Colhendo Almas escrita por Ellie_Buzin


Capítulo 2
Finalmente


Notas iniciais do capítulo

Olááa! Bom, aqui está o segundo capítulo da minha fic... Espero que vocês gostem e comentem!



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– O que foi aquilo, Harmony?

– Desculpa, pai. Eu... - Harmony engoliu seco – E-eu fiquei um pouco nervosa. Só isso, mas já passou.

Seus pais foram fazê-la a última visita antes dos Jogos. Sra. Kalith estava em prantos, no entanto, seu pai estava zangado. Com certeza não gostara de ver sua filha demorar a reagir durante a colheita.

– Harmony, me escute bem. - Leo colocou as mãos nos ombros da garota. - Eu já falei que hesitar não é uma opção dentro dos Jogos.

– Eu s..

– Você não pode parar e pensar antes de reagir, Harmony! Isso pode significar sua morte! Pode significar mais desonra para a família! - ele balançava Harmony pelos ombros – Não pense na arena... Reaja! Você quer ser pega de surpresa como meu irmão?

– Não, papai.

– Então faça o que passamos uma vida treinando!

– Sim, pai. Entendi. - Ela respirou fundo – Eu estou preparada. Eu não sei o que deu em mim! Não vai acontecer novamente, eu prometo.

Sr. Kalith sorriu e abraçou a filha. Harmony levantou apenas um braço para retribuir o abraço – não estava acostumada com demonstrações de carinho vindas de seu pai. Talvez ele tenha a abraçado quando era criança, mas se isso de fato aconteceu, não passa de uma lembrança antiga ou a memória de um sonho infantil.

Se afastaram e Sra. Kalith abraçou a filha também, porém de forma desesperada. Chorava alto enquanto segurava Harmony. A menina se sentiu desconfortável, mas a abraçou de volta.

– Mamãe, está tudo bem.

– Eu não sei porque concordei com isso! - soluçava – Por que concordei? Onde eu estava com a cabeça?

– Mamãe, está...

– Como eu permiti que fizessem isso com minha própria filha? Como pude permitir que a jogassem para a morte?

– Ada, recomponha-se! - ordenou Sr. Kalith.

Mas não adiantou. Ada apertava mais a filha e soluçava descontrolada. O pai de Harmony a puxou pelo braço.

– Está na hora de irmos. - falou enquanto segurava a esposa pelo punho e limpava as lágrimas dela com a outra mão. - Harmony, você sabe o que fazer lá. Sobreviva.

– Até logo, papai.

O casal saiu da sala. Podia-se ouvir os soluços de sua mãe do lado de fora. Harmony se sentou no sofá e respirou fundo. Será que mais alguém iria visitá-la? Ela não conhecia muitas pessoas. Tudo que tinha além de seus pais eram três colegas da escola. Eles não viriam. Não é como se ela fosse uma grande amiga deles de qualquer forma. Nunca aprofundou suas amizades e nunca foi próxima de outros parentes. Seu pai sempre dizia que seria difícil superar a saudade daqueles que deixou para trás durante os jogos, por isso não deveria se apegar demais às pessoas.

Olhou em volta. Era uma bela sala de despedida. Não era muito grande, no entanto, tinha um grande lustre de cristal no centro; janelas altas e largas com cortinas verde escuro de veludo que iam do teto ao chão; uma mesa de centro com um vaso de rosas vermelhas em cima; e um tapete felpudo da mesma cor que as cortinas. O sofá em que sentava tinha um estilo clássico com o contorno de madeira escura e tecido vermelho macio. Harmony deitou a cabeça no encosto e olhou a lareira desligada à sua frente. Seu olhar foi para a porta fechada da sala. Ninguém mais veio vê-la. Tudo que estava lá fora eram os Pacificadores.

Harmony fechou os olhos e esperou.


***

– E aqui é onde serviremos a refeição! - disse Gaia com uma voz animada.

Keith e Harmony já estavam no trem em direção à Capital. Felizmente, o Distrito 2 era um dos distritos mais próximos da Capital e isso queria dizer que não precisariam ficar muito tempo no trem como os tributos que viviam mais distantes. No entanto, Harmony lamentou o fato de não poder passar mais tempo ali. Tudo era extremamente luxuoso.

O vagão onde seriam realizadas as refeições era claro e bastante sofisticado. Tinha paredes almofadadas brancas; Os móveis eram feitos de mogno e local estava todo decorado com objetos de cores claras. Mas não havia muitas coisas ali senão uma larga mesa com apenas quatro cadeiras e um bar no canto. A mesa estava cheia de frutas, pães, bolos, bebidas, dentre outras coisas – algumas que Harmony nunca vira na vida. Era um verdadeiro banquete. Gaia os guiou até lá e fez um gesto gentil para que sentassem nas pontas.

– Eu vou chamar o mentor de vocês para que possam conversar... - disse sorrindo graciosamente – Com licença...

E então deixou o vagão. Harmony sentiu como se o ar tivesse ficado mais leve. A presença de Gaia era extremamente intimidante. Ela não era exagerada como as outras pessoas da Capital, porém seu excesso de elegância era o suficiente para deixar as pessoas incomodadas. Keith também pareceu relaxar quando a acompanhante do Distrito 2 deixou o local:

– Eu vou acabar morrendo antes mesmo de chegarmos à Capital. - disse Keith afundando na cadeira.

Foram as primeiras palavras que trocaram sozinhos depois da Colheita. Harmony olhou para o garoto e sorriu:

– E você acha isso por quê?

– Eu não sei... - ele coçou a nuca – Talvez alguém programe Gaia para rir até meu cérebro estourar.

Harmony piscou duas vezes sem entender.

– Hã... O que você quer dizer com isso?

Keith riu e se arrumou na cadeira colocando os cotovelos na mesa e apoiando o rosto em um punho.

– Vai dizer que você não acha que ela é um robô? Já viu como a risada dela é irritantemente perfeita e como ela anda reta? E outra coisa... - ele pegou um pão coberto de açúcar em uma das cestas e deu uma mordida – Nenhuma mulher é tão alta quanto ela... Ou tem o cabelo tão vermelho naturalmente. Ou é tão calma! Gaia não é humana!

Harmony o encarou com olhos arregalados. Não sabia se Keith estava brincando ou não. Ele estava a encarando de volta com uma expressão séria. Aquele garoto definitivamente não batia bem da cabeça.

– Eu não sei o que responder. - murmurou Harmony. Keith continuou encarando-a por alguns instantes e depois caiu na risada. A garota cruzou os braços – Você está muito bem humorado para alguém que...

Ela mordeu o lábio antes de terminar a frase com "alguém que sabe que vai morrer". Algo dentro de sua cabeça a mandou ficar quieta. Keith levantou uma sobrancelha para a menina enquanto mastigava o pãozinho. Ela corou e olhou para a janela. Estava se sentindo mal pela sua falta de tato ao conversar com as pessoas. Talvez tenha sido por isso que mais ninguém além de seus pais foram se despedir.

Risos se aproximavam da porta do vagão e os dois olharam antes que ela se abrisse. Gaia entrou primeiro com sua risada perfeita e logo atrás... Lá estava ele.

– Harmony, Keith... Esse é o mentor de vocês, Martin...

Martin Hall... Ele era alto e tinha um físico atlético - que provavelmente ganhou durante a preparação para os Jogos - típico de um carreirista. Tinha o cabelo castanho claro que caía bangunçado em sua testa. Os olhos cinzas eram os mais bonitos que Harmony já vira na vida e fizeram a garota sentir borboletas no estômago só de olhar para eles. De repente aquele vagão parecia estar mais quente.

Ele foi o vencedor do 62° Jogos Vorazes... Nos momentos finais da edição, Martin conseguiu capturar os três últimos adversários de uma vez só em uma armadilha. Depois de amarrar cada um dos finalistas com cordas, colocou todos em uma rede - que ele mesmo havia feito utilizando cipós - com pedras amarradas em suas extremidade. Jogou os tributos num lago cheio de peixes bestantes que comiam carne humana. Foi cruel. E épico. Ele era de longe a maior inspiração de Harmony.

– Prazer. - ele estendeu a mão para Keith, que aceitou de bom grado.

– Oi, sou o Keith. Eu vou morrer. - respondeu simplesmente.

Martin ergueu uma sobrancelha para ele.

E então ele se virou sorrindo para Harmony, que se levantou rapidamente e lhe estendeu a mão.

– Harmony, não é? Bonito nome. - disse Martin pegando a mão dela e levando aos lábios por um instante. - Você é a carreirista, certo?

– Sim.

A garota sorriu ao mesmo tempo que sentiu se estômago revirar. Não sabia o que a deixava mais nervosa: o fato de estar em frente a uma das pessoas que mais admira ou o fato dele ter acabado de beijar sua mão e ter dito que seu nome era lindo.

– Vamos comer então! - disse Martin apontando a comida na mesa.

Todos, então, se sentaram e começaram a se servir. Keith, que já pegara o segundo pãozinho, comentou:

– Você não estava na Colheita.

– Eu cheguei atrasado. Estava resolvendo algumas coisas na Capital... - Gaia engasgou-se com uma uva e começou a tossir. Martin olhou-a preocupado, mas a mulher abanou uma mão insinuando que estava bem. - … Por isso não pude comparecer. Mas eu assisti a Colheita.

– Que coisas? - perguntou Keith de boca cheia.

– Certo, certo, querido... - disse Gaia rindo. Harmony se perguntou qual seria o problema dela. – Não vamos incomodá-lo com perguntas desnecessárias, sim? A propósito... Daqui a pouco vão divulgar quem são os outro tributos. Vocês vão querer assistir?

– Sim! - disse Keith.

– Não.

Eles se entreolharam. Harmony se justificou:

– Meu pai me ensinou que quanto menos conheço sobre meu adversário, menos expectativas terei dele.

– Há! - fez Keith – Isso nem é lógico! Quanto mais você sabe do seu adversário, melhor. Assim você pode analisar seus pontos fortes e fracos!

– Acontece que você pode ser enganado. - continuou a garota – Seu adversário pode esconder suas verdadeiras habilidades até um momento crucial do jogo e você ser pego desprevenido! O ideal é não saber o que esperar porque só assim...

– Só assim você ficará alerta o tempo inteiro. - completou Martin – É uma boa jogada, Harmony... - Keith revirou os olhos enquanto comia um bolinho.

– Obrigada!

Os três continuaram conversando durante algum tempo. Martin comentava sobre suas façanhas na arena e os ensinava algumas dicas de sobrevivencia. Harmony escutava com atenção e fazia perguntas. Keith, por outro lado, parecia mais interessado em terminar de comer toda a comida que havia na mesa (O que deixou a garota irritada. Será que ele nem ao menos iria tentar viver?) e apenas fazia um comentário ou outro. Gaia não participava da conversa, porém depois de algum tempo, olhou aflita para o relógio que estava preso na parede almofada:

– Certo, temos apenas mais duas horas até chegarmos na Capital! - disse enquanto se levantava da mesa – Vocês precisam tomar banho, colocar uma roupa decente e se preparar para encontrar com a equipe de preparação! Oh! - ela sorriu – Estou tão animada! - e então deixou o vagão batendo palminhas.

Harmony e Keith se olharam e seguraram o riso. Martin deu um gole do suco vermelho que tomava.

– Demora um pouco pra se acostumar. - comentou com um sorriso sem graça – Mas ela é uma ótima pessoa...

***

– OH! - exclamou Gaia – Você está tão bonita! Deixe-me te olhar melhor!

A mulher chegou perto de Harmony e colocou as duas mãos no rosto da garota!

– Mas que lindinha! - disse com uma voz de criança - A equipe de preparação não vai ter nenhum problema em te arrumar! Ela não está uma bonequinha, Martin?

Martin acenou com a cabeça sorrindo e Harmony riu.

A garota vestia um vestido rodado de renda roxo que ia até o meio da coxa. Preso a cintura, havia um laço da mesma cor e, por fim, calçava botas de veludo preto de cano baixo. Prendera seu cabelo em um meio-rabo e ele caia ondulado em suas costas. As roupas estavam normais demais para terem sido escolhidas por pessoas da Capital, mas a garota gostou da simplicidade.

Já estavam chegando à Capital e Keith ainda não havia saído do quarto. Gaia andava elegantemente de um lado para o outro olhando para o relógio. Ela de fato não parecia humana. Harmony pensou que, no lugar de Gaia, já estaria nervosa com o atraso de Keith, mas a mulher tinha uma expressão leve no rosto. Ao perceber que estava sendo observada, sorriu para a garota e disse:

– Vou checar se ele está precisando de ajuda... - e se dirigiu a porta.

Mas não precisou sair. Na hora que iria abrí-la, a porta se escancarou fazendo Gaia dar um pulinho para trás. Keith entrou no vagão. Usava uma calça reta cinza escura, uma blusa de botão branca e sapato social preto. Mas não estava totalmente pronto. Algo que parecia uma gravata preta estava jogada em volta do pescoço.

– Eu não consigo colocar essa merda.

Gaia levantou uma sobrancelha, provavelmente constrangida pelo palavrão, mas foi até o rapaz e pegou a gravata e começou a arrumá-la.

– É simples, querido. É só você dar uma voltinha aqui... - sua voz foi abaixando enquanto dava o nó na gravata. - Perfeito. - deu um tapinha no ombro do garoto. - Chegamos.

Na mesma hora, Harmony sentiu o trem desacelerando e ouviu gritos virem do lado de fora. Correu para para a janela e, quando apareceu, os gritos aumentaram. Pessoas da Capital acenavam felizes e gritavam o nome dela e de Keith. Harmony abriu um sorriso para eles. Estavam na Capital. Finalmente.


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Notas finais do capítulo

Bom, por enquanto é isso! Desculpem qualquer erro... Corrigi, mas sempre acaba passando alguma coisinha. Se gostaram, por favor, comentem! :D
Até o próximo capítulo!



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