Meus olhos se encheram de lágrimas. Ele me viu e imediatamente o sorriso que estava em seu rosto, se transformou numa cara séria. Ele virou para a menina que estava com ele, e disse “vamos”, e saiu com ela de mãos dadas. Minha visão estava embaçada, mas consegui reconhecer, era Gabriela. Ai sim que as lágrimas começaram a cair do meu olho. Era uma mistura de ciúmes, com tristeza, com raiva... Ele foi saindo com ela, em direção á um taxi, e poucos passos antes de chegar no taxi, eles se beijaram. Agora o choro, tinha virado um rio. Ele abriu a porta do carro para ela, ela deu um selinho nele, e entrou, e logo em seguida ele entrou. Já dentro do taxi, ele me olhava, e me via chorar, e eu o olhava, gesticulando com a boca “por que você fez isso comigo?”. Estava declarado, era o pior dia da minha vida. O taxi se foi, levando junto toda minha felicidade. Fiquei lá chorando até as meninas aparecerem, cada uma com seu par. A Belle com o José (par de amigos), e a Lê com um garoto que eu não sabia quem era, mas ele era muito bonito. Elas me viram sentadas na grama, e foram falar comigo. Limpei as lágrimas para elas não verem que eu estava chorando. Levantei o rosto, dei o sorriso mais falso do mundo, e falei:

- E ai meninas? A noite foi boa? Se divertiram? – eu disse fingindo que estava bem.
- Sim, foi sim. Pelo menos a minha foi! Esse aqui é o Enzo – a Lê disse apontando para o menino que estava com ela – ele vai ir embora com a gente, tudo bem?
- Claro que sim! Afinal, é sua mãe que vai dar carona! – a Belle disse fazendo nós rirmos – então, vamos?
- Vamos – todos disseram.

A Lê ligou para a mãe dela, que logo depois chegou. Perguntaram-me do João, e eu falei que explicava depois. Entramos no carro, e tivemos que pegar um pequeno trecho de estrada para deixar o José e o Enzo, já que eles moravam num condomínio de casas um pouco afastado da cidade.  Na volta, ligamos o rádio, e colocamos a música quase que no último volume. A mãe da Lê era muito legal, era uma daquelas mães que é meio que uma adulta que não cresceu? Não que ela fosse irresponsável nem nada disso, quando ela tinha que ser brava, ela era. Mas é daquelas mães que escuta as mesmas músicas que a filha, sabe todos os segredos da filha, enfim. Estávamos lá, nós quatro dançando Hold Up da Demi Lovato que nem loucas, quando de repente vimos uma luz forte vinda em nossa direção, nem deu tempo de pensar em nada, tudo ficou escuro de repente, e não me lembro de mais nada.

Acordei num hospital, com lindos olhos azuis olhando para mim. Ele estava ali, com uma cara de sono, de quem não tinha dormido direito, e quando eu abri os olhos, ele deu o sorriso mais lindo do mundo. Sorri junto. Então ele disse:

- Que bom que você acordou! Ficou muito tempo desacordada.
- Quanto tempo?
- Pelo menos dois dias.
- E como eu vim parar aqui?
- Você não se lembra de nada?
- Só lembro-me de uma luz forte vir em nossa direção, depois não me lembro de mais nada...
- Bom essa tal luz forte, era um carro de um cara idiota, que estava bêbado – percebi que estava falando com um pouco de raiva – que estava simplesmente na contra mão, e que bateu no carro de vocês, que acabou caindo de um morro alto, e bateu no chão. As pessoas que viram o acidente, ligaram para ambulância, que demorou para chegar, e nisso você acabou perdendo muito sangue por causa das feridas, e ficou desacordada esse tempo todo.
Eu estava totalmente em choque. Eu tinha sofrido um acidente, realmente tinha sido o pior dia da minha vida. Foi ai que eu lembrei: e as meninas? Falei alto:
- Rafael, e as meninas como elas estão???
- Calma, as três estão bem, a Letícia, a mãe dela e a Belle. Elas estão quartos nesse andar mesmo, já acordaram faz tempo, mas ainda estão fazendo exames, enfim. Só você que foi a Bela Adormecida mesmo. – ele disse brincando - Mas agora, já está na hora da senhora relaxar um pouco não acha? Muita coisa para uma pessoa que acabou de acordar! Me dá um espaço ai, deixa eu sentar com você.

Fui um pouco pro lado, e ficamos lá abraçados vendo televisão. Ele me disse que meus pais tinham ido para casa pegar algumas roupas, tomar um banho, descansar um pouco. Perguntei então:

- Mas me explica um negócio, você não estava bravo comigo? O que o senhor está fazendo aqui?
- Ah Laura, sim eu estava um pouco bravo sim, mas quando me deram a noticia, me deu um medo de te perder... Sei lá, sabia que a coisa certa a fazer seria ao menos vir ao hospital.
- E quando você ficou sabendo?
- Poucas horas depois do acidente, era noticia em tudo quanto é jornal. Vim pra cá o mais rápido possível, e to aqui até agora.
- Você ficou todo esse tempo aqui?!? – eu disse espantada.
- Fiquei. Pedi a minha mãe para trazer umas roupas, e sempre disputava o sofá com os seus pais. – ele disse brincando.
- Ai Rafael, pelo amor de Deus hein?!

Ficamos ali, abraçadinhos, estava tão gostoso. Só conseguia pensar em uma frase que vi no tumblr “tem abraço que parece beijo”, era exatamente o que eu tava sentindo no momento. Eu só queria ficar ali pra sempre, e nada mais.