Tristan

Blair segurou firme minha mão estendida, a qual usei para levantá-la do chão antes que os monstros viessem em nossa direção para outro ataque. Ela parecia mais assustada do que achei que estaria, tanto que segurava-se ao meu braços como se aquela fosse sua única chance de proteção. Entrelacei nossos dedos de forma a indicar a ela que estávamos juntos e que eu a protegeria até o final, não importava o que acontecesse.

Pelo menos sete demônios nos cercavam em um meio círculo ameaçando atacar com passos em nossa direção e apontando suas asas e garras. Os olhares estavam fixos em mim, porém pareciam mais tentados em atacar Blair, principalmente porque ela se escondia atrás de mim de forma aterrorizada.

– Blair. – chamei apesar de não ouvir nada em resposta além de suas mãos tremendo cravadas em meu ombro. – Blair, eu quero que me escute.

Sua respiração estava falha e ela encarava ao demônios a nossa volta como um verdadeiro pesadelo.

– Blair, você tem que ser forte. Eles farejam seu medo, sabem que você está assustada demais e vão usar isso contra você. – eu disse tentando soar firme, mesmo sabendo que os monstros me ouviam. – Olha, você é uma Nefilim, é mais forte que todos eles! Use essa força, Blair. Faça como a Schyler, você poder ser tão poderosa quanto ela. Use essa força, Blair.

E como começou, a tremedeira das mãos dela simplesmente se dissiparam e ouvi a respiração da garota atrás de mim se normalizando até parecer apenas suspiros. Confuso, olhei-a de rabo de olho tentando entender o que estava acontecendo apenas enxergando que Blair havia dado alguns passos para trás para longe de mim. Agora ainda mais confuso e até mesmo assustado, virei-me completamente na direção dela tendo uma surpresa que realmente não esperava ter.

Blair estava de pé a alguns metros de mim, os braços estavam esticados um de cada lado de seu corpo, mas os olhos... os olhos pareciam em chamas encarando aos monstros atrás de mim. Aquela não parecia a Blair que todos conheceram até hoje, parecia alguém totalmente diferente pronta para matar qualquer coisa que estivesse a sua frente.

Até mesmo eu não pude esconder o medo que senti dela.

– Tristan, saia da frente. – ela disse cada palavra com um ênfase assustador. – Tenho alguns demônios para matar.

Antes que eu pudesse sair de sua frente, ela já estava se lançando contra três dos demônios a minha volta, jogando-os contra a madeira do convés com uma força que apenas Schyler conseguia ter. Por um segundo, tive o vislumbre de algo queimando entre eles, os quais brigavam no chão e logo percebi não ser algo comum e sim, chamas tomavam conta do corpo de Blair.

Ela e Schy conseguiam fazer o mesmo.

Porém, de uma forma preocupante os corpos dos demônios e o dela ficaram totalmente tomados pela chama ardente e alta. Os monstros e anjos caídos em volta se assustaram com aquela imagem, desviando da quase bola de fogo que se criou bem no centro do barco.

Eu estava em choque mediante aquela cena, afinal, Blair não parecia ameaçadora da forma que conseguiu ser no momento em que criou coragem. Observava à imagem dos corpos queimando bem a minha frente sem a menor ideia de como poder ajudar e se ao menos poderia realmente fazer isso. Mas então, interrompendo meus pensamentos, o fogo simplesmente cessou e Blair levantou-se em meio à uma montanha de cinzas dos corpos dos demônios.

Ela parecia tão em choque quanto eu.

– Você... – eu mal conseguia completar uma frase inteira. – Blair, você está bem?

A garota assentiu apesar o olhar perturbado.

– Eu só... eu só...

– Eu disse que era mais forte do que pensava. – murmurei colocando minha pão espalmada em sua nuca e puxando-a para beijar-lhe a testa.

Porém não havia acabado ainda. Demônios vinham de todas as partes, rápidos e ágeis o suficiente para subir pelas cordas do barco e atacarem aos anjos caídos sem dificuldade nenhuma. Estava um verdadeiro banho de sangue no convés se estendendo até o céu onde vi anjos negros combatendo demônios e lançando-os ao mar quando conseguiam enfim vencê-los. Mas mesmo que muitos dos monstros eram mortos, anjos também eram mortos e lançados à imensidão azul ou ao barco como sacos de areia pesados. Na verdade, a luta parecia equilibrada apesar de tantos morrerem.

Blair e eu estávamos inertes demais para perceber que mais demônios se aproximavam, porém agora eram muitos comparados à última vez. Blair não parecia hábil o suficiente para conseguir sua façanha de antes novamente, por isso não a forcei a lutar, ainda mais considerando o fato que eu também me desesperara e não sabia como conseguiríamos matar tantos.

Mas então, olhei para o mar bem atrás de nós e lembrei-me do porquê estávamos mandando os corpos dos demônios para a água.

Se ficassem por muito tempo, morriam.

Rapidamente segurei a mão livre de Blair e a puxei comigo subindo sobre a lateral do barco e ajudando-a a fazer o mesmo. Ficamos de pé sobre a madeira observando os demônios se aproximando aos poucos nos encarando como presas suculentas ou coisa parecida. Como eu dissera, eles farejavam nosso medo usando o nariz e mordendo o ar com os dentes afiados encenando o que fariam conosco.

Olhei para Blair, quem já me olhava com uma certa dúvida estampada no rosto apesar de já estar imaginando. Seus olhos se dirigiram para o mar e depois para os demônios se aproximando e como se lesse minha mente, ela pareceu entender o objetivo de estarmos ali em cima.

Como fiz alguns minutos atrás, seguei sua mão entrelaçando nossos dedos de forma protetora.

– Juntos? – perguntei sem tirar os olhos dela.

– Juntos.

E caímos na água.