The Library escrita por themuggleriddle


Capítulo 3
peter pan




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Apesar de só ter lido Peter Pan quando mais velho, sempre que penso nesse livro acabo me lembrando de Alphard Black. O irmão mais velho de Walburga e Cygnus, Alphard era algum tipo de ovelha negra da família... Ou pelo menos se tornaria uma, já que, quando mais novo, era tudo o que se esperava do filho de Pollux Black: um garotinho perfeito, sempre bem arrumado e cheio de sorrisinhos simpáticos, sempre obedecendo os comandos dos pais sem torcer o nariz.

Como nossas famílias pareciam já se conhecer por gerações e gerações, não fora surpresa alguma ao nos vermos crescendo juntos. Sempre que meus pais visitavam os Black, ou vice versa, nós dois aproveitávamos para nos divertir: corríamos feito loucos de um lado para o outro, fingindo ser os bruxos das histórias as quais nossos pais nos contavam antes de irmos dormir e arriscando quebrar tudo o que tinha à nossa volta com a nossa brincadeira. Acho que depois de um tempo, nossos pais desistiram de tentar fazer com que nós nos comportássemos e se conformaram em consertar ou limpar os lugares por onde passávamos depois de nossas brincadeiras. Um feitiço rápido era mais fácil do que tentar acalmar dois meninos que pareciam nunca perder a animação.

Havia também Walburga, a irmã de Alphard. Ela era um ano mais nova do que nós e por isso, e pelo fato de ela ser uma garota, nós fazíamos de tudo para deixá-la de fora, para escapar dela. Dizíamos à ela que era impossível tê-la em nossas brincadeiras, afinal, onde já se viu uma menina aparecer nas histórias dos grandes heróis bruxos! Walburga apenas começava a listar inúmeros nomes de bruxas famosas e tudo o que podíamos fazer era correr e esperar que ela não nos alcançasse. Acho que, no fundo, apenas não a queríamos por perto por já conhecer a sua natureza dominadora que, mais tarde, iria levá-la a loucura.

Nossos anos antes de Hogwarts foram permeados de tardes ensolaradas nas quais nos encontrávamos e brincávamos em nosso pequeno mundinho fantasioso, aquele lugar maravilhoso onde nenhum adulto podia entrar e onde nós éramos as maiores autoridades. Esse mundo poderia existir em qualquer lugar onde nós nos encontrávamos: na sala de visitas dos Black, nos jardins da Mansão Malfoy e até mesmo nos parques nos quais, em raras ocasiões, os pais de Alphard iam a passeio. Esse último lugar era sempre o meu favorito. Havia tanta gente diferente, trouxas e bruxos escondidos, tantos rostos novos... Sempre tinha alguma senhora bem arrumada que achava adorável ver dois meninos como nós brincando no parque, um senhor mais velho que se irritava com a nossa bagunça, mães desavisadas que tentavam puxar conversa com a Sra. Black a respeito de seus filhos, crianças que nos olhavam de longe...

Até hoje há em minha mente uma memória que não tenho certeza de se realmente aconteceu ou não. De vez em quando, nossas lembranças parecem se dissolver dentre tantas outras, restando apenas algo que parece mais um sonho de tão vago. Era uma dessas ocasiões nas quais a Sra. Black decidiu nos levar ao Hyde Park apenas porque estava um dia bonito de verão e a casa de sua família tinha um quintal minúsculo. Nós fomos, como sempre, quase saltitando com a perspectiva de sair do mundinho de nossos pais e poder ver gente nova. Naquela época, os trouxas nos fascinavam e era com essa fascinação que nós os observávamos quando saíamos. Lembro-me de que a Sra. Black ficara sentada, distante do resto das pessoas, para evitar ter que falar com trouxas, enquanto nós brincávamos e foi nesse cenário, longe dos olhos aguçados da mãe de Alphard, que nos vimos sendo o objeto de atenção de um garotinho trouxa. Nunca soube o nome dele e nem sequer ouvi a voz daquela criatura, já que, assim que decidi me aproximar – Alphard e eu chegamos à conclusão de que não faria mal algum incluir mais uma pessoa à seja lá o que estivéssemos fazendo -, o menino ficou sério – mais sério do que já estava, pois juro que nunca vira uma criança mais séria do que aquela -, virou-se e saiu correndo para perto de uma mulher loira. Muito provavelmente a mãe dele. Também me lembro de ter pensado em como aquela moça – pois a mãe do menino parecia bem jovem – deveria cuidar melhor do filho, já que, apesar de não estar sujo e ter os cabelos escuros bem penteados – talvez mais bem penteados do que os meus, na época -, as roupas que ele vestia estavam em um estado deplorável. Nunca que minha mãe me enfiaria em roupas tão cinzentas e de um tecido tão grosseiro quanto as que aquele garoto usava.

Entre nós dois, Alphard ainda era o com mais juízo. Era ele quem impunha regras e eu sempre deixava para ele o cargo de coordenar tudo. Ele era o herói, o príncipe, o rei... E eu estava feliz demais sendo o malandro, o anti-herói. Mais tarde, esses papéis que assumíamos em nossas brincadeiras acabaram por refletir em nossos anos no colégio.

Quando fomos para Hogwarts, ambos fomos selecionados para a Sonserina, como era de se esperar. No início, andávamos sempre juntos e, aos poucos, fomos nos juntando à outros dois garotos, Atlas Avery e Canopus Lestrange. Com a chegada desses dois, Alphard começou a mudar. Meu amigo parara de fazer piadas e de rir o tempo todo. Na maior parte do tempo, ficava sério, como se julgasse tudo o que saía da boca de Avery e Lestrange. Black era a consciência no meio daquele grupinho sem limites que nós formávamos. Fora ele o primeiro a dizer que deveríamos nos sentar junto do ‘sangue-ruim da Sonserina’, como chamávamos um certo colega nosso, na época. Por mais que aquele outro garoto me intrigasse, acabei me mantendo quieto quando Atlas e Canopus disseram ‘não’ à proposta de Alphard.

Mais tarde, quando já estávamos no sexto ano, Alphard se afastou por completo. Fora quase que uma coisa da noite para o dia. Do nada, Black desapareceu do nosso lado e surgiu junto à grupinhos alheios de corvinais. Eu não sabia o nome deles ou a razão de Al os ter escolhido, mas pensei que talvez fosse melhor daquela forma. Alphard não se encaixava mais ao nosso lado, sua cabeça não aceitava as nossas idéias e isso iria levá-lo à inúmeros problemas caso continuasse ali. Foi melhor dessa forma.

Os anos se passaram e ouvi diversas notícias sobre os Black. Cygnus tinha as suas três meninas, uma das quais, mais tarde, tornar-se-ia uma Malfoy. Walburga conseguira dois menino, Sirius e Regulus, e estava ficando com os cabelos brancos por conta do mais velho. Alphard... Alphard era uma sombra no fundo das conversas. De vez em quando deixavam escapar que ele estava viajando ou fazendo qualquer coisa ‘inútil’, como seus pais diziam, já que não havia arranjado uma esposa e tido filhos. A sorte do Sr. e da Sra. Black era que Walburga se encarregara de casar-se com o primo, Orion, garantindo assim que o nome da família passasse para a frente com seu Sirius e seu Regulus. O que ninguém sabia, é claro, era que nem Sirius e nem Regulus dariam aos Black os seus tão desejados herdeiros.

O escândalo da fuga do jovem Sirius fora suficiente para aquecer as fofocas na alta sociedade bruxa por vários meses. Como era de se esperar, a impaciente Walburga tirou-o da tapeçaria dos Black, deserdando-o assim que o rapaz colocou o pé para fora de casa. Com a partida de Sirius, fora a vez de Alphard sair de uma vez por todas da família Black. Meu antigo amigo, refletindo aquela generosidade que sempre fora parte de si, foi o único que ficou ao lado do sobrinho, emprestando-lhe dinheiro e ignorando os avisos da família para manter-se longe dele. Foi a própria Walburga que queimou o seu nome da tapeçaria, gritando pragas e mais pragas para aquelas duas criaturas ingratas enquanto o fazia.

Depois disso, não ouvi mais falar de Alphard, pelo menos nada muito conciso. Todas as informações que chegavam aos meus ouvidos eram rumores. Alguns diziam que ele havia saído da Inglaterra para evitar o terror que o Lorde das Trevas estava espalhando por aqui, outros diziam que ele estava escondido no interior, realizando pesquisas. Era bem a cara dele, se enfurnar em alguma vila minúscula e viver ali pelo resto da vida, isolado. Aquilo fazia jus ao seu nome. De qualquer forma, não sei o que aconteceu com Alphard Black. Ele pode muito bem ter se casado e ter filhos agora ou pode ter morrido há muito tempo. Gosto de imaginar que Al se casou com uma boa mulher – em minha imaginação, ela é sempre uma trouxa – e que hoje ele vê seus filhos brincando da mesma forma que nós o fazíamos quando mais novos.

Lembrar-me de Alphard é uma forma de me lembrar da minha infância. Naquela época, ele fora meu melhor amigo. Mais tarde, nós percebemos que, apesar de gostarmos muito um do outro, já éramos diferentes demais para continuar com aquela amizade mais forte. Ele foi por um caminho e eu, por outro. Acho que, desde pequenos, nós sabíamos que isso iria acontecer. Talvez seja por isso que aproveitávamos tanto cada momento que passávamos juntos quando meninos.

Alphard Black é, em minha cabeça, a figura de Peter Pan. Ou pelo menos ele me remete à idéia desse personagem... A época na qual éramos muito próximos um do outro fora como uma Terra do Nunca: cheia de diversões, aventuras e imaginação. Olhar para trás e ver que isso havia passado me fazia entender a razão de Peter nunca querer crescer. Nós éramos inocentes e felizes, podíamos fazer coisas erradas, mas nunca era por querer, ou, se fosse, não entendíamos as conseqüências de tudo aquilo. Éramos livres da culpa, livres do dever, essas coisas horríveis que nos levaram por caminhos diferentes e que, naquele momento, fazia com que duas pessoas, uma vez tão íntimas, não soubessem nada da vida uma da outra.



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Notas finais do capítulo

O nome "Alphard" vem do árabe e significa "o solitário".
Quem nunca teve um crush pelo Peter Pan não sabe o que é ser criança, ok? Hahhaa, meu primeiro crush, bons tempos.
Sobre a escolha do livro: Peter Pan é basicamente sobre infância e crescer... O Brax, na minha cabeça, meio que ficou como o Peter, ele não cresceu por muito tempo, enquanto o Alphard foi a Wendy, que saiu da Terra do Nunca e enfrentou a vida de adulto mais cedo. Outra coisa que me fez escolher Peter Pan é a figura do Capitão Gancho, que é um pirata e, apesar de eu não ter mencionado isso, eu sempre vejo o Brax como uma pessoa fascinada por piratas.. não é a toa que a URL do meu tumblr seja "captainbrax". Novamente, a capa do livro que aparece no capítulo foi feita por mim mesma.
Ah! E alguém reconheceu o menino trouxa do Hyde Park?
.
.Como sempre, por favor, digam o que acharam :3 não é o meu capítulo favorito, mas acho legal ver um pouco da vida do Brax antes de Hoggy...



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