Rainha Do Egito escrita por MayLiam


Capítulo 23
Cuidado


Notas iniciais do capítulo

Oiê!
Boa leitura!!!



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Eu estava andando determinada até a sala do conselho. Eu sabia que não podia entrar lá do nada, mas também sabia que apenas Damon e seu comandante estariam por lá. Eu o estive praticamente vigiando durante toda semana, buscando um momento para podermos falar sobre o que aconteceu. O fato dele ter ficado preso por dois dias inteiros antes de enterrarmos sua esposa na semana passada dificultou um pouco minha abordagem. Mas agora ele estava praticamente só, e mesmo sendo difícil para mim conseguir o mesmo, uma mulher tem sempre seus recursos.

Eu abro a porta devagar e me aproximo dos dois homens diante de mim, eles conversam atentos um ao outro, Damon está mostrando algo a Niklaus, e ele escuta atentamente, assentindo a tudo. Eu sei que estão juntos traçando um caminho para chegar a Elijah faz uns dias, mas o que eu ouço é que me deixa ainda mais aflita do que antes.

—... então o que devemos fazer é baixar as defesas destas duas cidades, ele vai se aproximar, e, quando achar que dominou o local, nós mostramos a ele por aqui - ele aponta no mapa -, você daqui, descendo...

—Damon! - Eu o interrompo, não querendo ouvir mais nada. Niklaus se volta pra mim em reverência e Damon hesita em fazer o mesmo, me encarando ranzinza, mas ao fim, é o que ele faz também. Me aproximo dos dois. - O que você está fazendo? Baixar as defesas das cidades? Você perdeu a razão? - Ele revira os olhos pra mim e suspira, espalmando as duas mãos na mesa, e no fim parecendo pedir aos deuses inspiração. Fico ainda mais irritada com sua postura. -Você esqueceu o que aconteceu da última vez que baixamos a guarda numa destas cidades?

Ele me encara e depois olha pro seu soldado.

—Klaus, pode vigiar a porta? - Ele curva-se o obedece. Damon volta seu olhar para mim. - Primeiro, não pode estar aqui. - Eu ia abrir minha boca e ele ergue a mão para que não o faça. - Segundo, não sabe do que está falando. 

Dou um passo para trás. Claro que sei!

—Você esqueceu que estive em uma cidade que ele atacou? - Damon revira os olhos mais uma vez, impaciente.

—Não estou falando sobre isso. Tenho consciência de que estava presente num ataque. Lembro bem como foi difícil resgatá-la depois. - Sua voz sugere rancor, e de alguma forma, a sensação ruim da noite em que Rebekah morreu, a que surgiu quando ele falou que eu o impedi de matar Elijah, a mesma que me fez buscá-lo durante estes dias para conversar, volta com tudo.

—Você se arrepende disto também? - Acho que minha voz saiu mais chorosa do que eu queria, pois ele me olhou confuso e bufou.

—Elena, não guarde como um tesouro precioso as palavras que uma pessoa lhe diz em momentos de raiva ou desespero. - A voz dele é baixa e calma. - Apenas quero dizer que você não entende o que estou fazendo aqui.

—Certo, então você pode me explicar. - Ele se volta pro mapa e começa a recolhê-lo.

—Não é um assunto pertinente a rainha do Egito.

—Talvez sim. Principalmente se você parece disposto a por em risco a vida de meus súditos. - Ele para e me encara perplexo.

—Eu não estou... - ele fica de boca aberta. O peguei.

—Não? - Ele parece entender o que estou fazendo, então ele larga os mapas na mesa, respira fundo e me encara, se aproximando um pouco. Acho que dei outro passo atrás, mas ele não pareceu se importar.

—Minha rainha, eu jamais faria algo igual. A esta altura de nossa convivência, para mim já havia ficado claro que o povo é sempre minha preocupação. O melhor para meus soberanos e meu meu povo é minha prioridade. Sempre.

Ele fala em tom meio ácido.

—Você passou por uma grande perda. E eu não duvido de suas habilidades como um soldado, mas com seu coração ferido... - ele ergue a mão novamente.

—Elijah joga pesado. Ele me feriu, provavelmente matou meu pai, fez você perder seu filho e agora matou minha esposa e meu filho. - ele engole. - Em todo o tempo que eu olhava para Rebekah morta em meus braços, eu só ficava imaginando como aquilo era culpa minha e eu explodi. Mas... - ele, para e me olha, sinto dor em seu olhar e minha garganta fecha. - Mas o que me deixou maluco, de verdade, foi a ideia de que ele podia ter feito o mesmo com você, mas ele não fez. E se ele não te matou é porque ele tem planos piores em mente, piores que sua morte. Eu não faço ideia de quais. Eu estou apavorado por não poder prever os movimentos dele. Estou apavorado pela ideia de não conseguir protegê-la. - Ele termina, com olhos marejados, dando as costas para mim.

Minha respiração está agitada, mas estou imóvel.

—Me culpo por Rebekah. Ela me amava. Ela carregava meu filho. Ela era inocente. Eu nunca deveria ter me casado com ela. Foi um ato egoísta. Eu quis mostrar a você que eu também conseguiria seguir em frente. Que eu cumpriria nosso pacto. Eu a trouxe para o meio disto, e ela, em todo tempo só fez me amar. O mínimo que eu deveria fazer por ela era retribuir. Mas eu não consegui. E agora ela está morta. - eu tento fazer meu corpo não demonstrar o que suas palavras me causam. Ele ainda me ama.

—Isso não foi culpa sua.

—Assim como não foi culpa sua o fato de eu não matar Elijah naquele dia. Eu decidi te ouvir. - Ele ainda está de costas pra mim. - Foi minha escolha. Eu não atirei a flecha contra Rebekah, mas me culpo por ela estar no meio daquele salão quando foi atingida. Ela estava por mim. E ela carregava meu filho. Esse foi o motivo real. 

—Você falou de um jeito naquela noite. Parecia...

Ele se volta pra mim, mas desta vez ele caminha decidido até segurar meus ombros com força, meu corpo inteiro treme. Quanto tempo faz desde a última vez que ele me tocou?

—Eu vou matá-lo e vou gostar disto. Vou gostar de verdade disto. Vou caçá-lo e encurralá-lo, e fazê-lo implorar. Vou gostar de tudo isso também, não duvide. - Ele encara minha boca, depois se volta pro meu olhar, vejo fogo em seus olhos. - Não vou medir esforços pra isso, não vou parar até conseguir, mas, me ouça bem, eu nunca porei a vida de meu povo em risco. - Ele me solta e se afasta.

—Tinha muito ódio em você. Damon, eu senti dentro de mim. Foi algo quebrando, você se transformou.

—Claro que me transformei. Eu estou morrendo de medo. Você não me ouviu? Eu estou apavorado. Ele faz o que quer, ele toma o que quer e não conseguimos fazer o mesmo. - Ele grita exasperado. - Se algo acontecer com você, eu não sei o que eu faço. Se algo acontecer ao meu irmão. - ele para por um momento, agoniado - Eu estou atado.

—Então me deixe ajudar. - Eu me aproximo tentando alcançá-lo, mas ele recua.

—Elena...

—Por favor. Você trouxe Alexia para me ajudar. E ela tem feito isto. - Ele me olha confuso e curioso.

—O que ela tem feito? - Hesito, sentindo que falei demais. - Elena?

—Ela têm me deixado forte. - Digo apenas, desviando o olhar do seu.

—Forte como? - Hesito, mordendo meus lábios. - Forte como? - ele levanta o tom de voz e eu apenas o encaro. Ele estreita os olhos e depois os arregala, e sei que ele entendeu. - Não!

—Damon...

—Eu vou matá-la. - Ele rosna e começa a caminhar até a saída, mas eu o sigo e seguro seu braço.

—Você a trouxe para me ajudar e é o que ela está fazendo.

—Não! - Ele se volta como um tigre, se segurando pra me dar um bote. - Eu a trouxe para nos dizer como você perdeu seu filho.

—E ela disse. Por magia. Magia que Ayana induziu. Se eu fosse forte o suficiente, se entendesse melhor como funciona meus poderes, talvez pudesse me defender. Talvez pudesse ter evitado. - Ele acena negativamente, soltando-se de minha mão e caminhando de volta pra mesa.

—Você esqueceu o que acontece quando você brinca com esses poderes? Você não tem controle, Elena. - Ele me encara cheio de fúria contida.

—Exatamente! Por isso eu não consigo suportar. Eu tenho que aprender a controlar, me fortificar. - ele bufa, negando. De repente ele congela, e me encara duvidoso.

—Stefan sabe disso?

—Não. - Praticamente grito e logo me ocorre que ele faria isso sem hesitar - E você não vai contar. - ele bufa outra vez -  Damon, por favor. Confie em mim.

—Como você pode saber se Alexia não está usando você? - Ele volta a se aproximar de mim, a cada passo dele à frente, eu dou um para trás.

—Não está.

—Como você sabe? - mais passos.

—Eu sei. - ele sorri com sarcasmo - Por favor, deixe ela continuar me ajudando. Não conte ao Stefan. Ela está me deixando forte. - sinto uma parede em minhas costas, e lá está ele, se aproximando mais de mim, e finalmente, me cercando com seus braços, cada um posicionado ao lado de meus ombros. É uma prisão. Não posso sair.

—O que demônios você quer dizer com forte, afinal?

A voz dele é um desafio, de lá mesmo, sem muita opção de movimento, olho pra água posicionada no pequeno poço que está ao centro da sala do conselho, me concentrando e tentando respirar com tranquilidade, fecho meus olhos e faço um discreto movimento com meu punho. Damon não percebe o que estou fazendo até guiar uma pequena quantidade de água acima de sua cabeça e lhe dar um pequeno banho. Ele encolhe os ombros com o susto, depois solta a respiração e tento não sorrir.

—Forte. - digo contendo uma risada. Ele me olha furioso.

—Você vai parar com isso agora. - rosna.

—Damon...

—Você está maluca? Sabe o que acontece com você quando usa magia. - Protesta limpando a água que escorre por seu rosto com uma das mãos, num movimento impaciente.

—Você está vendo algum sangue?- ele estreita os olhos -Deixe ela me ajudar. Eu ficarei mais forte e poderei ajudá-lo em seus planos. Poderei lhe ajudar a nos defender.

—Como você acha que faria isso? - ele sorri com ceticismo -Movendo água contra os soldados de Elijah? - a expressão dele é tão cruel e irônica, sinto uma raiva crescer dentro de mim, como ele me aborrece.

Me concentro nesta raiva, exatamente como Alexia me ensinou, quero dar uma lição nele.

—Ah! - ele se afasta, mãos nas têmporas -Elena... - sua voz sai abafada, como um grunhido, ele cai de joelhos -Elena, para com isso. - eu acho que mostrei meu ponto. Relaxo e ele respira, curvando o corpo pra frente.

—Fazendo algo parecido com isso. Algo que já fiz com você uma vez, no deserto, mas lá eu não controlava. - ele me encara com raiva - Se eu sangro, é porque eu não domino bem meus poderes, mas se eu conseguir, então eu posso te ajudar em nossas defesas. Me deixe te ajudar. Me dê tempo. - ele se ergue irritado, ficando de novo de frente para mim, mas estamos a dois passos um do outro.

—Não temos tempo. Não sabemos quando ele vai nos atacar, e, até lá você pode não estar pronta, ou seja lá o que quer dizer com tudo isso, para enfrentá-lo. 

—Não pode falar isso por mim. - ele sorri com aquele ar altivo que me deixa doida.

—Ah, eu posso. - trinco os dentes para me conter, não quero brigar.

—Eu já progredi bastante. - falo entre dentes -E acredite, eu tenho motivação suficiente para imaginar ele queimando na minha frente.

—Se você se machucar... - ele dá um passo até mim.

—Não vou.

—Eu mato aquela mulher. - outro passo.

—Ela sabe disso.

E lá estamos nós outra vez, ele tão perto, sua testa quase colada na minha, as gotas de água ainda escorrem por seu rosto, pescoço, peito, e eu engulo. Posso sentir o cheiro de sua pele, o calor emanando de seu corpo até o meu. Sinto meu corpo tremer, mas então ele se afasta. Se afasta demais.

—Não vou contar ao Stefan, agora, mas não vou esperar você se machucar pra contar.- ele continua com uma voz serena e bem mais perigosa do que quando está com raiva - Vou lhe dar três dias, e então eu conto pra ele, e ele decide.

—Três dias? - guincho.

—Até lá é bom que Alexia lhe ensine a ficar quieta, pois estou certo de que meu irmão não vai permitir que continuem fazendo seja lá o que fazem.

—Damon... - ele ergue o dedo pra mim.

—Três dias. Não vou mentir pra ele.

Sei que perdi esta luta. então só me resta manter a dignidade.

—Tudo bem.

—Saia daqui.

O tom que ele usa me deixa brava.

—Saia você, sou a rainha.

—Que não pode estar aqui. Eu, no entanto... - estreito os olhos e ele sorri, um sorriso limpo e descontraído e meu coração derrete e respira tranquilo, pois todas as preocupações que me trouxeram para este encontro estão encerradas, por ora.

Dou meia volta e caminho até a saída escondendo dele meu sorriso.

—Elena? - me volto e o vejo muito sério, concentrado. Sua expressão me deixa alerta e me tira o ar de riso no mesmo instante. - Cuidado. - ele engole, e sinto meu coração saltar. Essa palavra, essa única palavrinha significou tanto, quando mesclada com seu jeito de me olhar, com sua aflição. Foi como um beijo, um beijo cálido e apaixonado, que eu quero devolver.

—Tome cuidado você também. - Ponho todo o amor que sinto por ele nesta frase e me volto, praticamente correndo até a porta, porque se ficar, não serão apenas palavras ou frases, serão ações.


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Notas finais do capítulo

Beijos!



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