POV Wendy

– Trick, você se importa se eu tentar chegar no lago sem sua ajuda? É pra ver se aprendi o caminho, afinal as vezes você pode estar ocupado – Perguntei para Heatrick na manhã seguinte. Ele sorriu para mim

– Claro que não, Wendy. Vá em frente, não falarei nada. Mas saiba que nunca estarei ocupado se você precisar

– Obrigada – Sorri para Heatrick e ele retribuiu. Ele realmente era um bom amigo, alguém que eu com certeza lembraria para sempre. Comecei a ir andando na direção que tínhamos tomado ontem sem me perder uma vez sequer. Havia um motivo pra eu querer guiar-nos, precisava saber se eu conseguiria voltar para o barco se chegasse ao lago onde me banhava.

Hoje eu iria rever meus irmãos. Acordei assim que o sol nasceu e enquanto esperava Heatrick aparecer em meu quarto fui armando um plano, afinal não queria preocupa-lo, só queria ver meus irmãos.

Quando cheguei em uma bifurcação eu parei. Lembrava vagamente dessa parte do trajeto, mas não me recordava por qual lado Trick havia seguido no dia anterior. Respirei fundo e observei atentamente os dois lados. Um havia uma árvore muito alta e outro havia um buraco no chão. Segui pelo caminho com a árvore alta e percebi que Heatrick sorriu. Pouco depois chegamos ao mesmo local do dia anterior. Me virei para Heatrick e ele estava sorrindo abertamente

– Parabéns, Wendy. Você realmente é muito boa em guardar caminhos, só havíamos vindo uma vez e nem reparei que você estava atenta ao caminho, parecia estar apenas pensando em algo. – Sorri pela sua observação

– Muito obrigada, Trick. Agora, se me der licença – Falei. Estava muito ansiosa para achar meus irmãos. Ele fez uma mesura exagerada que me fez rir e se virou – Ahn, Trick? – Chamei e ele se virou – Se importaria de me esperar um pouco antes da bifurcação? Qualquer problema e eu te chamo

– Acho um pouco longe, mas seu pedido é uma ordem. Vou esperar perto de uma árvore frutífera – Ele falou esfregando a barriga e me fazendo rir de novo.

Esperei que ele estivesse se afastado e deixei minhas roupas na mesma pedra do dia anterior, porém dessa vez não me despi. Continuei andando pelo caminho. Não sei o que esperava encontrar, talvez algum lugar parecido com o que havia visto quando cheguei com Peter, mas não conseguia me lembrar de como exatamente era o esconderijo, não prestava muita atenção ao caminho antes. Aprendi a prestar atenção ao meu redor com Gancho.

– Como vou achá-los agora? – Perguntei em voz alta a mim mesma. Continuei andando mesmo não sabendo se estava no caminho certo. Fiz poucas curvas para não me perder muito do caminho, ao mesmo tempo em que queria ficar escondida para Heatrick não me achar caso notasse meu sumiço.

Após algum tempo andando sem uma direção certa eu percebi que não conseguiria achar sozinha. Andei apenas mais um pouco para chegar à um lago e fui tomar um pouco d’água aproveitando para molhar meu rosto.

– Que ideia estúpida a minha. Nunca acharei meus irmãos nessa floresta imensa – Falei triste ainda na beira do lago. Não sei se estava com muitas saudades ou se foi a frustração de perceber que não conseguiria sozinha mas comecei a chorar. Não um choro histérico, apenas algumas lágrimas caíram de meus olhos, mas eu as deixei escorrendo pelo meu rosto.

Mal haviam caído as lágrimas e eu ouvi um barulho vindo do meu lado direito. Enxuguei meus olhos rapidamente ao mesmo tempo em que me levantava. Tentei ouvir mais alguma coisa mas o que quer que houvesse feito o barulho ou não estava mais ou estava se escondendo. Não achei que seria muita coisa, afinal era uma floresta, e deixei pra lá, mas ainda atenta a qualquer novo som. Quando ia recomeçar a caminhar ouvi um novo barulho, dessa vez do lado esquerdo. Este se aproximava do lugar em que eu estava e antes que o dono do barulho aparecesse eu me escondi em um arbusto perto do lago. Controlei minha respiração e tomei um susto quando vi quem estava no mesmo lugar que eu estivera apenas segundos antes.

Peter tomou um pouco da água do lago sem nem notar que a poucos instantes atrás eu estava lá procurando justamente por seu esconderijo. Sorri pela minha sorte e aguardei enquanto Peter se refrescava. Não demorou muito, porém, e ele logo voltou pelo mesmo lugar que havia chegado. Escondida por entre as sombras das árvores o segui fazendo o mínimo barulho possível. Estava indo bem, porém ele chegou em uma parte em que as árvores eram escassas e não tinha onde me esconder. Sabia que não poderia segui-lo na mesma velocidade pois ele me veria, mas sabia também que se o esperasse passar por essa parte eu poderia perde-lo de vista, e o mesmo valia se eu tentasse contornar esse centro sem árvores. Tentei pensar em uma alternativa porém a única que encontrei foi subir na árvore que estava e tentar ver o caminho que iria seguir após atravessar. Descartei essa ideia também, afinal com esse pulso não conseguiria subir nos primeiros galhos sem cair. Sem mais opções eu cedi ao impulso, afinal não poderia perder Peter. Saí das sombras

– Peter? – Chamei não muito alto, apenas o suficiente para ele ouvir e fingindo ser uma coincidência. Ele se virou assustado mas quando viu que era eu se acalmou, logo mudando novamente. Usou uma postura cuidadosa e atenta

– Sim, Wendy? Ou devo dizer Bucaneira Djil? – Peter perguntou arqueando uma sobrancelha. Me aproximei mais dele, devagar

– Como está, Peter? – Falei com uma voz doce e depois sorri. Isso o pegou desprevenido mas logo voltou a sua postura

– Estou bem

– E os meninos perdidos? – Perguntei tentando fazê-lo ficar mais a vontade comigo

– Estamos todos bem, Wendy – Ele suspirou – O que quer? – Falou me encarando. Olhei para ele sorrindo tristemente

– Quero saber como estão meus irmãos, Miguel e João. Sinto muita a falta deles, nunca ficamos tanto tempo sem nos vermos – Falei de uma vez e percebi ele sorrindo, porém brevemente

– Não merece vê-los, Wendy. Você é uma pirata agora, os abandonou – Peter falou irritado

– É claro que mereço vê-los, são meus irmãos! E não os abandonei, apenas escolhi a pirataria – Falei alto para ele e ele se virou para mim

– Preferiu a pirataria a eles – Peter gritou

– Preferi a pirataria a você – Gritei de volta mas me arrependi no mesmo momento.

A postura de Peter não mudou porém sua expressão sim. Seus olhos antes raivosos estavam tristes e saudosos. Suspirei e abaixei o tom de voz enquanto me aproximava mais dele

– Não quis dizer isso, Peter. Sinto muito. Só quis dizer que tenho sim o direito de ver meus irmãos, nunca os deixei sozinhos – Falei mais calma e quando ia lhe tocar o ombro ele se afastou

– Se depender de mim para guia-la você não os verá – Peter falou e saiu voando. Gritei seu nome repetidas vezes porém ele não voltou. Estava sozinha novamente e dessa vez nada poderia me ajudar mesmo. Segui na direção que ele voou, só que correndo.

Perdi a conta dos segundos, ou seriam minutos? Talvez horas, desde que saí correndo, só sabia que estava dolorida e com muita sede, mas não poderia parar. Nada me era familiar e parar só significaria ficar perdida, continuei correndo pois assim conseguiria chegar em algum lugar. Corri até o sol se por e não conseguir mais enxergar com clareza. Um tempo após já ter escurecido eu finalmente parei de correr e sentei apoiada em um tronco de árvore. Meus olhos encheram instantaneamente de água enquanto tentava recuperar o folego.

Fiquei alguns poucos minutos apenas me acalmando enquanto ouvia os primeiros sons de animais noturnos, eles já estavam acordando. Não sabia para onde ir nem como voltar e pela primeira vez no dia pensei que realmente tive uma ideia estúpida pensando que conseguiria encontrar João e Miguel sozinha. Sem saber mais o que fazer eu gritei o nome deles repetidas vezes. Essa é a última coisa que fiz antes de dormir ainda apoiada desconfortavelmente no tronco.