Colhendo Almas escrita por Ellie_Buzin


Capítulo 3
Honrando o Distrito 2


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoal! Esse é o último capítulo que considero "introdutório" da fic e, finalmente, o interessante começa! Bom, divirtam-se!



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Ao chegar no Centro de Transformação, os dois tributos foram separados e cada um encaminhado para suas respectivas equipes de preparação. Harmony estava ansiosa ao mesmo tempo que receosa de conhecer aqueles que cuidariam de sua aparência nos próximos dias. Gaia a acompanhou até o local, tagarelando sobre como seria a Cerimônia de Abertura. A garota fingiu que estava escutando. Estava ocupada demais tentando descobrir se o que estava sentindo naquele momento era felicidade de estar na Capital ou puro desespero.

– Chegamos... Kali e Vita, nossa carreirista está aqui! - anunciou alegremente.

Kali foi a primeira a aparecer. Era uma mulher baixinha, cabelo azul-celeste encaracolado até o quadril e o rosto completamente branco. Usava lentes amarelas que imitavam olhos de felino e usava um delineador preto acompanhado de cílios trançados da mesma cor. Vestia um macacão de manga comprida feito couro amarelo brilhante e botas azuis de cano até o joelho. Ela foi até Harmony e beijou-lhe o rosto.

– Olá! Eu sou a Kali. Aquela é a Vita.

Vita estava encostada na parede do canto. Era bem mais alta que Kali e tinha o cabelo laranja florescente liso na altura do queixo. Vestia um terno justo verde limão e scarpins da mesma cor. Não usava muita maquiagem no rosto, apenas um batom azul escuro e cílios da mesma cor. Harmony teve a impressão de que não era uma mulher de verdade, suas feições eram masculinas. Acenou de longe para garota.

Assim que Gaia deixou o local, a equipe começou a cuidar de Harmony: fazer suas unhas, depilar seu corpo, pentear e cortar as pontas seu cabelo. Vita agradeceu o fato da garota não estar dando trabalho; não havia muito que fazer nela. E isso era verdade. Harmony foi ensinada a cuidar da aparência com o objetivo de atrair a atenção das pessoas, visando os Jogos. Tributos bem apresentados tendem a conseguir mais patrocinadores.

Ao terminarem o trabalho “difícil”. Kali e Vita passaram algum tipo de gel incolor no corpo de Harmony – com o discurso de que aquilo faria sua pele parecer melhor – e pediram para que esperasse a estilista chegar para avaliá-la. O gel tinha um cheiro familiar... Lembrava finais de tarde de sábado da infância de Harmony, quando ela voltava do treino com seu pai e sua mãe havia feito bolinhos de morango.

Morango... Sentiu um aperto no peito ao lembrar de casa e suspirou.

– Guarde o suspiro para quando ver seu traje! - uma voz infantil ecoou pela sala assustando Harmony. A menina levantar depressa, se sentando na mesa e puxando o robe para esconder o corpo.

Uma moça familiar estava parada na porta. Usava terno e sapatos como o de Vita, porém eram lilás, a mesma cor de seu cabelo que estava preso em uma trança comprida. No rosto usava apenas um batom vermelho, lentes de contato roxas e um delineador preto. Harmony então a reconhece: Era a estilista do Distrito 2 e mantinha esse posto há alguns anos. Seu nome era Luna. Harmony respirou aliviada.

– Seu vestido é fabuloso! – disse Luna empolgada – Não é como nada que você já tenha visto na vida! Ansiosa?

– Um pouco...? – respondeu a garota com um sorriso torto.

– Um pouco? É meu melhor trabalho! – a estilista fez uma cara de decepção e deixou a sala. Harmony ficou sem reação. Será que Luna se sentiu ofendida? Não era possível, não havia nada demais no que tinha falado...

Porém antes que o sentimento de culpa aparecesse, Luna voltou para o local segurando um cabide onde estava pendurado algo que se parecia com uma capa de chuva preta comprida. Harmony piscou várias vezes confusa. Melhor trabalho?

– Meu distrito é responsável por fornecer armas e pacificadores e pela mineração e lapidação de pedras. - disse.

– É mesmo, é? E você acha que eu não sei disso porque...

– Porque eu não acho que uma capa de chuva represente o Distrito 2.

Luna olhou para a Harmony séria, tentando entender e, depois, caiu na gargalhada.

– Não, não, querida! Seu vestido está aqui dentro! - levantou o cabide.

Harmony ficou sem graça. Ainda rindo, Luna tirou o vestido da caoa. Entregou-o para a garota e pediu para que ela vestisse, e assim ela o fez. Assim que terminou, parou diante a um espelho e admirou-se.

O busto do vestido era feito de um metal dourado em forma de asas e então um tecido negro brilhante descia justo até um pouco acima do joelho de Harmony, abrindo rodado até o chão, com a cauda ligeiramente mais comprida. Era simples, porém muito bonito.

– Seu parceiro, Keith... - Luna arrumava a cauda do vestido – Estará usando algo que lembra um uniforme militar. Preto e dourado, como o seu. Vocês dois ficarão lindos juntos com os trajes... Bom... Hora de arrumar o cabelo!

***


Essa roupa é horrível. – comentou Keith. – Me dá vontade de pegar aquele tridente e enfiar no meu cérebro. – ele olhava para os tributos do Distrito 4.

– Eu gostei... – disse Harmony – Bem representativo!

– Representativo... – balançou a cabeça – Representa minha vontade de vomitar, isso sim!

O garoto encostou na parede e cruzou os braços. Harmony não entendeu o porque do ódio da roupa. Keith estava bonito. No entanto, ele parecia bem irritado, diferentemente de como estava no trem. A garota considerou a possibilidade de Keith ter ficado com uma equipe de preparação ruim.

– Por que está irritado?

– Por que você não cala a boca?

Harmony olhou para ele incrédula.

– Qual é o seu problema, Keith Hale?

– Meu problema é: você ainda está falando.

– Eu só estava curiosa! – respondeu indignada – Você parecia animado no trem!

– Ah, me desculpe... - ele deu um sorriso irônico – Sim, é bem animador andar no trem-para-a-morte... Além do mais, por que se importa? Não é como se você não fosse me matar daqui em alguns dias, carreirista!

Harmony abriu a boca para responder e então fechou. Era verdade, ela iria se tivesse a chance, mas preferiu não confirmar em voz alta. Não podia brigar com o outro tributo do seu distrito agora. Eles deveriam parecer unidos. A menina então respirou fundo e decidiu ignorar. Avistou Martin caminhando até eles com Gaia “pendurada” em seu braço direito.

– Oooun... Vocês estão lindos! Parecem um casal da realeza! - Gaia sorriu gentilmente.

Nenhum dos dois sorriram. Era nítido o mau estar entre eles.

– Não me digam que já estão brigando? - perguntou Martin sério. Ele se soltou de Gaia e parou na frente dos dois tributos. - Eu vou perguntar uma vez... Me respondam certo ou vocês se virarão sozinhos naquela arena... Vocês querem viver? Querem voltar para casa e rever suas famílias?

Harmony soltou um “sim” enquanto Keith apenas encolheu os ombros.

– Resposta errada, Keith. – disse Martin – Eu achei que isso seria mais fácil... Ah, se dois fossem carreiristas... – lamentou – Vamos, entrem nas carruagens.

Harmony passou na frente de Keith e subiu primeiro na carruagem presa a cavalos de pelagem negra. O garoto a seguiu contrariado. Tudo que passava na cabeça da jovem carreirista era como o humor de Keith iria arruinar a imagem do Distrito 2 e a impedir de conseguir patrocinadores. Não, aquilo não podia acontecer...

– Me escutem agora... – Martin parou ao lado deles – Eu quero que vocês dois sorriam como se hoje fosse o melhor dia da vida de vocês. Vocês serão uns dos primeiros a entrar, se não darem o seu melhor agora, os outros distritos ganharão mais destaque. Eu quero os dois agindo como se fossem os melhores tributos que Panem já viu!

A música de abertura começou. Harmony respirou fundo. O casal do Distrito 1 saiu pelo portal.

– Honrem o Distrito 2. – completou Martin.

E então os cavalos que guiavam a carruagem começaram a galopar e Keith e Harmony atravessaram o portal. Os gritos da multidão inundaram os ouvidos de garota como se fosse uma bela canção. “Distrito Dois!” eles gritavam e aplaudiam. Quanto tempo esperou por esse momento? Lembrou de quando era criança e assistia aos jogos com os pais. Ela não conseguia acreditar que estava finalmente acontecendo.

Olhou para Keith sorrindo, esquecendo totalmente o mau estar anterior, e ele a olhou de volta. Ela não desfez o sorriso. Keith a encarou neutro por alguns segundos, mas o riso começou a formar em seus lábios. Harmony riu e ele a acompanhou.

– Me desculpe. – disse Keith.

– Vou pensar a respeito. – respondeu ainda sorrindo.

Seus rostos, radiantes, estavam nos telões para toda a nação ver. Harmony imagina seu pai assistindo a abertura. Estaria ele orgulhoso? Acenaram para as pessoas que berravam seus nomes como se fossem heróis. Era como se nada pudesse ser melhor do que aquilo. Harmony conquistara o coração da Capital. Ela conseguirá patrocinadores. Ela conseguirá viver.

Continuaram acenando ao público até chegarem ao Círculo da Cidade, onde o Presidente Snow aguardava os tributos para que a abertura dos 68° Jogos Vorazes pudesse ser oficializada. Quando todos já lá estavam presentes, Snow fez um breve discurso de abertura e, então, os presentes foram convidados a cantaram o hino de Panem enquanto os tributos davam uma última volta. A música começou e Harmony mal conseguia esconder o sorriso. A câmera focalizou na carruagem e a garota assistiu a si mesma estonteante no telão, com o hino da nação ao fundo. Honrando o Distrito 2.


***



– Vocês foram incríveis! E eu não falo isso para todos os tributos... – disse Gaia se sentando à mesa de jantar.


Estavam no Centro de Treinamento, após a Cerimônia de Abertura. Quando chegaram lá, subiram para o respectivo andar do Distrito 2 para que pudessem trocar as roupas e comer. Uma mesa repleta de comida os esperava. Luna, Vita, Kali e a equipe de preparação e a estilista de Keith se juntaram a eles para jantar. Aquela era uma ocasião importante, uma vez que os treinamentos começavam no dia seguinte e precisavam bolar estratégias.

– Na verdade, você diz sim! – respondeu Martin rindo – Mas está tudo bem, porque sabemos que é sincero. Mas, preciso ser justo... – ele ficou sério – Achei que Keith iria estragar tudo. Que bom que não estragou.

Keith levantou a taça com suco, fingindo brindar.

– Quanto a Harmony... Sabia que seria brilhante, mas você foi perfeita. Estou orgulhoso, Harmony.

Harmony sentiu suas bochechas ficarem quentes e olhou para baixo. Keith – sentado a sua frente – a encarou sorrindo torto.

– Que fofa, ela ficou envergonhada! – disse enquanto furava um pedaço de carne com seu garfo e colocava na boca. Harmony chutou o joelho de Keith por debaixo da mesa – Ouch! Vai com calma, pequena!

A garota olhou pra ele com raiva. Gaia colocou uma mão próxima a boca pigarreou.

– Mesmo vocês tendo chamado a atenção de patrocinadores, temos que decidir como vocês se relacionarão com os outros tributos...

– Bem lembrado, Gaia. – Martin sorriu pra ela – Eu sei que provavelmente nossa carreirista queira agir sozinha na arena, no entanto... Eu acho que vocês devem se aliar.

– Como assim? – perguntou Keith mastigando um pedaço de batata.

– Mais simples do que parece, Keith. Quero que vocês dois permaneçam juntos e se aliem aos carreiristas do Distrito 1. E convidem também a garota do Distrito 4... Qual o nome dela mesmo?

– Katerina. – Naomi, a estilista de Keith lembrou.

– Isso, Katerina. Precisamos ver a nota dela na avaliação primeiro, mas ela me parece ser uma forte adversária. Se voluntariou. Precisam dos melhores ao lado de vocês, pelo menos no início...

– Então, amanhã, no treinamento, tentem uma aproximação com o Distrito 1. – disse Gaia. – E lembrem-se de não mostrar suas melhores habilidades. Isso pode ser utilizado contra vocês.

Martin e Gaia passaram o resto da noite dando conselhos aos dois tributos. Harmony os escuta com atenção e tenta se lembrar de tudo. Não fazia ideia de como iria fazer amizade com pessoas desconhecidas ou o que dizer a eles. Após o jantar, Gaia pediu para que fossem para seus quartos descansarem. “Terão um dia cheio amanhã”, disse ela.

Harmony entrou no seu quarto e se jogou de costas na cama. Ficou olhando para o teto, repassando em sua cabeça tudo que acontecera no dia de hoje. Estava morta de cansaço. Pegou o controle remoto que estava no criado-mudo e o apontou para a janela. A primeira imagem que já lá estava era a própria Capital. Ainda deitada, apertava o botão repetidamente, passando de paisagem em paisagem até cair no sono.


 


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