A Prisão Da Medusa escrita por Milena Buril, Andressa Picciano


Capítulo 9
Comemos algo que poderia nos matar




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Alice

Acordei assustada. Ouvi um barulho vindo da porta, e pensei que sairia de lá algum monstro, porém, quando vi, era apenas comida. 

Estava me sentindo exausta, alguns arranhões e hematomas da cantina ainda estavam lá, mas parecia que alguém estava dando socos.

Olhei para Simon, e percebi algo que não tinha reparado. Ele estava com um corte na bochecha. Da onde tudo aquilo aparecera? Mágica? Alguém entrara para nos espancar?

- Me desculpe. - foi tudo o que ele disse.

- Pelo o que? - senti minha coluna se contorcendo de dor.

- Tentei fugir. - ele disse com a voz baixa

- Você o quê? - perguntei - Mas como? Pela janela não dá, pela porta também não.

- Descobri que a parede do banheiro não é tão boa como essa. Quebra-la não foi tarefa tão difícil - ele respondeu, e senti uma ponta de orgulho na sua fala por ter feito aquilo.

- Mas o que aconteceu? 

- Não esperava que tivesse guardas lá fora. - a voz dele estava rouca - Mas eram monstros. Estava com você no colo, não queria te acordar. Você já salvou a minha vida, queria mostrar que consigo também.

Ah. Ótimo. Eu sou a vítima e ele o super-herói.

- Os guardas nos pegaram - Simon continuou - Nos trouxeram para cá, mas não era o suficiente. Fomos... - ele procurou uma forma mais "doce" de me dizer aquilo - Bem, nós apanhamos. 

Não apanhava desde os meus sete anos, mas eu fiquei pensando, como eu não acordei.

Ele olhou pra mim, e pude perceber que os seus olhos estavam mais negros do que o normal.

- Eu falhei com você Alice - ele disse - De novo. Queria, pelo menos uma vez, conseguir te deixar bem.

Meu coração pulava em meu peito. A voz dele estava relaxada, por mais que ele demonstrasse nervosismo. 

- Tudo bem. - eu respondi - Você se sacrificou só para me deixar dormir - deixei uma risada escapar - Você me salvou de uma luta. 

Ele sorriu.

- Bem vamos ver o que temos para comer. - ele levantou, e me ajudou depois.

Quando vimos, na bandeja, continha uma comida estranha, e uma bebida que também não era lá muito normal. Tudo parecia estar matematicamente servido, com o nome de cada um. Havia também um bilhete, abri e li em voz alta.

"Queridos Simon e Alice, o que está servido para vocês, eu tive que bem... pegar emprestado de algum lugar. A bebida se chama Néctar dos Deuses,e o gosto é do que você querem sentir. A comida se chama Ambrosia e separei uma quantidade exata para vocês, porque muito dela, incinerará vocês dois. Se sentirem que estão bem, mas ainda resta da Ambrosia, parem. Depois não digam que aqui está tão ruim. De sua amiga, Eme"

Parei de ler, e exclamei:

- Amiga? Que tipo de amiga prende os outros em um lugar desconhecido, e tudo o que tem para comer é desconhecido. E além do mais, os amigos da amiga espanca os seus amigos.

Simon me olhou, erguendo uma das sobrancelhas, como se estivesse confuso com o que eu acabara de dizer.

Fui a primeira a pegar. Fiquei olhando atentamente para as nossas opções, e escolhi o Néctar. O gosto que senti, foi do bolo de chocolate que a minha avó fazia para mim quando eu tinha cinco anos. Eu ficava no balanço do seu quintal, e quando era tarde, ela me convidava para comer aquele doce, que só ela conseguia fazer. Larguei o recipiente, e peguei a tal da Ambrosia. Comi bem pouco, porque já estava me sentindo bem, só pelo fato de ter lembrado da minha infância. 

Quando terminei, Simon estava tomando o Néctar, então decidi perguntar:

- Que gosto tem?

Ele me olhou, esperou um tempo, então respondeu:

- Comida da minha mãe. Faz tempo que não como. Ela tem problemas com depressão, então o que eu sempre como é congelado, lanches... ou decido não comer mesmo. E o seu?

Contei à ele toda a história do bolo de minha avó, então ele sorriu e falou:

- Sinto que você está com saudades daquela época.

- Sempre sinto - respondi - Mas minha avó morreu de câncer, e eu não quero entrar nesse assunto, desculpe.

Ele me olhou e o silêncio pairou pela sala.

- Por que você era tão quieta na escola? - Simon perguntou

Respirei fundo e respondi:

- Porque eu não me sentia bem naquela escola. Parecia que todos não gostavam de mim. Eu sofri bastante com a dislexia, e aquilo me afetou. Minha mãe nunca estava em casa, ás vezes ela arrumava algum trabalho a noite, então eu aprendi a viver sozinha. Você não, é sempre rodeados por amigos, por meninas. Não sei como é a sua família, por enquanto só sei sobre a sua mãe, mas... é complicado.

Percebi que meus olhos estavam cheios d'água. Não aguentei a pressão, e me afundei em lágrimas, de novo.

Senti os braços de Simon me pressionando, eu estava com a cabeça encostada em seu peito, e eu continuei:

- Desde que o meu pai se fora, nunca tive a minha mãe como todas as outras crianças. Vivia com a minha avó, mas quando ela faleceu, fiquei nas mãos de várias babás. Quando atingi idade o suficiente, comecei a ficar sozinha em casa. Imagina se monstros como aqueles invadissem a minha casa. Eu estaria agora enterrada em uma cova, ou no estomago de alguma coisa.

- Mas está aqui - ele respondeu. Por um momento, fiquei feliz por estar lá, só pelo fato de estar com ele - E vamos ficar bem. Vamos sair daqui e tudo se resolverá. Eu prometo. Vamos para o Acampamento, nos preparar para os monstros e sair triunfantes nessa história.

Eu prometo, ele dissera. Eu sairia de lá viva.


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