Saint Seiya: A Rosa Infernal escrita por Nyahnah


Capítulo 3
O Broto e o Leão




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     “Dizem que uma verdadeira família não precisa ser constituída apenas por pessoas que compartilham do mesmo sangue.”


     Vienna fora bem recebida por todos no Santuário e sempre passeava acompanhada por Albafica, seu salvador. Ao lado dele aprendeu que não deve se aproximar do jardim de rosas diabólicas, bem como perambular sozinha pelas doze casas. Como não gostava de seguir as regras, ela passou a fugir da casa de Peixes e, vez ou outra, esbarrava em algum cavaleiro de ouro que a levava de volta à décima segunda casa zodiacal.

     “O Santuário não é lugar para crianças!” Retrucavam para ela.

     Certo dia, enquanto fugia de Manigold, o recém-promovido cavaleiro de Câncer, Vienna esbarrou em um homem alto de pele morena e longos cabelos azuis. Em sua face ele vestia uma máscara. Ela olhou para ele assustada e logo Manigold a alcançou, agarrando-a pelo braço.

     — Você tem pernas curtas, mas é bem rápida pirralha! – Manigold sacolejava a menina.

     — E quem é essa? – Perguntou o homem.

     — Olá Defteros! Essa é Vienna, a pirralha protegida do Albafica. Volta e meia ela foge da casa de Peixes e vem parar em qualquer canto do Santuário.

     — Me solta seu monstro! – Gritava a menina enquanto tentava se livrar de Manigold.

     — MONSTRO!? GAROTA EU VOU TE MOSTRAR O MONSTRO! – Ameaçou Manigold enquanto algumas almas se materializavam sobre a mão dele.

     — Ora Manigold não maltrate a menina. – Comentou Sísifo, o cavaleiro de Sagitário. Ele estava acompanhado de seu sobrinho Regulus, que aparentava ter a mesma idade de Vienna. O garotinho tinha a pele bronzeada e o cabelo castanho, curto e bagunçado. Seus olhos eram bem azuis e demonstravam muita curiosidade.

     — Ora Sísifo! As crianças de hoje em dia devem ser bem educadas e essa aqui, em particular, é uma peste!

     — Olha a sua língua caranguejo! – Gritou Vienna que esperneava tanto que bateu com a cabeça no queixo de Manigold fazendo-o morder a própria língua.

     O cavaleiro de Câncer a soltou imediatamente e a pequena menina caiu no chão, rolando alguns degraus da escadaria da casa de Câncer até parar nas pernas de Defteros.

     Vienna se contorceu e apertou ambas as mãos contra a nuca. Ela fez uma careta de dor e lágrimas rolaram de seus olhos. Defteros, por sua vez, ajoelhou-se e a ajudou a se levantar.

     — Se continuar fugindo da casa de Peixes, nunca que a sua ferida irá sarar mocinha. – Comentou Sísifo seriamente.

     — Ferida? – Perguntou Regulus interessado. De alguma forma ele pareceu se identificar com Vienna.

     — Sim Regulus. Ela tem um corte horrível na nuca que ainda não cicatrizou completamente. – Sísifo se aproximou de Vienna que chorava no colo de Defteros. Ele afastou o cabelo dela e viu a bandagem em sua nuca tingida de vermelho.

     — E quem machucou ela? – Perguntou Regulus como se fosse dar uma lição em quem se atreveu a ferir aquela frágil menina.

     Sísifo e Manigold se entreolharam e nada disseram. Por alguns momentos o choro baixinho de Vienna se sobressaltou em meio ao silêncio. Defteros, então, levantou-se com a menina no colo e, passando por todos, subiu a escadaria da casa de Câncer.

     — Vou levá-la à casa de Peixes. – Anunciou.

     Sísifo sentiu que alguém puxava o seu manto. Ele olhou para baixo e se deparou com seu sobrinho.

     — O que foi Regulus?

     — Posso ir com o senhor Defteros?

     — Com a condição de que você dê cinquenta voltas ao redor da arena. – Sorriu.

     Regulus retrucou alguma coisa, chutou uma pedrinha que estava no chão e seguiu Defteros. Manigold tinha uma expressão de culpa enquanto os seguia com o olhar até que a menina levantou a cabeça sobre o ombro do homem mascarado e mostrou a língua para o cavaleiro de Câncer.

     — ESSA MENINA É O DEMÔNIO! – Gritou Manigold apontando para Vienna que mantinha a careta.

     — Pare com isso Manigold! – Sísifo deu-lhe um tapa nas costas como se fosse uma criança.

     Mais tarde, naquele mesmo dia, Vienna foi repreendida por Albafica que estava preocupado com sua saúde. Ele decidiu que a treinaria para mantê-la ao seu lado o tempo todo e, para isso, contaria com a ajuda de Defteros que a vigiaria quando ele tivesse de sair nas missões pelo Santuário.

     — Eu não fiz nada demais! – Retrucou Vienna em voz alta, sentada na escadaria em frente à casa de Peixes. Em seu pescoço era possível ver que sua bandagem havia sido trocada.

     — Mas quem te machucou? – Perguntou Regulus. Ele estava sentado ao lado dela e suas roupas eram de treino, com ombreira e tudo.

     — E você acha que eu sei? – Retrucou Vienna. Desta vez fora rude e Regulus a olhou sem entender.

     — Como não sabe?

     — Não sabendo! – Respondeu irritada. – O mestre Albafica contou que me encontrou desacordada no jardim de rosas diabólicas e no meu pescoço já tinha esse machucado.

     Regulus nada disse. Ele sentiu que se insistisse na conversa ela lhe daria uns belos tapas, então se levantou e a olhou, como se quisesse memorizar cada detalhe do rosto de Vienna que vestia um vestido branco.

     — Que foi? – Perguntou ela, agora mais calma.

     — Estou memorizando o seu rosto. Você vai começar a usar a máscara a partir de amanhã. – Ele riu. – Agora preciso ir, meu tio Sísifo quer que eu corra ao redor da arena.

     E dito isso, ele colocou as mãos atrás da cabeça e olhou para baixo: entre as 12 casas havia uma grande arena onde os futuros cavaleiros treinavam diariamente.

     — Então você já vai? – Perguntou ela. Aparentemente gostara da companhia dele.

     Regulus voltou-se para ela e viu que não parecia nem um pouco feliz com sua partida. Vienna estava sentada, fazia bico e olhava para os pés com pouco interesse.

     — Eu volto amanhã. – Ele se agachou a frente dela e sorriu alegremente.

     Vienna levantou a cabeça e deparou-se com aquela cara alegre e sorridente. Então o encarou nos olhos.

     — Promete? – Disse ela seriamente.

     Regulus ficou encabulado com aquela expressão e riu.

     — Sim, é uma promessa! – E correu escada abaixo em direção à arena.

    

     No dia seguinte, Vienna vestiu a máscara e foi instruída a nunca mostrar o rosto para ninguém. Seu treino começou com uma lição sobre o cosmo: ela teria de aprender a sentir e controlar. Porém, sentiu muita dificuldade e, mesmo com a ajuda de Defteros, ela exagerava na quantidade de cosmo que deveria concentrar em seus punhos, por exemplo.

     — O que foi? – Perguntou Vienna.

     — Nada. – Respondeu Regulus. Ele queria dizer algo.

     — É a máscara, não é!? – Ela se levantou exaltada.

     — Não! – Ele se levantou e a olhou nos olhos, talvez. – Não é isso.

     — Então...?

     — Está tudo bem com o seu treinamento? – Perguntou ele sem jeito.

     — Sim. Por quê?

     — Fiquei preocupado com esse seu machucado aí.

     — Já cicatrizou... – Respondeu irritada.

     Um silêncio perturbador tomou conta da atmosfera. Estava muito quente naquele dia e Vienna sequer podia se refrescar, pois vestia roupas atípicas: uma camisa branca de mangas longas de gola alta e a calça bege comprida; além disso, usava luvas completamente fechadas e os equipamentos de proteção. Tudo isso para conseguir treinar com seu mestre sem correr risco de vida.

     — Bem, eu preciso ir. Meu tio Sísifo vai me fazer correr ao redor da arena se eu me atrasar de novo! – E dito isso, ele deu as costas e se dirigiu para a escadaria.

     Regulus a visitava na casa de Peixes sempre que podia, mas por causa de seu treinamento ele acabou ficando cada vez mais sem tempo para conversas.

     “Será que se esqueceu de mim?” Pensou Vienna sob sua máscara inexpressiva. Ela observava as nuvens e seus cabelos negros esvoaçavam com a brisa suave que ela sentia apenas pelo balançar de suas vestes.


     Alguns meses se passaram e Vienna deixou de ver Regulus. Pensando que ele não se importava mais com sua amizade, ela focou apenas em seu treino.

     E foi durante um treinamento coletivo que tudo aconteceu.

     — Mestre Albafica eu não quero lutar contra aquele Yato hoje. Ele é muito fraco! – Anunciou Vienna com desprezo.

     — Por que você não enfrenta o sobrinho do Sísifo?

     — Regulus? – Ela tentou soar indiferente.

     — Por que não? Ele está treinando para ser o cavaleiro ouro de Leão. Ele já deve estar bem forte. – Comentou Albafica com um sorriso.

     — Cavaleiro de ouro? – Ela se calou. – Quando eu crescer eu vou ser a amazona de Peixes?

     — Se você se provar digna do cargo... – Comentou enquanto procurava Regulus com o olhar. – Ali está ele! Vá treinar agora! – Apontou Albafica.

     Vienna retrucou algo, mas desceu as escadarias até a arena onde os aspirantes a cavaleiros treinavam. Regulus, porém, estava apenas na companhia de Sísifo e fazia flexões com um peso enorme nas costas. Vienna aproximou-se e puxou a capa do cavaleiro de Sagitário.

     — Mestre Sísifo eu quero treinar com o Regulus.

     Regulus interrompeu o treinamento ao ouvir a voz de sua amiga e se levantou para cumprimenta-la. Ela, porém, fingiu não notar e Regulus se emburrou. O olhar de Sísifo oscilou entre a máscara inexpressiva de Vienna e os olhos determinados de Regulus.

     — Tudo bem. – Ele se afastou e se juntou aos outros cavaleiros de ouro.

     Vienna soltou um risinho abafado e Regulus a encarou nos olhos, talvez. No momento seguinte os dois se enfrentavam em tom de igualdade. Vienna desferia socos e chutes que eram bloqueados pelos braços e pernas ágeis de Regulus. Com o tempo, eles começaram a ocupar toda a arena forçando os outros aspirantes a cavaleiros e amazonas a pararem para assistir a luta. Albafica e Sísifo observavam seus protegidos. Vienna destruía as pedras e o solo, mas seus punhos não alcançavam Regulus.

     E então a luta parou. Vienna pareceu perder o ar, fora golpeada na boca do estômago pelo punho de Regulus e agora caíra de joelhos no chão.

     — Devíamos parar agora. – Disse Regulus.

     — O que foi? Só isso? – Disse ela soando arrogante e então se levantou com dificuldade, avançando com o punho erguido.

     Quando Vienna desferiu o soco contra Regulus, ele segurou o punho dela e o apertou, para que ela não se movesse.

     — A luta acabou Vienna. – Sua voz soou pesarosa, parecia lhe doer machucar sua amiga.

     Vienna, porém, insistiu e tentou acertar o outro punho contra ele, este também sendo segurado. Numa tentativa desesperada, ela concentrou todo o cosmo em ambas as mão que de nada adiantou, pois isso só a esgotou.

     — Bobona. – Resmungou.

     — É você...! – Retrucou Vienna com sua voz infantil e então ela desmaiou. Regulus a segurou pelos ombros para que não caísse e a pegou no colo, carregando-a até seu tio.

     — Ela é teimosa. – Comentou Sísifo rindo.

     — Nem imagina o quanto. – Comentou Albafica seriamente. Ele enrolou Vienna em seu manto e a pegou do colo de Regulus.

     — Ela é uma boba! – Resmungou Regulus.

     Abafica se retirou enquanto Sísifo começou a passar um sermão para seu sobrinho.

     — Regulus você não deve dizer isso de um colega, ainda mais quando ele está desacordado e não pode se defender! – Brigou Sísifo – E outra coisa: você deve ser gentil com as meninas.

     — Mas...! – Regulus sabia que seu tio estava certo.

     — Vá correr cinquenta voltas ao redor da arena e com esse peso nas costas!

     — Mas eu não a deixei cair! Eu a peguei no colo, tio! – Ele tentou se defender, inutilmente.

     — Cem voltas! – Terminou Sísifo.

     — TIRANIIIIAAA!!! – Regulus pegou o peso e se pôs a correr.


     Após sua derrota de forma patética, como pensava, Vienna intensificou seu treinamento individual chegando a quase mutilar as mãos e os pés. Percebendo isso, Albafica a chamou para conversar.

     — Vienna, já viu como estão suas mãos e pés?

     — Já, e daí? Todo guerreiro tem cicatrizes. – Respondeu ela em tom de rebeldia.

     — Eu ordeno que pare com isso e comece um novo treinamento.

     — Vai me dar poder?

     — Sim.

     — E o que é? – Perguntou ela interessada.

     — Meditação. Você vai meditar todos os dias até suas feridas cicatrizarem completamente.

     — Eu me recuso!

     — Então terei de matá-la. – Albafica se levantou. Ele tinha uma rosa negra entre os dedos.

     Percebendo a veracidade na expressão de seu mestre, Vienna simplesmente abaixou a cabeça e, mesmo que contra a sua vontade, ela meditaria todos os dias. Inconscientemente, o que ela mais gostava nessa vida era de estar viva. Até mais do que a raiva que sentia por Regulus naquele momento.

     — Sim mestre. – Assentiu ela num tom dócil.


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