Schyler escrita por Gi Carlesso


Capítulo 55
Visão concretizada


Notas iniciais do capítulo

OLÁ, MINHAS CANDY PIEEEEEEEEEEEES!! Tudo bem com todos vocês? Eu dei uma demoradinha né? Desculpem :(
Olha, tenho motivos muito bons para a minha demora:
1 - Minha criatividade foi viajar e só voltou hoje
2- Meu livro "O garoto da camisa 9" ta com algumas chances de ser publicado, então eu estou 24h por dia arrumando ele
3 - Eu sou uma lerda mesmo
Então, mil desculpas de novo, eu juro que posto o mais rápido possível! Talvez daqui dois dias, porque o próximo cap está quase pronto!
Vejo vocês lá embaixo :*



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O corpo dela se distanciou do meu tão rápido quanto se aproximou, deixando escapar um grito agudo com capacidade de me fazer sentir uma dor de cabeça eterna. Toda a extensão do corpo de Aliha começava a pegar fogo aos poucos, fazendo com que as chamas tomassem conta de sua armadura negra e ameaçasse se aproximar das asas tão brancas quanto as de Miguel. Ela olhava para os próprios braços urrando de não apenas dor, mas desespero incontrolável por não saber como fazer aquilo parar.

Eu continuei em choque sentada no chão usando meus braços atrás do corpo como apoio. Poderia ter me levantado e tirado proveito daquela situação, porém permaneci em silêncio encarando à aquela cena horrorizada. Nunca havia sentido pena de qualquer um que ataquei com as chamas, mas havia algo na imagem de Aliha queimando, algo que despertou o melhor em mim.

E numa péssima hora.

– Feche as asas em torno do corpo, vai fazer as chamas se dissiparem! – mandei tentando chamar a atenção dela, quem continuava gritando desesperadamente. Seus anjos negros continuavam parados a alguns metros dali, provavelmente não faziam a menor ideia de como agir. – Aliha! Gritar não vai ajudar em nada!

Isso pareceu chamar a atenção dela como pensei que faria, tanto que o anjo aos poucos se acalmou e fez o que eu mandava. Suas imensas asas brancas se fecharam completamente ao redor de Aliha, formando uma espécie de casulo. Aos poucos, pelo o que pude notar, o fogo se dissipava quase que totalmente até que enfim desapareceu de seu corpo.

Os gritos também cessaram no momento em que o fogo se apagou.

– Por que fez isso? – seu olhar era desconfiado sobre mim.

Dei de ombros.

– Talvez eu não seja tão ruim como você pensa que sou. – minha postura ainda era em alerta, temendo que ela pudesse recobrar a consciência maluca e me atacar. – E muito menos o que fizeram você pensar sobre mim.

Observei que sua armadura tinha em alguns pontos manchas um pouco mais escurecidas por conta das chamas, assim como sua pele, onde em pequenos pedaços podia-se ver queimaduras que em humanos poderiam causar uma dor horrenda. Porém, em Aliha era como se ela nem ao menos estivesse sentido as queimaduras ou o corte longo que seguia de sua testa e entre a divisão de seus olhos e sobrancelhas, descendo até a bochecha esquerda.

Ambas nos olhávamos em alerta, esperando qualquer movimento que pudesse acontecer. O barco permanecia silencioso, todos assistiam a nossa luta mental tentando se envolver o mínimo possível.

Aliha aproveitou os meros segundos em silêncio para arrumar a armadura que caíra sobre seu ombro. A parte que lhe cobria o ombro estava comprometida e faltando alguns pedaços, então, ela terminou de arrancar o resto jogando a parte de cima da armadura no chão. A parte de baixo que sobrara era de um tecido mais fino de cor cinzenta, o qual deixava seu peito totalmente exposto para qualquer ataque.

Por um segundo, achei que aquilo era um teste.

– Eu não preciso que outros me contem quem você é, Schyler Jackson. – Aliha terminava de arrumar o resto de sua roupa protetora, erguendo a parte da armadura que lhe cobria as mãos. Os anjos negros que ainda estavam no barco continuavam imóveis a alguns metros dela, porém com as armas apontadas para todos nós. – Tive vários meses para observá-la e saber exatamente com o que estava lidando.

Arqueei as sobrancelhas.

– Então esteve me estudando?

– É claro. Não achou que eu enfrentaria essa guerra sem saber no mínimo como você age e fala, não é? – um riso irônico escapou de seus lábios. – Vejamos, o que sei sobre a nobre Schyler? Que você pensa pelo menos um milhão de vezes antes de agir... que nunca sabe em quem confiar e sempre acaba por confiar na pessoa errada. Que consegue criar uma espécie de fogo por conta de sua linhagem celestial e o que mais? Ah, claro. E que seu amor por esse anjo caído pode ser maior do que até mesmo eu pensei.

Não havia um motivo para Aliha estar fazendo aquilo. Ela não era a verdadeira vilã dessa história e muito menos a que daria fim a tudo. Então... por que estava me expondo daquela maneira como se aquilo fosse me deixar fraca e vulnerável?

Avaliei mentalmente as opções enquanto a observava limpar a armadura que cobria seus braços – a única área coberta por um armadura de seu corpo – com um meio sorriso um pouco perturbador nos lábios. Ela não parecia alguém tentando me expor e sim... alguém tentando criar vantagem.

– O que você quer com isso, Aliha? – me permiti perguntar. Isso pareceu capturar a atenção dela. – Você não é a verdadeira vilã dessa história, eu sei que não quer matar a mim ou Gabriel. Não importa o trato que fez com Miguel, ele é o único vilão por aqui.

A anjo franziu o cenho.

– Como pode ter tanta certeza de que não sou a vilã?! – ela abriu os braços esticados no ar. Era como se quisesse se expor ou me mostrar algo que eu não via com clareza. – Veja as coisas que fiz, Jackson, eu não sou mais o anjo que costumava ser! Deus que me perdoe, mas o mundo mudou e talvez eu esteja ficando igual ao seu querido anjo caído.

Suas últimas palavras saíram com uma profundidade e calma que apenas eu pude notar, como uma verdadeira ameaça silenciosa. Mal tive tempo para absorver aquelas palavras quando senti o impulso que ela deu, brandindo as asas o máximo que pôde e as usando para dar o tal impulso. Em menos de um segundo, estava tão perto que pude ter certeza que conseguiria me derrubar e me matar como tanto queria. Arrancou a adaga que carregava no cinto não deixando-me nenhuma alternativa além de esperar o ataque e lutar pela minha vida.

O ataque que nunca aconteceu.

Da mesma forma que impediu que Lúcifer me matasse, a mesma lança de Aliha a interrompeu de conseguir me atacar. Porém, de uma maneira inusitada eu vi a lança atingindo Aliha na região do estômago e atravessando a área de uma forma mortal. Num único segundo, a vi tombar para trás por conta da força do impacto e cair de joelhos tampando a área com as mãos, as mesmas que se encharcavam de um líquido avermelhado muito parecido com o sangue humano. Ao que parecia, anjos não sangravam da mesma maneira.

Os lábios entreabertos de Aliha soltaram gemidos tanto assustados quanto em um choque profundo e os olhos, estavam da mesma maneira encarando à lâmina atravessada em sua barriga.

Confusa, olhei na direção em que a lança foi lançada encontrando a pessoa quem jogada a arma para me salvar sem que qualquer um dos anjos negros sequer notassem seu movimento.

– Basta, Aliha. – brandiu ele ao caminhar calmamente em nossa direção. O único som que se ouvia a nossa volta era o da brisa marinha remexendo as velas e os passos de Gabriel até pararem bem ao meu lado de frente para ela. – Chega disso. Chega de guerra e de mortes de inocentes, eu não quero ver mais ninguém morrer por algo que eu fiz errado no passado! Se alguém irá julgar a mim e Schyler, será Ele e mais ninguém.

Como se as palavras fizessem efeito em sua dor, Aliha arqueou antes de cair sentada e bater com as costas com a parte da lateral do barco. Sua pele empalideceu quase no mesmo momento em que caiu arquejando e puxando o ar com uma força ainda maior, implorando pela vida. Por um mero segundo, senti pena dela e vontade de tentar ajuda-la, porém lembrei-me de tudo o que aconteceu e logo a vontade desapareceu por completo. Por mais ruim que isso fosse, Aliha merecia o sofrimento.

Mas ela não morreria mesmo que estivesse com uma lança atravessada no corpo, aquela era apenas uma forma de para-la por tempo suficiente para leva-la até o céu para então seu temido julgamento.

Coisa que eu não fazia a menor ideia se ia ou não acontecer já que provoquei a maior ira de Miguel.

Os anjos negros que ainda estavam no barco, ao ver sua comandante abatida, abriram voo imediatamente para fora do barco sem nem ao menos dizer qualquer coisa que fosse. Exceto por um deles, um de aparência mais jovem que olhava à imagem de Aliha à beira da morte com certa... dor. Fora estranho no início, pelo menos até ele levantar voo como os outros e desaparecer entre as nuvens.

– E não é que a megera finalmente caiu?! – exclamou Carrie de repente atraindo toda a atenção para ela. Por mais incrível que parecesse, havia um sorriso gigantesco em seus lábios, como se aquele fosse o dia mais feliz de sua vida. Ok, eu sempre soube que Carrie tinha um parafuso a menos, mas não achei que fosse tão óbvio.

– Ela ainda pode te ouvir, Carrie. – disse Blair sorridente enquanto Tristan se contorcia de rir atrás dela apesar de estar bem ferido em compensação aos outros. Ele nem parecia ligar muito para isso.

– E deveria ouvir mesmo! – Carrie praticamente fuzilou Aliha sentada ao chão com a lança atravessada em seu corpo. – Eu já estava cansada de você querendo causar a discórdia por aqui, queridinha! Aliás, já estou cansada de anjos baderneiros, será que nada do que eu li sobre anjos até hoje era real?

Gabriel deu de ombros.

– Nossa beleza divina está certa pelo menos.

Carrie começou a gargalhar no mesmo instante em que ouviu a piada de Gabriel, quem continuava neutro à sua risada, porém com um mínimo sorriso estampado em seus lábios. A verdade era que no rosto de ambos, havia uma espécie de brilho muito diferente dos últimos dias. Aquele parecia ser neutro, como se a paz que tanto pedimos que chegasse finalmente pôde ser vista em nossos rostos. Eu sabia que no meu não estava diferente, afinal, uma onda de tranquilidade tomara conta de mim ao notar que tudo enfim acabara e que nós havíamos ganhado a grande guerra. Não havia mais preocupações em relação à sobreviver ou em salvar as pessoas do mundo, pois havíamos conseguido.

Nós ganhamos.

Incapaz de segurar minha própria alegria, eu me vi correr em direção a minha irmã e puxá-la para um abraço apertado. Fazia muito tempo desde a última vez que pude abraçar minha irmã de verdade, não por tristeza e sim, por uma felicidade quase que plena. Os braços de Carrie se prenderam ao meu redor enquanto eu a ouvia rir de leve, apenas desfrutando daquele momento.

Nos separamos por apenas alguns segundos, encarando uma a outra com sorrisos tão largos que achei que pudessem rasgar a pele.

– Eu já disse que te amo, irmã? – comecei a rir no mesmo instante em que essas palavras deixaram meus lábios.

Assim como eu, Carrie também riu, porém fitou-me de uma maneira diferente. Havia um quê de admiração naquele olhar, como se ela estivesse tentando demonstrar que estava feliz por mim.

– Estou orgulhosa de você. – disse ela tirando uma mecha de meu cabelo que caia sobre meu rosto. – Eu te...

Algo a impulsionou para frente obrigando-a a dar um passo em minha direção ao mesmo tempo em que os lábios de Carrie se entreabriram de uma maneira forçada. O cenho se franziu quase que instantaneamente e ela tinha uma expressão tanto horrorizada quanto assustada. Confusa, fitei minha irmã procurando por algo errado, qualquer coisa que pudesse indicar o porquê de ela ter ficado daquela forma tão repentinamente.

E então, meus olhos seguiram para baixo de seu corpo e achei que meu coração fosse parar.

Bem no centro do peito de Carrie, havia algo que não pertencia a seu corpo, um objeto prateado de aparência ameaçadora e pontiagudo atravessado ali. Junto a ele, um rastro sinuoso de sangue começou a surgir no tecido de sua camiseta, seguindo para baixo até alcançar a barra e deixando que o sangue pingasse na madeira do barco. Em seu rosto, a expressão horrorizada tomou forma quando seus olhos seguiram até os meus.

– Não... – foi tudo o que consegui dizer.

O choque tomou conta de mim quando seu corpo pendeu para frente e eu a segurei de forma que a lança não me atingisse. De joelhos, agarrei o corpo de Carrie, o qual estava na mesma posição que eu sem forças para se segurar. Suas mãos estavam fixas na ponta do objeto atravessado em seu peito, como se ela quisesse ter certeza de que o mesmo estava realmente lá.

– Não... você não. – eu desabei sobre ela escondendo meu rosto em seu ombro. Carrie não se movia apesar de seu peito arquejar implorando por ar. – Carrie, você não pode morrer! Não!

Ela arquejou novamente. O peito puxava o ar de forma desesperada apesar de minha ajuda pedindo para que ela se acalmasse.

– Schyler... – tentou ela com um esforço que me doeu mais o peito. – Você... viver... eu... te amo... irmã.

– Eu também te amo, Carrie. – as lágrimas me encharcaram aos olhos a medida que eu me agarrava mais ao corpo de minha irmã, quem se esvaia ao poucos. – Por favor, não vá. Você é tudo o que eu tenho.

– Eu... ficar... bem. – ela puxou o ar com muita dificuldade antes de se afastar de mim. Colocou os braços ao redor de meus ombros, deixando-nos afastadas apenas alguns centímetros. Mas, apesar de estar de frente para mim, seus olhos fitaram algo atrás de meu corpo. – Você... cuide... dela...

Virei-me na direção em que seus olhos fitavam encontrando um Gabriel tão perturbado e triste quanto eu, o qual assentiu lentamente ao ouvir as palavras de Carrie.

Seu corpo se esvaziava aos poucos à medida que sua alma ia embora, deixando para mim apenas a casca oca do corpo de minha irmã. Junto a ela, todas as lembranças de nossa infância difícil, os momentos de alegria, às vezes em que uma ajudou a outra seguiam em direção para o local que eu conhecera durante a guerra. Apesar de triste, eu estava feliz por Carrie conhecer o campo repleto de margaridas e desfrutar da paz que aquele local transmitia.

Eu estava feliz por dentro porque sabia que ela ficaria em paz e feliz.

Uma confusão de sentimentos dolorosos vinham e iam em minha mente com uma onda do mar. Não estava apenas confusa, pois negava a mim mesma que deveria acreditar que aquilo estava acontecendo. Havia uma lista interminável de pessoas que poderiam morrer, mas Carrie... Carrie era a última dessa lista.

Então, por que ela?

Logo, senti seu corpo se esvaindo sobre meus braços até que não me restava nada de minha irmã, além do som de seu último suspiro esquentando a região de meu braço. Durou segundos, talvez minutos até que eu sentisse apenas o peso de seu corpo vazio sem alma alguma de minha irmã brincalhona preenchendo aquele espaço.

Carrie Jackson estava morta.

– Eu disse, Schyler. – ouvi a voz profunda de Aliha dizer em algum ponto atrás do corpo sem vida de Carrie. – Eu disse que ganharia. – uma risada perturbada escapou seus lábios. – Não importa quem eu tenha que matar.


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Notas finais do capítulo

NO MOMENTO CHORANDO HORRORES AQUI
Qualquer erro me avisem ok? Espero que tenha comentários esse capítulo, porque me doeu muito o coração escrever ele :/
Beijocas