O tempo foi passando, e eu reparei que Renesmee estava triste. Algumas noites, eu a escutava chorar pelos corredores, mas logo que eu aparecia, ela fingia ser alguma coisa diferente. Outra coisa também que eu achei estranho, foi o Jacob ter sumido. Já se faz cinco dias e ele não aparece por aqui, nem pelos arredores da nossa casa. Eu sentiria o cheiro dele, mas não. A última vez que ele esteve aqui foi quando o Edward colocou Nessie de castigo. Ele não mencionou nada sobre Jacob, porque seria tortura demais separá-los, e Jacob sofreria muito mais que Renesmee (não que Edward tivesse sentido uma súbita compaixão por Jacob, mas ele devia muito a ele por cuidar bem de nossa filha).

- Nessie, querida? – bati levemente na porta do seu quarto. – Posso entrar?

- Ah mãe, to meio ocupada com as lições de casa. – Eu escutava os soluços de choro encurralados sob o seu peito.

- Nessie? Aconteceu alguma coisa, filha? – comecei a ficar preocupada. Nunca tinha visto a minha filha ficar tão triste.

- Nada demais, mãe. Só estou fazendo a lição. Depois a gente conversa.

            Não poderia entrar no quarto e invadir a privacidade de minha filha. Ela queria um tempo pra ela, e eu o daria mesmo me machucando tanto. Voltei para o quarto, onde o Edward estava deitado na cama olhando alguns canais de TV, rapidamente. “Edward nunca teve muita vocação pra assistir TV, e desde quando Nessie ficou maior, as nossas ‘diversões’ aconteciam enquanto Nessie dormia, ou quando ela estava no colégio.”

- Amor, acho que tem alguma coisa errada com nossa Nessie. – fitava-o na cama. Como ele podia ficar mais lindo e mais perfeito a cada dia que se passava? Mas vamos Bella, não fuja do foco: Renesmee.

- É, eu tenho percebido isso por algum tempo. Mas são poucas as coisas que eu consigo ler da mente dela. Algo como “o que eu fiz de errado? Por que ele não fala mais comigo?” – Edward sentou-se sobre os travesseiros. – Alguma coisa relacionada à Jacob, suponho. – falou entredentes.

- É verdade. Você reparou que ele anda sumido? – mantinha o diálogo, enquanto trocava de roupa pra ir caçar com Edward.

- Anda é? Hum... nem reparei.

- Edward! – joguei a blusa que eu estava vestida no rosto dele. – Para se ser insensível.

            Em menos de um segundo, Edward já estava me abraçando por trás e beijando meu pescoço.

- Ed, amor. Nessie ta no quarto ao lado. E vamos caçar agora, não se esqueça disso. Depois a gente pensa nisso, temos uma eternidade pela frente. – tirei as mãos dele que envolviam minha cintura.

- Arf... gostava muito mais de quando você não conseguia controlar seu desejo. – ele balançou a cabeça negativamente. Não pude deixar de ri do comentário dele.

- Gostava é? E se eu disser pra você que essa incontrolada ainda existe? – pisquei e aproveitei do meu novo corpo de vampira e fiz umas poses sexies pra ele.

- Existe é? E porque ela anda se escondendo tanto? – as mãos dele voltaram a envolver minha cintura. Senti que aos poucos ela ia descendo com o objetivo de tirar minha calça. Senti um enorme puxão, e vi que ele havia tirado toda a minha calça.

-Ed... eu gostava tanto daquela calça. – olhei com um pouco de raiva no olhar. Raiva! Não sei como podia sentir isso num momento como aquele.

- Ah amor, não se preocupe. Alice compra mais umas duzentas se você quiser, e com o maior prazer. – ele começou a passar as costas de suas mãos sobre o meu rosto. – Adoro te ver com essa cara de emburrada.

- Cara de emburrada né? Vê se toma jeito Ed. – ri – E já falei, agora não.

- Mas você falou que ainda existia a minha incontrolável ai dentro. – indagou Edward.

- Eu falei que AINDA não. – frisei bem a palavra ‘ainda’ pra deixá-lo mais animado.

            Peguei um vestido leve que tinha no closet, e pus rapidamente, antes que Edward pudesse tirá-lo do meu corpo ou arrancá-lo com a desculpa de que Alice compraria mais, puxei a sua mão e falei séria.

- Prioridades Edward Cullen. Primeiro caçar!

-Ok ok, odeio quando você fala assim comigo. – ele se recompôs e fomos em direção ao quarto de Nessie.

- Então Edward, consegue ler alguma coisa?

- As mesmas coisas de sempre. “O que eu fiz de errado?”, e várias lamentações.

            Bati mais uma vez na porta.

- Nessie, vamos caçar querida. Já tem um tempo que você não sai com a gente.

- O papai ta aí na porta? – eu olhei pro Edward ao meu lado.

- Tá sim, amor. – confirmei.

- Não quero que ele fique lendo meus pensamentos. Eu vou caçar com a Tia Rose e o Tio Emmett depois.

            Olhei pro Edward meio sem entender o motivo dessa  ‘revolta’ com ele. Ele estava mais incrédulo que eu.

- Nessie, filha. Pode ficar calma, eu não vou ler seus pensamentos. Não precisa ficar chateada comigo, eu não estou mais bravo com você. – Edward tentava procurar argumentos pra convencer Renesmee de sair daquele quarto e daquela melancolia. Ela precisava caçar, não tinha como agüentar ficar no colégio rodeada de humanos, vivos, com o sangue correndo quente em suas veias, sem que nenhum estrago acontecesse.

- Tá, tudo bem. Mas eu quero a proteção da mamãe enquanto eu estiver caçando. Não quero correr o risco. – Renesmee falava dentro do seu quarto.

- Ok ok, eu te protejo Nessie. Agora vamos. – abri a porta delicadamente. Renesmee levantou-se e seguiu até o meu lado.

- Tudo bem, amor. Já está protegida. – dei um beijo na testa de Renesmee, e seguimos para a floresta.

            Durante o caminho pela floresta, Renesmee estava sempre a uns passos atrás de nós, olhando sempre para os lados.

- Nessie, ele não ta por aqui. Não to sentindo o cheiro dele. Graças a Deus. – Edward falou com um pouco de desdém, mas logo depois que viu o rosto de Nessie, ele mudou sua expressão para um misto de preocupação e dor.

- Mãe, você prometeu que ele não leria minha mente. Você não está me protegendo como o combinado. – Nessie ficava vermelha ao falar isso.

- Nessie, eu estou te protegendo amor. Mas é que não precisa ter nenhum dom pra saber que você está procurando pelo Jake. Falando nisso, o que aconteceu? Vocês brigaram? – tentei perguntar, procurar um diálogo com minha filha. Afinal, tinha algo a machucando e eu, mais que qualquer pessoa, queria confortá-la.

- Nada mãe. A gente só se desentendeu. Você sabe como o Jake é teimoso né?! – tentou dar um sorriso, mas não verdadeiro.

            Seguimos a caça. Nessie afastava todos os cervos ao seu redor. Não era muito difícil pegar um cervo, e não precisava de tanta agilidade, mas Nessie, nem ao menos se incomodava com a fuga deles.

            Olhei pra Edward, que ainda estava com a expressão preocupada com Nessie, e fomos conversar em um canto.

- Bella, me deixe ajudar. Tire-a da proteção que logo saberemos o motivo dessa ‘depressão’ toda.

- Não, nunca. Deixe com o tempo que ela precise Ed. Talvez eu consiga conversar com ela depois.

- Tá, tudo bem, já que você insiste. Agora, dá pra fazê-la se alimentar de alguma coisa, por favor? – Edward estava preocupado mesmo. Nessie não bebia nada há algum tempo, e voltar a alimentá-la com estoques de sangue humano era muito perigoso agora.

- Nessie, filha.  Você não vai pegar nenhum cervo? – não gostava da idéia de Renesmee caçando ursos, eram muito grandes e muito fortes, e minha filha, apesar de toda força, ainda era meio humana.

- Ah mãe! Não to com tanta sede assim, dá pra segurar ainda. – contra argumentou.

- Renesmee, você já está com manchas roxas ao redor dos olhos. Parecendo que você apanhou ou coisa do tipo. Você não vai querer que suas amigas te vejam assim né?

- Ah mãe, não importa muito. – não movia nem um dedo, do jeito que estava, ficou. Imóvel como uma estátua.

- Renesmee Cullen, se você não se alimentar desses cervos, você vai ser obrigada a comer comida humana. – sabia que Renesmee odiava comer como um humano. A enchia e a alimentava, mas não era tão bom quanto cervos. Era algo como comer uma canja ao invés de uma lasanha de camarão. Sabia que eu tinha ganhado essa discussão.

- Comida humana, não. – levantou-se e foi atrás de uns cervos.

            Eu e Edward já tínhamos nos alimentado o suficiente, agüentaríamos mais alguns dias sem precisar caçar. Ficamos apenas olhando Renesmee, a sua sutileza em pegar os cervos, e às vezes, algumas escapadas e tentativas frustradas de pegar alguns ursos (sempre intervíamos).

            Ao fim de algum tempo, ela terminou sua caçada. Renesmee ainda se melava muito enquanto caçava, pra alegria de Alice que sempre tinha mais motivos pra comprar roupas novas.

- Chegar em casa, direto para o banho. -  falei

- Lógico né? Ou você acha que eu estou me sentindo bem com esse sangue todo em minha roupa. – era difícil de acreditar na rapidez que minha filha crescia. Em poucos meses aquela adorável criança virou uma rebelde sem causa.

            Chegamos em casa um pouco mais tarde que o normal. Renesmee foi para o banho, e depois se deitou na cama e voltou a se transformar em lamentos e choros. Tentei bater mais uma vez à porta, mas ela não quis me atender. Voltei pro quarto, esperando que Edward me desse uma boa solução, algo pra evitar que nossa pequena filha sofresse mais.

- Liga pro Jacob, e pergunta o que aconteceu. – como eu não tinha pensado nisso antes? Era muito óbvio.

            Peguei o celular e liguei pra casa de Jacob. Billy atendeu e logo que reconheceu minha voz, ficou feliz por eu ter ligado. Dava até pra sentir o sorriso dele do outro lado da linha.

- Oi Billy. Tudo bem? O Jake ta por aí? – perguntei com animação, sem demonstrar  preocupação alguma.

- Bells, que bom que você ligou. Há quanto tempo que eu não a vejo hein? Você deve está muito mais bonita do que da última vez, às vezes eu até me pergunto como pra ver se eu ainda consigo ficar mais arrumado pras mulheres. – não tinha como não rir do comentário de Billy. Ultimamente, ele anda mais feliz que nunca, bem humorado, e nem se incomoda tanto do fato de eu ter virado uma vampira, e nem pelo fato do seu filho ter se apaixonado por uma.

- Pois é, há muito tempo mesmo. Eu dou uma passada aí assim que eu puder. Pode ficar tranqüilo!  - garanti.

- Ok ok! Vou chamar o Jacob.

- Alô, Bells? Aconteceu alguma coisa? – Jake enchia de perguntas, era uma em cima da outra, sem nem ao menos desse tempo de respirar.

- Oi Jake. As coisas não vão indo muito bem por aqui. Por isso que eu liguei. – senti o braço de Edward envolvendo minha cintura e a sua mão deslizando sobre os meus cabelos.

- Alguma coisa com Nessie? – perguntou um pouco agitado.

- Sim, com ela mesma. Ela anda muito ‘sem vida’, algo como o estado que eu fiquei quando o Edward foi embora depois do meu aniversário – senti que a mão que me fazia carinho e os braços envolventes sumiram da minha pele logo após a lembrança dita ao telefone.  – Você não aparece mais por aqui já se faz alguns dias. Aconteceu algo entre você e a Nessie?

- Nã.. não. Nada aconteceu. – ele gaguejou, gaguejou. Alguma coisa tinha realmente acontecido.

- Jacob, me conta. O que aconteceu? – perguntei começando a ficar irritada com todo esse segredo em volta de mim. Estávamos falando da minha filha, de Nessie, a amada dele. Como poderia deixá-la assim tão triste e simplesmente mentir pra mãe dela?

- Bells, prometo que conto assim que eu puder. Você anda meio nervosa, mas eu conto. Prometo que eu conto, mas no momento certo. – ele tentou argumentar. Eu sempre soube que Jacob era teimoso. Ele não iria me contar de forma alguma. – E além do mais, se Nessie não te contou nada, não serei eu que contarei.

            Após isso, Jacob desligou o telefone. Olhei pra Edward, incrédula do que acontecera.

- A educação de Jacob continua a mesma. Ele desligou na minha cara. – falei e logo após percebi a sua expressão de raiva no rosto. – Amor, por que você tá com essa cara?

- Porque que você sempre tem que se lembrar de quando eu te deixei? – os olhos deles olhavam fixamente para o meu. Sabia que aquele sempre fora seu ponto fraco, mas era preciso relembrar pra que Jake visse o quanto ele ta machucando nossa filha.

- Desculpa, foi necessário. Mas não fique assim, você sabe que minha intenção não é te machucar. – fui me aproximando dele e deitando minha cabeça no seu peitoral.

- Você nunca vai me perdoar por aquilo, não é? -  ele perguntou enquanto alisava minha cabeça.

- Não vamos começar Ed. Eu já te perdoei por isso, você sabe muito bem. – fiquei um pouco brava, mas não queria desgrudar dele.

- Tudo bem, tudo bem. Não vamos estragar esse momento, não é verdade? – senti que suas mãos frias iam percorrendo todo o meu corpo.

- Edward, Nessie está aqui, no quarto logo ao lado. – sussurrei em seu ouvido.

- Garanto que ela já deve ter dormido. – ele afirmou com convicção.

- Tá, espera. Eu vou verificar. E ah, não me atrapalhe e nem venha atrás de mim. Se Nessie estiver realmente dormindo, você vai ter uma boa surpresa hoje. – dei um selinho nele e me levantei da cama, mas Edward não hesitou ao me puxar de volta pra cama.

- Surpresa é? Que tipo de surpresa? – senti um milhão de impulsos elétricos correndo pelo meu corpo, partes que eu nem sabia que existiam. Mas tinha que resistir, era só poucos minutos, só o tempo de verificar se Renesmee estava mesmo dormindo.

- Anrram, surpresa! E surpresa é surpresa. – me levantei da cama de novo e soltei um beijo pra Edward enquanto saia do quarto.

- Odeio o fato de não poder ler sua mente. – Edward odiava ter que esperar pelas coisas.