Cirrus Quell - A Origem Do Massacre escrita por Norrie


Capítulo 2
Capítulo 2 - The Volunteer


Notas iniciais do capítulo

Mais um cap, pra vcs!
Espero que gostem!



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A tensão no Distrito 7 era notável. Afinal, hoje era o dia. O dia da Colheita.

Isso o transformava em uma espécie de feriado. Um feriado doloroso para as duas famílias que iriam perder seus entes queridos. Bom, para Cirrus, a cota de sofredores seria reduzida á apenas uma família. Ou ele esperava que estivesse errado.

No dia anterior Cirrus conseguiu, misteriosamente, uma folga. Imaginou se Pandom tinha algo haver com isso para fazê-lo pensar melhor em sua proposta. Provavelmente, mas ele não queria pilhar-se com isso. Voltou para o orfanato e passou o resto do dia trancado em seu quarto. Pensando.

Será que valeria mesmo a pena? As respostas eram extremamente remotas. Se sim, poderia sair com vida de lá e voltar com não só status, mas também com uma vida de verdade. Com a vida que nunca foi lhe permitido nem ao menos sonhar. Mas se não, morreria. Estava divido entre dois precipícios. O que quer que escolhesse não poderia voltar atrás.

Era agora ou nunca.

Se levantou do colchão duro e foi até o banheiro. Despiu-se e mergulhou na banheira. A água estava fria, mas ele não se importou. Esfregou-se da cabeça até os pés com uma esponja e enrolou-se em uma toalha gasta. Passou por uma janelinha que fazia o banheiro não ficar abafado e percebeu que as videiras já estavam dominando o quadrado estilhaçado. Suspirou. Se tivesse sua casa da Aldeia dos Vitoriosos aquelas ervas daninhas nunca que iriam invadir seu banheiro. Balbuciou ao concretizar seu pensamento. Pandom era mesmo muito convincente.

Chegou no quarto pingando e vestiu as roupas de baixo, enquanto passava com voracidade a toalha pelos cabelos. Vestiu uma calça jeans comum e uma camisa social. Procurou pela bota que usava no trabalho, mas acabou topando com um sapato social bem engraxado.

– Mas o quê...? - Arrancou o par do armário e os observou por alguns segundos. Não se lembrava de ter sapatos além de sua casual bota de lenhador. Deveria ser algum presente. De Iskandar talvez. O velho pançudo do orfanato talvez tenha escutado a conversa entre ele e Pandom e acabou decidindo doá-la, como um adeus. Não. Não era um adeus. Caso ele fosse, voltaria. Mas sentiu sua pele transpirar novamente por entre as gotas frescas de água. Estava nervoso. A pergunta o torturava.

Será que valeria mesmo a pena?

Vestiu os sapatos e ajeitou a gola da camisa, depois de abotoá-la. Passou pelo corredor com passos fundos. Algumas das outras crianças e adolescentes também estavam seguindo seu caminho. A maioria ainda não tinha idade para a colheita, mas isso não significava que Cirrus era o único que tinha que enfrentá-la daquele orfanato.

Iskandar os esperava no saguão. Ele não iria com eles, pois tinha as outras crianças para cuidar e não havia mais ninguém que fizesse o serviço com ele. Despediu-se sem muita cerimônia de todos, e de vez em quando dava umas recomendações para os mais velhos ficarem de olho nos que estavam em seu primeiro ano de colheita. Quando chegou a vez de Cirrus, uma expressão de remorso e piedade se amontoaram nos olhos amendoados do homem. Ele apenas lhe deu um abraço apertado e sussurrou um típico Boa Sorte em seu ouvido. Ele sempre dizia isso, mas dessa vez parecia verdadeiro. Ele definitivamente sabia o que Pandom viera conversar com ele.

– Obrigado - Ele murmurou de volta, enquanto recebia palmadas leves nas costas. Completou, como se o último não fosse o suficiente - Por tudo. Muito obrigado mesmo, Iskandar.

Eles se soltaram. E sem mais delongas Cirrus caminhou junto ao grupo de órfãos pela estrada discreta que dava até a praça, onde aconteceria tudo. Olhou para trás mais algumas vezes e então seguiu o caminho encarando os sapatos de Iskandar, isolando-se do que se desenrolava á sua volta. Então, refletiu. Seu passado, presente e futuro. Seus sufocos por comida. Por descanso. Por afeto.

Será que valeria mesmo a pena?

Pandom tinha razão. Não havia vida pela qual voltar. E sim uma pela qual ele teria que lutar, no sentido completamente literal, para tê-la.

Levantou a cabeça, decidido e encontrou-se na praça. Quanto tempo passara no seus devaneios? A distância era relativamente significativa á fazer os joelhos começarem a ceder. Mas foi grato por ter aquele tempo para tomar sua decisão final. Entrou na fila dos garotos de 17 anos e a mulher da capital espetou seu dedo, tirando uma gotinha de sangue que seria útil para sua identificação.

– Pode ir - Disse, fazendo-o entrar no amontoado de garotos que estavam no seu limite de nervosismo.

Depois que todos já estavam em seus postos na multidão, Cirrus encontra-se com o olhar que ele mais desejava não encontrar. Pandom estava lá, sentando em uma das cadeiras dispostas no palco, com um sorriso discreto no canto dos lábios. Já deveria estar ciente de sua escolha. Sim, Pandom é um vitorioso. Venceu faz uns 10 anos mais ou menos. E é lunático para que o 7 continue seu legado. Cirrus continua sem saber porque logo ele fora seu escolhido campeão. Bom, mais cedo ou mais tarde saberia.

Uma mulher berrantemente colorida entrou com passos estridentes e andou pelo palco com um sorriso que mais parecia uma careta. Cirrus sentiu uma comichão ao escutar sua voz alterada pelo sotaque irritante da capital.

–Sejam bem-vindos á 23° Edição dos Jogos Vorazes! - Disse, dando risinhos histéricos nas pausas curtas. - E que a sorte esteja sempre á seu favor!

Começa a passar um filme idiota sobre o surgimento de Panem. A revolta do 13. E então o começo do Jogos. A moça da capital volta-se aos globos de vidro onde estão os nomes.

–Damas primeiro.

Ninguém nem se meche. Quem será?

– Faye Overwood! - Ela berra com alegria. A garota sai da multidão de 13 anos e vai com passos indecisos até o palco. - Ótimo. Agora vamos saber quem irá com nossa adorável Faye!

Cirrus encontra novamente os olhos de Pandom e ele acente roboticamente com a cabeça.

Era agora ou nunca.

Sua mão ergue-se no meio da multidão.

– Eu me ofereço!


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