Schyler escrita por Gi Carlesso


Capítulo 54
O grito


Notas iniciais do capítulo

MARGARIIIIIDAS, oi c:
Eu fiquei sem internet esses dias, acreditam nisso? Olha, eu tava a ponto de tacar um sapato no cara que veio arrumar o aparelho aqui em casa, minha mãe quase avisou ele para vim de capacete! huheuehueh espero que não estejam irritados pela demora, o próximo vai vim daqui dois dias, porque já está escrito, ok? Boa leitura, nos vemos lá embaixo! :*



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Meu corpo estava virado de barriga para baixo, eu sentia um líquido quente encharcando meu cabelo na região em que minha cabeça batera que escorria em direção à madeira. Quando meus olhos se abriram por inteiro tudo o que vi foi minha mão direita deitada sobre o chão coberta por um líquido vermelho e bem atrás dela, a lateral do navio que separava minha visão da imensidão azul. Os sons eram confusos, se misturavam em gritos desesperados de pessoas que eu conhecia com o grito de guerra de anjos negros lutando contra os caídos.

Eu não movi um músculo no início com medo que detectassem meus movimentos e tentassem me matar, então, continuei ali com olhos fixos em meus dedos avaliando todas as opções do que fazer a partir dali. Poderia aproveitar-me do elemento surpresa por acordar depois de todos acharem que eu estava morta, porém não havia como ter certeza de que não estavam de olho em mim.

– Mandem Lúcifer para o lugar de onde ele veio! – ouvi Aliha berrar de longe. Ela parecia furiosa. – Tirem esse monstro daqui, está me atrapalhando!

Os gritos enfurecidos de Lúcifer tomaram conta do ar enquanto eu ouvia o som de lâminas sendo atingidas uma contra a outra e o de carne sendo cortada. Não era um som agradável para quem tinha o estômago embrulhado como eu, mas me mantive o mais quieta possível apenas ouvindo aos sons que enchiam o ar.

– Schyler! – era a voz de Carrie, ela parecia estar a apenas alguns metros de mim, mas não ouvi passos. – Ela não pode estar morta! Gabriel, tire o corpo dela de lá, por favor! Alguém... alguém tire minha irmã de lá!

Eu sentia a tristeza de Carrie, sentia como se as lágrimas dela estivessem encharcando ao meu rosto e toda dor no peito que a dominava começasse a passar para mim. Eu sentia o desespero de minha irmã. Apenas eu e mais ninguém.

E essa, foi a coisa necessária para me dar forças para levantar.

Em um único movimento, apoiei-me em minhas mãos para finalmente estar de pé. Ignorei todos os pontos de dores que se alastravam por meu corpo deixando-os de lado e concentrando-me nos gritos de minha irmã desesperada, como se aqueles sons fossem como uma espécie de arma assim como o ódio que sentia por meu padrasto fazia. Num segundo, estava de pé sobre o convés sendo encarada por centenas de anjos negros, Aliha, alguns demônios e Lúcifer. Meus amigos deveriam estar em algum ponto atrás de mim, pois no momento em que me vi de pé, não havia nenhum sinal deles. Os olhares a minha volta eram praticamente iguais – assustados, porém em alerta. Confusos e um pouco hesitantes em tentar entender como eu fiquei de pé tão rápido.

Usando a distração deles, forcei meus pés a darem impulso para que eu corresse. Talvez não tenha sido tão rápido quanto eu precisava, mas foi o bastante para que eu deslizasse propositalmente sobre o convés agarrando a uma lâmina perdida entre a mancha de sangue e a atirasse na direção de dois anjos negros prontos para me atacar. A lâmina atravessou o primeiro em segundos, seguindo para o próximo e cortando-o na região do peito profundo o bastante para derruba-lo.

Mais deles vinham em minha direção apesar de Aliha continuar no mesmo lugar encarando-me de forma fixa, provavelmente tentando entender como eu estava de pé sendo que há segundos atrás estava inconsciente. Seu olhar indicava que ela deveria ter percebido que eu sabia de tudo, principalmente sobre Miguel e que ela teria que me matar no lugar dele. Então, sem hesitar ou sequer disfarçar isso, ela mandava toda sua horda para cima de mim, prontos para me matar sem nada os impedindo.

Mas ao contrário deles, eu tinha um motivo para ganhar, algo que conseguiu me tirar do chão e enfrentar Miguel em meu subconsciente.

Eu tinha porque querer vencer.

Concentrando-me no novo ódio que corria por minhas veias – o ódio de querer me vingar da mentira de Miguel - consegui criar as chamas que precisei minutos antes de isso estar acontecendo, lançando-as de encontro a centenas de anjos negros que insistiam em tentar chegar em mim. Mas antes que eles pudessem sequer tentar, já estavam com o corpo coberto pelas chamas agonizantes.

A cada passo que eu dava em direção a ela, eu percebia que o número de sua horda diminuía consequentemente a meus ataques sem erro algum. Mas eu sabia que estava sendo ajudada por meus amigos, afinal, ouvia a voz de Gabriel mandando anjos negros de volta para o inferno e as vozes de Tristan, Blair e minha irmã Carrie. Por um segundo me preocupei por não ouvir a voz de Bastian, porém mudei automaticamente de ideia ao vê-lo do outro lado do barco lançando os últimos demônios ao mar.

Eu estava a poucos passos de Aliha, tanto que depois de empurrar dois dos anjos para o lado e estar bem a frente dela, fui interrompida no momento em que senti a ponta afiada de sua lança encostada à pele de minha garganta. A lança era longa e feita de algum material prateado como metal, com uma ponta tão mortal quanto sua dona.

– O demônio a deixou inconsciente. – concluiu ela. – Como conseguiu se recuperar?

– Deveria fazer essa pergunta para a pessoa com quem fez um trato para me matar, Aliha. – apesar de a lança estar tão próxima e sua pressão começar a se tornar insuportável, eu ainda tinha forças para ser impertinente com ela. – Ele não foi muito esperto quando me levou para o céu e me contou tudo.

Aliha me pareceu... confusa. Pela primeira vez eu via aquela criatura com um ar confuso e tão inseguro a ponto de deixar escapar os dedos de sua lança e deixa-la cair sobre a madeira do convés como se estivesse se dando por vencida. Sua reação não fora exatamente o que eu esperava, mas mal pude esconder o alívio que senti ao não sentir mais a ponta da lança contra a região de meu pescoço.

– Você não tem mais o que fazer, Aliha. Se envolveu em uma guerra que não coincide com as regras do céu e será julgada. – eu não estava blefando, aquela era simplesmente a verdade. – Assim como Miguel.

Eu sabia que ela iria parar no mesmo instante. Deixaria de tentar concluir aquele plano maluco de seu trato com Miguel e se entregaria de uma vez. Porém, apesar de estar prestes a fazer isso, seu próximo ato foi interrompido quando Lúcifer surgiu em nossa frente do nada fazendo com que ela se afastasse no momento em que ele segurou seus dedos ao redor de meu pescoço e ergueu-me no ar.

– Eu matei você, Nefilim! – urrou ele apertando mais os dedos. Eu começava a sentir o ar se esvaindo aos poucos, a sensação fazia parecer que meus pulmões explodiriam sem ar. – Como pode estar viva?!

Por mais que meus dedos lutassem contra os deles para os retirarem de meu pescoço, eu sentia que estava perdendo minha consciência novamente. Era como estar voltando para o campo com Miguel, porém, dessa vez sem chance para voltar.

– Sabe o que vou fazer agora? – sussurrou ele baixo demais para que apenas eu o escutasse. Virou meu rosto forçadamente na direção contrária a que estávamos, onde Gabriel e Carrie encaravam à aquela cena horrorizados. – Vou mata-la aos poucos bem na frente de seu querido anjo. Ele vai vê-la sofrendo e não poderá fazer nada.

Apenas observando direito percebi que Gabriel era segurado por dois demônios que pareceram ter surgido do nada. Ambos eram maiores e pareciam muito mais fortes que os que enfrentamos, tanto que conseguiram segurar o anjo sem dificuldade nenhuma.

Eu vi o desespero no olhar de Gabriel, eu vi a forma com que seus braços lutavam contra os dos demônios sem ganho algum. Ele me mandava uma mensagem silenciosa, algo que me prendeu à aquele mundo enquanto a pressão dos dedos do demônio começava a ficar intensa demais.

Eu te amo.

Uma lágrima lutou para escapar de meus olhos enquanto eu observava o demônio pegando a espada caída sobre ao chão e a apontando na direção de meu peito – uma região em que apenas um ataque seria o bastante para me fazer morrer.

Meu olhar tornou a se fixar nos olhos violeta de Gabriel, transformando toda aquela cena em lembranças. Lembranças de quando nos conhecemos ao trombar em um restaurante que Jonny havia me levado. Foi como reviver a cena quando vi seus olhos pela primeira vez e o reconhecer, reconhecer como quem me salvara do bêbado que tentou me estuprar. As imagens se transformaram em nosso primeiro beijo, em como os lábios de Gabriel tomaram os meus hesitantes, porém ternos e implorando por algo que ele nunca disse. Foi como se eu pudesse sentir e textura de seus lábios novamente, provar a maciez e tranquilidade de seu beijo. Lembrei-me das lutas, de nossas brigas e quando eu soube com toda a certeza do mundo que o amava. Quando senti nossos corpos juntos por completo e notei que ambos completávamos um ao outro como peças de um quebra-cabeça.

Não poderia acabar daquela forma.

A pressão dos dedos de Lúcifer em torno de minha garganta se tornou insuportável num ponto em que eu mal conseguia lutar. Minhas mãos cambalearam para o lado inúteis por minha falta de concentração para criar as chamas necessárias para impedir o demônios. Eu estava sendo vencida aos poucos, morrendo da forma com que ele disse e bem na frente das pessoas que eu mais amava no mundo.

Mas por alguma razão que eu não descobri no início, os dedos afrouxaram até simplesmente soltarem e deixaram-me despencar sobre o convés sem forças para lutar naquele momento. Apesar de fraca, meus olhos se focaram na imagem do demônio caindo de joelhos bem próximo a mim com os lábios entreabertos e as asas negras se fechando ao redor dele deixando apenas à mostra a lança atravessada em seu corpo.

Em segundos, o corpo de Lúcifer desapareceu por completo do barco num misto de poeira negra e fogo, assim como seus demônios, quem soltaram Gabriel imediatamente quando desapareceram.

Atrás de onde ele estava anteriormente, vi Aliha ainda posicionada como quem lançara a lança em direção ao demônio. E mesmo estando sem forças, franzi o cenho para o fato que não queria acreditar.

Ela havia me salvado.

– Schyler! – berrou Gabriel despencando de joelhos ao meu lado puxando-me para seus braços totalmente marcados por hematomas por conta da força com que os monstros o seguravam. Seus braços me rodearam de forma protetora puxando-me junto a ele de forma que meu rosto ficasse escondido em seu peito coberto por uma camiseta cinza ensanguentada e repleta de rasgos. – Por favor, você não pode me deixar agora.

Eu queria responder, queria colocar o choro e as palavras para fora de mim, porém a dor ao redor de meu pescoço era forte demais e eu estava tão fraca que mal conseguia arranjar forças para dizer uma palavra sequer.

– Schy... você está respirando e piscando os olhos, então quer dizer que está viva. – concluiu ele acariciando levemente as maças de meu rosto. – Pelo amor de Deus, só diga alguma coisa.

– Você... – eu gaguejei arrumando forças, sei lá, do além para conseguir dizer aquilo. – Achei que... não pudesse... dizer o nome dele em... vão.

Gabriel riu, mal conseguindo esconder as lágrimas que saiam de seus olhos quando me abraçou forte contra seu peito.

– E nem posso. – vendo que eu já estava um pouco melhor, ele continuou com os braços ao meu redor, porém conseguiu levantar-me de forma que eu estivesse totalmente apoiada nele.

Aliha permaneceu parada no mesmo lugar em que estava antes. Seu olhar estava perdido em algum ponto cego entre as poças de sangue e montinhos de cinzas de criaturas queimadas por mim. Provavelmente deveria estar na lança que ainda estava no chão onde acertou o demônio, totalmente intocada depois que foi lançada e me salvou.

Restavam pelo menos 20 dos anjos negros, todos empoleirados atrás de Aliha segurando os arcos e flechas em posição de ataque, apesar de ninguém estar agindo como uma ameaça. Além deles, Blair e Tristan estavam de pé próximos a mim e Gabriel, ambos lado a lado como uma segunda barreira indicando que nada os atingiria. Pelo o que pude notar, Carrie estava ao meu lado e tocou meu ombro quando percebeu que eu a notara ali.

– Você está bem? – sussurrou. Seu rosto estava manchado pelas lágrimas e os olhos inchados.

Eu assenti enquanto tocava de leve sua mão pousada em meu ombro.

Bastian surgiu ao seu lado olhando-me da mesma forma protetora e preocupada que Carrie, algo que quase pude comparar de ambos não fossem tão diferentes. Era estranho vê-lo depois de tudo o que aconteceu, não apenas porque Bastian era meu pai, mas também porque agora eu sabia quem ele era realmente e isso... bom, mudava tudo. Mas mesmo que isso me incomodasse nem que fosse um pouco, naquele momento eu não me importava.

Um movimento bem a nossa frente chamou nossa atenção. Aliha agachava-se lentamente para pegar a lança caída sobre a poça ensanguentada do convés colocando-a entre seus dedos num ato um tanto atormentador. Franzi o cenho enquanto a via encarar lentamente a lança, como se a admirasse ou algo assim. E foi esse olhar que me fez voltar a ficar alerta e perceber que, mesmo que ela tivesse me salvo, havia algo bem errado ali.

– O que você vai fazer, Aliha? – perguntou Gabriel com a voz calma.

– Eu não posso deixar de fazer isso. – sua voz saíra como um sussurro baixo, mas o suficiente para que todos nós escutássemos. – Eu tenho um... trato com ele.

– Você não precisa fazer isso.

Ao contrário do que eu realmente esperava, vi seus olhos violeta erguendo-se em nossa direção com um brilho diferente ao que vi alguns segundos atrás. E como se o tempo parasse, percebi que sua expressão se tratava de um sorriso maligno de alguém que acabara de nos enganar.

– Tenho sim.

Num movimento tão rápido que mal pude notar, ela apontou a lança diretamente para nós lançando-a com uma destreza que eu sabia que não a faria errar. Mas ao contrário do que ela achou que aconteceria, Gabriel soltou-me de forma improvisada, deixando que meu corpo fraco caísse de encontro novamente ao chão e ele se lançasse para o lado oposto, fazendo com que desviássemos da lança mortal que ameaçava nos atingir.

A arma atingiu um ponto do barco que não pude ver ao certo, algo entre a lateral e um dos mastros, fazendo com que o mesmo tombasse um pouco para o lado com a força que foi atingido.

Irritada ao perceber que errara, Aliha avançou na direção de Gabriel com uma fúria que não achei que ela teria. Jogando-se contra o corpo de meu anjo, ambos rolaram pelo convés repleto de cinzas e poças de sangue num misto de urros de ódio e socos no ar ao tentarem atingir um ao outro.

– Você era como um irmão para mim! – berrava ela lutando contra os braços de Gabriel para conseguir feri-lo de alguma forma. – Desistiu do seu maldito cargo por causa de um ciúme medíocre dos humanos! Qual é o seu problema, Gabriel?! Por que causou isso?!

– Você sabe muito bem porque fiz, Aliha! – disse ele de volta conseguindo lança-la de encontro a madeira e prendendo-a com suas pernas, de modo que conseguiu imobilizar Aliha. – E isso não era da sua conta! Deus me deixou cuidando de Schyler e não me julgou como a maioria e ele não fez isso por qualquer motivo, droga!

Isso atiçou ainda mais o ódio dela, tanto que o urro de raiva de Aliha fez com que eu me arrastasse para longe sendo acudida por Carrie, quem me ajudou a levantar.

– Eu quis te ajudar! – agora, Aliha não lutava mais, tanto que seu corpo caiu para o lado de costas para o céu. Lágrimas escorriam de seus olhos de uma maneira que não achei que ela o faria. – No começo... no começo eu ia tentar ajuda-lo, mas... Deus me repreendeu. Miguel disse que eu não deveria me meter com os seus problemas ou seria expulsa como você foi. Isso... isso me deixou com raiva de você, Gabriel. E ai, foi se relacionar com essa garota e você se perdeu de vez e eu não pude mais ajudar.

Aliha desabou sobre o convés num choro alto e desesperado. Por um segundo, eu tive pena dela e não a encarava mais da mesma forma que antes. Gabriel pareceu encarar da mesma forma quando ficou de joelhos para vê-la melhor.

– Foi por isso que quis matar Schyler? – perguntou tentando conseguir a atenção dela. – Foi por isso que sequestrou a irmã dela para atrai-la e mata-la depois?

Aliha secou as lágrimas que encharcavam lhe o rosto.

– É claro que foi. – toda a frieza que eu conhecia muito bem dela voltou de uma só vez. – Eu sabia que se matasse essa garota, você talvez voltasse a si. A guerra era só outro jeito de conseguir isso e Miguel... bom, Miguel só me ofereceu um trato que eu cumpriria de qualquer jeito.

Agindo da mesma forma odiosa de antes, Aliha derrubou Gabriel aproveitando-se de seu momento de fraqueza para correr em minha direção. Eu nem tive tempo de agir, pois ela já estava sobre mim tirando a faca escondida em sua armadura e a apontando em direção ao meu peito como Lúcifer fizera antes.

– E agora, eu tenho chance de terminar o que comecei. – suas palavras soaram além de algo ameaçador. Foi como uma promessa.

Então me lembrei de Miguel dizendo sobre eu ser uma raça que deveria ser extinta, como se fosse totalmente minha culpa o fato de eu ter nascido. Essa lembrança talvez não fosse tão forte quanto a de meu padrasto chamando-me de aberração.

Mas foi o suficiente para eu observar Aliha queimar.


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Notas finais do capítulo

QUEIMA MESMO, MULIER! Já estou bem cansada de você!!!
O que acharam? Espero que minhas candy pies continuem comentando como nos capítulos anteriores, eu vou ficar tão feliz c: