No capítulo anterior...

– Eu ainda não estou preparada!

– Preparada? Preparada para quê? - Ele parecia confuso. Acho que estou trazendo meu passado para o presente, novamente. - Pode falar, Safira.

– Não é nada, capitão! Mas não quero fazer nada demais com você!

– Está bem. Está bem. - Ele parecia rendido e compreensivo. - Não vou fazer nada. Mas te peço uma coisa: deixe-me sentir seu corpo por essa noite. Deixe-me dormir ao seu lado.

– Mas isso não lhe dará prazer algum. - O olhei, estranhando.

– Trará-me o prazer de ficar perto de você, minha donzela.

POV Safira

Fiquei surpreendida com o que ele havia acabado de me dizer. Queria dormir ao meu lado sem fazer nada? O duque? Não, não. Tinha algo de errado com ele. O capitão tem fama de ser mulherengo no reino. Ele não iria desejar ficar apenas perto de uma mulher.

- Promete que não irá fazer nada? - Eu ainda vou me arrepender de ter dito isto.

- Prometo por você.

- Não, capitão. Prometa por você, não por mim. Não valho a pena. - Eu precisava fazer com que ele deixasse de gostar de mim.

- Se não valesse, eu não daria tudo para apenas de te ver, Safira.

Nós estávamos muito próximos. Eu podia sentir sua respiração. Assim como, talvez, ele estava sentindo a minha, que estava muito acelerada. Minhas mãos estavam em seu peitoral, tentando afastá-lo de perto de mim.

- Acho que está dizendo besteiras.

- E por quê?

- Porque existem mulheres muito mais lindas, charmosas e ricas do que eu.

- Safira, sinto-me atraído por você, não por outras moças.

- Porque só há eu de moça neste navio. É por isso.

- Não, não é. - Desviei o olhar. - Safira, olhe para mim. Olhe em meus olhos. - Ele direcionou-me, com sua mão em meu rosto, a olhar para ele, novamente. - Eu, inicialmente, queria apenas dormir com você.

- E agora?

- Você sabe que agora não é só isso. Apenas quero ficar perto de você. Quero te proteger.

- Duvido disto.

- Você precisa aprender a confiar mais nas pessoas. - Ele se levantou.

- Ei! - Ele parou e olhou para mim. 

- O que foi?

- Onde você vai?

- Não era isto o que queria? Ver-me longe de você? Então, é isto o que você vai ter.

Eu não queria que ele saísse do quarto, mas eu não podia me apaixonar de novo. Não podia. Então, o deixei ir. Virei-me de lado e senti uma lágrima cair em minha face.

POV Rupert

Safira queria que eu ficasse ali. Sei disso. Mas havia algo que a perturba que ocorreu em seu passado e eu precisava descobrir o que era. Mas não dizem que as pessoas apenas dão valor quando perdem? Então, quis deixar essa sensação em Safira. Apesar de me sentir extremamente fraco por estar longe dela, mas era o que tinha de ser feito. Então, peguei um colchão vazio e resolvi dormir ao ar livre. Fui para o último piso do navio e deitei-me. Fiquei olhando para o céu. Este parecia com os olhos de Safira. Em qualquer lugar que eu olhasse, eu via algo relacionado aquela donzela. Não vou mais tentar nada com Safira. Isto é, se eu resistir. Fechei os olhos e tentei adormecer.

***

- Bom dia, capitão. 

- Bom dia, Harold.

- Dormiu bem esta noite? - Ele lançou um olhar insinuador para mim.

- O que quer dizer com isto?

- Apenas perguntei se a noite foi boa. - Ele sorriu.

Nós caminhávamos lentamente em volta do navio, enquanto os marinheiros faziam suas funções. Algumas destas eram: limpar o chão, preparar algo para comer, separar comidas, arrumar os colchões, ver se há algum perigo em volta de nós, etc. 

- Apenas em meus sonhos.

- Então quer dizer que a Safira não...

- A Safira não quis nada comigo. Satisfeito? - Eu ia andando rapidamente em sua frente.

- Capitão, acalme-se.

- Desculpe-me. - Passei a mão no rosto e parei de andar. Direcionei meu corpo ao mar. - Eu nunca fui rejeitado assim e... Eu nunca desejei ninguém assim.

- Não fique assim, capitão. 

- Mas sei que ela me quer!

- Mas ela não lhe rejeitou?

- Sim, mas algo que aconteceu em seu passado lhe impede de se deixar levar por mim.

- Quer que eu converse com ela para saber o que é, capitão?

- Você faria isso por mim? - Segurei em seus ombros.

- Claro que sim.

- É um ótimo amigo, Harold.

- Obrigado, capitão.

- Onde ela está agora?

- Está ajudando a limpar o local onde estão os alimentos.

- Quando ela estiver ceiando, a acompanhe. Aproveite para puxar assunto.

- Mas eu vou conversar apenas por interesse?

- Sim, Harold. Ou você pensa em ficar com ela?

- Claro que não, capitão! Sei que o coração desta pertence a vós.

- É bom que saiba. Eu não aguentaria ser traído por um de meus amigos.

- Fique tranquilo.

POV Safira

Eu estava fazendo minha tarefa do dia. Eu percebia que alguns pervertidos, que estavam fazendo o mesmo que eu, observavam-me me intimidando. Eu não estava mais aguentando, então, interrompi e resolvi almoçar. A grande mesa de refeições ficava no mesmo andar em que ficavam os colchões. Cada um se alimentava a hora que desejava. Retirei a comida que estava num recipiente para mantê-lo quente, sentei-me à mesa e comecei a me alimentar.

- Será que posso acompanhar você? - Um marinheiro disse.

- É... Claro. - Eu disse, estranhando. 

- Meu nome é Harold. 

- O meu é Safira.

- Sim, já lhe conheço. - Ele sorriu. - Você gosta do mar, não é?

- Muitíssimo.

- E teria coragem de se arriscar apenas para vê-lo?

- Eu teria coragem de tudo, menos de tirar minha vida para isto.

- E por que não?

- Bem, meus pais precisam de mim. Aliás, não posso morrer nesta expedição. Eles me matariam se isso ocorresse.- Nós rimos. - Ah, eu não sei ser engraçada. Desculpe-me por isto.

- Foi uma boa tentativa. - Harold parecia um amigo de infância pelo modo que me tratava.

- E você veio aqui para lutar mesmo?

- Também. É que acompanho o capitão há bastante tempo.

- Ah, o capitão... - Eu disse, desanimando-me.

- O que há de errado com ele?

- Promete não contar a ninguém? - Aproximei-me dele, parei de comer e coloquei minhas mãos sobre a mesa.

- Mas é claro!

- O capitão disse que quer dormir comigo.

- E você não quer?

- Claro que não! - Afastei-me e coloquei um pouco de comida na boca.

- E por quê?

- Porque não sou dessas que dormem e depois são esquecidas.

- Mas o capitão gosta de você.

- Como você sabe?

- Sou amigo dele, Safira. Ele me conta muitas coisas. 

- Mas não posso.

- Há algo que te impede?

Olhei nos olhos de Harold e percebi que podia contar com ele.

- É que é uma longa história.

- Eu tenho tempo.

- Está bem. 

Olhei em seus olhos novamente, mas logo abaixei meu rosto. Estava pronta para compartilhar isto com alguém.