Amor Improvável Em Columbus Circle. escrita por Carolyna Grey


Capítulo 3
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Muito obrigada a todos que deixaram review e a quem favoritou a fic *___* Sério fico muito feliz e agradecida mesmo.
Aqui está o terceiro capítulo. Boa leitura e me digam o que acharam lá embaixo :)



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A resposta tardou, mas veio num sussurro.
– Desculpa.
– Pelo que? Você não tem culpa de nada. - Quis tocá-la, consolá-la e dizer que tudo ficaria bem, mas não passaria de clichês, meras frases ensaiadas e ditas porque por alguma razão o silêncio é sempre visto como o pior argumento.
– Pelo que você acabou de ver...e ouvir. - Sua voz estava embargada e baixa.
– Ele... - Ponderei por instantes se deveria me meter na sua vida e então me apercebi que já estava metida desde que apertei a sua mão naquela tarde. - Ele te bateu? Você está machucada?
Ela assentiu mirando os pés descalços.
– Devo chamar uma ambulância para te levar ao hospital?
– Não. - Levantou a cabeça me fitando pela primeira vez com os olhos vermelhos e molhados.
– Mas você pode precisar de ser cuidada. Pode precisar de medicação específica.
– Não, por favor. - Engatinhou até ficar encostada à ombreira da minha porta com o rosto a centímetros do meu.
Meu coração disparou com a proximidade repentina. E sustive o ar.
– Ele só ficaria mais irritado ainda. - Explicou soluçando com as lágrimas lavando o preto do rímel.
Agora sem a maquiagem, com os cabelos bagunçados e vestindo apenas um short de bolinhas coloridas que fazia par com a regata conseguia ver a menina do interior de quem o tal site de fofocas falava. Me enchi de um instinto protetor que até o momento desconhecia quando o ruído das portas do elevador se abrindo nos apanhou desprevinidas.
– Venha. - Abri a porta dando espaço para que ela entrasse. - Rápido. - Incentivei-a vendo-a ainda de joelhos sobre a carpete azul escura que cobria todo o chão do corredor.
– Morenaaa... - Ele arrastava a voz denunciado seu estado alcoolizado.
– Vem comigo. - Estendi-lhe a mão me levantando.
Finalmente ela se colocou de pé mostrando ser pouquíssimos milímetros mais baixa que eu e ambas não eramos nada em comparação ao homem que se dirigia a nós.
– Eu não posso te envolver nisso. - Rejeitou a minha oferta de ajuda.

Deixei que meu braço caísse e observei inerte enquanto ela mesma fechou a porta do meu apartamento me deixando de fora do problema, mas por algum motivo senti que aquilo fora uma forma de barrar a minha entrada na sua vida. Essa possibilidade me desapontou.
Sim, eu estava desapontada porque uma pessoa que precisava de ajuda não aceitou ser ajudada. E daí? O problema é somente dela. Se ela é espancada pelo noivo, se ele a machuca, a deixa assustada e a mantêm presa a essa vida eu não deveria me importar. Isso sequer deveria me incomodar.
Fui até a mesinha de cabeceira do meu quarto buscar o Ipod e pus os headphones nos ouvidos com 'Keep holding on' da Avril no volume máximo. Terminei o jantar e me obriguei a comer ainda que não houvesse sequer réstia do meu apetite.
Eu mentiria se dissesse que aquela mistura de raiva, ressentimento, indignação e compaixão não era frustração por Cristal ter voltado para casa com o homem que ainda há minutos atrás a havia machucado deixando-a jogada no corredor do andar. Passei a noite rolando na cama rodeada pelo escuro e esperando que o sono me desse a graça da sua presença. Desisti quando os primeiros raios de sol se desenharam no céu em tons rosados.
Me livrei dos headphones após horas na companhia de centenas de canções. E em todas elas havia uma frase, um refrão ou simples palavra que fazia minha mente viajar até a garota de olhos grandes e assustados que dormia no apartamento da frente com um monstro. Aquela ideia dela ser uma princesa presa no alto da torre guardada por um dragão não abandonava minha cabeça. E o pior é que quem montava o cavalo, envergava a armadura e partia rumo ao desconhecido para resgata-la nessa história era eu. Se ela dependesse somente de mim para ajuda-la então tudo estaria perdido pois eu sou a pessoa mais fraca à face da Terra.
Mais dois dias se passaram sem que nada saísse fora do lugar na minha rotina detalhadamente planejada. Observava a cidade lá fora. O dia estava ensolarado e quente para não variar. Eu sentia falta da expectativa que sentimos quando vamos a algum lugar. Sentia falta de me arrumar para sair. Até sinto falta do cheiro do ar poluído pela fumaça do escape das centenas de carros ou dos carrinhos de cachorro quente espalhados pela cidade. Mas o medo era maior que toda essa falta de...
Estranhava a demora do senhor Araújo em vir buscar a lista do dia. Ele não costuma se atrasar. Bem pelo contrário; é extremamente pontual. Começava a me perguntar se algo teria lhe acontecido. Peguei no telefone quando o som agudo da campainha ecoou pelo apartamento. Voltei a pô-lo na base e fui apressada até a porta.
Abri apenas uma fresta suficiente para que meu braço fizesse a transição da pequena folha rabiscada com minha horrível caligrafia como de costume. Mas desta vez fui surpreendida quando senti meu pulso ser envolvido gentilmente. Recuei puxando o braço num gesto brusco e arisco. Não estou habituada a qualquer contato físico. Agora que penso não sou tocada por alguém há cinco anos quando decidi me isolar do mundo lá fora. Exceto há quatro dias atrás quando apertei a mão dela.
– Me desculpe. - Mal tive tempo de associar a voz à sua dona quando ela empurrou a porta ficando com um pé fora e outro dentro do meu apartamento.
Vestia uma regata branca com listras pretas na horizontal e duas cerejas estampadas no centro; um short jeans e nos pés uma all star preta. Sua pele parecia tão lisa, seus cabelos longos e encaracolados estavam presos de uma forma bagunçada que deixavam alguns cachos soltos e a fita branca com marquinhas de beijo estampada dava um toque doce tornando-a numa visão perfeita.
– Eu não queria te assustar. - Ela forçou o pé direito para avançar na minha direção, mas se deu conta de onde estava e deu um passo atrás ficando em pé no corredor. - Me desculpe. - Repetiu.
Ela parecia desconfortável. Mexia na ponta dos dedos constantemente chamando a atenção para as suas unhas bem cortadas e cobertas por um esmalte preto. Mas não mais desconfortável que eu que sentia um frio na barriga e leves tremeliques que tomavam conta dos meus joelhos. Rezo para que meu nervosismo bobo não seja tão evidente quanto a sua intensidade. Isto seria um problema.
Eu queria falar pois o silêncio ultrapassava o nível constrangedor e seguia agora para o nível rude e tratá-la de tal forma não constava sequer das minhas intenções. Mas minha capacidade de falar havia sumido. Alías, meus cinco sentidos se resumiam a apenas um naquele momento: Visão. Meus olhos não paravam de percorrer o corpo escultural e o rostinho de menina à minha frente. Assim que pararam nos lábios carnudos minha boca se encheu d'água de vontade de prova-los. Ofeguei com aquela sensação sentindo minhas bochechas queimarem de embaraço. Fui obrigada a desviar os olhos imediatamente.
– Eu posso entrar? - Ela perguntou ao fim de tanto em silêncio da minha parte.
Nunca deixei que ninguém entrasse no meu apartamento. Aqui é como se fosse meu santuário e permitir que alguém perambulasse por ele seria o mesmo que estar a difamá-lo. Ela me encarava ansiosa aguardando uma resposta.


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Notas finais do capítulo

Só uma observaçãozinha. A Abigail nunca teve experiências com mulheres e sequer tinha se sentido atraída antes. Portanto, isso é tudo mt novo para ela. Daí a razão dela se perguntar o que está acontecendo com ela.