Saint Seiya: A Rosa Infernal escrita por Nyahnah


Capítulo 5
Gêmeos e Leão




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“Sentimentos são realmente poderosos. Não creio que Deuses tenham a capacidade de sentir algo tão intenso.”


— Por favor! Não vá embora!! – Vienna ofegava sob a máscara e corria o mais rápido que podia, atraindo olhares por onde passava. Ela rumava para fora do Santuário, direto para o mar.


Dois anos antes da Guerra Santa do século XVIII, um terrível evento ocorreu no Santuário: Defteros, o irmão gêmeo de Aspros, foi vítima do Satã Imperial e forçado a assassinar o Grande Mestre. Porém, a mesa virou e Defteros acabou com a vida do próprio irmão.

Por causa desse evento, Defteros decidiu que viveria como um demônio, sem fraquezas ou hesitações. Assim, ele deixou o Santuário, rumo à ilha Kanon, levando consigo a armadura de Gêmeos de seu irmão mais velho.

Talvez Defteros não tenha percebido, mas despertou em Vienna uma grande admiração que cresceu com o passar do tempo. Ao longo dos anos do treinamento de Vienna, era ele quem substituía Albafica quando necessário e assim, ela o via como um irmão mais velho. Eles se entendiam bem.

Deixar o Santuário sem se despedir não era uma atitude justa. É covardia despertar sentimentos tão profundos em alguém e simplesmente deixa-lo por puro egoísmo.

— Volte aqui mestre Defteros! – Gritava Vienna a plenos pulmões. Ela finalmente o avistara em um barco de madeira, mas estava muito distante e ela jamais o alcançou.

Naquele dia Vienna chorou muito com a perda de um grande amigo e ela sabia que jamais o veria novamente.


Dois anos depois:


Vienna abriu os olhos, o dia fora da casa de Peixes estava lindo. Era primavera e as rosas estavam mais resplandecentes do que nunca. Ela se revirou na cama de colchão de palha e viu o lírio que Regulus lhe dera há dois anos balançando com a brisa suave que entrava pela janela. Levantou-se, ela vestia um camisão comprido até os joelhos. Vienna seguiu furtivamente para fora de seu quarto e foi se lavar no banheiro. Por fim se olhou no espelho e admirou seus olhos verdes como duas esmeraldas. Com um alegre sorriso nos lábios finos, ela voltou, mais uma vez furtiva, para seu quarto.

Chegando ao quarto, Vienna vestiu a roupa de treino. Por mais que tentasse, não conseguia esconder as curvas que seu corpo ganhara nos últimos anos. Agora era adolescente e tinha lá seus jovens quinze anos, como todos acreditavam. Ninguém tinha certeza de quando Vienna tinha nascido, já que apenas apareceu no Santuário. Quando terminou ela rumou para a cozinha. O cheiro da comida invadiu o quarto onde Albafica dormia e ele imaginou se essa fragrância alcançava as outras casas.

Após o café da manhã Vienna seguiu para fora da casa de Peixes, agora vestindo a máscara, para seu treinamento rotineiro onde lançava rosas com muita precisão em vários alvos. Ela agora dominava bem a técnica e conseguia materializar suas próprias rosas piranha.

Tudo parecia seguir um caminho bom para Vienna, mas com o tempo, ela passou a enxergar almas, assim como Manigold, e a ser temida por algumas pessoas que se aproximavam dela. Era como se trouxesse algum aviso de má sorte.

Vienna não entendia por que sentiam tanto medo dela, tampouco por que via almas vagando pelos cantos escuros do Santuário e em seu entorno. Sem contar que os sonhos com as duas mulheres odiosas e o pentagrama se faziam cada vez mais frequentes, além de muito mais nítidos.

Essas habilidades obscuras, claro, ela não revelara a ninguém muito menos ao seu mestre. Mas queria respostas, só não sabia a quem recorrer. Pensou em Manigold, porém ele faria piada e fingiria que nada tinha acontecido.

E, de repente, durante o dia, as mulheres falaram com ela.

— Megaera, você maculou a nossa honra perante o Senhor do Submundo! – Exclamou a mulher de longos cabelos azuis e armadura verde-escuro com detalhes dourados, ela empunhava uma grande foice. Seus olhos eram vermelhos e tinha o rosto pálido.

— És uma desertora! Merece a pior das punições! – Sentenciou a mulher de cabelos acaju, presos em um coque. Ela vestia uma armadura vermelho-escuro com detalhes dourados e empunhava um tridente. Seus olhos eram azuis, em seu rosto era possível ver uma longa cicatriz que passava entre os olhos e se estendia da testa ao nariz. Seu quadril e seios eram fartos além de ser mais alta que a outra.

Vienna também vestia uma armadura que era negra com detalhes dourados e, ao seu redor, estavam as quatro espadas. Ela desviou o olhar das mulheres para a sua volta e viu o inferno atarracado de almas, espectros e, no céu, estava um pentagrama negro.

— Por que tem tantas almas aqui?

— Está vendo a quantidade de trabalho que deixou por seu egoísmo? – Perguntou a mais alta.

— Quem são vocês? Por que estou aqui? – Perguntou Vienna perplexa com a visão do Submundo.

— Ora! Não vá nos dizer que a humanidade a fez esquecer? – A mais alta caminhou na direção de Vienna, fazendo-a recuar.

— Quem... sou? – E voltou-se para a mais baixa.

— PIRRALHA! VIENNA!!

Os lábios da mais alta se mexiam, mas Vienna não escutava nada além de seu nome. E foi então que ela acordou, estava em frente à casa de Câncer de costas para a escada e a um passo de cair rolando Santuário a baixo. Manigold segurava sua mão e a puxou para o patamar.

— Mestre Manigold?

— Você está ficando doida menina demônio!? Estava entrando na casa de Câncer quando decidiu dar pra trás e voltar para a casa de Gêmeos!? – Ele parecia tão confuso quanto ela, mas do jeito que falava fazia a situação parecer engraçada. – E ainda: falando sozinha sobre dúvidas e almas!

— Isso aconteceu mesmo? – Perguntou ela perplexa olhando em volta e avistando, próximo à casa de Câncer, um saco de papel pardo. Ela correu até lá, deixando Manigold falar sozinho e abriu o saco.

— Ei volte aqui quando estou falando pirralha!

— Droga! Os ovos que comprei se quebraram! – Anunciou.

— E ainda sujou a fachada da minha casa! – Completou.

— As únicas coisas que sujaram foram as frutas e verduras que comprei! Droga!! – Xingou ela. – Agora vai feder!

— Vê se aprende a não fazer nada estúpido! – Praguejou Manigold enquanto Vienna juntava suas coisas e passava pela casa de Câncer.

Enquanto subia o Santuário, Vienna relembrava cada detalhe do sonho acordado que acabara de vivenciar. Mas as únicas coisas que surgiam em sua mente eram perguntas.

Quem eram aquelas mulheres e por que falavam como se a conhecesse? Por que estava sempre no Submundo vestindo uma armadura se ela sequer tinha uma? O que significa o pentagrama?

Se Vienna teve uma vida antes do Santuário, se ela era outra pessoa, com essas visões ela suspeitava dela mesma. Será que a cicatriz que tinha na nuca fora feita para se esquecer de algo importante? Então quem era Vienna?


— Mestre... – Ela começou.


— Sim? – Albafica levava um pedaço de peixe grelhado à boca. Eles estavam jantando.

— Me conta do dia em que me achou?

Albafica soltou um breve suspiro de ressentimento e olhou pela janela, como se juntasse cada fragmento daquele dia em sua memória.

— Eu estava aqui dentro da casa de Peixes quando... – Ele fez uma pausa, como se quisesse evitar contar alguma mentira. – Quando ouvi o seu grito vindo do jardim de rosas diabólicas. Eu corri em sua direção e quando cheguei lá, encontrei você caída entre as rosas com esse corte terrível na nuca. Eu a enrolei em meu manto e a trouxe para dentro da casa de Peixes.

Vienna nada disse, ela observava a comida como se tentasse processar o que Albafica acabara de contar.

— Por quanto tempo eu dormi?

— Acho que... – Ele olhou para o rosto dela como se tentasse se lembrar. – Dois dias inteiros, se bem me lembro.

— Entendi... – Disse ela com um sorriso de contentamento. Agora que conhecia a capacidade dos cavaleiros de ouro, ela sabia que aquela história que Albafica sempre lhe contava era mentirosa. Ela não apareceria no jardim de rosas aleatoriamente. Tinha um motivo e ela sabia, mas não conseguia ver.

O que acontecera? Por que fora parar no Santuário? Qual era o seu destino? Foram essas e várias outras perguntas que rondaram a cabeça de Vienna durante a noite.

Supondo que tivesse uma armadura, qual era sua estrela ou constelação? Será que ela servia a Atena ou a outro deus? Talvez Hades, pois em seus sonhos estava sempre no Submundo e agora conseguia ver almas. Bem, pode ser que as visões sejam de uma vida passada.

Vienna dormiu.


No dia seguinte, o treino matinal de Vienna fora interrompido e agora ela corria desesperadamente ao redor da casa de Peixes, sendo seguida por Regulus que insistia em persegui-la como se fosse sua caça. O fato é que ele acabara de voltar de uma missão e estava com saudades. Ela queria treinar em paz, mas o amigo não a deixava.


— Volta aqui!!! – Chamava Regulus alegremente. Ele se divertia com a correria.

— Me deixa treinar!! – Seus gritos foram abafados pela máscara, não podia negar, estava feliz que ele tinha voltado.

— Só depois que eu te pegar!! – Anunciou.

No segundo seguinte ele apareceu na frente dela e saltou, agarrando-a pela cintura.

Resultado: Vienna caiu de costas contra a grama e com a cabeça de Regulus sobre sua barriga. Ela abriu os olhos e avistou sua máscara ao longe.

— Droga Regulus! – Praguejou e levou as duas mãos ao rosto, escondendo-o.

— Te peguei! – Exclamou alegremente e se levantou, sentando-se sobre as pernas dela e notando que Vienna escondia o rosto entre as mãos. Inocente e recheado de curiosidade, ele segurou os pulsos dela e os afastou para que pudesse ver o rosto de sua amiga. – Ei! Vamos ver como você está!

— Você perdeu a noção!? Não sabe da lei!? – Ela lutava para ele não mover suas mãos do lugar. Um esforço inútil, pois Regulus abusou de suas habilidades como cavaleiro de ouro.

Quando viu o rosto dela, Regulus não soube o que dizer. Ele ficou olhando, como se tivesse visto pela primeira vez. Para ele havia algo diferente, talvez os olhos? Não! Continuavam verdes e brilhantes. A boca? Ainda era fina e um pouco torta. O nariz? Não, ainda era pequeno e empinado. Mas tinha algo diferente, com certeza. Ele só não sabia dizer o que era.

— Já viu!? Agora me deixa!! - Vienna sentiu seu rosto ferver. Ela serpenteou sob Regulus numa tentativa frustrada de se livrar de seu peso. “Droga! Ele não pode ser tão pesado! Maldita armadura de ouro!” pensou.

Regulus saiu de cima dela sem dizer uma palavra e a observou enquanto se recompunha. Vienna estava com muita raiva dele, quanta ousadia atrapalhar o seu treinamento, arrancar sua máscara e não dizer sequer um “a”!

Bem, como seu mestre dissera, era responsabilidade de Vienna caso alguém visse o seu rosto. Agora tinha de cumprir com a lei: amá-lo ou mata-lo? Por um lado, Regulus era seu único amigo. Por outro, ela não queria trocar beijinhos e abraços com ele. E por um terceiro lado, ela não sabia quem realmente era. Vienna olhou para o céu e pensou que decisão tomaria.

— Vienna.

— Que foi?

— Não precisa pensar tanto. – Disse ele, suas mãos pousaram sobre os ombros cobertos de Vienna.

— Hein? – Seu olhar oscilou das mãos dele em seus ombros para seu rosto sorridente. Por alguns segundos, quando os olhos deles se encontraram, Vienna sentiu como se uma corrente elétrica viajasse por toda a sua espinha. Sua face enrubesceu e seu coração disparou. De repente os olhos de Regulus pareciam muito mais azuis do que de costume, como se tivessem adquirido um brilho singular que ela jamais percebera.

Vienna o empurrou e deu um passo para trás, estava errado. Tudo errado!

— O que foi? – Dessa fez foi ele quem perguntou, sem entender a reação defensiva da amiga.

— Não percebeu!? – Vienna estava ofegante.

— O que?

— Por que você disse que eu não preciso pensar tanto? – Perguntou ela, tentando entender melhor o que ele queria dizer.

— Ora! Sempre fomos amigos e eu vi seu rosto antes de você se tornar amazona. Eu só ia dizer que você não precisa obedecer à lei! – Disse ele preocupado. – Não precisa me amar ou me matar, está tudo bem! – E terminou sorrindo.

Regulus não percebeu o que Vienna sentiu naquele momento. E nisso ela acreditou. Amor? Ora! Ele era apenas um garoto curioso e travesso que cumpria eventualmente com suas responsabilidades. Ela riu e os dois passaram o resto da tarde conversando sobre muitas coisas. Na frente de Regulus ela não teria medo de mostrar o rosto, mas agora precisava ser ainda mais cautelosa quando os outros cavaleiros passassem pela casa de Peixes.


Naquela noite, quando todos no Santuário descansavam, Vienna se levantou e colocou o vestido branco de Defteros lhe dera como presente de aniversário. Ele batia em seus joelhos e, enquanto ela caminhava com os pés descalços entre as colunas da casa de Peixes, o vestido tomava forma e cor diferentes: agora era roxo e aberto na frente, entre as pernas. Ao sair da casa de Peixes seus olhos encontraram o templo do Grande Mestre e quatro asas escarlates se materializaram em suas costas.


Vienna voou.


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Notas finais do capítulo

Hei gente, quem quiser conhecer a carinha da Vienna/Megaera e seu modelito roxo-escarlate, pode checar aqui:
http://nyahnah.deviantart.com/#/d5scxha
Terminei hoje à tarde *-*!



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