O Santuário recebeu uma forte corrente de ar que partia do corpo do novo receptáculo recém preenchido. O céu começou a formar nuvens extremamente densas e negras, raios começaram a cair nesse mesmo momento. Toda a cidade dos mortos ficou mais escura, sombria e aterrorizante. Era a situação que agora ficou delicada depois que o deus da morte foi despertado após milênios adormecido. Voltando ao Santuário, o corpo de Hathor estava completamente tomado pela força das trevas. E as tentativas da mulher de chamar o seu irmão eram frustrantes. Como poderia agora impedir o próprio deus egípcio? O deus chacal?

Os olhos do garoto mudaram para um escarlate bem vivo, como sangue puro. Não havia a pupila no meio da íris, o que caracterizava o olhar de um ser superior aos humanos. Com um pouco de força, ele conseguiu partir as cordas que prendiam seus pés e mãos. Ramsés e os outros imediatamente ficaram de joelhos perante ele.

– Onde estou? - perguntou friamente.

Myhara tomou a iniciativa de respondê-lo.

– O senhor está no seu Santuário, mestre Anúbis. Despertamo-no do seu sono eterno para que assim possa colocar em prática o seu plano de dominação mundial, e à destruição da deusa Atena.

– Atena continua a governar a Terra? Quanta audácia da parte dela. Acha mesmo que nenhum outro deus pode vir a governar aqui. Mas vou mostrar a ela que eu posso destroná-la.

Merick e Gretta continuaram de joelhos, mas não se atreviam a olhar diretamente para o rosto do seu mestre.

– Atena ajudou a me aprisionar em carne num corpo de um reles mortal. Morri, mas ainda sentia o meu espírito vagar por toda a região do Egito. Ela irá me pagar por tudo que fizera contra mim no longíquo passado.

– O que o senhor deseja, mestre? - perguntou Myhara.

– Em que época nós estamos? Quem são vocês e que urgência é essa que eu sinto?

– Estamos no final do ano de 2012; eu sou Myhara de Ramsés, ali são Gretta de Babilônia e Merick de Tuntancâmon. Somos os seus cavaleiros especiais juntamente com mais cinco que, nessa altura do jogo, já foram derrotados pelos cavaleiros de ouro.

– Cavaleiros de ouro? De Atena?

– Sim. A mando dela que eles invadiram Hamunaptra horas atrás. Agora eles já estão bem adiantados. A sua ausência fez muita falta.

Anúbis olhou diretamente aos dois que estavam amarrados, sobretudo Akmer.

– Quem são os cativos?

– Traidores em potencial. A mulher é a Nefertiti, serva pessoal do senhor na sua ausência; no entanto, ela se rebelou porque estava obedecendo ordens de outra pessoa. O rapaz é um dos cavaleiros especiais que também se rebelou ao ajudar os cavaleiros de ouro de Atena. Ambos são traidores de alto grau.

– Nefertiti, achou mesmo que vendendo a alma para um deus grego iria se sair bem? - os presentes ali não entenderam. - Ares é muito esperto ao ter dois deuses ao seu lado como lacaios. Acho que não é só eu que tem o desejo de domínio deste planeta. Retirem-nos daqui imediatamente, pois não suporto continuar olhando traidores. Melhor, joguem-nos no Poço do Inferno para que morram imediatamente.

Akmer e Pietro se assustaram com a tal ordem. Sobretudo ela, pois foi uma ordem dada diretamente pelo seu irmão. Gretta e Merick levaram os dois para um quarto e trancaram.

– O que fará agora, meu senhor? - perguntou Myhara.

– Primeiro, purificar-me-ei desta imundície que o meu corpo adquiriu em contato com humanos impuros; depois ordenarei algumas coisas para vocês cumprirem e por fim rogarei as 10 pragas que fará com que estas terras fique sob o meu total domínio.

Anúbis se retirou da capela sozinho. Myhara não teve a mínima coragem de segui-lo. Mesmo estando num corpo de criança, o deus emanava um cosmo aterrorizante.

...

Enquanto isso, Seiya corria pela região de Karnak para encontrar Jasmine que fora presa há algum tempo. O templo estava se consumindo e alguns pilares ruíram por completo. O cavaleiro começou a chamar a colega de missão por onde chegava. Até que foi respondido pela garota.

– Estou aqui, Seiya. Aqui - Jasmine já estava exausta por causa da falta de ar que a acometeu depois de ter sido enclausurada numa prisão sufocante. Ela estava sentada e bastante cansada.

– Por Atena! Seu tempo está quase esgotando - disse ele observando a ampulheta que estava quase no final. O cavaleiro começou a esmurrar a redoma, mas não teve muito sucesso. Utilizou alguns meteoros, contudo eles voltaram. Era como os pilares de Poseidon e o Jarro Sagrado de Hades. - Droga, se eu continuar assim posso feri-la... O quê?

Jasmine desmaiou depois de algum tempo.

– Isso vai ser muito violento, porém eu não tenho mais tempo a perder. Terei que usar o meu arco e flecha de Sagitário para acabar com a maldição.

Seiya materializou o seu arco e flecha, apontou para a redoma e lançou. Ocorreu uma explosão. Ele logo viu que a armadilha estava completamente desfeita e socorreu a sua companheira. A ampulheta desintegrou-se no ar.

– Jasmine acorde. Acorde!

A amazona havia acordado depois dos gritos do mais velho que a segurava no braço.

– Pode me colocar no chão? - reclamou.

Isis de Tebas parou a luta, porém perdeu Sereia de vista. As explosões eram constantes e estavam cada vez mais perto. O cavaleiro observou o pedaço do teto cair no chão.

– Quem se atreve a destruir o meu palácio?

Uma última explosão aconteceu bem na arena que a luta acontecia. Da fumaça surgia Danyel sem muitas cerimônias. Isis ficou impressionado pela tamanha audácia do rapaz. O cavaleiro maligno não esperou que acontecesse as apresentações e foi logo atacando com a sua manipulação mental.

– Esse truque não vai funcionar em mim - o dourado usou várias de suas agulhas para quebrar as linhas de cosmo do inimigo. Este ficou impressionado com a rapidez do cavaleiro.

– Não pode ser, eu...

Isis percebeu que Sereia estava logo atrás e desferiu várias Rosas Piranhas. O guardião do palácio não teve chance alguma de se defender e foi pego com tudo.

– Dan, que bom que está aqui. Preciso de uma ajudinha.

– E é por isso que estou aqui. Acabei de matar o guardião de Karnak há pouco. Vai acontecer a mesma coisa com esse palhaço aí se não sair do nosso caminho.

– Como disse? Matou Kalígula? - Isis já estava cheio de escoriações por causa do último ataque.

– Sim, seu feioso. E ainda se dizem os mais poderosos... bom, até agora já foram três, e se você não sair do meio será o quarto - ameaçou Dan.

– O que disse?

– É isso mesmo que se diz, parceiro. Vamos acabar com essa mariquita que anda todo enfeitado - disse Sereia.

...

No Santuário, Pietro e Nefertiti foram presos antes de serem condenados à morte. A mulher observou o rapaz sentado no chão, pensativo, talvez bolando algum plano mirabolante de fuga. Aos poucos foi ao encontro dele.

– Pietro... é verdade mesmo que ajudou os cavaleiros de Atena?

O rapaz ficou calado por um longo tempo. Pietro não concluiu a missão de salvar o seu amigo e nem de se salvar. Nefertiti chamou-o mais uma vez.

– Por favor, não se dirija a palavra a mim. Você é a pessoa mais suja que eu já vi na minha vida. Trabalhou supostamente para Anúbis, um deus maligno; traiu o seu próprio irmão e também até os cavaleiros que beberam aquele maldito licor que dera. Sinceramente, por mim, você já estava naquele buraco há muito tempo.

A mulher ficou sem reação.

Anúbis finalmente pôde sentar-se no seu trono real, bem à frente do grande salão. Antes disso, o deus maligno lavou-se, trocou de roupa colocando uma vestimenta igual a de um sacerdote, mas preta; também usava um elmo com forma de cabeça de chacal. Os cabelos dele ficaram brancos e os olhos rubros.

Myhara, Merick, Gretta e Amut, além de outros soldados, curvaram-se diante da divindade. Esperavam pela próxima ordem.

– Sinto a cosmo energia do guerreiros de Atena se aproximarem cada vez mais desta casa. Quero que pelo menos um de vocês naquela região para que impeça o progresso deles até aqui.

Merick quis se voluntariar, mas foi impedido por Myhara.

– Mestre, Amut irá ao local com alguns soldados a fim de impedir o avanço dos inimigos. Amut, vá.

– Sim, senhor Myhara.

Ela saiu.

– Os demais podem se retirar, exceto o Myhara. Preciso que fique aqui caso eu precise de mais algo.

Gretta e Merick saíram da frente do deus e voltaram para os seus respectivos templos. Myhara também saiu, mas continuou no Santuário. Enquanto isso, Anúbis continuava sentado, parado, sem nenhuma expressão no rosto.

Já Nefertiti não se acostumou com a sua situação. Foi traída e ainda por cima seu irmão foi completamente tomado pelo verdadeiro espírito do deus da morte. A sala havia sido trancada pelos guardas, e possivelmente havia guardas na entrada. Mesmo assim, a porta fora selada com cosmo energia para que Pietro não usasse de força para sair.

– Pietro... Ah, escuta aqui! Eu tive um plano para a gente sair deste cativeiro - disse ela.

– Vindo de você não estranharia qualquer frustração - resmungou.

– O irmão é meu e é também o teu amigo. Eu fui traída, porém isso não vem ao caso. Não estou te pedindo para que me perdoe, e sim para me ajudar a sair daqui.

– E por que eu te ajudaria? Será que há algo que possa salvar o Hathor dessa?

– Há uma forma de prender a alma de Anúbis novamente no sarcófago.

– E qual será essa forma?

– O Livro da Vida, oposto do Livro dos Mortos que Myhara tem. Há um único exemplar e eu sei onde está.

– Onde?

– Na biblioteca real do santuário onde só eu tive acesso. Leve-me até lá e posso até desfazer a sua maldição para que assim possa voltar a ter os seus oito anos. O que acha?

Pietro ficou em dúvida se aceitaria ou não. Contudo, como não havia mais tempo para pensar, decidiu aceitar logo de uma vez.

– Que bom. Agora venha comigo.

O cavaleiro não entendeu. Mesmo assim seguiu a mulher até uma estante ali perto.

...

Seiya e Jasmine puderam sair do templo de Karnak e prosseguiram com a missão. Já dava para ver o Palácio de Tebas no horizonte. Entretanto, um raio caiu bem na frente deles.

– O que foi isso? Jasmine, você está bem?

– Sim, Seiya. Acho que temos uma companhia bem farta.

Dezenas de soldados apareceram diante dos dois cavaleiros. Eram os mandados por Myhara a fim de barrarem o avanço dos dourados. Amut também estava no grupo, pois liderava-o.

– Quem é você? - perguntou Seiya.

– Sou uma serva leal de Myhara de Ramsés e do meu deus já ressuscitado, Anúbis. Estou aqui para deter todos vocês. Não conseguirão passar por mim, Amut.

– Jasmine, preciso que você vá na frente para ganhar tempo. Nessa altura da missão, o Danyel já deve ter se encontrado com a Sereia e ambos já estejam adiantados - sussurrou Seiya.

– Como vou poder sair daqui com aqueles lá?

– Deixa comigo. Eu vou distraí-los e depois você corre.

Seiya correu na direção dos soldados e soltou os seus meteoros. Amut pediu para que todos se defendessem do ataque, mas mal sabia que a aquariana já fugia pelo outro lado.

– Como? Foi uma armação. Atrás dela! - ordenou Amut.

– Não tão rápido. Todos vocês serão os meus adversários.

No Palácio de Tebas, Sereia e Danyel conseguiram deixar Isis em desvantagem pela primeira vez na luta. Contra dois cavaleiros de ouro unidos, ele não seria mais páreo. Por isso resolveu deixar o seu último truque para o final. Ambos ficaram prontos esperando qual seria o próximo movimento do inimigo.

– Muito bem, eu não queria fazer isso, mas a circunstância me obriga.

– Do que está falando?

– Dan, acho que ele vai passar por uma metamorfose - explicou a amazona.

– O quê?

– Metamorfose. Uma radical transformação no corpo do indivíduo. Isso acontece raramente comigo quando quero aumentar ao máximo meus poderes e assim me transformo em Tritão. Não sei o que poderá acontecer, porém temo que ele fique bem mais forte.

– Exato. Vou ficar muito mais forte para derrotá-los rapidamente.

Isis aumentou a energia do cosmo. Uma aura alaranjada envolveu o seu corpo como um casulo. Uma forte ventania tomou conta, o cosmo em forma de casulo se desfez e dele apareceu um personagem bem diferente de antes.

– Agora sim estou pronto para dar continuidade à nossa luta - Isis ficou completamente diferente. Trajava uma armadura metade branca e metade rosa; não usava nenhum elmo, deixando à mostra o cabelo loiro curto. Utilizava um bastão do seu tamanho.

Dan e Sereia foram na direção dele.

Continua...