Saint Seiya: A Rosa Infernal escrita por Nyahnah


Capítulo 4
O Incidente em Peixes




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“Os humanos lutam por aquilo que acreditam, seja por ideais, pela liberdade, por suas opiniões, pela justiça, pelo futuro...”


Desde que começou com seu novo treinamento Vienna deixou de sair da décima segunda casa. A princípio ela meditava na sala da armadura de Peixes, mas com o tempo ela organizou um jardim na lateral da casa, com plantas que não a matariam por aspirar suas fragrâncias. Ela queria privacidade e vestir a máscara de amazona a incomodava muito, por isso, sempre que meditava ela a tirava.

“Máscaras” eram objetos que Vienna repudiava. Ela jamais concordara com o fato de usar uma máscara que escondesse o seu rosto e a privasse de se expressar.

Em meados de Março, numa fria tarde chuvosa, o Santuário parecia ter parado. Poucos eram aqueles que se aventuravam entre os caminhos das doze casas, tampouco treinavam sob a forte chuva que se estendera pelo dia. Dentro da casa de Peixes o clima não era diferente: Albafica observava suas rosas diabólicas serem castigadas pela forte tormenta, mas de todas, o broto que mais lhe preocupava era sua discípula.

Vienna, que tentara meditar na sala da armadura de Peixes, agora insistia em lutar contra a chuva e se punha a meditar no exterior da casa. Albafica nada fez e apenas a observou enquanto se perguntava até onde ia aquela determinação.

— Vienna!

Ela abriu os olhos e colocou a máscara rapidamente, como se fosse programada para fazer aquilo. Por sorte, sempre ficava de costas para a casa de Peixes, talvez ele não tenha visto seu rosto.

— Vienna!

Que sorte! Ele não fazia ideia de onde ela se encontrava. Talvez estivesse na porta da casa de Peixes. Quanta ousadia!

— Vienna!

Ela se levantou e correu para ao redor da casa de Peixes, se esgueirando entre as colunas e tentando se proteger da chuva, até que o viu: ensopado e parado a frente da casa, gritando seu nome.

— Vienna!

— Que foi Regulus? – Perguntou ela que se aproximava.

— Ah! Você está ai! – Ele correu até ela, parecia segurar algum objeto com uma das mãos.

Eles se olharam por alguns segundos e então ele continuou.

— Eu trouxe isso pra você. – Ele se aproximou e ergueu o objeto a frente dos olhos de Vienna. Era uma caixa de papelão que se encharcava cada vez mais, apesar dos esforços de Regulus para protege-la. – Feliz aniversário.

Aniversário? Era hoje? Como ele sabe?

— Meu tio Sísifo diz que devemos nos apoiar nesses tempos de guerra, porque nada será como conhecemos hoje. – Ele fez uma breve pausa enquanto observava Vienna pegar a caixa de suas mãos. – Espero que goste.

Ela abriu a caixa. O céu parecia ter se acalmado, agora não havia nada além de uma chuva fina. Quando olhou dentro da caixa Vienna teve uma surpresa, então a fechou em seguida.

Regulus estava sorridente com sempre, mas parecia ansioso em saber o que Vienna achara do presente.

— É muito bonita. – Disse ela.

— É pra te alegrar, está feliz? – Perguntou ele empolgado.

— Estou. – Sob a máscara inexpressiva ela sorria.

— Que bom! – Ele riu. – Olha! A chuva diminuiu!

Vienna olhou para o céu e várias perguntas se formaram em sua cabeça. Será que ele já esquecera seu rosto, assim como seu mestre uma vez disse? Ela queria saber. Sentia falta de um amigo, por mais que se dedicasse inteiramente ao treino.

— Regulus eu preciso perguntar uma coisa.

— Sim?

— Você... Esqueceu o meu rosto? – Perguntou timidamente.

— Não. – Ele riu e mexeu os indicadores, como se desenhasse um rosto sobre a máscara dela. – Você tem olhos verdes bem aqui, eles são brilhantes por sinal! Aqui fica a sua boca, é fina e um pouquinho torta. E aqui... – Ele pousou o dedo sobre o nariz da máscara – Aqui fica o seu nariz, pequeno e empinado.

— Como...? – Agora era Vienna quem estava encabulada.

— Eu mantenho os olhos bem abertos. – Riu – Para não perder nada!

E então ela riu. Fazia tanto tempo que não se sentia bem, talvez por causa dos últimos meses, ficara com raiva da ausência do amigo. Agora ela entendia, ele também tinha um treino a cumprir. Afinal, seria o cavaleiro de ouro de Leão.

Vienna deu um soco no braço de Regulus que olhou pra ela sem entender e então observaram como a chuva se esvaía até que o sol apareceu novamente.

— Agora eu preciso voltar, já sabe né?

— Seu tio vai te fazer correr ao redor da arena.

— Isso... Hehe! – E dito isso Regulus correu rumo à arena, abaixo das doze casas.

Vienna seguiu para dentro da casa de Peixes e se deparou com Albafica.

— Olá mestre. – Sua voz soava mais animada do que nos outros dias.

— O que tem nessa caixa? – Perguntou Albafica interessado, ela não percebeu, mas ele carregava algo em uma das mãos.

Vienna olhou para a caixa comprida e então a abriu, mostrando o conteúdo. Era um lírio branco como a neve e estava plantado em uma bota. Albafica observou a flor por alguns segundos e então encarou Vienna nos olhos, talvez.

— Venha comigo. – Disse ele dando as costas para ela, seguindo para um cômodo que Vienna desconhecia. Chegando lá, ela foi capaz de ver vários e vários vasos para o plantio. – Escolha um.

Vienna observou cada um atentamente, havia vários modelos e tamanhos, um mais diferente que o outro. Seu mestre colecionava vasos? Ela se perguntara enquanto escolhia o mais adequado para transferir seu lírio branco. E então ela se decidiu por um vaso marrom de aspecto rústico, mas com alguns desenhos de possíveis musas da mitologia grega.

— Este. – Disse ela mostrando o vaso para Albafica.

— Você sabe transferir uma planta para um vaso?

— Não.

— Venha. – Ele a chamou e ambos se dirigiram para fora da casa de Peixes.

A princípio pareceu difícil, aos olhos de Vienna, entender o que seu mestre fazia. Transferir uma planta parecia algo tão cruel. Sentada a frente de seu mestre, na grama molhada, Vienna observava atentamente enquanto que Albafica, ajoelhado, retirava cuidadosamente a flor junto com uma porção de terra. Ele, então, colocou a porção de terra com as raízes do lírio no vaso que Vienna escolheu e completou-o com terra adubada que ele tirara de um saco de pano.

Quando ele terminou, Vienna percebeu que tinha algo ao lado dele, algo que ela não percebera até então.

— Pronto. – Albafica sorriu e mostrou o lírio. – Cuide bem dela e nunca se esqueça de regar.

— Obrigada mestre! – Ela agradeceu e, com uma pitada de curiosidade, perguntou: – O que você tem nesse embrulho?

— Isto? – Ele pegou o embrulho com suas mãos sujas de terra e mostrou para ela. – Feliz aniversário Vienna!

— Pra mim? – Perguntou alegremente pegando o objeto com as mãos. Ela o desembrulhou e teve outra grande surpresa no mesmo dia. O presente que Albafica lhe dera, era nada mais do que duas peças de roupa: um vestido grego branco e uma camisa preta de mangas curtas. Enquanto admirava seus novos presentes Albafica lhe disse:

— O Defteros me pediu para te entregar o vestido. Ele não pôde vir hoje.

— Então o senhor está me dando uma blusa assim? – Perguntou ela com um misto de curiosidade e alegria em sua voz.

— Você está sempre usando essas roupas fechadas faça chuva ou faça sol... – Comentou serenamente. – Quando não estiver treinando pode vestir roupas diferentes.

— Obrigada mestre! – Disse ela alegremente, ainda sentada em seu lugar. Albafica pousou a mão sobre seu ombro coberto e exibiu um belo sorriso.


Dias depois, próximo ao jardim das rosas diabólicas, Albafica deu prosseguimento ao treinamento de Vienna.

— Já faz muito tempo que não treino pra valer, devo estar enferrujada. – Comentou ela com a voz abafada pela máscara. Ela alongava os músculos dos braços.

— Sua meditação te fortalece. Consigo sentir o seu cosmo crescer a cada dia. – Comentou Albafica com um sorriso singelo. Ele não vestia a armadura de Peixes, muito pelo contrário, vestia uma roupa comum de treinamento e tinha um manto sobre os ombros como um poncho.

— E o que vai ser hoje? – Perguntou animada. – Vamos lutar? Vou destruir uma rocha? Escalar a árvore mais alta para salvar algum gatinho? – Ela dava socos alegres no ar.

— As suas intenções são das melhores, mas faremos algo interessante e diferente. – Ele tinha uma rosa negra entre dos dedos. – Você vai aprender a lançar rosas em alvos específicos. – E ele lançou a rosa em uma rocha que se destruiu como se fosse feita de isopor.

— Que legal mestre!! – Anunciou ela. – Mas de onde o senhor tira essas rosas?

— Isso é algo que você vai aprender a fazer depois que controlar bem o seu cosmo: materialização. – E dito isso, ele caminhou até uma coluna que estava deitava no chão e sentou-se sobre ela. – Você tem até o pôr do sol para dominar a técnica caso queria continuar como minha discípula aqui no Santuário. Pode usar quantas rosas quiser. – Ele apontou para as rosas negras no chão.

— Que incrível! – Ela pegou uma rosa, mas logo a soltou. Seu dedo sangrava.

— Cuidado com os espinhos. – Comentou Albafica.

Vienna pegou outra rosa, agora com mais cuidado e encarou os alvos que estavam a sua frente. Então lançou-a. Bem, o resultado não foi o esperado, pois a rosa caiu no chão antes mesmo de alcançar o alvo. Albafica analisou bem o primeiro lançamento de Vienna e concluiu que o dia seria longo...


O sol já estava baixo quando Albafica finalmente se levantou da coluna. O dia já estava acabando, bem como o prazo de Vienna. E, a ela, restava apenas uma rosa.

Vienna olhou para Albafica, ela tinha a última rosa nas mãos, e então voltou-se para o alvo que já estava negro de tantas rosas fincadas ao redor do seu centro, algumas muito distantes, outras muito próximas. Vienna, então, fechou os olhos e inspirou fundo. Depois ela expirou calmamente e lançou a última rosa que cortou o ar como uma navalha e fincou-se no centro do alvo, destruindo-o.

Quando ela olhou para Albafica ele tinha um belo sorriso nos lábios. Vienna sentiu como ele estava orgulhoso apenas por sua expressão. Como ela queria tirar aquela máscara para mostrar como estava feliz em vê-lo.


— Mestre Albafica, o senhor já viu o meu rosto, certo? – Perguntou ela mais tarde naquele mesmo dia, enquanto os dois jantavam em uma mesa de madeira no interior da casa de Peixes.

Albafica olhou para a comida. A mesa não era muito farta, tinha pão, vinho e alguns cortes de carne.

— Você sabe cozinhar Vienna?

— Não.

— Hm... – Albafica olhou para o nada, ele parecia desaprovar a falta dessa habilidade em sua discípula.

— Mestre responda minha pergunta, por favor!

— Quero que aprenda a cozinhar.

— O senhor não está respondendo à minha pergunta... – Comentou com a voz ligeiramente impaciente.

— Será bom se tivermos uma mesa mais cheia nos outros dias. – Comentou Albafica com a voz levemente animada.

Vienna perdeu a paciência e decidiu tirar a máscara para chamar a atenção de seu mestre. Quando ela pôs a mão sobre a face metálica e começou a removê-la, a faca que Albafica segurava estava suspeitamente apontada para o pescoço dela.

— O que significa isso!? O senhor só quer me matar?? – Retrucou Vienna exaltada e colocando a máscara no lugar.

— Você conhece a lei e, bem, me matar eu sei que você não consegue. – Comentou Albafica calmamente encarando-a nos olhos, talvez.

— O senhor já viu o meu rosto! Por que não posso treinar sem essa máscara??

— Vienna naquela época você não era uma amazona. – Comentou ele e, em seguida, levou uma fatia de pão a boca.

— Mas toda vez que acontece algo, é o senhor quem cuida de mim e eu sempre acordo sem máscara!

Albafica sorveu um pouco do vinho e a encarou novamente.

— Muito bem, você poderá ficar e treinar sem máscara nas dependências da casa de Peixes. Mas a responsabilidade será sua se algum cavaleiro vir o seu rosto.

No momento seguinte Vienna havia tirado a máscara e já se estufava com o pão e a carne que antes ela comia delicadamente. Seu rosto era tão belo quanto o de Albafica. Sua pele era alva e os olhos, verdes como esmeraldas, destacavam-se entre os negros fios de seu cabelo.

— O que falei sobre aprender a cozinhar não era mentira. – E dito isso Albafica se levantou e seguiu calmamente aos seus aposentos.

Vienna não se importou. Estar sem a máscara era com o qual ela sonhava por um bom tempo e isso significava sua liberdade.


Enquanto dormia Vienna sentiu muita dor na nuca e, diferente do que ela imaginara ao se deitar em sua cama, teve um pesadelo terrível. Ela estava sozinha e perdida em um lugar escuro e a sua volta havia cadáveres humanos. Ela vestia uma armadura negra com detalhes dourados e quatro espadas flutuavam ao seu redor. A seguir, duas mulheres também vestidas em armaduras negras apareceram e elas tinham expressões odiosas em seus rostos.

Por fim, a presença de um pentagrama negro no céu fez com que ela urrasse de dor e despertasse de seu pesadelo, caindo da cama para o chão e sendo, em seguida, acudida por Albafica.

“Minha marionete.” Dizia a voz que estava em sua mente. De seus olhos rolavam lágrimas e seu rosto se contorcia em dor.

— Vienna! Você está bem?? Reaja!! – Gritava Albafica preocupado. Ele a enrolara em um manto para que pudesse segurá-la em seus braços.

“Prepare-se para traí-los.” E dito isso, a voz se desligou da mente de Vienna, ela parou de se contorcer e, finalmente, desmaiou.


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Notas finais do capítulo

Gente, desculpe a demora. A semana passada foi tensa e mal tive tempo para concluir e revisar o capítulo @_@! Talvez os próximos capítulos demorem pra sair agora que a minha rotina está apertada, mas vou concluir a história com certeza!



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