A Última Filha escrita por Ariane Rosa


Capítulo 5
Capítulo Cinco




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Aquela sombra deu num beco que eu conhecia, era perto de casa.

Quando cheguei em casa, Olga e John estavam na cozinha sussurrando algo, mas não sei o que era.

John estava sentado na cadeira enquanto Olga fazia o jantar.

Eles pararam e me olharam com um sorriso, quer dizer, Olga, John me olhava um pouco irritado.

Eu sorri para os dois e perguntei:

– Perdi alguma coisa?

– Olha Haide...

– Não. – Olga o interrompeu.

– Ei. Eu vou dizer. – John lhe disse sério.

Ele voltou a me olhar nos olhos e disse:

– Eu estou de olho em você.

Eu o encarei sem entender nada com um meio sorriso e perguntei:

– Sério. O que eu perdi?

– Um garoto ligou aqui. – Olga disse com um sorriso.

Minha expressão se transformou em choque.

Meus olhos se arregalaram e eu arfei:

– O que?

Olga me encarou assustada e então eu continuei:

– Quer dizer, ham? – Eu não consegui formular nada.

John me olhou desconfiado e perguntou:

– Acho que você não esperava por isso, não é?

– É... aham... – Eu gaguejei.

– Certo. Haide, não tem nenhum problema um garoto ter ligado para você. Ninguém liga, foi bom saber que você tem um amigo. – Olga me disse séria.

– Ou um namorado. – John murmurou.

Eu o olhei irritada e disse:

– Ele não é meu namorado.

– Quem disse namorado? – John me perguntou como se não soubesse nada.

Eu revirei os olhos e perguntei:
– Posso subir e me trocar?

– Pode querida. Mas seja rápida, o jantar está quase pronto. – Olga me disse.

– Certo. – Eu lhe disse.

– Eu estou de olho em você. – John disse fazendo um gesto com os dedos de seus olhos para os meus.

Eu sorri para ele e me virei.

...

No outro dia eu o achei no seu armário, ele não me viu chegar.

Eu o peguei pela jaqueta violentamente e puxei para a uma das salas que estava aberta e vazia. Eu o joguei lá dentro e tranquei a porta.

Quando me virei para encará-lo, ele me olhava assustado.

– Tudo bem? – Ele perguntou com a voz falhando.

– Não. – Eu respondi rudemente.

Eu coloquei as mãos na cintura e continuei o encarando. Ele deu dois passos em minha direção e perguntou:

– Certo. O que eu fiz?

– Que tal ter me ligado ontem? – Eu lhe perguntei.

Ele me olhou entendendo tudo e então eu continuei:

– Como descobriu meu número?

– Eu fui à secretaria.

– E eles te deixaram entrar? – Eu perguntei irritada.

– Não havia ninguém lá.

Eu respirei fundo e ele continuou:

– E não me pergunte como eu entrei lá, não revelo segredos.

Eu o olhei mais irritada e perguntei:

– Por que me ligou?

– Eu queria saber se você ia aparecer na festa. – Ele disse docemente.

Eu fechei os olhos por um breve momento e me lembrei de que tinha que ir a festa ontem à noite. Eu o olhei e disse:

– Me esqueci completamente.

– É, deu pra ver. – Ele disse com um sorriso envergonhado.

– Bom, não importa. Haverá outras festas, eu acho. – Eu lhe disse.

Ele riu e disse:

– É talvez. E, só pra esclarecer, você tem uma pegada muito boa.

Eu ri e disse:

– Desculpa ter te pegado daquele jeito.

– Não. Tudo bem. Só não faça de novo. – Ele disse sério.

Eu balancei a cabeça positivamente com um sorriso.

...

Depois da escola Noah me convidou para dar um passeio com ele pelas ruas de Nova York, eu poderia ter recusado, mas...

– Você vive com seus pais? – Eu lhe perguntei dando um gole no café quente que ele havia me comprado.

Ele suspirou e disse:

– Na verdade, com meus avós, meus pais morreram num acidente de carro.

Eu o olhei triste e disse:

– Sinto muito.

Ele deu de ombros e disse:

– Já faz um tempo. Nem me lembro mais deles. Mas e você? Vive com seus pais? – Ele quis saber.

Eu suspirei e disse:

– Bom, quase. Eu sou adotada.

– É um casal? – Ele quis saber.

– É. A Olga não pode ter filhos, então me adotou quando eu tinha sete anos.

– Isso, quer dizer, que você nunca conheceu sua família, não é? – Ele perguntou.

– Não. – Eu menti.

– Deve ser horrível, não saber suas origens. – Ele murmurou para si mesmo.

– Ah, não é. – Eu disse ironicamente.

Ele me olhou e disse:

– Tem certeza? Porque eu gosto de saber sobre de onde eu vim.

– Eu não. Nós todos temos um passado negro, e eu gostaria de não ter descoberto.

Ele parou de andar e me olhou. Eu parei uns metros à frente e me virei.

– Então, quer dizer, que você sabe de sua origem? – Ele me perguntou sério.

Eu o encarei me sentindo arrependida de ter dito aquilo. Eu suspirei e disse:

– Sei. Mas não quero falar sobre isso.

– Por quê?

Eu lhe mandei um olhar mortal, então ele revirou os olhos e voltou a andar.

Nenhum de nós se falou mais até chegar ao meu apartamento. Ele me acompanhou enquanto subíamos as escadas, era mais ou menos uns quatro laces para chegar ao meu andar.

Eu parei em frente a minha porta, me virei e disse:

– Obrigada pelo café.

Ele sorriu pra mim e disse:

– De nada.

E então ele se inclinou e me deu um beijo na minha bochecha. Ele me olhou com um sorriso e eu com os olhos arregalados quase saltando das órbitas.

Ele sorriu ainda mais com minha expressão e disse:

– Tchau.

Eu pisquei os olhos algumas vezes e balancei a cabeça lentamente.

Ele se virou e caminhou para longe de mim, e quando ele virou no corredor para as escadas eu coloquei a mão aonde ele havia me beijado, e ali estava quente, muito quente.

Eu entrei rapidamente dentro de casa e corri para meu quarto. Quando abri a porta Gareth estava na minha cama lendo alguma das minhas revistas. Ele abaixou a revista e cantarolou:

– Maninha.

Eu o olhei sem nenhuma expressão e disse:

– Idiota.

Ele estreitou os olhos e eu o ignorei. Eu joguei a mochila ao lado da cama e fui para o espelho.

Aonde Noah havia beijado estava vermelho, pra falar a verdade, eu estava completamente vermelha, mas ali era mais intenso.

Gareth se levantou da cama, foi ao meu lado, me olhou e perguntou:

– Por que está colorida hoje?

Eu o olhei irritada pelo reflexo do espelho e disse:

– Não estou colorida.

– Não é o que parece. E o que houve aqui? – Ele perguntou apontando o dedo para meu rosto. Eu bati em seu dedo e disse:

– Nada.

– Certo, esquentadinha. – Ele disse ironicamente.

Eu revirei os olhos e murmurei:

– Idiota.

– É só isso que você sabe falar? – Ele perguntou.

– Cala a boca. – Eu disse rudemente.

– Finalmente. – Ele disse com um tom zombeteiro.

– Certo. Dá o fora. – Eu disse apontando para a janela.

Ele me olhou mal-humorado, mas não retrucou. Quando ele saiu, eu me joguei na cama e fiquei pensando naquele beijo. Não foi grande coisa, mas foi o mais perto que eu cheguei de um beijo de verdade.

Eu nunca tive amigos, e, de repente, agora eu tenho um amigo. E então eu percebi que salvar o Noah foi à coisa mais inteligente que eu já fiz.


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