Welcome To Hell escrita por Raquel Alle


Capítulo 2
Um.


Notas iniciais do capítulo

Primeiro capitulo, espero que gostem do desenrolar da historia. Muito Obrigada pelos comentários, de coração! Boa leitura.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/316968/chapter/2

Dez ou nove anos depois.

Observo a paisagem triste através da janela. Já é noite. Os homens imundos se foram. E só resta a mim nesse quarto, que cheira a sexo e drogas. Trago mais um pouco do cigarro, e tento com meus vícios esquecer a vida que levo. Eu posso tomar cem banhos, mas os odores dos corpos suados estão grudados em minha pele, entrando por minhas entranhas. O sêmen desses homens inúteis e infelizes como eu, tenta se apoderar de meu útero infértil. Os sons nojentos que eles fazem quando me usam, como o objeto descartável que sou, se tornam pesadelos insuportáveis. Mais nicotina. Mais heroína. Mais tranqüilizantes. E o tanto de comida necessária, somente para sobreviver nesses dias vazios. Desculpe-me mamãe, destruí todos os sonhos que um dia sonhou pra mim. Desculpe-me por não ser a mulher que a senhora queria que eu fosse. Sou um lixo mamãe. A escória dessa sociedade hipócrita. Sou um objeto agora, nas mãos desses homens sujos, que tentam satisfazer suas almas perdidas com minutos efêmeros de prazer que eu posso os oferecer.

Eu tenho um preço agora mamãe. Quem me quiser que pague o tanto que eu custo, o tanto que eu cobro. Está tudo tão difícil agora. Nunca foi fácil. Mas ter que agüentá-los... Todos esses homens que ai fora se fazem de santos. Para suas mulheres. Para seus filhos. Para seus amigos. Mas são uns sádicos. Uns imbecis de terno e gravata, que se acham donos do mundo. Que se acham meus donos por algumas horas. Aqui dentro mamãe, eles mostram quem realmente são, não há segredos entre essas paredes encardidas. Alguém bate na porta. Um cliente acaba de chegar, vou fazer meu trabalho agora mamãe. Fingir mais um orgasmo, para esses idiotas barrigudos, com seus carrões, e suas roupas de marca, só pra se sentirem os fodões ao menos uma vez. Não é pra isso que pagam?

                                                                 ...

Edward só queria uma noite de sono tranqüila. Mas ele nunca parava. Quase não atendia ao telefone. Quase. Mas ele não conseguiria. Amava o que fazia. Era um bom policial, e se precisavam dele, estaria pronto.

- Edward Masen.

- Masen, desculpe o incomodo essa hora da noite, é o policial Halle. – Edward revirou os olhos.

- Jasper seu filho de uma cadela, fale logo o quer.

- Hey não fale mal de dona Sarah. Mas voltando ao principal. O departamento de drogas e prostituição de menores falou para darmos uma olhadinha em um motel barato. Cara a gente pode estar perto do chefão. É pra lá que ele manda suas prostitutas. Quase dois anos de investigação e estamos chegando perto.

- Foi o John que conseguiu essa informação?

- Foi sim. Ele conseguiu depois de quase três meses disfarçado. Ele disse que lá é barra pesada. – Edward riu ironicamente.

- Conte-me algo que eu não saiba Jasper. Chame o Emmett para ir à frente com a gente. Encontramo-nos na frente do departamento. – Ele não esperou seu cunhado desligar para encerrar a ligação. Ainda se arrependia de ter o apresentado a sua irmã.

Arrumou-se rapidamente. Saiu de seu apartamento. E entrou em seu volvo. Eram duas horas da manhã, viu no painel do carro, quase não havia dormido. Enquanto dirigia, lembrou-se que amanhã era aniversário de seu padrasto, e que se não comparece em mais uma festa de família Rosálie e Alice o matariam. Mas sua vida andava tão corrida e desorganizada, com essas investigações e tudo mais. Ele tinha responsabilidades com FBI. Sua vida era essa. O caminho que escolheu. O mesmo caminho que havia matado seu pai. Edward daria orgulho a ele, onde quer que Anthony esteja agora.

Essa investigação já estava durando tempo demais. Era para ser simples. A pólicia estadual já tinha que ter terminado com essa nova máfia da cidade que comandava o tráfico de drogas, só que quanto mais eles iam ao fundo, mais descobriam que nada naquilo era simples. Na verdade tudo era muito bem elaborado, e o caso logo foi passado para o FBI. Pelo que constava essa era uma nova organização, que ia muito além do trafico de drogas: Prostituição e tráfico de mulheres e menores estavam inclusos no pacote. E uma só mente comandava tudo. O único problema é que ninguém conseguiu descobrir quem. Então nós tomamos o caso e eu fui encarregado de liderar essa operação. Operação Welcometohell.

Cheguei ao prédio da FBI e encontrei Jasper Halle e Emmett McCartney já me esperando. Já com nossas roupas, coletes e bem armados fomos em direção ao motel. Não precisávamos de muita gente, iríamos ser discretos ao máximo. Pelo que o Halle me falou, era uma única prostituta que ficava lá. A principal do líder do grupo. Essa informação era extremamente sigilosa, demorou muito tempo para descobri-la. E com essa garota em mãos ficava muito mais fácil descobrir o chefão.

Era um bairro sujo e pobre. Mendigos na calçada. Prédios acabados. As luzes dos postes piscavam. Parecia até um pouco abandonado. Saímos do carro e entramos na espelunca que chamavam de motel. Passar pela recepção foi fácil. Abordamos o recepcionista. Com muita gentileza como sempre, principalmente quando ele não quis oferecer muitas informações.

- Olhe aqui seu filho da puta, é melhor você abrir logo essa boca. Eu não sou conhecido por ser paciente. E nosso amigo aqui – Apontei para Emmett – Não é conhecido por ser gentil. Então reformulando a frase: Abra esse portão.

- Eu não posso. – Soltei uma risada. Olhei para Emmett, e logo ele encheu a cara do infeliz de socos. Jasper estava fuçando o computador da recepção pra ver se achava algo. Não podíamos subir para os quartos porque na entrada havia um portão que só se abriria com digitais. Era por isso que tinha pouca vigilância, só poderia subir quem tivesse a digital cadastrada, e pelo que percebi esse imbecil não tinha.

- Como você prefere sua morte? – Perguntei. É claro que não iríamos matá-lo. Mas assustar fazia parte do trabalho e dar umas boas surras também. O cara se contorceu um pouco na cadeira em que estava amarrado. Eu abri a minha maleta que continha ferramentas importantes. Tirei minha faca mais afiada, sua lamina brilhou um pouco com reflexo da luz fluorescente. Ele começou a suar. – Com dor ou sem dor? – Perguntei mais uma vez.

- Olhe aqui cara, eu não posso abrir o portão, mas...mas os clientes dela tem acesso sabe? E tem um que esta para chegar, se vocês... – Ele não pôde continuar, uma Ferrari novinha tinha acabado de estacionar lá fora e um homem gordo e baixinho estava entrando e ainda não havia percebido a movimentação. Jasper foi mais rápido e logo foi até o cara. Mostrou sua identificação e o homem ainda deu um passo para traz.

- Não faça isso. Não temos pena de gente como você. – O homem olhou para Jasper e engoliu a saliva.

- Tudo... Bem... É... Eu só. – Ele começou a gaguejar e se embolou todo. Jasper foi até o seu lado e o abraçou pelos ombros.

- Nós sabemos exatamente o que veio fazer aqui. Mas antes de irmos ao ponto abra aquele portão, por favor? – O homem foi até lá e abriu. – Não gostaria de sentar um pouco? – Ele apontou para uns bancos na recepção, quando viu o garoto amarrado arregalou os olhos. – Não precisa se preocupar só vamos conversar um pouco. – Abri um sorriso sem humor. Quando Jasper era tão educado, pode ter certeza que você não sairia ileso dessa. 

- Fiquem aqui em baixo. – Olhei para Emmett e Jasper. – Façam as perguntas necessárias. – Olhei pro Halle – Sem se exceder Jasper. 

Subi as escadas de dois em dois degraus e ouvi os lamentos lá embaixo. Quando alguém não quer te dar informações você tem que tira-las a qualquer preço, não importa se essas pessoas são ricas ou pobres, se fazem coisas erradas é o mesmo tipo de gente. .  

Por mais incrível que pareça só havia um quarto. O nome meio apagado de motel na frente do prédio era pra enganar. Ao invés de arrombar a porta eu bati nela calmamente. Demorou um pouco e ouvi saltos batendo contra o piso, e a porta se abriu. Levantei minha arma e entrei no quarto, analisei a garota que recuou dois passos e abriu um sorriso de escárnio. Usava salto alto, um vestido vermelho grudado no corpo. Ela tinha curvas não poderia negar, mas estava magra, sua maquiagem era forte seu batom vermelho e quase não percebi que seus olhos eram uma cor estranha de verde meio apagada, seus cabelos eram loiros até a cintura, dava pra perceber que era tintura, a raiz estava nascendo castanha. Era uma imagem deplorável. E se tornou tão triste aos meus olhos. Eu podia enxergar uma placa enorme em sua testa dizendo: Salve-me.

- Olha o que temos aqui. Um policial. Há muito tempo não vejo um. – Ela riu. Uma risada seca. Sem vida. – Pra você é mais caro.

- Como é seu nome? – Ela se aproximou. Eu abaixei a arma, não me sentia a ameaçado por aquela criatura. Eu quase esperava que ela fosse se quebrar, com a aparência frágil que tinha.

- Pensei que fossemos logo para os finalmente, não ficar de conversinha.

- Sem brincadeiras. Por favor. – Ela continuava com um sorriso estranho nos lábios.

- Meu nome é Bianca. Sei que vai pedir a identidade. – Ela se virou e foi até a escrivaninha. Aproveitei para observar o lugar. Era sujo. Paredes que um dia forma brancas estavam agora totalmente encardidas. A cama era grande pelo menos e parecia confortável, percebi que havia um corredor do outro lado. E uma porta em outra parede estava aberta, era um banheiro.

- O que tem para lá? – Ela se virou e viu para onde eu apontava.

- Cozinha e uma mini sala. E antes que pergunte eu moro aqui. – Ela veio até mim e trouxe a identidade. Nela dizia que ela tinha 21 e seu nome era Bianca Mallory, pais desconhecidos. Olhei para seu rosto mais de perto. Ela não tinha 21. E seu nome não era aquele.

- Qual é seu nome de verdade? – Ela sentou na cama e ficou olhando pro teto. – Não me venha com essas mentiras. Eu sei quando metem e quando falam a verdade. Se você colaborar, eu te ajudarei, tudo bem? – Ela riu.

- Ninguém pode me ajudar. – A olhei nos olhos e não vi nada. Nada. Ela estava vazia. – Eu sei que você vai me levar com você, então porque não vamos logo?

Olhei-a. E se Alice ou Rosálie estivesse ali, no lugar dela, o que eu faria? Uma onda de compaixão por aquela garota que não se chamava Bianca, e era infeliz, começou a crescer dentro de mim.

                                                                ...

Fomos para o centro de Inteligência do FBI levamos os três é claro. Essa noite seria uma noite difícil com vários interrogatórios.  O recepcionista se chamava Sam Burke ele não sabia de muita coisa só que todas as noites diferentes caras entravam por aquela porta, todos muito ricos, o contrato que ele fez com o dono daquilo, tinha sido passado por um dos capangas dele e só durariam três meses. E o chefão, como Sam o chamava, nunca havia ido lá. Tudo parecia ser bastante calculado.

Do ricaço que se chamava Joshep Hertmort conseguimos mais algumas importantes informações. Os homens que iam vê-la já tinham a digital no sistema, como se houvesse um computador maior que ligasse tudo aquilo, e suas digitais só ficavam gravadas por um dia. Se quisesse mais alguma vez pagariam muito mais caro. Ele disse que nunca viu o rosto do chefão, só conversava por telefone e mais uma vez um de seus homens pegava suas informações. E quando perguntado como ele havia descoberto da prostituta, ele falou que um amigo tinha lhe falado, e tudo continuava em completo sigilo.

Sempre era assim. Andando em círculos. Pegávamos alguém, que trabalhava pra ele ou qualquer coisa relacionada mais ninguém nunca o viu, e os nomes nunca batiam um com outro. Esse cara não deixava rastros, mas causava bastante problema. Seu apelido por aqui é Sr. invisible. Nada mais apropriado. Mas agora pegamos alguém que com toda certeza o conhecia. Talvez dessa vez fosse diferente.  Passei pelo corredor em direção à sala que Bianca estava. Sala de interrogatórios. Parei em frente ao vidro espelhado, ela não podia me ver, mas eu podia vê-la completamente. Sua maquiagem estava um pouco borrada, e ela olhava diretamente em minha direção, como se soubesse que eu estava ali a observando. Charlie Shen parou ao meu lado. É o policial mais velho da corporação e de cargo mais importante.

- Será que conseguimos tirar algo dela? – O olhei, ele era um pouco mais baixo que eu. Usava terno e gravata, como muito dos homens que trabalhavam aqui.

- Vamos ver - Me encaminhei até a porta da sala e entrei. – Então Bianca Mallory, já descobrimos que sua identidade é falsa, não quer me falar seu nome verdadeiro? – Ela me olhou desafiadora.

- Se eu falar que não, você vai desistir?

- Você sabe que não. Existem meios um pouco mais difíceis de fazer você falar, você também sabe disso. – Me sentei na cadeira e a encarei. Depois de algum tempo, ela falou.

- Bella.

- Só Bella? – Perguntei levantando uma sobrancelha.

- Bella  Lefèvre

- Então Bella, quantos anos você realmente tem?

- Dezesseis ou dezessete. – Ela não sabia a idade que tinha?

- Você não sabe quando nasceu? – Ela revirou os olhos.

- Parece que não. – Suspirei. Era melhor chegar logo ao ponto.

- Para quem você trabalha? – Ela riu. Riu secamente, não era uma risada de verdade, aos meus ouvidos parecia mais um grito de desespero.

- Vocês nunca vão achá-lo. Não adiantam todas essas investigações. Não adianta nada. Ele pode ser o quiser entende? Ele pode estar entre os caras mais ricos do mundo, desfilar em Paris, estar em festas cheias dessas pessoas ricas e nojentas, e ele pode estar em bordel imundo. Não tem como encontrá-lo.

- Mas você sabe quem ele é. – Não foi uma pergunta.

- Claro que eu sei.

- Então fale. Nós te protegeremos.

- Nós cuidamos de você. Nós não te deixaremos. Quantas vezes mais vou ter que ouvir isso? Ele sempre me acha. Não adianta fugir, se esconder, trocar o nome, pintar o cabelo. Ele me encontra aonde quer que eu vá. Você acha que eu estou a onde estou, porque eu quero? Você não sabe o que é inferno. Você não o conhece como eu. Eu não vou falar nada. – Pensei em como o nome da operação dizia muito da vida daquela garota: Welcome to hell – Bem-vinda ao inferno.

Até tentei fazer mais perguntas. Mas Bella continuava calada e apática.

- Você vai ter que passar a noite aqui. É crime, falsidade ideológica. Mas eu queria muito que você pensasse um pouco Bella. Não sei pelo que passou. Ou que ouviu por ai, mas se você não nos contar sua historia nós não poderemos fazer nada por você.

Sai da sala com a imagem de seus olhos sem vida em minha mente. Pressenti que não conseguiria esquece-la fácilmente.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Desculpem os erros de português! Iai gostaram? Comemeeeeente. Beijoooos.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Welcome To Hell" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.