E lá vai Hans correndo, correndo como o vento, afinal Brendan corre muito rápido, de uma velocidade impressionante... Porém, Hans é mais esperto, ele vai escapar. E logo hoje, no meu terceiro dia á bordo, é a primeira vez que me animo a penteear o cabelo. Subo as escadas e vejo Marvin, de cabelos negros e olhos castanhos, explicando a estratégia aos outros, suponho. Fico entre Manfred (aquele garoto que não emite um só ruído sequer), e Hans, que já sorri como se dissesse "você nem imagina como eu consegui fugir". Olhei para os lados e reconheci alguns rostos, mas ainda haviam alguns homens que eu não conheci.

– E vejam só, aí está nossa isca! - exclama Marvin.

– Opa, como assim, bonitão? - isso foi uma maneira de falar, mas avistei Brendan revirar os olhos.

– É isso mesmo, senhorita, você vai distrair os piratas daquele navio - ele aponta para um navio que ainda está por vir.

– Pode me explicar melhor?

– Sem dúvida. Bom, primeiramente, você vai ter que fingir estar sendo uma vítima de Javier.

– Estarei te detendo pelas costas, - Javier fez uma pausa e fez seu sotaque espanhol, para completar a frase - preciosa.

– Tá bom, tá bom, já entendi, continue explicando, Marvin.

– E assim, vai chamar a atenção dos piratas, e durante esse período, estaremos procurando uma forma de entrar no navio sem sermos vistos. Não se preocupe, Emanuel estará por perto, caso houver algum imprevisto.

– Mas...- Olha o tamanho do Emanuel, acha que ele não vai dar conta?

– Está bem. - eu hesitei mesmo, e foi porque Emanuel é extremamente forte, e como já citei antes, sua altura e força me intimidam... Mas ele estará lá pra me ajudar, não devo me preocupar.

– Vamos lá, os vermes já estão chegando! - disse Hans.

– Não, você fica. É o mais novo. Além disso, você...

– "Você tem um papel importante, de nos dar cobertura, se não fosse por suas flechas, teríamos fracassado inúmeras vezes", eu sei, eu sei. - completou Hans, um pouco desapontado.

– Ótimo. Quem vai tomar a linha de frente?

– Eu vou. - respondeu Brendan.

– Perfeito. Diana, tente parecer uma donzela indefesa.

– Ela veio de uma família rica, ela sabe ser mimada e indefesa quando quer. - provoca Brendan.

– Pelo menos eu tenho dinheiro. - revido, fulminando com o olhar.

– Bem feito - fala um garoto loiro. Um garoto bem loiro exatamente igual ao garoto do lado. Ah! Devem ser os gêmeos.

– As moças vão continuar discutindo ou vão saquear? - disse Francesco, impaciente.

– Está certo. Homens, aos seus postos! - respondeu Marvin

.Eles se escondem em algum lugar, á espera da hora certa. Javier amarra meus braços pelas minhas costas, e sussurra:

– Eu não amarrei muito bem, justamente para poder ter mais chance de escapar quando necessário, está bem, preciosa?

– Hum. - resmungo.

– Estarei atrás desses caixotes. - me viro e vejo Emanuel se preparando com uma espada em mãos.

– Estamos prontos! - avisa Javier aos outros. O navio se aproxima cheio de homens imundos, tendo três mulheres também. Mas tinham aquela expressão vazia de tristeza ou indiferença. Como se qualquer chance de escapar seria quase nula, não havia esperança naqueles olhos fundos. Eu não gostaria nem de imaginar o que fazem com essas pobres mulheres lá dentro. Duas delas aparentavam ter seus trinta, ou quarenta anos de idade, e a terceira parecia ser poucos anos mais velha do que eu. Começo a me debater, com uma expressão de fragilidade total, enquanto Javier tenta me deter, ameaçando cortar meu pescoço com uma pequena navalha (que estava me assustando um pouco, de tanto que eu mexia, eu temia ser atingida acidentalmente).

– Pare com isso, seu imundo, diga logo o quer de mim! - berro, iniciando a atuação.

– Eu já lhe disse que quero o seu dinheiro, diga onde você o escondeu!

– Nunca! - e assim, Javier me deu um tapa na cara. REALMENTE ERA NECESSÁRIO SER TÃO REALISTA?

– Seu insolente. - falo, começando a soluçar. Maldito Javier, meu rosto está ardendo...

– Diga onde está, sua vadia! - isso está ficando realista demais, daqui a pouco darei o troco...

– Ei! - grita um dos homens do outro navio. Tomara que ele dê uma lição ao espanhol metido.

– Elá está á venda?

– Eu não est... - começo a gritar, e Javier tapa a minha boca.

– Quanto você me oferece? - grita ele, me dando outro tabefe na cara, depois de eu ter mordido sua mão.

– Isso serve? - o pirata indica uma caixa. Logo, vem um de seus homens, e abre, mostrando as moedas de ouro, reluzindo ao contato com a luz do sol.

– Mas é claro!

– Solte-a, e faremos a troca. Mas sou eu que entrarei no seu navio.

– Muito bem imbecil, tenta fugir dessa. - sussurro.

– Aceito. - Responde o espanhol. Começo a me debater desesperadamente nos braços dele e berro, dou uns chutes no ar e forço umas lágrimas. Eles colocam uma tábua de madeira, para servir como ponte entre os navios, e lá o pirata atravessa e fica em minha frente.

– Sou Nathan. Só deixe que eu analise a mercadoria.

– Sem problemas. - diz ele, me jogando no chão. Nathan se agacha e levanta meu queixo, observando meu rosto.

– Ordeno que se levante. - diz o pirata. E foi o que fiz. Me levantei... E cuspi em seu rosto. - Ah, veja só, temos uma cadela aqui!- avancei, mas Javier me deteu, puxando meu corpo para trás.

– É uma mocinha difícil, Nathan.

 - Coloque-a no chão novamente. - e ele me empurrou com mais força dessa vez e essa atuação realista já está me irritando. Ouço um ruído estranho, e quando levanto a cabeça, vejo uma espada na barriga do espanhol. Emanuel se levanta e dá um empurrão em Nathan. Me levanto, meio dolorida e derrubo a tábua de madeira que estava entre os navios. Vejo os homens já lutando contra meus tripulantes. Consigo ver Brendan descendo, com o objetivo de procurar mantimentos.

– Não os matem! Precisamos de informações deles! - grito. Emanuel grita, e me viro, enfiando a navalha (que antes estava com Javier) direto no tronco de Nathan. Ele se contorce, e logo depois Emanuel o ergue para o alto e lança o homem ao mar. Hans joga uma corda para o outro navio (onde ele havia se escondido, afinal?) para que os piratas pudessem ser amarrados e questionados. Depois de um tempo, meus homens voltam com alguns mantimentos.

– Tragam as mulheres. - ordeno.

– Por quê? - diz Alexandre, com um caixote de moedas nas costas.

– Porque eu sou o capitão desse navio e eu estou ordenando que tragam as mulheres.

– Ah... Sim senhora. - depois de alguns minutos,volta Jake, Jason e Alexandre com as mulheres.

– Por favor, poupe-nos, minha senhora. - disse a mais nova.

– Não se preocupe, estamos salvando vocês.

– Eu agradeço, muito obrigada, obrigada mesmo. O que podemos fazer para recompensá-los?

– Está vendo aquele homem se contorcendo de dor ali no chão?

– Certamente. Podemos fazer curativos, minha senhora.

 - Por favor, façam isso. - e elas se foram em direção a ele, que metido do jeito que é, sorriu e deve ter dito algo como "preciosa"...Após termos conseguido os mantimentos, e curativos, fui acertar contas com ele.

– Olá preciosa! Bela atuação! - cumprimentou ele, cercado pelas três mulheres, dando risinhos.

– IMBECIL! - dou um soco. - CRETINO!. - um chute. - INSOLENTE!. - um tapa. - QUEM PENSA QUE É? SOU SEU CAPITÃO E JAMAIS FAÇA ALGO ASSIM NOVAMENTE!

– Já acabou? - pergunta ele, meio assustado.

– Ainda não. - chuto entre suas pernas, fazendo-o uivar de dor. - Agora sim, terminei. - aparece Francesco e observa assustado.

– Não é uma boa hora. - diz o italiano, se afastando.

– Volte aqui e diga o que quer!

– Seu vestido... Hum... Está pronto.. Se quiser experimentar, já está disponível.

– Traga-o.

– Já está em mãos! Experimente! - pego o vestido e experimento em meu quarto. Volto e "desfilo" para Francesco.

– Linda! Muito graciosa você fica com esse vestido!

– Obrigada... Eu acho.

– Tá muito feia. - olho para trás e lá está Hans sorrindo.

– Não se preocupe, você continua sendo mais linda e graciosa do que eu, Hans - respondo.