Panem Et Circenses escrita por Giullia Lepiane


Capítulo 13
Arena


Notas iniciais do capítulo

Quase não deu para postar hoje... Estou com pressa. Rs, ainda bem que deu tempo. Espero que gostem!



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Eu não esperava que fosse conseguir, mas durmo com facilidade e sem pesadelos na minha última noite antes dos Jogos. A última vez em que durmo em uma cama quente e macia. Um sono bom, que dura até a manhã seguinte, quando Kallux vem para o meu quarto me acordar.

Ter meu estilista no meu quarto me acordando é uma experiência inédita, mas não fico tão surpresa. Não é tão ruim quanto foi ontem, com a minha equipe de preparação inteira para fazer isso.

Ele separou um conjunto de roupas para eu vestir. Meio sonolenta, pergunto se é o meu uniforme dos Jogos, e ele responde que são somente roupas comuns e que eu só vou vestir meu uniforme na Sala de Lançamento, o local individual onde os tributos ficam por um breve período de horas antes de entrarem na arena. Agora, nós vamos para lá, onde ficaremos até às dez horas da manhã. O horário em que a carnificina será aberta.

- E como é o uniforme?

- Vou descobrir junto com você.

Em outras palavras, ele não sabe. Os uniformes devem ser ultrassecretos, se nem os estilistas sabem deles até última hora. Faz sentido, considerando que por eles podemos dar palpites sobre o clima na arena.

Troco de roupa e procuro pela minha pulseira de ouro que sempre deixo na cabeceira de minha cama. Meu coração dispara de susto ao não encontrá-la lá. Kallux, ao ver que eu estou procurando por ela, me diz:

- Ah! Eu tive de recolher sua pulseira, Edelweiss. Todo item que um tributo quiser levar para a arena junto consigo tem de ser enviado para passar por aprovação, para que ninguém entre com objetos letais na arena. Se sua pulseira for aprovada, eles a devolverão para você usá-la na Sala de Lançamento.

Isso me deixa mais tranquila quanto a isso. Por que a pulseira não seria aprovada? Ela não é letal.

Resolvido este assunto, Kallux me leva até o telhado do Centro de Treinamento. O ar fresco da manhã no meu rosto me faz terminar de despertar. Quisera eu ainda estivesse meio dormindo. Uma vez totalmente acordada, sinto o pânico se espalhando pelo meu corpo lentamente, como veneno. Faltam pouquíssimas horas. Já é possível contabilizar os minutos.

Um aerodeslizador, rápido e prático transporte aéreo da Capital, surge no céu. Aproxima-se de nós, e fico imaginando como ele vai aterrissar no telhado, mas o plano não é esse. Ele para acima de nós, uma porta se abre e uma escada cai. No momento em que subo no primeiro degrau, meus músculos se enrijecem, perco meus movimentos e fico completamente paralisada, o que não me ajuda a me acalmar. Então a escada é puxada para dentro.

Mais apavorante do que ser paralisada em pleno movimento na escada do aerodeslizador é continuar paralisada dentro do aerodeslizador. E é o que acontece.

Um homem segurando uma seringa está lá quando eu chego. Ele avisa brevemente:

- Este é o seu rastreador. Na arena os Idealizadores o utilizam para saber a sua localização.

Por que não podia ser uma pílula? Odeio agulhas. Seguro a respiração enquanto ele aplica a injeção dolorosa na parte inferior do meu braço direito, fazendo-o latejar após a picada. A parte boa é que meus movimentos são descongelados, e posso me mexer outra vez.

Agora que já estou aqui e meu rastreador está devidamente aplicado, eles trazem Kallux, que está esperando lá embaixo, para dentro. A porta fecha, e o aerodeslizador parte em alta-velocidade para a arena.

Estou assustada. A cada segundo mais apavorada. Sento num banco, fecho os olhos, enterro o rosto nas mãos e me concentro em pensamentos felizes. Vai ficar tudo bem. Vai ficar tudo bem.

A viagem dura meia-hora. Assim que ouço uma leve mudança no barulho do ar, levanto o rosto e vejo que a paisagem atrás das janelas não é mais o céu azul. É o breu absoluto.

- Estamos entrando nas catacumbas. – Explica Kallux. As catacumbas são todo o espaço no subsolo da arena, e onde fica o Curral de cada tributo.

“Curral” é como os distritos chamam a Sala de Lançamento, e nem a Capital pode negar que é um apelido digno. Mas acredite, quando se está por aqui, “Sala de Lançamento” soa muito mais amigável.

O aerodeslizador para. Eu e Kallux descemos num corredor escuro, e ele me guia por mais dezenas de corredores assim até chegarmos à sala. Acho que em algum ponto do trajeto vamos acabar cruzando com outro tributo, mas como não, chego à conclusão de que cada tributo também tem seu próprio labirinto de corredores particular.

O Curral de um tributo, diferentemente de um curral de verdade, é um aposento rico e chique, com uma mesa enorme com um banquete servido, vários confortáveis sofás e poltronas, um banheiro e uma plataforma, que quando chegada a hora, será onde os tributos deverão subir, e ela subirá até chegar à arena. Eu diria que a Sala de Lançamento é um local agradável, também, mas não há algo agradável em estar aqui. Não para pessoas que prezam a própria vida.

Este é o último lugar em que estarei em segurança na vida.

- Edelweiss, você está pálida, está passando mal? – Kallux pergunta, embora não pareça nem minimamente interessado. E não está, pois faz uma pergunta em cima desta: - O que quer fazer primeiro? Tomar café da manhã ou tomar banho?

Opto pelo café. Comer me acalma, em situações normais.

Lamentavelmente, esta não é uma situação normal. Como frutas, torradas, geleia, cereal, bolos e meu nervosismo não passa. Se eu quiser apaziguar meus sentimentos com comida, vou precisar bem mais do que este banquete.

- Pare com isso. Você precisa ir se arrumar. Se for rápida, terá tempo de comer mais depois. – Meu estilista diz.

Não encontro minha voz para responder em voz alta, então só concordo com a cabeça e vou tomar banho.

A água morna é outra coisa que deveria me relaxar e falha. Estou perdendo as esperanças de controlar minhas emoções.

Saio do banho. Kallux está me esperando, segurando uma sacola.

- Seu uniforme está aqui. Venha se vestir.

Ele não entrega a sacola para mim, de uma vez. Ele vai pegando as peças e me passando, uma por uma.

Calças de moletom marrom. Blusa branca de manga comprida. Suéter marrom. Um agasalho grande, grosso e branco. Já deu para entender que a arena vai ser um lugar muito frio. Meias de lã e botas brancas para neve. Um lugar frio e com neve.

Ou vai ver este é um uniforme capcioso, e eles pretendem nos agasalhar inteiros para depois ver nossas caras quando formos jogados em um deserto escaldante. Eles nunca fizeram esse tipo de coisa antes, mas não duvido que façam agora.

Afinal de contas, o que prende mais a atenção do público do que começar os Jogos com um pouco de humor?

Kallux pega uma escova e penteia meus cabelos. Ele está sendo delicado ao trabalhar, mas meu couro cabeludo dói. Não me recuperei de quando Careca Verde penteou meu cabelo para a entrevista. Kallux termina rápido, e tira do bolso uma faixa de cabelo branca, que combina com o uniforme. Amarra ela em minha cabeça de modo que meu cabelo não fique no rosto, e sim puxado para trás. Isso será muito útil se ventar na arena. Então ele prende em meu pulso a pulseira de ouro de minha aliança com Pine.

Ela foi aprovada como inofensiva.

Uma voz num alto-falante pede para os tributos se prepararem para o lançamento. De súbito, estou tonta, enjoada e suando frio. Olho para Kallux com desespero, mesmo sabendo que ele não liga. Sou pega de surpresa quando ele diz algo consolador:

- O que é para ser, será. Boa sorte, Edelweiss.

Agradeço e nos despedimos.

Respiro fundo e arrumo minha postura. Se eu morrer daqui a pouco, quero que seja com honra. Não deixarei ninguém ver o quanto estou com medo.

Vou até a plataforma de lançamento, e subo. Um tubo de vidro fecha-se ao meu redor, e a plataforma, o tubo e eu somos erguidos, atravessando o teto do Curral. Fico no escuro por uns segundos, e então irrompo na arena, saída do chão, o tubo tendo magicamente desaparecido.

Antes de ver a arena, eu a sinto. Sinto um frio tão intenso que dói nos ossos, mesmo com toda essa roupa. Então vejo. Neve, neve por toda a parte. Céu azul e sem nuvens. Uma floresta atrás de mim. E à frente, a Cornucópia, o grande chifre dourado que sai do chão até bem alto, e que é cercado por todas as armas, as comidas e os remédios que os Idealizadores dos Jogos nos dão de cortesia no início dos Jogos. O problema é se meter no meio da luta com os outros tributos, então armados, para pegar qualquer coisa. Uns nem entram nesta grande briga inicial que chamamos Banho de Sangue, e fogem sem nada. Mas é tão difícil viver sem suprimentos. Olho em volta, para os outros tributos que estão dispostos a me matar para pegar alguma daquelas coisas antes de mim.

- Senhoras e senhores, - anuncia outra voz num alto-falante, esta bem mais alta – Está aberta a Trigésima Segunda Edição dos Jogos Vorazes!


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Notas finais do capítulo

Não posso me demorar aqui... Então, até o próximo!