Antes de sair procurando o lugar, andei sem rumo olhando os pacotinhos.

   “Se quiser, pode ficar com um desses. Serve como pagamento.”

   “Ele não faz ninguém sofrer.”

   Eu estava sofrendo.

   Sofrendo pelo meu pai, minha mãe, pela minha irmã.

   Por pessoas assassinadas que eu nem conhecia.

   Sofrendo até por Edward.

   Sofrendo por mim mesma.

   Eu sabia que se experimentasse, nem que fosse só uma única vez, me viciaria na droga. E iria morrer.

   Mas qual a importância disso? Eu estava sozinha agora.

   Não tinha mais motivos para querer continuar viva.

   Mas se morresse, iria estar praticamente matando Edward.

   Se não terminasse o que me pediram, seria como se eu mesma atirasse na cabeça dele.

   E isso eu não podia deixar.

   Ele podia morrer quando quisesse. Mas se ele quisesse. Não era justo a vida dele acabar por minha causa.

   Não era certo eu matá-lo porque desisti da minha vida.

   O papel que continha o endereço estava bem perto dos meus olhos. A escuridão não me deixava enxergar.

   E assim eu parei imediatamente quando li a cidade.

   Minha cabeça começou a girar, e eu tive vontade de vomitar. Mas sabia que não tinha nada no meu estômago.

   Minha cidade natal.

   New York.

   Eu estava em New York.

   Nos Estados Unidos.

   Longe de onde deveria mesmo estar. Muito longe.

   Tive que me apoiar em uma parede. New York? Eu estava mesmo lá?

   Como conseguiram me deixar aqui, sem que eu e Edward acordássemos?

   Ou quando acordamos, antes de colocaram panos em nossos narizes de novo, estivéssemos indo para um avião? Ou um jato? Ou qualquer coisa.

   Minha cidade natal.

   Por qual motivo eles nos trouxeram para cá?

   O que realmente Mark queria comigo?

   Ignorando o endereço que tinha que chegar, tentei lembrar o endereço da minha antiga casa. Onde morava até meu pai morrer.

   Seis horas da manhã.

   Pessoas já saindo de suas casas.

   Não me contive em parar uma senhora para perguntar o endereço da rua onde estava.

   Ela me respondeu, e eu sabia qual era.

   Agradeci a idosa mais de quatro vezes e saí correndo, com os pacotinhos de droga e o papel nos bolsos.

   Estava a menos de quatro quadras da minha antiga casa.

   O que encontraria lá? Alguém morando ali?

   Uma família?

   Ou uma casa abandonada?

   Nada me importava.

   Só queria tentar descobrir o que estava acontecendo.

   Mesmo sabendo que Mark também já sabia que eu iria procurar minha casa.