaram e lançaram seus olhares de reprovação à irmã caçula. Uma forte rajada de energia a atingiu e o corpo de Megaera se chocou contra uma árvore que se partiu. Ela parecia estar em choque e a ferida que tinha na cabeça se abriu novamente com a pancada.

Regulus tentou ajuda-la, mas ela recusou e disse para ele não se aproximar. Então se levantou com dificuldade e se apoiou na Cobiça.

Como seu corpo doía! E para o seu espanto o inimaginável aconteceu: suas irmãs erínias saltaram do caminho dos deuses e estavam mais tangíveis do que no Submundo. Cada uma segurava uma arma, Alecto um tridente e Tisífone uma foice.

— Como vocês...!?

— Pelo visto você nunca ouviu falar em corpos temporários, irmã tola. – Olhando de perto, podia-se ver como a cicatriz no rosto de Alecto era saliente. Sua armadura vermelha exibia um brilho fosco e ela possuía três asas nas costas. Seu olhar expressava um ódio sem tamanho pelas atitudes da irmã caçula.

— Por que vocês vieram!? – Megaera se aprumou. – Explique-se deus da morte!

Thanatos nada disse, sorriu e sorveu um pouco do chá.

— Viemos busca-la. – Disse Alecto. – É claro que sua resistência será reconhecida como rebeldia e nós tomaremos medidas um tanto persuasivas. – Ela apontou o tridente para Megaera em sinal de desafio.

Tisífone que não dissera nada até o momento tinha seu olhar sangrento fixo em Regulus. Seu rosto era angelical em contraste com o de Alecto e suas longas madeixas azuis serpenteavam junto da saia branca do vestido que usava por debaixo da armadura verde-escuro. Ela possuía apenas um par de asas.

— Se é assim... – Disse Megaera num tom vago.

O caminho dos deuses se fechou de repente e uma escuridão momentânea tomou conta do ambiente. No momento seguinte Megaera estava vestida em sua armadura negra e as quatro espadas voavam à sua volta. O bosque voltara ao normal e uma bela noite de lua cheia marcaria uma terrível batalha.

O vento morno da Grécia soprou suave na face de cada um.

Alecto fora a primeira a se mover. Ela se precipitou para cima de Megaera manuseando seu tridente com muita habilidade. A deusa, porém, fincou-o no chão quando o estocou contra Megaera que desviou agilmente.

Megaera tentou atacar com o Rancor, um cutelo de lâmina negra adornado com ondas douradas. No mesmo momento, Alecto esquivou e, usando o tridente como apoio golpeou a face da irmã caçula com os pés.

— Falta uma eternidade para você me superar, irmã! – Vociferou a irmã mais velha.

— Eu já a superei! – Rebateu a caçula se afastando e apontando para a irmã com o indicador e o mindinho.

Quando Alecto percebeu já era tarde demais. As duas espadas, Rancor e Traição, de lâmina pontiaguda e prateada como um espadim, a atravessaram, como se fosse um fantasma e agora estavam estocadas em sua sombra.

— O que!? – Ela estava imóvel, ainda usando o tridente como apoio.

— Eu domino as sombras, lembra? – Megaera tinha um sorriso triunfal nos lábios. – Duas espadas serão suficientes para te segurar.

A face de Alecto se contorceu numa dor inimaginável. Mesmo sendo uma deusa aquela situação era terrível. Ela quis se atirar no chão, mas não podia mover os membros. Então sentiu uma cãibra infernal nos braços e pescoço.

— Espero que não tenha esquecido o que acontece quando uma de nossas armas atravessa a carne. – A caçula se aproximou de forma infantil.

— Mal...dita...! - Ela mal conseguia falar. A dor que sentia era, senão, pior que a própria morte. Quando a arma de uma erínia atravessa um corpo físico, esta rasga a alma do alvo, fazendo-o sofrer por alguns séculos até que as feridas cicatrizem.

— Tisífone você é a próxima. – Ela se dirigiu à irmã de cabelos azuis, mas esta se aproximava de Regulus e tentava abraça-lo. O jovem cavaleiro se afastava dela como podia.

— Volte aqui menino charmoso! – Exclamou Tisífone que parecia ler os seus movimentos, surgindo às costas ou à frente dele.

— Relâmpago de Plasma! – Regulus saltou e liberou seu cosmo na forma de inúmeros raios de luz que se propagaram contra a deusa. Contudo, Tisífone voou através do ataque com a maior naturalidade.

— Venha! Vamos conversar! – Ela sorria docemente e pousara ambas as mãos no contorno do rosto dele, aproximando-o de seu rosto angelical.

O cosmo de Megaera se enfureceu e ela foi tomada por uma raiva sem tamanho. Como Tisífone pudera tocar em Regulus sem seu consentimento?

— Já basta! – Megaera ascendeu aos céus empunhando uma espada japonesa de lâmina prateada. Sua empunhadura era vermelha e tinha uma fita negra e longa, que era utilizada como bainha quando não estava em uso. Ela se pôs entre Tisífone e Regulus, apartando-os.

— Olá irmã! – Tisífone girou a foice na mão. – Está empunhando o Ciúme? Isso quer dizer alguma coisa? – Provocou com um risinho sádico nos lábios.

A batalha recomeçou com faíscas produzidas pelo choque entre as lâminas da foice e do Ciúme de Megaera.

Regulus observava os movimentos das duas atentamente enquanto voltava ao chão. Megaera era muito hábil com suas espadas, mas Tisífone parecia se sobrepor às habilidades da irmã caçula. Ela girava a foice graciosamente e atacava tanto com a lâmina quando com o cabo.

Então Megaera foi atingida abaixo da costela pela ponta do cabo que atravessou até mesmo sua armadura. Tisífone puxou a foice que pareceu cortar mais ainda a carne da irmã caçula.

— Duas lâminas!? – Indagou Regulus. Ele não percebera, até então, que na ponta do cabo tinha uma lâmina em forma de gancho.

Megaera soltou um grito de dor e levou a mão esquerda até o ferimento que manchava sua armadura negra de vermelho.

— Não se esqueceu de que sou a única de nós três capaz de ferir tanto a alma quanto a carne, certo irmã? – Tisífone tinha a voz suave e o olhar congelante. Seu humor mudara repentinamente.

Dito isso, ela girou a foice e cortou Megaera a partir do ombro, atravessando-a com sua lâmina principal. Por sorte, a irmã caçula conseguiu se esquivar e o corte não foi muito profundo.

— Não. Era isso o que eu esperava. – Megaera riu baixinho. Ela segurava a foice contra o corpo, aprofundando ainda mais o corte em sua cintura.

— O que...?

Apesar da dor, Megaera apontou os dedos anelar e médio para Tisífone, que foi atravessada pelas duas espadas remanescentes, o Ciúme e a Cobiça. Elas se estocaram no chão à sombra de Tisífone que ficou imóvel no ar. Sua face se contorceu de dor e, o ponto de seu corpo onde o Ciúme, fumegava violentamente.

— USOU O PRÓPRIO CORPO!? – Retorquiu Tisífone em agonia. Sua foice caiu e se fincou no chão.

Megaera riu e despencou. Além da dor que sentia na alma, os cortes feitos em seu corpo pareciam ainda piores. Jamais sentira algo assim e, pela primeira vez, ela duvidou de sua imortalidade.

— Vienna! – Regulus saltou e a pegou no colo antes que encontrasse o chão.

— Meu nome... É Megaera! Você perdeu o teatrinho? – Ela ria da própria desgraça. Mas estava feliz que ao menos alguém naquele lugar se importava com sua saúde.

Regulus sorriu. Não importava o seu verdadeiro nome, Vienna ou Megaera, aquelas palavras só poderiam sair da boca de sua querida amiga.

— Boba! – Seus pés encontraram o chão e ele a deitou, tratando-a com carinho.

— Esses cortes vão ficar... – Ela tossiu. – Feios.

— Eu cuidarei de você. – Disse ele acalmando-a.

Thanatos movimentou-se inquieto em sua poltrona. Como podia apenas uma erínia prender outras duas, supostamente mais poderosas? Ele bateu palmas em sinal de ironia.

— Alecto, a deusa erínia do Crime. Tisífone, a deusa erínia da Culpa. – Seus olhos vagaram lentamente entre as duas até encontrarem Megaera. – Acreditei que vocês fossem mais do que o suficiente para abater e capturar a irmã caçula.

— Nunca te disseram Thanatos? – Megaera começou, ela olhava para o céu e segurava um risinho debochado.

O deus da morte a encarou.

— Quando maior o número de asas, mais forte é a erínia. – Claro que ela não falava a verdade, mas não podia perder a oportunidade de tirar vantagem das irmãs.

— A princípio, quem está na pior situação é você Megaera, a deusa erínia da Vingança. – Comentou Thanatos.

Ele não mentia. Tisífone e Alecto tinham apenas cortes em suas almas e estavam paralisadas por suas sombras. Por outro lado, Megaera tinha cortes profundos tanto na alma quanto em seu corpo. Talvez ela não fosse mais capaz de seguir adiante com essa batalha.

— Se me permitem. – Ela se levantou lentamente com a ajuda de Regulus e se sentou. – Tenho uma confissão a fazer.

Os três deuses a encararam com seus olhares congelantes.

— Não existe algo mais frágil e insignificante que uma vida humana. Estou sentindo isso na pele! – Comentou rindo. – Humanos são fracos e escravos dos sentimentos. Tem sua vida limitada e estão passíveis a destinos terríveis nas mãos de deuses como nós. – Ela falava pausadamente, em seu limite.

— E...? – Perguntou Alecto num tom óbvio.

— Deuses são ainda piores. Jamais sentimos tristeza ou alegria. Não nos iludimos ou criamos esperança. Tampouco nos importamos uns com os outros. Nem ao menos temos algo precioso para proteger. – Ela levou a mão sobre o corte da foice de Tisífone. Talvez por dor ou emoção, jamais saberiam.

Regulus a observava com admiração. Apesar de ser uma deusa odiosa do Submundo, suas palavras eram doces e sinceras. E então a abraçou carinhosamente.

— Eu preciso que me levante. – Ela sussurrou ao seu ouvido.

Ele assentiu com a cabeça e a ajudou. Megaera, então, estalou os dedos e as espadas voltaram a flutuar ao seu redor, libertando Alecto e Tisífone de suas prisões. Diferente do que Thanatos pensou, as deusas caíram no chão e se contorceram penosamente.

Megaera apontou o indicador e o Rancor se fincou no chão, abrindo o portal de uma dimensão recheada de gritos. O cheiro de enxofre misturado ao sangue tomou conta da atmosfera por alguns momentos. Algumas almas tentaram escapar, mas eram repelidas e se tornavam vermelhas.

— Irmãs.

Alecto e Tisífone lançaram olhares penosos a Megaera.

— Nascemos no começo dos tempos, ainda na era dos titãs, e fomos rejeitadas por todos os outros deuses. – Ela tomou ar. – Pensem bem sobre suas palavras antes de me falarem sobre a honra que jamais tivemos. – Megaera agora conseguia ficar de pé sozinha. Ela apontou os indicadores para Alecto e Tisífone, cada. Suas espadas deslizaram até as irmãs e as empurraram para dentro do portal que se fechava lentamente.

— Tem certeza do que está fazendo? – Perguntou Alecto que pareceu se acostumar com a dor.

— Não.

— Então...? – Tisífone não entendia.

— Incertezas fazem parte da vida. – Ela riu para as irmãs.

Alecto e Tisífone se entreolharam. Jamais entenderiam sua irmã caçula, mas, a partir dali, não a perseguiriam mais. Suas feridas levariam um bom tempo para cicatrizar assim como as de Megaera. Talvez elas também devessem visitar o escriba do Submundo, Lune de Balron.

O portal se fechou.

— Quanta baboseira! – Exclamou Thanatos.

— Você vai vir me encarar? – Megaera já estava firme e aparentava não sentir dor alguma.

— Você está enfraquecida. Se eu tomar o seu corpo, poderei entrar no Santuário e tirar a vida de Atena.

— Ora cale a boca deus da morte! – Ela apontou as quatro espadas para ele. – Você sabe que pode entrar no Santuário a hora que quiser não me use como desculpa!

— Você não...?

— Te cortaria com essas espadas? – Ela se aproximou lentamente. – Com certeza. Agora suma daqui, deus covarde! – Seu cosmo se elevou contra ele, tornando aquele lugar novamente doentio.

Thanatos lançou um olhar de reprovação. Talvez não fosse boa ideia iniciar uma batalha contra Megaera, afinal ele era um deus menor. Ele pensou se seria útil levar a vida do cavaleiro ao lado dela, mas em sua mente a Guerra Santa já estava ganha. As tropas de Hades eram muito maiores e melhores que as de Atena. Era apenas uma questão de tempo até que tudo começasse.

— Muito bem. – Ele deu as costas para Megaera e se dirigiu para o lago. A mesa, a poltrona, o bule e a xícara que ele materializara dissolveram-se no ar.

— Se você voltar aqui saberá o que o espera. – Ameaçou Megaera.

— Não haverá próxima vez. Você estará morta. – E então desapareceu.

O cosmo de Megaera se acalmou. O céu estava clareando com o sol que se erguia majestoso no horizonte. As quatro espadas da deusa caíram no chão e suas asas se abaixaram em sinal de paz.

— Vienna você é incrível! – Regulus se aproximou alegre como sempre.

— Reg... – Ela se dirigiu a ele, mas caiu no chão, manchando a grama verde com seu sangue divino.

Regulus observou o corpo inerte de Megaera por alguns segundos e a virou novamente. Ele não havia percebido como os cortes em seu corpo eram profundos. A carne dela parecia estar apodrecendo.

— Vienna! Acorde!! – Ele dava tapas de leve no rosto dela que, por sorte, ainda estava quente. Regulus a pegou no colo e correu de volta ao Santuário.

Estaria Vienna, sua melhor amiga, morrendo? Os cortes de Tisífone eram tão mortais? Mas ela era uma deusa! Ela sobreviveria certo?

Fazia algum tempo que Regulus não se sentia triste pela perda de alguém querido. Mas se tinha algo que ele poderia fazer para que ela não morresse ali; se existisse alguma forma de salva-la, ele o faria. Já não bastava ter perdido o pai. Ele não poderia perder sua querida amiga.

Amiga. Ela se tornara muito mais do que isso nos anos em que conviveram. Vienna era alguém que ele precisava proteger mais do que sua própria vida. Ao lado dela ele esquecera a vingança que queria realizar pelo pai.

E foi em meio às lágrimas que Regulus alcançou o Santuário, correndo rápido como a luz pelas doze casas. Atraindo os olhares curiosos dos cavaleiros, aspirantes e amas. Ele não sabia direito onde levaria a inerte Vienna, pois não conhecia ninguém que pudesse cuidar de feridas tão graves. Seguindo sua intuição, ele a levou para o seu tio Sísifo. Talvez ele pudesse ajudar.

Ao se aproximar da casa de Sagitário, avistou o tio que observava o nascer do sol. Ele se virou com os berros sofridos de Regulus.

Quando Sísifo viu a inerte Vienna, ele passou os dedos sobre a armadura dela, próximo ao corte da foice de Tisífone.

— O que foi esse corte? – Perguntou calmamente.

— A foice de uma deusa a cortou. – Regulus tentava se manter firme, mas seu corpo todo tremia.

Sísifo o olhou e pousou a mão sobre a cabeça do sobrinho.

— Temos que salva-la tio! Não quero perder mais ninguém!

— Só podemos limpar os ferimentos e esperar que ela, como deusa, se recupere. – Disse pesaroso.

Regulus olhou para o tio. Como ele sabia que ela era uma deusa? Ele então se lembrou de que Vienna disse que todos mentiram para ela. Tinha algo errado no Santuário.

Ainda se questionando, Regulus a levou para dentro da casa de Sagitário e a deitou numa cama de madeira com colchão de palha.

Eles então retiraram cuidadosamente a armadura dela e, quando terminaram, puderam ver que o corte começava no ombro direito de Vienna e se estendia até a altura do umbigo, passando por entre os seios. Já o outro corte, aprofundava-se abaixo das costelas, do lado direito.

— Vá encher um balde com água fresca. – Ordenou Sísifo se dirigindo a uma cômoda onde pegou alguns panos limpos.

Quando Regulus retornou com o balde de água, ele se deparou com uma nua e inerte Vienna. Sísifo retirara a roupa dela para que pudesse tratar dos cortes. Por sorte ele tinha coberto o corpo dela até a cintura.

Por alguns instantes Regulus ficou estático observando aquela cena à medida que suas maçãs se coravam violentamente. Seus olhos percorriam cada centímetro do corpo nu de Vienna, do umbigo até os seios, pequenos e firmes. Sísifo lançou um olhar no mínimo engraçado para seu sobrinho e riu.

— O que foi Regulus? – Ele se aproximou, molhou um pano e retornou para o lado de Vienna. Então se pôs a limpar as feridas.

— Não... Nada. – Ele se aproximou e colocou o balde ao lado do tio. Ele virou o rosto tentando esconder o rubor em sua face.

Não demorou muito para que Sísifo entendesse o que estava acontecendo com seu sobrinho. Que mente aquele menino tinha! Bem, a culpa não era dele. Estava na flor da adolescência, nada mais normal do que se sentir atraído por uma garota tão bonita quanto Vienna.

— Tem certeza? – Sísifo tentava segurar o riso. – Não esconda, eu sou seu tio!

Regulus levantou a cabeça e olhou para o tio. Ele viu como ele sorria, muito provavelmente por causa de seu nervosismo. E, desistindo, ele disse:

— Eu... Gosto dela, talvez. Tá? – Disse ele dando ênfase no “talvez” e virando o rosto para não olhar para Vienna.

Sísifo riu baixinho e continuou seu trabalho. Ordenou que Regulus pegasse uma caixa em cima da cômoda. Quando terminou de limpar e tratar das feridas de Vienna, inclusive a da cabeça, ele pediu que o sobrinho a segurasse enquanto a enfaixava.

Regulus estava muito tenso com essa situação. Não era possível que seu tio o fizera segurar Vienna de propósito apenas para rir de seu nervosismo! Para piorar, seu ouvido zumbia e ele quase pensou escutar a voz dela sussurrar “gosta de mim, é?”.

— Pronto. – Disse Sísifo finalmente. Ele a cobriu até o pescoço quando Regulus a deitou novamente. – Agora devemos esperar que ela sobreviva.

— Sim. – Regulus se dirigiu apressadamente para fora da casa de Sagitário.

Sísifo o seguiu. Quando enfim estavam do lado de fora do templo, ele observou como o sobrinho estava desolado. Lembrou-se do dia em que o encontrou, sentado ao lado do túmulo de Ilias, seu pai. Regulus era apenas uma criança triste e solitária. Agora crescera e treinara para vingar o pai, mas jamais percebera que o sobrinho era tão sensível quando se tratava da vida das pessoas.

— Tio. – Começou. Ele olhava para o céu matinal.

— Sim?

— Como você sabe que ela é uma deusa? – Ele se virou, seus olhos demonstravam ligeira irritação. Se eles mentiram para Vienna, também mentiram para ele.

Sísifo se aproximou e, sério, disse:

— Vou contar a história de quando Vienna, ou melhor, Megaera, chegou ao Santuário.

Regulus escutou atentamente cada palavra que saía da boca de seu tio a respeito da noite em que Megaera apareceu no Santuário. Todos, naquela noite, haviam percebido a presença dela, mas simplesmente não quiseram interferir em seus problemas com o deus da morte. Quando encontraram o corpo inerte da deusa no chão, já sabiam exatamente o que fazer: Manigold foi mandado para o Submundo, numa investigação. Ele deveria descobrir quem era ela. E o Grande Mestre pediu para que todos agissem naturalmente e não contasse para os outros residentes do Santuário, muito menos para ela. Quando descobriram que ela era uma deusa, a treinaram e testaram sua lealdade.

Ao fim da história, Regulus parecia sereno. Ele então disse:

— Tio não acha que foi cruel esconder essa história dela?

— Por que diz isso?

— Porque ela estava sofrendo! E se ela foi tão querida pelo Santuário, por que não a ajudaram a lutar contra os deuses do Submundo!?

— Deuses do Submundo... – Repetiu Sísifo, ele se recordava dos cosmos imensos que sentira na noite passada.

— Porque esse era um problema entre deuses. – Disse Vienna secamente.

Os dois cavaleiros de ouro se viraram subitamente ao ouvir a voz fraca da jovem. Ela estava enrolada no cobertor que a cobrira na cama.

— Vienna!! – Regulus correu até ela. – Você ainda está muito fraca! Volte para a cama!

— Depois de tudo o que viu na noite passada você ainda me subestima. – Afirmou ela calmamente. Tinha algo diferente no tom de voz dela que ele não sabia dizer o que era.

— Como estão os cortes? – Perguntou Sísifo se aproximando.

— Profundos. Talvez levem uma ou duas eternidades para cicatrizarem. – E dito isso ela observou as faces horrorizadas dos dois cavaleiros. – O que foi?

— Eternidade? – Perguntou Sísifo pensativo.

— Não é tanto tempo quanto parece, mas este corpo está horrível. – Ela olhou para a própria mão. – Humanos são muito frágeis, pensei que era o meu fim. – Suas pernas bambearam e ela caiu, sendo segurada por Regulus.

— Você não deveria se levantar! – Ele a pegou no colo e a levou para dentro da casa de Sagitário, deixando o pensativo Sísifo para trás.


Quando chegaram ao quarto da casa de Sagitário, Regulus deitou a deitou na cama novamente. Ele reparou que o lençol estava manchado de sangue bem como suas mãos. Então, ele as lavou com um pouco da água que restara no balde.

— Você gosta de mim é? – Disse ela zombeteira.

Regulus parou o que estava fazendo e sentiu a face ferver. Ele virou o rosto para que Vienna não o visse. O que ele podia escutar era a risada debochada dela.

— Nunca imaginei que você diria algo assim! – Ela ria. Achava muita graça na situação constrangedora em que o havia colocado.

— Para de rir... – Disse ele baixinho. Essa não era a Vienna que ele conhecia. Ou era?

— Não! – Anunciou – É divertido ver como você fica envergonhado!

Ele engoliu em seco, respirou fundo e virou-se para reclamar. Quando percebeu, seu nariz quase encostara ao de Vienna. Eles estavam muito próximos, podiam sentir a respiração um do outro. O coração de Regulus batia descompassado e ele mal conseguia respirar. Ela se afastou e se deitou na cama, enrolando-se no cobertor.

— Estou cansada. – Disse ela sob a coberta. Regulus não percebeu que o rosto dela também estava rubro com aquela proximidade. O coração de Vienna batia rápido, mas, ao contrário do amigo, ela escondia bem.

— Descanse, eu vou chamar o Albafica. – Disse ele com um leve misto de irritação e ansiedade na voz. Quando se virou ele sentiu que ela segurava na mão dele. – O que foi?

— Fica aqui comigo. – Disse ela envergonhada.

— Não, você ri de mim. – Rebateu ainda de pé. Estava inconformado! Vienna ficaria constrangida e não zombeteira se ouvisse a confissão dele. Então quem era essa?

— Mas se você for, quem é que vai me proteger do deus da morte? – Disse em tom meigo, quase meloso.

Do que ela estava falando? Acabara de vencer duas deusas do Submundo e intimidar o próprio deus da morte. Como ela mudava tão rápido de opinião? Antes zombava de seus sentimentos, agora queria ser mimada?

Regulus desistiu de entender. Ele se sentou no chão, ao lado da cama, e a encarou com seus olhos azuis.

— Assim está melhor. – Disse ela alegre.

Eles conversaram até que Vienna foi vencida pelo cansaço e caiu no sono.


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Notas finais do capítulo

Tenho algo a dizer: Sísifo seu cachorrão!
Foi mal, adoro o personagem! Mas enquanto eu escrevia esse momento Tio-Sobrinho-Namorada essa era uma das frases que me vinha à mente!
Graças a esse capítulo eu alterei a classificação etária da fanfic (juro que no projeto inicial essa parte "ecchi" não constava nos planos, mas a imaginação surgiu e eu achei que seria engraçado constranger o Regulus).



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