"Amanhã... o que irá acontecer? Brrr Acho que estou com um mau pressentimento..."

Mais um dia que começa com o lindo som do canto dos passarinhos, os raios de sol que batem suavemente na minha face... oh, mas quem estou eu a querer enganar?! A única coisa que está a esta hora a cantar no meu quarto é o despertador!!! Desligo aquele som infernal e levanto-me enquanto me espreguiço, bocejo e esfrego os olhos (uau! nem sei como é que consigo fazer tanta coisa ao mesmo tempo e ainda só acabei acordar...!).

Dirijo-me à casa de banho (que, como o meu quarto não tem casa de banho particular...) atravessando o corredor do piso de cima mais parecendo um zombie. De repente o meu irmão aparece a correr na direcção das escadas (vem na minha direcção) mas trava assim que me vê. E fica ali, a olhar para mim com o queixo caído... Eu digo um bom dia rápido e entro na casa de banho.

– Mas o que é que deu ao miúdo para... AHHHHHHHH!!!

Bipolaridade? Só um pouquinho. Num momento estava quase a morrer de sono, a arrastar-me pela casa, e no outro dou um pulo de susto. Porquê? Devem querer vocês saber, não? Bem, qual seria a vossa reacção se quando se vissem ao espelho, de manhã, sem ter feito nada, o vosso cabelo estivesse branco como a neve?!

– Está tudo bem aí em cima? - oiço a voz da minha irmã ecoar pelo piso inferior.

– Sim Loretta! Está tudo bem... - grito como resposta.

– Mas como?! Será que o Chris me pregou alguma piadinha daquelas... mas que eu me lembre não temos tinta branca cá em casa. Então... - começo a tomar banho para ver se o branco sai - .. isto supostamente deveria sair com água!!!

Depois de alguns minutos a tentar retirar o que quer quer fosse do meu cabelo, desisto, termino o duche e vou arrumar-me. Visto o uniforme da escola que é composto por uma saia um pouco acima do joelho, xadrez em tons de verde e creme, uma camisa creme, um casaco verde seco e uma gravata da mesma cor. Ato o cabelo e coloco uma boina de renda verde para ver se não se nota tanto a cor.

Desço as escadas até à cozinha e dando os bons dias à minha irmã, sento-me para começar a tomar o pequeno-almoço.

– Loretta? - chama-a o Chris - As meninas podem ficar com o cabelo branco?

Aquele pergunta quase que me faz engasgar com a torrada.

– Como assim Chris? O cabelo só fica branco quando as pessoas são velhotas - explica a minha irmã.

– Mas a Daya não é velha! - reclama o pequeno.

A Loretta olha para mim desconfiada. Num gesto rápido arranca-me a boina da cabeça fazendo o meu cabelo branco, atado num rabo de cavalo, cair sobre as minhas costas.

– Dayaaa... - começa ela a gritar.

Mas eu nem lhe dou tempo.

– Já está tarde! VOU INDO, TCHAU!!! - grito enquanto me apresso a voltar a pegar na boina e a ponho.

Corro dali para fora antes que ela me possa parar. "Não fiz nada para o meu cabelo ficar assim mas também não saberia responder se ela me fizesse perguntas!" penso enquanto corro pelo passeio, desviando-me de pessoas e coisas como postes de electricidade. Quando abrando ofegante já estou quase na escola, apenas mais uns metros e alcanço o portão da entrada. Vou caminhando calmamente porque na verdade ainda tinha muito tempo, mas de súbito alguém me chama. "Que esquisito... quase ninguém sabe quem sou. Normalmente só falam comigo para pedir algum favor ou assim." penso enquanto paro e me viro para trás para perceber quem era. Ao fazê-lo vejo a correr na minha direcção duas raparigas. Uma delas é ruiva, de cabelos longos atados num rabo de cavalo alto, os seus olhos são violetas e parece bem animada pois é a única das duas que me chama. De repente pára com um puxão e aí reparo na outra rapariga. Longos cabelos loiros, olhos castanhos avelã com um tom avermelhado, pele clara e uma expressão nada simpática na cara.

– Calma Elenna! - diz a ruiva para a outra puxando a amiga até mim.

– Bom...dia? - digo confusa.

– Bom dia Daya! - continua a alegre ruiva.

De repente ela desvia os olhos para a amiga ao seu lado que me olhava desconfiada, e depois volta novamente a olhar para mim que devia parecer meio assustada com a reacção "carinhosa" da loira, pois a primeira coisa que a ruiva diz é:

– Calma... ela não morde. Bem... só às vezes...

"Ok... esta frase não foi nem um pouco reconfortante... Alguém que me ajude a sair daqui?!" penso nada feliz com a situação. "Se o meu primeiro contacto a sério com os outros alunos for assim... se calhar preferia ser ignorada."

– Bom, eu queria saber uma coisinha... - diz enquanto remexe a mochila à procura de algo - Ah! Aqui está! - sorri triunfante enquanto segura uma caixa do jogo.

"Oh...meu... Deus... Mas afinal quantas cópias do jogo é que os meus pais distribuíram?!" penso um pouco cansada de saber tão pouco acerca disto.

– Vês, vês, vês?! É da empresa dos teus pais não é? - diz a ruiva apontando alegremente para o canto inferior direito da caixinha plástica onde está o logótipo da empresa dos meus pais.

"Mas ela afinal sabe tudo de mim ou quê?! Eu pensava que ninguém me conhecia..." penso abismada.

– Como é que sabes tanto sobre mim? É a primeira vez que falas comigo!

– Ah... é que o Saru contou-me que também tinha um desses... - diz referindo-se ao jogo - ... e explicou tudo acerca disto. Aqui a Elenna, gere o jornal da escola e achei que seria bom ter algumas informações a mais.

A loira continua calada. Apenas a olhar-me fixamente como que se me avaliasse. Tenho quase a certeza de que a conheço de algum lado... mas de onde...?

– Elenna... o teu cabelo está esquisito hoje... - diz a ruiva com um olhar desconfiado.

A outra apenas fica um pouco assustada ao ouvir aquelas palavras. "Porque será?"

– N-não sejas tola Mayu! V-vamos embora! A-a aula j-já não deve demorar para começar!

E dito isto pega no braço da amiga e começa a puxá-la em direcção ao portão da escola, ainda com um olhar amedrontado. Eu apenas olho par as duas a afastarem-se alguns metros quando a ruiva decide, não sei porquê (depois de analisar bem a amiga), cravar os dedos no meio dos longos fios de cabelos da Elenna e travar o passo. O que acontece a seguir deixa-me de olhos arregalados de espanto. Assim que Mayu puxa o cabelo loiro de Elenna, este sai da sua cabeça, revelando por de baixo deste, um cabelo negro como a escuridão da noite atado num coque para caber na...

– Uma peruca?! - grita a ruiva com os cabelos loiros de Elenna na mão - Porquê? E quando? Porque é que pintaste o cabelo?!

Elenna vira-se meio zangada meio constrangida e retira a peruca das mãos da outra voltando a colocá-la na cabeça.

– Sem perguntas!- diz direccionando o indicador para o nariz de Mayu - E sem comentários! - diz desta vez para mim.

Volta a virar-se para ir embora mas antes ainda solta:

– Se não a próxima edição do jornal da escola vai ter segredos bem importantes! - e sai andando calmamente.

Mayu não diz palavra. Está demasiado espantada para ter qualquer reacção. Passam poucos segundos e ela desvia o olhar para mim e sorri um pouco envergonhada.

– Ihihihih... - ri nervosa - Tenho que ir... ESPERA POR MIM ELENNAAAAA!!! - grita já a correr atrás da "loira" que virava na entrada para a escola.

Ainda sem reacção sou acordada do transe quando oiço a campainha da escola anunciar que os alunos e professores se devem dirigir às salas de aulas respectivas. Corro para dentro do edifício escolar e quando chego à minha sala de aula, sento-me numa carteira vazia perto da janela. "Estou com vontade de olhar para o céu..." penso enquanto olho distraída pela janela, apoiando o queixo com o punho cerrado.

– Estou com uma sensação... de que algo está para vir - foco o meu olhar numa nuvem pequena que parece um par de corações.

"Algo vai acontecer...eu sei que vai! E é algo que vai mexer muito com a ordem das duas realidades. Mas, para além disso, outro acontecimento... e esse... irei lidar com ele de frente..."