Heaven And Hell Shenny escrita por KayLee


Capítulo 6
Capítulo 3, pt 3 - Sobre perguntas e tempestades


Notas iniciais do capítulo

Estou tão tão feliz com os comentários que nem tenho palavras para expressar. Espero continuar a corresponder as expectativas de vocês. Esse é, até agora, o meu capítulo preferido ♥
Continuem comentando :)



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PARTE III – Outras tempestades

- Penny, eu fui arrumar suas coisas. Desculpa, não achei que isso fosse importante. – explicou ele desajeitado – Desculpa, eu não sabia que era proibido.

- Tudo bem. – ela estava sentada e mantinha uma mão na testa – Eu já deveria ter superado isso. São apenas memórias ruins.

- Você pode falar sobre isso, se quiser. – solidarizou-se Sheldon e, em sua cabeça, reciprocidade ecoava quase de forma audível.

- É tão complicado, Shelly. – a voz de Penny saiu estrangulada e, para o desespero do físico, ela estava chorando – Família é tão complicado!

            Sheldon pigarreou, indicando para ela prosseguir.

- Cresci com o meu pai e minha mãe em Nebraska. – iniciou ela – Meus pais queriam ter um menino e, bem, nasci eu. Uma menina! Toda a minha família, praticamente, é composta por meninas e eu era apenas mais uma. Tenho poucas fotos de quando era pequena, como você pode ter percebido, essas foram as únicas que encontrei. – acrescentou – E, então, meu pai decidiu que eu seria um menino. Não no sentido literal, logicamente. – explicou ao perceber o cenho de Sheldon franzido – Fazíamos coisas de meninos: eu jogava baseball, futebol americano e futebol. Todos os dias eu deveria recitar o hino dos times preferidos do meu pai e jogar com ele. Íamos pescar e eu deveria fazer tudo exatamente como ele. Nunca tive nenhum vestido até os quatorze anos. – comentou, triste.

            Penny respirou fundo e fechou os olhos. Por alguns minutos, ouvia-se apenas o barulho da incessante chuva.

- Eu praticava esportes com três tipos de bola diferentes, quando, na verdade, queria uma boneca, apenas. Mas, minha mãe não se importava com isso. Tampouco meu pai, é claro. Os meus tios me convidavam para ir a casa deles e, apenas lá, eu sentia que era a Penny. Apenas a Penny. Eu podia usar os vestidos das minhas primas e batom. – ela sorriu em meio às lágrimas – Até o dia que meu pai descobriu. Ele brigou com os meus tios e eles ficaram sem se falar por meses. Eu tinha treze anos.

            Sheldon ouvia tudo, calado.

- Quando fiz quatorze anos, pedi ao meu pai dinheiro de aniversário. Menti que compraria o novo uniforme do time de futebol do Nebraska. – Penny fungou – Ele me levou a uma loja de departamentos, próxima da nossa cidade, e foi atrás de uma camisa para ele e me deixou na ala masculina. Corri até a seção feminina e comprei o primeiro vestido que vi: ele era rosa, cheio de babados rosas claro e eu me senti tão linda! Paguei por ele e pedi se poderia usar o provador para trocar de roupa. Arranquei todas as etiquetas e vesti o meu primeiro vestido. – ela soluçou e seus ombros chacoalharam – Sai correndo do provador e fui mostrar ao meu pai como eu estava bonita. Ele gritou e disse que eu parecia uma “mariquinha”. Ele tentou, até, fazer eu devolver meu único vestido, mas, por sorte, eu havia jogado as etiquetas fora. 

            Sheldon saiu de sua poltrona e sentou ao lado de Penny. Ela encostou sua cabeça coberta com a toalha no ombro dele.

- Em seguida, minha mãe descobriu que estava grávida e adivinha: era um menino. Quando meu irmão nasceu, fui completamente esquecida. Eu era apenas a Penny que deveria limpar a casa, arrumar o quarto do irmão e ajudar a fazer o almoço. Não precisei mais fingir que era um garoto, mas também não ganhei mais a atenção de ninguém. – as lágrimas molharam o casaco de Sheldon – Sabe, depois que fui esquecida, descobri que eu preferia fingir ser um garoto. Qualquer coisa é melhor do que ser ignorado. Qualquer coisa. Então, eu decidi que sairia de casa e meus pais, inicialmente, não aceitaram. Eles disseram que eu estava “chorando de barriga cheia”. – a voz de Penny elevou-se – Disseram que pagariam para eu limpar a casa! – as lágrimas tornaram-se mais espessas e freqüentes – Recusei e, durante alguns meses, fiquei na casa de meus tios, juntando dinheiro. Eu ainda era menor de idade e, por isso, trabalhava muito para poder ganhar pouco.

            Penny limpou as lágrimas com o punho da camisola.

- Ao completar dezesseis anos, recebi, dos meus tios, alguns móveis velhos e uma quantia boa de dinheiro. Consegui arrumar um emprego razoável – um salário mínimo e apenas seis horas de trabalho – e, com o dinheiro que sobrou, fiz meu curso de teatro. Fiz novas amigas e saíamos todas as noites. – as lágrimas cessaram, mas a voz permaneceu embargada – Eu saía com todos os caras que eu queria só porque eu podia. Eu era uma garota de boa aparência e isso atraía garotos. Levei uma vida sem regras, por muito tempo. Meus pais voltaram atrás e se desculparam por tudo e eu voltei para casa. – Penny fungou – Não abandonei minha vida de festas, mas trabalhava e era aceita como garota em casa. Mesmo assim, nunca recebi carinho como meu irmão.

            As mãos de Sheldon espalmaram as costas de Penny com leves batidas. Era uma forma de dizer que, assim como ela dissera na noite anterior, ele também estaria ao seu lado sempre. 

- Hoje, não faço as mesmas coisas que fazia antigamente. Mas, me envergonho dessas fotos. Vendo isso, agora, faz com que eu me sinta uma prostituta por causa das roupas que eu usava. – confessou Penny.

- Penny. – Sheldon disse, após um longo tempo calado – Por incrível que pareça, eu sei o que você sente e, se você perceber, temos histórias parecidas. Meu pai também era um bastardo e minha mãe – apesar de me amar e demonstrar -, submissa a ele. Na escola, eu era um completo desastre, enquanto minha irmã era ilustre. Apenas meus avós me compreendiam. Aliás, graças ao meu avô eu me tornei cientista e físico e Meemaw me deu todo suporte que eu sempre precisei. – analisou ele – Você, encontrou seu consolo na casa de seus tios e nas festas. Enquanto eu ganhei prêmios de Física para mostrar minha excelência incomparável, você se utilizou da boa aparência para mostrar que era, realmente, uma garota. No final, Homo novus e Homo sapiens sapiens têm semelhanças. – riu ele.

- Obrigada, Shelly. Eu precisava dizer isso para alguém, mas nunca tive coragem. – Penny desencostou a cabeça do braço do amigo e se levantou – Vou pentear o cabelo e dormir.

- Oh, espere um momento. – Sheldon falou – Vou escovar os dentes.

- Tudo bem, eu vou pentear o cabelo e você pode escovar os dentes também. O banheiro tem espaço para nós.  – ela virou as costas e foi ao banheiro.

- Tem certeza que isso não é estranho? – perguntou ele – Quer dizer, eu vou estar com espuma na boca e vou cuspir na pia.

- Querido, todos nós escovamos os dentes da mesma forma. – respondeu Penny penteando uma mecha do cabelo.

            Sheldon começou a escovar os dentes na pia, no mesmo momento em que Penny escovava o cabelo, sentada na borda da banheira. O único som era o da chuva que, agora, se tornara, ainda mais, forte. Ao terminar sua escovação, ele abriu a porta do armário e colocou uma proteção na sua escova de dente e a deixou ao lado da escova da amiga.

- Eu costumava escovar o cabelo da Meemaw. – comentou ele, após fechar o armário – Sempre que vou visitá-la, escovo o cabelo dela.

- Você pode escovar o meu, se quiser. – ofereceu ela.

            Os longos dedos de Sheldon alcançaram o cabo da escova de madeira e, lentamente, escovaram o cabelo liso e loiro de Penny. Algumas lágrimas foram contidas. Nunca, ninguém, havia escovado o seu cabelo durante a infância ou adolescência. E, o fato de alguém fazê-lo, era tão reconfortante. O ato de desenredar os fios com, apenas, uma escova fez com que Penny refletisse sobre a sua vida: durante anos, fora embaraçada e, agora, estava, aos poucos, ajeitando-se. 

            Tão logo o cabelo foi desenredado, Sheldon pediu um edredom e um travesseiro para dormir no sofá.  Penny arrumou o sofá para ele e, ao ver como ele estava encolhido, quase sentiu pena – não fossem suas costas doloridas de trabalhar e ter que dormir naquele maldito sofá no dia anterior. Assim que o físico deitou-se, uma trovoada ecoou no apartamento e todas as luzes desligaram-se.

            Penny abafou um palavrão e foi ao quarto tateando as paredes. Deitou-se e agradeceu por aquele dia chegar ao fim. Estava cansada – física e emocionalmente – e nada a deixaria mais feliz do que dormir até tarde. Como Howard estava comemorando o hanukkah e Bernadette não era judia, ela havia trocado de turno com Penny para aproveitar o próximo final de semana com o namorado. Combinaram que, nesse sábado, Bernadette cobriria o turno de Penny e no próximo, seria ao contrário. Então, poderia dormir até seu estômago obrigá-la a se levantar.

            Lembrou-se que, no sábado, sairia com suas amigas e, anotou mentalmente, que deveria falar com Sheldon sobre isso. Macy, por ser promoter, havia recebido convites para uma festa caríssima e bastante famosa de Pasadena que começaria sua nova temporada naquele final de semana.

- Penny. Penny. Penny. – Sheldon bateu exatas três vezes – Precisamos conversar.

- Oh, Shelly, não acha que conversamos muito hoje? – perguntou Penny, cansada.

- Penny, não posso ficar na sala. – ele disse e uma trovoada ressoou pelas ruas de Pasadena, atingindo o apartamento – Vê o motivo? Odeio tempestades.

- Querido, eu estou cansada demais para dormir no sofá novamente. – ela sentou-se na cama e observou o rosto dele contorcido quando um clarão adentrou a sala.

- Sei que eu não deveria ficar assustado. Isso é apenas a separação de cargas elétricas, concentrando um campo elétrico que acabam resultando em trovões quando a rigidez dielétrica do ar é rompida. – explicou Sheldon – Mas, por mais que eu saiba disso, não posso ficar naquele sofá, sozinho, vendo essa monstruosidade física.

- O que você faz quando isso acontece? – questionou Penny com paciência.

- Acordo Leonard e nós ficamos juntos até a tempestade passar. – respondeu ele com simplicidade.

- Acordados? Sério? – a voz dela elevou-se para abafar o barulho dos trovões – Estou com muito sono. O que sua mãe fazia?

- Deixava eu dormir com ela. – falou ele

- Então, Shelly, pegue seu travesseiro porque serei sua mãe pelo segundo dia consecutivo. – Penny disse, após se deitar e puxar as cobertas.

- Penny, não podemos fazer isso. Não compartilho camas. – a voz dele saiu horrorizada e a amiga suspirou.

- Pegue uns travesseiros no armário e faremos uma barreira. – disse – Estou mandando, Sheldon. – ordenou Penny com o restante de paciência que lhe sobrou.


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Notas finais do capítulo

Como sempre, qualquer erro, me avisem, por favor. Não esqueçam que críticas, também, são sempre bem vindas.