As luzes ligavam e desligava, a porta abria e fechava. Luc segurou minha mão. A porta bateu e parou. E as luzes desligaram. Tudo ficou em silencio de novo.

- Estão falando a verdade? – disse Victor. Ele estava sentado ao nosso lado. Os olhos negros procurando a respostas.

Luc se afastou com o susto.

- Desculpa. – disse ele sorrindo .

- Ta... Ta... Ta bom.

Ele sorriu em resposta e me olhou.

- E verdade Ricardo? Vocês vão me ajudar a sair daqui?

Sorri:- Sim.

- Obrigada. Eu não consigo sair daqui. Nem eu nem a Celina. A gente não acha nossas irmãs. A Celina esta aqui. Eu sinto a presença dela. Mas também não a vejo.

- Victor... O que aconteceu no dia da sua morte? – perguntou Luc. – Você se lembra? Talvez possa nos ajudar a encontrar elas...

Ele olhou pro chão. Passou a mão pelos seus pulsos cortados.

- Esse e o problema. Eu não lembro quem me matou. Nem onde esta meu corpo. Nem o das minhas irmãs. Apenas o da minha mãe eu vi ser recolhido daqui, não lembro o do meu pai, mas acho que vi, e os nossos foram escondidos...

- E por isso que vocês não podem sair...

Ele me olhou curioso. Lucia entendeu o que eu quis dizer.

- E exatamente o que eu pensei. A gente só pode ir embora, se a gente resolver os assuntos na terra. Que dizer então que vocês só podem ir embora daqui. Se encontramos os seus corpos. E você se lembrar do que aconteceu.

- Exatamente Luc! Victor você precisa lembrar-se do que aconteceu, de quem o matou.

- Não me lembro de muita coisa. Não me lembro do quem me matou. E não lembro de onde ele me escondeu.

- Do que você se lembra?- perguntou Luc.

-Vocês precisam ver uma coisa.

Ele tocou em nossas mãos e começamos a ver uma cena.

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Uma música dos Ramones tocava. Estava meio embaçada a imagem. Lucia estava ao meu lado e Victor também. Ele nos olhou e balançou a cabeça confirmando. Era a noite da morte dele. A visão estava melhor agora. Estávamos no quarto de Victor. Ele estava sentado na sua cama, escrevendo no diário.

- Victor?

Uma menina estava na porta do quarto. Segurando a mão de duas outras meninas, provavelmente de sete anos. As irmãs dele. A mais velha  tinha o cabelo preto batendo acima do cotovelo. Usava uma blusa branca, e uma calça jeans e um All Star surrado. As gêmeas. Tinham um cabelo loiro e curto. Usavam vestidos iguais, um da cor azul e outro verde claro. Eram lindas. Victor usava a mesma roupa de agora. Camiseta preta, calça jeans e All Star. Colocou o diário debaixo do travesseiro, e disse:

- Meninas, o que querem?

- A mamãe esta chamando pro jantar Victor. - disse a de vestido azul.

- Ata vestido bonito Sarah, azul e lindo.

- O meu também né?

Ele riu. :- E sim Kamila. Estão todas lindas. Claro, são minhas irmãs...

- Ate parece. - disse Celina. – Vamos logo eu to com fome.

- Diz pra mãe que eu não quero comer agora.

- Ta bom. - disse Celina com um sorriso- mais comida pra mim.

- Rá-rá.

As menores desceram na frente, e Celina foi atrás. Victor sorriu ao vê-las ir. Mudou a musica do som. Agora tocava Nirvana – Smells Like Teen Spirit. Ele fingia uma guitarra imaginaria. Sorri ao ver a cena. Ele estava feliz. E mal podia saber o que ia acontecer...

La embaixo um barulho. Pratos e copos quebrando. Gritos. E de repente silencio. Victor olha pra porta e vai indo devagar ao corredor.

- Esta tudo bem ai?

Algo vem em direção ao corredor, algo não. Alguém. Não tem como ver a pessoa, ela vai em direção ao Victor. Ele tenta correr, mas o homem pega os braços dele.

- Me solta, o que você fez?

Victor tenta se soltar, mais não consegue. Entao chuta o homem no estomago, que se curva de dor. Aproveitando a fraqueza, ele corre pro quarto, mais o homem e mais rápido. Pega Victor, pelo braço e o machuca. O homem o joga na grade da escada, Victor cai deitado com as mãos no estomago.

- Você queria se matar não e? – disse o homem, mal da pra entender o que ele diz. –Seu desejo será realizado. Você vai morrer.

O homem chega perto de Victor, que tenta fugir, mas esta fraco demais pra andar. O homem puxa os braços dele.

- Por favor, me deixa ir, cadê minhas irmãs?- a voz de Victor estava fraca.

O homem pega uma faca, e corta os pulsos de Victor. Ele grita de dor. O sangue dele jorra, mas ele e forte ainda se mantém acordado. Da um leve sorriso e diz:

- Já tentei me matar antes. Eu não morro tão fácil.

O homem ri alto.

- A é?

Dessa vez ele pega a faca e enfia no estomago de Victor. Outro grito de dor. Não havia me dado conta de que Luc e Victor ainda estavam ao meu lado. Luc tampava a boca pra impedir um grito. Lagrimas corriam pelo seu rosto. Olhei de volta pra cena. Victor chorava.

- Por quê?- sua voz mais fraca.

Dessa vez o homem não respondeu. Apenas levantou a faca ensangüentada. E mais uma vez feriu ele, dessa vez com um corte no pescoço. Cessando os gritos de Victor. O homem se levantou e desceu as escadas. Victor estava deitado no chão do corredor. Uma poça de sangue embaixo do corpo, braços abertos. Os cortes no pulso eram profundos. A blusa estava também muito suja de sangue, a pele branca ficando mais suja também. Então eu percebi que os olhos dele não eram negros e sim verdes. Verde claro. Ele ainda respirava, bem pouco, quase parando. O corte no pescoço ainda jorrava sangue. E ao som de Lithium do Nirvana. Victor se foi. Sua dor parou.

O homem subiu as escadas novamente e pegou o corpo dele. E enquanto descia as escadas, ele deixava uma trilha de sangue...

--

E de repente. Estávamos de volta ao quarto do Victor. Lucia havia parado de chorar. Estava mais branca que o normal.

- Foi assim que eu morri.

- Eu sinto muito... - disse Luc. A voz tremula.

- Você se lembra de muita coisa Victor. Coisa o suficiente pra descobrirmos o que aconteceu.

- Espero que sim, eu quero muito sair daqui.

- Mas o homem parecia te conhecer, que dizer. Ele sabia que você queria morrer...- disse Luc.

- Todos sabiam que eu queria morrer- disse ele sorrindo, mas a voz com tom de amargura. - Só estava vivo pelas minhas irmãs, pra cuidar delas, mas nem pra isso eu servi. Elas morreram, e eu também.

- Vocês vão sair daqui. E vão poder reencontrar seus pais. –disse sorrindo.

- Vai sim. –completou Luc com um sorriso.

Ele sorriu também: - Eu já disse muito obrigado?

- Já. Você disse que a Celina esta aqui também. Vamos tentar encontrá-la não?

- Mas não faço idéia de que lugar ela pode estar...

- Que lugar ela gostava de ficar? – perguntou Luc.

- La fora, perto do balanço. Ou na cozinha com minha mãe. Sim a cozinha! A minha mãe estava lhe ensinando a fazer bolos. – ele se levantou. – Ela tinha começado a namorar, e queria fazer algo pra ele. Minha mãe disse que bolo poderia ser algo legal.                                        

- Vamos pra cozinha então!