E choveu mesmo, assim como Logan havia previsto. 

 Choveu muito. 

 Choveu tanto que quando Lauren May, sua mãe, ligava a televisão, tudo que passava nos noticiários da região era sobre a tempestade, as árvores derrubadas, os carros atolados em meio às enchentes, os raios e os trovões e as aulas canceladas ( mas essa era uma parte que Logan não achava tão ruim, afinal ). 

 Logan até que gostava de chuvas. Quando era pequeno, gostava de olhar a chuva ( ou a neve ) da janela do seu quarto, em Minnesotta. 

 Em uma madrugada, particulamente muito chuvosa e muito fria, Logan se revirou na cama das 2:00 às 3:00 da manhã,  abrindo e fechando os olhos o tempo todo, tentando esvaziar a mente, tentando pensar em coisas tranquilas e se levantou por fim, percebendo que não conseguiria dormir de jeito nenhum. 

 Foi ao banheiro lavar o rosto e deixou que a água gelada da madrugada corresse através de seus olhos. 

 Abriu seus olhos para encarar a si mesmo no espelho. Examinou sua aparência, que não era muito boa às três da madrugada. 

 Seu cabelo despenteado e os respingos de sardas no seu nariz davam a ele um toque meio selvagem, mas muito bonito. 

 Estava considerando se deveria ir para o seu quarto e assistir a quaquer coisa ou se deveria tentar ler algum livro.  Mas Lauren May não tinha muitos livros bons. 

 Então Logan viu aquele par de olhos verdes o encarando. 

 Os olhos de Logan eram negros, assim como seu cabelo. Mas os olhos que o fitavam no espelho não eram seus.  

 Logan congelou instantaneamente e ficou sem reação. 

 Bem atrás de si, recostada nos armários onde Lauren May guardava suas maquiagens e xampus, havia  uma figura pálida enfiada em uma camisola rasgada e desbotada. Seus olhos eram finos como os de um gato. Dava para ver por baixo da franja negra e despenteada que caía por sua testa, por entre a luz oscilante que iluminava o banheiro. 

 Logan sentiu um calafrio percorrer seu corpo inteiro enquanto a garota sorria para ele através do espelho.  Se aproximava devagar e nem o barulho das chuvas abafavam o som de seus passos molhados no banheiro. 

 Ele só poderia estar sonhando. Na verdade, aquilo era um pesadelo. 

 Ela virou a cabeça de lado e parecia que ia partir o pescoço.  

 O mesmo sorriso insano. Os olhos verdes e finos. A pele branca como a de um cadáver. Os cabelos negros como a noite. 

 E de repente, Logan não viu mais nada. As luzes do banheiro se apagaram com um clarão. 

 Claro, a opção mais provável seria que fosse uma queda de energia súbita causada pelas fortes chuvas.  Porém, mais parecia que a presença da garota havia submetido o lugar à penumbra.  Logan queria gritar, queria correr. Mas nenhuma parte do seu corpo parecia querer lhe obedecer. 

 Afinal, o que estava acontecendo? 

 Sentiu quando a mão pálida da menina se enroscou em seu pescoço, apertando-o e rasgando sua pele com as unhas afiadas.  

 Parece que a dor ativou os sentidos do menino, porque Logan gritou. Gritou como nunca havia gritado antes. Sua voz exibia puro pânico. 

 Mas a criatura gritou junto, empoleirada em seu pescoço. E era como se muitas pessoas roucas gritassem juntas, muitas vozes, todas igualmente ensurdecedoras. 

 Era quase demoníaco. Era quase insuportável. 

 Logan estava sem ar e tentava em vão se livrar das mãos que lentamente o estrangulavam. 

  A única coisa que viu antes de desmaiar foi o rosto apavorado de Lauren May abrindo a porta do banheiro e estendendo os braços em sua direção. 

••• 

 - Logan, não havia menina nenhuma, pare de falar besteiras. Oh, meu Deus, você está queimando de febre! Vamos, tome isso... Não faça essa cara! Abra logo essa boca! Mas afinal, o que você fazia acordado às três da manhã? Você é maluco, menino, estou dizendo... 

 Mas Logan não escutava metade das palavras apressadas de Lauren May.  Não queria ouvi-la. Mas por outro lado, estava aliviado por sua presença, pois não queria ficar sozinho. 

 Sabia que não entraria naquele banheiro nunca mais em sua vida. Era covardia, realmente, mas que se dane! Não iria entrar e pronto! 

 - Eu já liguei para o seu pai e ele disse que vai vir aqui te levar para um médico... 

 - Eu estou bem, Lauren May. - Logan nunca chamava sua mãe de mãe, mas ela nunca pareceu se importar. 

 - Não seja teimoso, moleque! Você desmaiou e bateu a cabeça na pia com força, pode até ter tido uma lesão na cabeça, sabe como isso é grave? 

 Logan desejou mesmo ter outro desmaio ali mesmo, só para não ouvir as reclamações de sua mãe. 

 Só queria que ela não contasse á ninguém. Desmaiar no banheiro e bater a cabeça na pia soava tão ridículo. E ninguém acreditaria na história do demônio fantasiado de menininha fantasmagórica. Nem mesmo Jane. 

 Só ouviu sua Lauren May falar sobre algum novo menino na casa ao lado e sobre dar as boas vindas à tarde, antes de atender a porta e entrar no carro com seu pai á caminho do hospital. 

 Logan não mencionou nada sobre a menina nas conversas com seu pai. 

 Ele não acreditaria. 

 Afinal, será que alguém acreditaria? Ele próprio já estava começando a duvidar.