Colhendo Almas escrita por Ellie_Buzin


Capítulo 4
Mudança drástica de opinião


Notas iniciais do capítulo

Capítulo 4 está aqui! Esse é um pouco mais comprido do que os outros. Eu pessoalmente não curto capítulos muito compridos pois não gosto muito de ler no computador(o bom e velho papel será sempre meu preferido), mas espero que não esteja ruim de ler! XD Me perdoem qualquer erro gramatical. Eu tento corrigir da melhor forma, mas sempre acaba passando alguma coisa.
Espero que gostem e comentem!



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– Eu estou indo para outra estação. Aquela... Identificando Frutos e Insetos Comestíveis. – Keith revirou os olhos enquanto falava – Quer vir comigo?

– Você está brincado, né? – respondeu Harmony enquanto atirava uma faca no centro de um alvo. – Precisamos ficar aqui e nos aproximarmos do Distrito 1! Além disso, você precisa treinar alguma coisa. Você é péssimo em tudo e se vai ficar comigo durante uma parte dos jogos, não quero que seja um peso.

Keith fez uma careta.

– Para uma garota do seu tamanho, você sabe colocar os outros para baixo...

– Uma garota do meu tamanho não deveria conseguir matar um cara do seu tamanho. Mas eu consigo. E devo dizer que com certa facilidade. Você nem é um dos maiores! – Harmony olhou para ele sorrindo ao mesmo tempo que atirou, com uma mão, duas facas que acertaram em cheio a cabeça do alvo.

Keith mordeu o lábio e deu alguns passos para o lado, ficando atrás da garota. Ela balançou a cabeça e se voltou para o alvo ao lado. Mirava em pontos que representavam órgãos vitais do ser humano. Sua primeira faca acertou a garganta. Atirou mais uma, porém agora no estômago. Ao levantar o braço para jogar a terceira, sentiu algo agarrar seu pulso livre e prendê-lo na suas costas e, depois, sua mão que segurava a faca estava imobilizado perto de sua própria garganta. Harmony sentiu o frio da lâmina contra sua pele.

Se eu fosse você, carreirista... – a voz de Keith falava baixa no ouvido da garota – Não me subestimaria tanto.

Um arrepio se espalhou pelo corpo de Harmony. Ela engoliu seco.

– Me solta, Keith. Tributos não podem lutar antes da arena! - disse rouca.

– Mas eu não estou fazendo nada. - a garota pode sentir o sorriso e sua voz.

– Está com uma faca na minha garganta!

Keith a fez soltar a faca e a girou, sem soltar seus punhos, fazendo com que ficassem frente-a-frente. Os dois se encararam por alguns instantes. Harmony pela primeira vez prestou atenção em Keith. Seus olhos castanho claro avaliavam cada detalhe do rosto da garota e aquilo estava a intimidando. Quem diria? Era mais perigoso do que ela poderia imaginar. A imagem do pobre garoto que foi selecionado para o Jogos desaparecera completamente da cabeça de Harmony.

Keith segurou os punhos fechados da garota contra seu próprio corpo e sorriu malicioso. Soltou uma das mãos e pegou uma mecha de cabelo loiro de Harmony, que escapara do rabo-de-cavalo, colocou-o atrás da orelha da menina.

– Até que você é bonitinha.

Harmony franziu a sobrancelha. Com a mão livre, empurrou Keith para trás, conseguindo se soltar. Deu as costas para ele e começou a andar com passos apressados e punhos cerrados para fora da estação. Era exatamente sobre isso que seu pai a alertava. “Ninguém é o que realmente parece, Harmony.” As palavras ecoavam na cabeça da garota.

Raiva. Era tudo que sentia naquele momento. Como pôde ser tão idiota?

Percebeu que estava sendo seguida, mas não olhou para trás. Não queria ver Keith de novo. Entrou na estação de camuflagem e se dirigiu para perto dos barris de lama e argila. Percebeu que a pessoa parara atrás dela, porém não se virou.

– Eu não quero falar com você agora! – resmungou.

– Calma, Distrito 2. Só vim pedir trégua. – disse uma voz masculina desconhecida.

Harmony se virou de braços cruzados para encarar a pessoa. Era um rapaz alto e muito forte, como Martin, de cabelos pretos arrepiados e olhos verdes. Era o tributo do Distrito 1.

– Meu nome é Dean. Queria fazer uma proposta para você e seu namoradinho.

– Eu não tenho namoradinho nenhum. - respondeu zangada.

– Mesmo? – perguntou levantando uma sobrancelha – Vocês pareciam bem próximos na outra estação...

– Não me lembre disso, por favor! – revirou os olhos – Você tem uma proposta...?

– Minha e da Jenna, a minha companheira, na verdade. Queremos que você e o outro garoto se juntem a nós no jogo até sobrarem só nós quatro.

– Tentador. E clichê. Mas nós aceitamos. – sorriu.

– Você não vai perguntar a ele antes?

– Eu falo por nós dois, ele é a ponta fraca da corda.

Dean riu e estendeu a mão.

– Ótimo fazer acordo com você, Dois.

– Harmony. – disse ela, estendendo a mão para apertar a dele.

– Harmony... Gostei de você, parece inteligente.

Dean deu um último sorriso e saiu da estação. Harmony ficou séria e o observou sair. Não estava de fato pensando em honrar sua palavra. Começou a pensar em como ela deveria matar Dean antes que ele a matasse. E sua amiga Jenna também, ela não parecia confiável. Tudo que ela precisava fazer era matar os dois enquanto dormiam. E depois matar Keith.

Harmony começou a remexer no barril de lama, nervosa. Jogos Vorazes não era o local certo para fazer amigos. Não existe parceria, amizade ou coleguismo. Suas decisões afetam seu destino. No entanto, era importante fingir que essas coisas existiam. Só assim conseguiria a confiança das suas piores ameaças. Como Keith.

Keith. Só a lembrança de sua atitude na outra estação fez com que Harmony ardesse em ódio. Por algum motivo, ela achou que podia confiar nele. O garoto parecia fraco, medroso e, além de tudo, riram da cara dele quando seu nome saiu do globo de vidro. Mas de inocente, Keith não tinha nada. Era tão letal quanto os outro. Se Harmony não tomasse cuidado, ele se tornaria a garotinha do Distrito 9 que matou o seu tio.

Mais tarde, todos os tributos saíram do ginásio para o almoço. Harmony se juntou a Dean e Jenna para comer e não se deu ao trabalho de procurar por Keith. Os três ficaram discutindo táticas para os Jogos, avaliaram os adversários mais fracos e discutiram sobre quem iriam matar primeiro. Após isso, voltaram para a estação de prática com armas.

Fingir ser amiga dos tributos do Distrito 1 fez Harmony se sentir bem. Eles riam dos tributos despreparados, exibiam um pouco de suas habilidades – principalmente pelo fato dos Idealizadores estarem presentes – e eles compartilhavam estratégias. A cada hora que passava, a garota mal podia esperar para os Jogos começarem realmente.

À noite, após o jantar, Harmony caminhava pelo corredor até o seu quarto quando ouviu passos de salto vindo depressa atrás dela. A garota se virou e viu Gaia com o rosto avermelhado.

–Harmony, querida!

– Aconteceu alguma coisa, Gaia?

– Não querida, é só... Por acaso você viu Keith durante o almoço ou pela tarde?

– Não. – respondeu. Não o viu e não queria o ver – Por que? Ele está bem? – fingiu interesse.

– Ele está bem, está no quarto. Mas ele sumiu durante toda a tarde, quer dizer... Eu e Martin não o achávamos em lugar nenhum... Keith diz que não estava se sentindo bem e foi para o quarto, mas não acreditamos nele.

– Achei que eles tivessem câmeras pelo centro.

– Ah, não é tão simples, querida... Se ele não fez nada de errado, não há nada que possamos fazer.... Não é como se ele fosse obrigado a treinar...

– Certo... Bom, eu não o vi.

– Tudo bem... – ela sorriu gentilmente – Vá descansar. Teve um dia longo.

Harmony sorriu para Gaia, lhe deu boa noite e continuou caminhando para seu quarto. Ao chegar lá, tirou a roupa que usou no treinamento e se dirigiu ao banheiro para tomar banho. Programou para que o chuveiro liberasse apenas água quente com cheiros de rosas. Ficou algum tempo debaixo da ducha quente e de olhos fechados. Só quando parou percebeu o quão exausta estava. Seu corpo estava levemente dolorido do esforço que fizera o dia todo. Quando saiu do banho, vestiu uma camisola branca de renda e deitou na cama abraçando um travesseiro.

Toc. Toc. Toc.

– Só pode ser brincadeira. – murmurou.

Se levantou da cama, vestiu o robe cinza de seda que estava pendurado na porta do armário e se dirigiu a porta. E então a abriu:

– Eu sabia que só podia ser brincadeira... – disse Harmony encostando a cabeça na porta meio aberta – O que você quer, Keith?

– Eu vim pedir desculpas. Posso entrar? – perguntou fazendo cara de vítima.

– Não. – respondeu com um sorriso cínico – Boa noite! – e tentou fechar a porta.

Keith segurou.

– Por favor, Harmony... Eu te trouxe um presente.

A garota abriu a porta novamente. Ele estava com uma mão para trás, como se segurasse algo. Ele riu.

– Garotas são todas iguais, é só dizer que tem um presente e elas te aceitam.

– Garotos são todos iguais, fazem besteira e acham que pedir desculpas muda alguma coisa! – retrucou nervosa Na verdade eu tenho uma pergunta para fazer. Algumas.

– Vou responder o que quiser, se me deixar entrar.

Ela suspirou impaciente e então cedeu.

– Entra logo.

O garoto entrou e Harmony fechou a porta. Keith tirou a mão de trás das costas e mostrou uma garrafa comprida e grossa com um líquido alaranjado dentro.

– O que é isso e onde conseguiu, Keith? – perguntou cruzando os braços.

– Isso é álcool e eu roubei do quarto do seu querido Martin.

– Você não deveria ter feito isso.

– E você não deveria ter sido treinada para matar pessoas inocentes. – ele riu enquanto tentava abrir a garrafa – Parece que as coisas não funcionam nesse país... – e então tirou a rolha – Servida?

– Eu não bebo. Isso é pra gente fraca.

– E para pessoas que vão morrer em alguns dias. Saúde!

Keith ergueu a garrafa e depois deu um gole. Harmony respirou fundo, caminhou até a cama e se sentou.

– Você me deve algumas respostas. – disse ela.

– Pergunte o que quiser.

– Certo... Para começar, por que finge que não tem nenhuma chance de ganhar os Jogos sendo que me mostrou hoje de manhã que tem capacidade? Por que alguns garotos riram de você quando foi selecionado?

Keith ficou sério.

– Vou começar pela segunda... Porque eu briguei com um carreirista.

– Brigou como?

– Eu joguei o cara contra uma árvore na escola.

Harmony piscou incrédula. Ninguém seria maluco o suficiente para jogar um carreirista contra uma árvore. Keith queria de fato arranjar problemas.

– Ele me ouviu falando com um amigo que carreiristas, não se ofenda, eram idiotas. Por passarem a infância e adolescência treinando para algo que eles podem não sobreviver. Treinar dia e noite por uma suposta honra... Sabe... Em vez de aproveitar a vida.

Keith descrevera a vida de Harmony em poucas palavras, mas ela não quis admitir isso para si mesma. Apenas ficou calada escutando.

– Eu não vejo nada de honroso em matar pessoas que eu não conheço. Que vão fazer falta em suas casas, nas escolas... Por isso eu estava falando mal de carreiristas. E esse cara ouviu. – ele balançou a cabeça – Foi bem desnecessário, mas ele quis começar uma briga. Ele ficou me provocando, dizendo que eu não tinha coragem o suficiente para honrar meu distrito ou minha família. E então ele mencionou minha irmã, Chloe.

Harmony conhecia esse nome. Chloe Hale. Foi a carreirista do 64° Jogos. Tinha apenas 16 anos e foi mutilada por três outros carreiristas por ter poupado a vida de um garoto de 13 anos do Distrito 6, que acabou se tornando vencedor.

Keith se sentou na cama ao lado de Harmony, sem olhá-la. Na verdade, seus olhos pareciam distantes e rancorosos. E então ele continuou:

– Quando ele mencionou Chloe e disse que ela era a maior vergonha que o Distrito 2 já havia visto eu não suportei... Soquei o carreirista e o joguei contra a árvore.

– O que aconteceu depois?

– Depois? – Keith riu tristonho – Eu apanhei pra cacete. Ele e os amigos me seguraram contra a mesma árvore e me bateram até eu apagar de vez. Talvez um pouco mais depois disso.

Harmony sentiu um incômodo na garganta. Estava completamente pasma. Ela observou Keith tomar mais um gole da bebida.

– Agora, respondendo a pergunta número um... Eu treinava junto com a minha irmã, eu treinava para ser um carreirista. Mas depois da morte dela... Eu não quis mais saber de nada disso. – sua expressão era de raiva – Aqueles merdas mataram a minha irmã e nem sabiam como ela realmente era... Eles não sabiam a falta que ela faria para mim. Eles não sabiam que por causa deles alguém acordaria todos os dias após a morte dela desejando ter morrido também.

Keith não respondeu o que Harmony queria saber. Mas a garota achou melhor ficar quieta. Ela havia percebido que havia tocado em um ponto fraco.

– Keith... Desculpe. Eu não deveria ter perguntado... Sobre isso. – disse Harmony envergonhada.

Não se incomode. Próxima pergunta, carreirista.

Harmony não queria perguntar mais nada. Não se sentia confortável com alguém dizendo coisas tão sérias para ela. Nunca conversara assim com alguém. Ela não sabia o que dizer para confortá-lo. Mas então se lembrou de Gaia no corredor e, antes que percebesse, perguntou:

– Onde estava hoje à tarde?

Keith franziu a testa e a olhou. Hesitou antes de responder.

– Eu não estava me sentindo bem. Pedi para voltar para meu quarto.

– Você está mentindo, não está?

– Não.

Não estava mentindo. Talvez omitindo. Algo em seus olhos escondiam alguma coisa e talvez não fosse boa ideia perguntar. Harmony então mudou de assunto.

– Me diga mais sobre o que você pensa sobre carreiristas.

Keith riu.

– Quer que eu diga mais sobre como acho vocês patéticos e assim você fica com raiva de mim e me mata sem dó ou piedade na arena?

Talvez.

– Não, eu estou curiosa.

– Bom, pra começar, eu fiquei pensando, após a morte de Chloe... Ela nunca fez nada de divertido. Quer dizer... – ele fechou os olhos enquanto se corrigia – Ela até fez. Mas nada demais, sabe? Chloe nunca fez nada pensando nela, tudo era pelos Jogos. Ela se privava da vida por causa Jogos. Ela nunca se apaixonou por alguém, pregou uma peça em outras crianças, saiu com os amigos para se divertir, desobedeceu nossos pais ou passou a madrugada acordada para que pudesse ver o nascer-do-sol. Ela sempre dizia que isso era algo que poderia esperar. Que ela viveria essas coisas depois de vencer os Jogos Vorazes.

Harmony tentou não se prender a parte em que ela pensava exatamente igual a Chloe.

– E quando ela chegou aqui, quando ela foi para a arena... Chloe travou. Ela não conseguiu matar uma pessoa sequer. Pelo contrário, ela poupou a vida de um garotinho de 13 anos. E eu entendo. Ele merecia vencer.

Harmony estava certa de que isso ela não faria e não conseguiu evitar de pensar que Chloe era fraca.

– E você... – começou ela – Chegou a fazer alguma coisa divertida depois disso? Começou a aproveitar a vida?

– Bem que eu queria. Mas, digamos que certas pessoas acham que eu sou instável demais para sair por aí curtindo a minha vida.

– Certas pessoas? – perguntou Harmony. E então entendeu – Ah... Seus pais.

– E eles estão certos. A diferença é que eu sou um pouco mais do que instável. Eu achei que, agora que estou com 18 anos, poderia sair de casa e fazer o que eu quisesse, mas... Oh-oh! Fui selecionado para morrer! – disse ele sorrindo com despreocupação. Harmony o observou dar mais um gole – Concluindo sobre carreiristas... São pessoas que tiveram as almas recolhidas. Não há nada dentro deles a não ser o puro desejo de matar pessoas, motivadas pela promessa de uma falsa honra. Final da história: vão morrer completamente infelizes e sem “honra” alguma, dentro ou fora da arena. – Keith piscou um olho para ela – Não é nada pessoal, pequena.

Algo queimava dentro de Harmony. Ela estava com raiva. Estava com raiva porque Keith acabara de plantar uma semente de dúvida em sua cabeça. Pela primeira vez cogitou realmente a possibilidade de não sobreviver na arena. Isso simplesmente não poderia acontecer, não com ela. Mas iria acontecer com ele. Keith iria acabar como Chloe e uma voz dentro da cabeça de Harmony a dizia para não permitir que isso aconteça.

A garota se levantou da cama e estendeu uma mão para Keith.

– Eu preciso de um pouco disso. – apontou para a garrafa com a cabeça.

– Ué, virou uma pessoa fraca? – perguntou ele sorrindo.

– Não. – respondeu pegando a garrafa – Você quer aproveitar seus último dias? Eu posso te ajudar com isso.

– E desde quando você sabe se divertir? – Keith levantou uma sobrancelha.

Ela não sabia muito bem o que poderiam fazer para se divertir, mas apenas revirou os olhos. Caminhou até uma tela touch na parede. Uma lista de músicas que ela nunca ouviu na vida – seu pai dizia que ouvir música era perca de tempo – apareceu. Não sabia em qual clicar. Keith levantou da cama e parou atrás dela, passando o braço na sua frente e selecionando uma. A canção era animada.

– E agora? – perguntou o garoto rindo dela.

Ela saiu de entre a parede e Keith e subiu na cama, ficando de pé. Levantou, como o viu fazer algumas vezes, a garrafa como se estivesse brindando e então levou aos lábios, entornando a bebida. O álcool desceu queimando sua garganta e ela fez uma careta, e depois começou a tossir. Keith riu ainda mais.

Ele gargalhou.

– Eu realmente – disse ele tentando conter o riso – acho que você não pode ajudar.

Harmony o fuzilou com os olhos. Depois tomou outro gole. Tentou disfarçar o gosto ruim que da bebida e começou a pular no ritmo da música. Keith ria cada vez mais. A garota parou e foi até a beirada da cama, estendendo a mão para ele:

– Tire os sapatos e suba. Agora. – ordenou.

Ainda rindo, ele obedeceu. Segurou a mão de Harmony e subiu. Ela colocou a mesma mão no ombro dele e começou a dançar. Ou tentar dançar. O encarou como se pedisse para que ele dançasse também. Keith estava com um ataque de riso:

– Eu não vou fazer isso!

– Você acabou de me acusar de não querer aproveitar a vida. Quem está se recusando a fazer isso agora é você!

– Não é isso! – ele tentava parar de rir, mas parecia impossível – É que isso é muito estranho! VOCÊ é estranha! – Keith tocou a ponta do nariz dela. – Você não sabe nem o que está fazendo!

– Me ensine, então! – Harmony parou de dançar – Além do mais, se eu vou viver essas coisas mais intensamente depois da arena, eu preciso saber como se faz.

Keith hesitou por um momento. Depois balançou a cabeça e pegou a garrafa da mão de Harmony. Deu um gole e colocou-a no criado mudo. Respirou fundo e pegou as duas mãos da garota:

– Não é difícil. Vou te guiar um pouco... – disse sorrindo – Mas tudo que você tem que fazer é seguir o ritmo da forma que seu corpo achar melhor.

Keith se movia de acordo com as batidas da música da música e Harmony o seguia. Ficaram assim por alguns instantes. E então, ele soltou uma das mãos da garota e a girou. Por fim, segurou na cintura de Harmony e ela colocou os braços em torno do pescoço dele.

– Até que isso é divertido! – disse ela rindo.

– Estou orgulhoso de mim mesmo... Consegui fazer uma carreirista parar um minuto de pensar em me matar! – Harmony revirou os olhos.

– Eu quero mais daquilo. – disse ela se referindo à garrafa.

– É todo seu.

Harmony soltou Keith e desceu da cama. Pegou a bebida, dando outro gole. Não foi tão ruim quanto das outras vezes. Sentiu o garoto cair sentado na cama, ao lado dela. Se virou e o viu fazer beiço. Começou a rir de novo e virou a garrafa na boca dele, no entanto só conseguiu fazer com que o álcool escorresse pelo queixo de Keith. Ainda dando risada, ajudou a limpar com a manga do robe.

– Acho que você não pode com isso daqui, carreirista! – brincou, tomando a bebida da mão dela e colocando no criado-mudo de novo.

– Só estou tentando parecer divertida para um cara que conheci há dois dias.

Keith segurou um dos laços do robe de Harmony e brincou com ele entre os dedos.

– Digamos que só pelo fato de ter tentado dançar para fazê-lo se sentir melhor... – ele olhava para o laço em sua mão – Já fez o cara te achar divertida. Bem divertida, por sinal.

Antes que Harmony pudesse dizer alguma coisa, Keith agarrou o outro laço do robe e a puxou, fazendo-a cair na cama e começou a fazer cócegas na garota. Ela começou a rir e tentava o empurrar para o lado. Quando finalmente conseguiu, Keith ficou deitado ao lado dela. Os dois olhavam para o lustre apagado do quarto, cada um perdido em seus próprios pensamentos. A canção que estava tocando já não era tão animada quanto a outra; na verdade era bem mais calma e tinha uma melodia doce.

– Eu não respondi a sua primeira pergunta. – disse.

Harmony permaneceu muda. Não sabia se que queria voltar a falar sobre aquilo.

– Eu finjo que não tenho capacidade de tentar ganhar os Jogos – continuou ele em uma voz rouca – porque eu não vou tentar. Quando aquele gongo tocar, eu quero que alguém arranque minha cabeça fora.





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