A Rosa Negra escrita por MCAL


Capítulo 4
Capítulo 4 - Esperanças pra 89




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Chegamos em casa e fomos almoçar uma lasanha que nossa mãe tinha deixado pra esquentar. Subi e fui me trocar, peguei uma camiseta preta com estampa do Edward Mãos de Tesoura e tirei o tênis, quando desci Luc já havia se trocado, estava usando uma bermuda e uma camiseta do Led Zeppelin. Estava começando a arrumar as coisas pra mesa, pegou os pratos e colocou na mesa, pegou a forma da lasanha e depois uma Coca na geladeira. Me viu chegando e disse:

– Eu peguei uma coisa... La da casa.

Sentamos, olhei pra ela curioso e disse:

– O que?

– O diário... Pode ser que nos ajude- pegou sua mochila que estava na cadeira e tirou o caderno preto - Eu comecei a ler à primeira pagina. Não vi muita coisa ainda...

– Me deixa ver.

Luc me entregou o diário e eu abri, na primeira pagina tinha coisas sobre ele.

– Hãn... Eu vou ler ele hoje de tarde. – olhei pro relógio, ainda era 12h00min- E amanha de tarde a gente podia tentar falar com ele de novo. Talvez ele possa nos ajudar. Acho que e melhor descobrirmos quem os matou e o porquê, e depois a gente... A gente procura os corpos.

Luc pegou uma garfada da lasanha e disse:

– Acho que a Celina, também esta perdida, como o Victor, talvez a gente pudesse tentar falar com ela também...

– E mesmo. - mordi um pedaço da lasanha, estava realmente muito boa- talvez ela também tivesse um diário, como o Victor.

Lucia sorriu, revirou a mochila e pegou uma agenda e colocou na minha frente. E disse:

– Pelo visto os dois tinham o habito de escrever em um diário.

– Onde...?

– No quarto dela, eu corri e procurei alguma coisa, achei essa agenda e pensei que podia ser um diário. E bem... Eu estava certa. E o diário dela. – disse ela dando de ombros e pegando outro pedaço de lasanha.

Sorri e disse:

– Você e demais.

– E eu sei- disse ela sorrindo, suspirou e continuei- eu só não me conformo... Por que alguém os mataria assim? Que dizer... Você viu as marcas no pescoço dele? Era horrível, meu Deus as pessoas são cruéis.

– Eu sei, eu vi também, e tinha nos braços também... Talvez eles quisessem fazer parecer suicídio, e não funcionou, então cortaram a garganta dele...

– Rick às vezes você consegue me assustar...

– Desculpa.

Terminamos de almoçar e fomos lavar a louça, e depois arrumamos a casa inteira. Subi com minha mochila pro meu quarto. Coloquei em uma cadeira e me joguei na cama. E como hoje mais cedo, olhei pro teto, talvez apenas querendo respostas, o que era impossível. Fiquei pensando na casa, no jardim, na foto deles juntos. Eles não deveriam ter morrido assim, de um jeito tão cruel. Acho que a policia não fez nada, apenas recolheu os corpos, e nem foi todos...

Era estranho ter visto um fantasma, ele não era do tipo com lençol nem nada. Era uma pessoa, uma pessoa comum. Exceto pelos olhos negros. E a pele extremamente branca, tão branca que chegava a ser cinza. Eles pareciam ser felizes. Quem poderia fazer mal a alguém? Como puderam matar uma família inteira a sangue frio? Quatro crianças. Mortas a sangue frio. E realmente horrível. Fechei os olhos por um segundo, e me veio à mente o pedido angustiado de Victor. Balancei a cabeça e me sentei na cama. Suspirei e peguei o diário. Abri e sentei na cadeira da escrivaninha.


5 de fevereiro de 1989

Meu nome? Victor Hugo. 15 anos. Feliz? Acho que sim, tenho irmãs maravilhosas, minha mãe e muito boa, e meu pai... Bom eu gosto dele. Gosto de rock, dos Estados Unidos principalmente, e acho que só não sei mais nada de interessante sobre mim... Ae! Eu aprendi a tocar violão. Começo de 1989, esse ano parece ser um ano bom. Então resolvi comprar esse caderno, pra anotar as coisas boas que vão acontecer. Bom, outro motivo desse diário? Não sei, talvez seja pra desabafar ou algo do tipo. Eu não só o tipo de garoto que costuma falar o que sente. Não falo que estou triste... Eu sorrio e digo que estou bem. Não quero preocupar as pessoas comigo.

Ano passado não foi um ano muito bom, não fiz muitos amigos, apanhei, a garota que eu gosto não mora mais aqui, meu pai e minha mãe brigaram muito e quase se separaram, minha irmã Celina adoeceu e ficou um tempo no hospital (mas agora esta bem) e mais uma serie de coisas. Talvez não fosse pra ser o ano mais legal do mundo. Mas eu tenho uma boa impressão sobre esse ano. Na verdade eu não sei se e boa impressão, apenas uma impressão. Eu realmente espero que esse ano de certo...

Victor




Ele tinha uma sensação, e achava que era boa, senti um arrepio correr pelas costas ao pensar em como ele haveria morrido. Lucia bateu na porta.

– Rick? Começou a ler o diário?

Suspirei e disse:

– Entra. - ela entrou e se sentou no chão ao lado da cama, me levantei da cadeira e fui sentar ao lado dela- Sim, eu comecei. Li apenas a primeira pagina, ele escreveu que tinha uma boa sensação sobre o ano de 89. Que seria melhor que 88...

– Eu comecei a ler também o diário dela. - ela olhou pra capa do diário e olhou pra mim de novo com um sorriso de amargura- ela estava se apaixonando. Ela achava que ia ser feliz, pra sempre, como em um conto de fadas.

Luc abaixou a cabeça e fitou a capa do diário, ela estava se segurando pra não chorar. Olhei pro relógio. Eram apenas 14h00min.

O meu celular começa a tocar Smells Like Teen Spirit. Olhei o visor. Era nossa mãe.

– Fala mãe.

– Filho? Já chegou da escola...

Revirei os olhos.

– Mãe são duas horas da tarde... E claro que eu já voltei da escola.

Luc riu.

– Olha boca garoto- suspirou e continuou- Querido eu e seu pai fomos viajar.

– VIAJAR? – gritei surpreso.

– E a chefe pediu pra irmos a São Paulo ver uns papéis. Bom eu deixei a comida pronta na geladeira se vocês perceberam, tem o nome de cada dia da semana. A gente volta no sábado ta?

– Mas mãe e terça feira. Essa mulher não podia ter avisado não?

– Eu sei querido. Desculpe. Nós amamos muito vocês, voltaremos no sábado. Sem bagunça, de casa pra escola da escola pra casa ouviu bem? Tchau

– Sim mãe, tchau.

– Não vai dizer eu te amo? – disse sorrindo.

– Eu te amo... - resmunguei.

– Também rabugento, manda um beijo pra Luc.

Desliguei o telofone. E olhei pra Luc.

– O que foi? – Lucia perguntou curiosa.

– Eles vão viajar...

– Mas o que?

– E eu sei. Voltam no sábado não se preocupe.

– Já to acostumada, já e a terceira maldita vez que eles fazem isso.

– Eu sei, e uma sacanagem. Mas o que a gente pode fazer?

– Eles nunca estão do nosso lado Rick. Isso e injusto!

– Deixa isso quieto Luc.

– E eu sempre deixo...

Lucia odiava que nossos pais não eram presentes. Ela podia não admitir mais eu sei que ela chora às vezes. Eu também me sentia mal. Mas já me acostumei com isso.

– Eu sempre vou estar ao seu lado. – disse sorrindo de leve.

Ela me olhou e sorriu também.

– Eu sei, eu também vou estar.

– Luc? Vamo na casa deles?

Lucia sorriu e disse:

– Só se for agora.

Nós levantamos. Eu fui calçar um All Star preto enquanto Luc foi pegar algo no quarto dela. Me calcei, peguei meu celular e olhei pro diário. Suspirei e o peguei também. Desci e Lucia já estava na sala com uma mochila. Também calçou um All Star e estava com uma mochila na mão.

– Pra que isso? – disse apontando a mochila, desci rápido pousando ao lado dela.

– Bom talvez a gente precise de algo. Tem água, comida, meu celular, o diário da Celina, uma lanterna, bom... Eu acho que só isso ta bom.

Eu ri.

– Fala serio?

– Bom... Se prevenir não custa nada.

Dei de ombros e respondi.

– E pode ser que sim. Vamo logo. Aproveitar que não tem muita gente na rua.

– A gente tem que tomar cuidado na hora de voltar.

– Com certeza, mas ninguém passa perto da casa. Na verdade ninguém liga pra lá.

– Nem mesmo em 89 quando a família inteira foi morta... Bom e melhor a gente ir.

Dava pra ver que Lucia realmente estava abalada, e eu tinha certeza que estava abalada com isso. Saímos de casa e fomos indo à casa do horror. Pra nossa sorte não tinha ninguém na rua. A casa era um pouco acima da nossa, o que fez com que chegássemos rápido ate lá.

Olhei pra um lado e pro outro e subi o muro. Luc me passou a mochila e eu a joguei dentro da casa e puxei Luc pra cima do muro. Entramos na casa e passamos pelo corredor. Olhei pro jardim, as rosas estavam balançando com o vento. E parecia que o perfume subia.

– Eu sei... – disse Luc - As rosas são realmente lindas. Talvez eles ficando aqui façam com que elas fiquem assim. Lindas e chamativas.

– Talvez...

Subimos a varanda e entramos na casa, e subimos as escadas. Paramos na porta do quarto do Victor. Eu abri a porta e entrei no quarto. Me virei pra Luc. Ela respirou fundo e entrou. Sentou no chão e pegou o diário dele. Me sentei na frente dela e peguei sua mão.

– Vai dar tudo certo- sussurrei.

Ela sorri e aperta de leve minha mão.

– Victor. - chamei – Victor, eu sou Ricardo e essa e minha irmã Luc, ou melhor, Lucia. Ontem viemos aqui. E você pediu nossa ajuda.

Sem resposta. Nada.

– Victor?- disse Lucia.

Nada. Silencio total.

– Nós vamos te ajudar a achar suas irmãs, e assim vocês poderiam ir embora daqui. Eu te prometo!

E dessa vez a porta do quarto fechou. E as luzes ligaram. Era ele.



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