Argonautas I escrita por Argonautas


Capítulo 24
Vitor Mendes




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Me chamo Vitor e sou filho de Hades.

Nunca fui um garoto popular na escola e só tinha um amigo de verdade: Traice Guimarães.

Ele tinha cabelos cacheados, usava muletas e andava de um jeito estranho, como se cada passo o incomodasse.

Eu sempre fui um aluno “mediano”, quase sempre tirava a média e isso era suficiente pra eu passar.

Não cheguei a conhecer o meu pai, moro apenas com a minha mãe. Nossos familiares e todos da escola acham que sou estanho ou tenho algum problema mental, dizem que falo sozinho, mas o que eles não entendem é que eu vejo as pessoas com quem converso. É estranho, mas parece que só eu consigo vê-las.

De tanto os meus professores e o diretor da escola insistirem, minha mãe me mandou para um psicólogo.

– Então você é o jovem Vitor?- perguntou o Psicólogo - Olá, sou eu sim!- eu respondi.

– Fiquei sabendo que você fala sozinho, meu jovem!

– Desculpe, senhor, mas eu não falo sozinho, eu falo com muitas pessoas, mas recentemente ando conversando bastante com uma garota.

– Qual o nome dessa garota, você sabe?

– Sei sim, senhor. O nome dela é Adele Francis!

O psicólogo me olhou espantado e com os olhos cheios de lágrimas. Abaixou a cabeça e falou:

– Adele Francis é minha filha, ela morreu há 3 anos em um acidente de carro. Quem te falou o nome da minha filha, Vitor?

– Ela mesma, senhor!

Não sei o que aconteceu com o psicólogo, mas ele disse que a consulta havia acabado, praticamente me expulsou da sala e nunca mais agendou consultas para mim.

Uma semana depois, no dia 01 de março eu fiz 15 anos. Levantei cedo, me arrumei pra ir à escola. Minha mãe queria fazer uma festa pra mim à noite, minha mãe disse que iria preparar um bolo especial para mim. Como eu não tenho amigos, apenas iria chamar o Traice.

Chegando à sala de aula, sentei no fundo da sala, como de costume e fiquei esperando o professor chegar, mas quem apareceu foi um substituto: Um homem alto, cabelos grisalhos e roupas folgadas.

Por alguma razão aquele professor não levantava a cabeça e isso impedia que nós pudéssemos olhar nos olhos dele.

Quando o Traice viu o novo professor, ele ficou agitado, nervoso, sua pele empalideceu e ele tremia.

– Você está bem, Traice? – Eu perguntei

– Esse cheiro... Não pode ser... O que ele está fazendo aqui? Preciso tirar o Vitor da sala em segurança! Meus deuses, me ajudem a salvar o Vitor desse ci...

O Traice não falava coisa com coisa, estava cada vez mais nervoso e agitado, parecia que em algum momento ele teria um ataque cardíaco.

Então o professor levantou a cabeça, olhou diretamente para o Traice e falou:

– Algum problema, senhor Guimarães? Está passando mal

– Eu... Eu não estou bem, senhor... Preciso... sair da sala...Vou para a enfermaria...- Traice falou com a voz trêmula. - Como quiser, senhor Guimarães- Respondeu o professor

Antes de sair da sala, ele pegou uma faca que parecia ser de bronze, me entregou sem que ninguém percebe-se e falou:

– Vitor, eu vou buscar ajuda, fique tranquilo! Você irá em segurança para o Acampamento Meio Sangue, eu juro pelo Estige!- E assim ele saiu correndo da sala

“Acampamento o que???”, “Rio Estige”?? Do que o Traice tava falando e porque ele ficou tão nervoso quando olhou para o professor?

A aula estava quase terminando e meu amigo ainda não havia retornado, de eu senti um frio na espinha, como se o professor estivesse me observando, me encarando.

O sinal do recreio bateu e antes que eu chegasse à porta, o professor colocou a mão no meu ombro e falou:

– Vitor Mendes, filho de Hades! Não tenha tanta presa em sair da sala, prole de deus!

Eu não entendi nada, apenas sai correndo da sala, fui para o pátio da escola e me escondi atrás de uma árvore.

O professor estava vindo em minha direção, parecia está maior, com mais de 2 metros, foquei em seu rosto e notei um grande detalhe: Ele tinha apenas um olho.

Fiquei abaixado, para que ele não pudesse me notar. Nunca gostei muito de história, dormia na maioria das aulas, mas aquele professor parecia ser um ser mitológico. Cadê o Traice pra me ajudar? Ele era excelente nessa matéria, com certeza saberia qual monstro era aquele.

De repente o monstro falou com uma voz grave e estrondosa:

– Eu sinto seu cheio, filhote de deus! Não tente fugir de mim, você será o meu almoço! Meu mestre disse que você está destinado a atrapalhar os planos dele, por isso me mandou vir aqui acabar com você!

Foi nesse momento que fiz a coisa mais estúpida da minha vida: Sai detrás da árvore, peguei aquela faca de bronze e fui encarar aquele monstro

– O que é semideus? E quem é você?- Eu perguntei tentando manter a calma diante de um ser de pele avermelhada e com 2 metros e meio de altura.

– Eu sou um ciclope, semideus! E você é a minha refeição!

Ele me agarrou pelo pescoço e me levantou a uns 5 metros do chão, eu o acertei com a faca, me soltou, urrou de dor e sai correndo.

– Você irá pagar por isso! Será o seu fim, semideus maldito!

Eu sabia que seria o meu fim, não ia conseguir vencer aquele mostro com aquela pequena faca, mesmo assim fui pra cima dele. O ciclope foi mais rápido, me atingiu e eu sai voando, até bater nos armários escolares.

Eu estava atordoado, com o corpo doendo e muito machucado, esse era o meu fim.

O monstro estava na minha frente, pegou um dos armários e ia jogar em cima de mim, pra me esmagar, então todo o seu corpo tornou-se rígido, notei que algo pontiagudo como uma espada atravessava o seu corpo e ele se dissolveu em poeira. Isso foi a única coisa que vi antes de desmaiar.

Quando acordei estava numa cama, em um lugar que parecia uma enfermaria e ao meu lado estava o Traice, mas da cintura pra baixo ele era um bode.

Ele olhou pra mim e falou:

– E aí, cara! Tudo bem? Nossa, tem 3 dias que você tá dormindo, achei que o ciclope tinha te matado!

– Ci... o que?? Ei! Traice, você é um menino bode?

– Vitor, um ciclope e não sou um menino bode, sou um sátiro! Eu te falei que história era importante, principalmente mitologia grega! Os deuses gregos e seres mitológicos são reais, você é filho de um deus! Aqui é um lugar seguro para jovens como você!

– Ciclope? Sátiros? Seres Mitológicos? Que lugar é esse? O que é semideus? Que papo é esse de deuses gregos? Por que mitologia grega é importante? Lugares para “jovens como eu”?

– Calma, meu amigo! Uma pergunta de cada vez!- Respondeu Traice

Depois que tentei me acalmar o Traice me explicou tudo. Disse que eu tava em um tal de “Acampamento Meio Sangue”, disse que eu era filho de um deus e uma mortal, disse que nunca precisou de muletas, pois era apenas um sátiro disfarçado e foi enviado para me proteger e me trazer em segurança a esse Acampamento.

– Suponhamos que tudo isso que você falou seja verdade e que realmente eu seja filho de um deus grego. Quem é meu pai então? Pra mim são todos iguais!

– Os deuses não são iguais, Vitor! Não sabemos quem é seu pai ainda, por enquanto você ficará no Chalé de Hermes. Levante-se da cama, vou te levar ao Quíron e ao Senhor D., depois te mostrarei todo o Acampamento e o Chalé onde você ficará.

Uma semana depois estávamos na fogueira, eu já havia me acostumado com tudo e estava me adaptando a essa nova vida.

Nessa mesma noite fui reclamado pelo meu pai Hades. No início eu não gostei muito, Hades é o deus dos mortos e do submundo, eu achei que isso ia me trazer má sorte e eu seria um excluído, assim como ele é, mas depois eu aceitei e me conformei com essa idéia.

Quando fui para o meu Chalé novo e sentei na cama, notei que havia sentado em cima de um embrulho. Abri e eram duas de 60 centímetros e suas lâminas eram negras.

Havia um bilhete e estava escrito: “Presente de aniversário atrasado. Use com sabedoria”.

Eu fiquei indignado com aquilo!

Meu pai nunca se lembrou de mim e agora quer me dar duas foices de presente? Que pai é esse? Fiquei com tanta raiva que peguei uma das foices e joguei pela janela. Ela acertou uma árvore e começou e a árvore começou a murchar e depois a foice voltou para minha mão.

Falei comigo mesmo:

– Ótimo, já vi que essas foices não irão me abandonar! Belo presente, papai!

O que as pessoas irão pensar quando me virem com duas foices no meio da rua? – Falei com ironia.

E como num passe de mágica as duas foices foram diminuindo e se transformaram em um par de luvas de couro, sem os dedos.

No Acampamento Meio Sangue eu fiz novos amigos e ganhei novos irmãos.

O Aldo era o Conselheiro do nosso Chalé e ajudou para que eu me enturmasse com os demais campistas.

A cada dia que se passa eu tenho mais certeza de que aqui é meu lugar!


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